Hades abriu a porta do carro e estendeu a mão para Perséfone. Caminharam juntos até a entrada, mas apesar dos gestos educados, ele tinha uma expressão de puro descontentamento no rosto, ao contrário da esposa, que parecia empolgada com a aposta. Observaram o prédio por um instante, antes de Hades declarar:

— Essa é a pior ideia que já tivemos.

— Mas não é mesmo! – repreendeu Perséfone. Em milênios de existência, ela conseguia se lembrar de muitas ideias piores que pareciam quase boas quando estavam juntos e entediados. Aceitar a pequena provocação de Afrodite e viver entre os mortais por algumas curtas décadas parecia a mais inofensiva delas. – A epidemia de dança foi a pior ideia que já tivemos. Isso aqui é uma experiência, e eu sei que você também gostou da ideia.

— Eu não sei se justificar nosso pedido de adoção com “É uma experiência...” vai agradar a avaliadora. E o fato de eu ter gostado da ideia não significa que não seja ruim. Eu tenho um fraco por ideias ruins.

— É, eu me lembro de alguns exemplos, Senhor “experimente-essa-romã”... – Ela revirou os olhos. Hades escondeu o rosto com uma mão.

— Ótimo, vamos discutir isso durante a entrevista, quando perguntarem como nos conhecemos?

Perséfone riu.

— Melhor não, ou não nos deixarão adotar.

— Isso era parte da aposta? Afrodite está mais ardilosa a cada século.

— Não, isso não é parte. A aposta é vivermos como os mortais, mas você não está curioso? Como deve ser criar uma criança que não ande pelo mundo na madrugada liderando uma legião de fantasmas? Sabe, como os mortais fazem?

— Isso é injusto. – Hades torceu a boca, aborrecido. – Brincar com fantasmas é uma atividade lúdica e educativa.

Respirando fundo, o rei e a rainha do Mundo Inferior entraram no orfanato.