Se essa noite for a minha última escrita por Tio Thi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, boa noite!
Faz um tempo que eu não escrevo alguma coisa para além dos desafios 'outubrais' do site, e por isso eu quis vir dividir algo íntimo com vocês:

Essa obra trata-se de uma situação da qual eu vivi muito recentemente. É uma releitura(fiel ou não) dos acontecimentos, com as pessoas envolvidas sendo apresentadas por alter-egos.
Aos que notarem familiaridades, digo e repito que trata-se apenas de uma releitura e não uma versão contada do relato. As partes mais fieis ao acontecido, eu preferi destacar nas falas. Então se atentem bastante a elas!
Dito isso, espero que vocês aproveitem...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805943/chapter/1

Era um dia muito esperado, Dayan havia escolhido aquela data para, finalmente, ter “A” conversa com o seu melhor amigo, Lunac. 

Os dois se conheceram na aula de música, eles tocavam o baixo nas apresentações escolares. Dayan sempre gostou de fazer novas amizades, já Lunac, por sua vez, era mais reservado e costumava aguardar alguém dar o primeiro passo. 

Num fatídico dia em que ambos precisaram ficar até mais tarde para aprender a tocar uma partitura, Dayan estava com dificuldades de entender a solfa e conseguir acertar as notas. Percebendo isso, Lunac se aproximara, chamando-o para mais perto.

Hey, vem cá!  Eu te ajudo com isso. falou Lunac, simpático e sorridente. 

Dayan sorriu de volta e chegou mais perto dele, olhando o garoto dedilhar as cordas do baixo.

Ele observava com atenção, enquanto tentava memorizar qual caminho Lunac seguiu até conseguir chegar naquela finalização. 

Fantástico! Você é incrível! respondeu Dayan bem animado, depois mordiscou o lábio por achar que exagerou um pouco. “Droga, por que eu sou assim?!” pensava ele. Lunac riu da reação do garoto, e fez um aceno com a cabeça, indicando que estava tudo bem. 

Ao saírem da sala de música, eles continuaram conversando até se deparar com uma cena lamentável. 

Scotty, o aluno quieto da turma, estava sendo agredido por mais de quatro garotos, sendo dois deles os valentões da classe. 

Instintivamente, Dayan se aproximou do garoto caído e se prostrou na frente dele, cessando a agressão. 

Quem vocês pensam que são? Pelo amor de Deus! Isso é um filme? Deixem ele em paz! disparou em polvorosa, ele não compreendia como alguém seria capaz de tamanha violência gratuita com outra pessoa. Os garotos riram da situação e ameaçaram continuar, mas Lunac reagiu no ato, entrando na frente dos garotos. 

Se tocar neles, aí terão problema comigo! brandiu com seriedade e calma. Ele era mais alto que os valentões, e seu porte físico também lhe garantia uma certa vantagem, caso uma nova briga se iniciasse ali. 

Por fim, os quatro rapazes decidiram se afastar, deixando-os em paz finalmente. 

—  E aí, tá tudo bem?! questionou Dayan, olhando nos olhos de Scotty. Era visível o quanto ele se importava com os outros. Lunac ficou um pouco afastado, apenas observando a cena. E abriu um pequeno sorriso, admirado pela bondade e ternura do colega. 

Eu vou me vingar. Eles vão ver só! prometeu Scotty, levantando-se numa arrancada abrupta e indo em direção a saída. 

Só se cuida... Você é mais importante que isso! gritou Dayan, na esperança de conseguir ser ouvido. 

Relaxa, você fez tudo o que pôde. E preciso admitir, que coragem ein! comentou Lunac, rindo do colega. Apesar de corajoso, o porte físico de Dayan não era o mais adequado para uma briga, ainda mais em menor número. 

Eu apanho junto. Mas nunca que eu deixaria algo assim acontecer. afirmou sério, abrindo um sorriso ao fim. Ele sabia que o garoto estava só brincando, não havia necessidade de levá-lo tão à sério. 

Por fim, seguiram os dois para a saída do colégio, e ao caminharem em direção a suas respectivas casas, se deram conta que moravam na mesma direção, fazendo quase o trajeto inteiro juntos, com a diferença de apenas uma quadra.

 

Meses depois daquele dia eles estavam mais próximos que nunca, com a aproximação veio intimidade, conversas e muita parceria. Dayan não imaginaria que iria gostar tanto da amizade de Lunac, e o sentimento era recíproco. Só que agora, o garoto sentia algo diferente… Era tão especial quanto a amizade, porém era mais profundo, delicado e envolvente. 

O jovem precisou de muito tempo refletindo sobre si mesmo, e também sobre o que estava realmente sentindo antes de tomar uma decisão: conversar com Lunac. 

Em uma das voltas para casa, Dayan o chamou para o canto para iniciar a conversa. 

Tem um minuto? Queria conversar com você. falou Dayan, com a voz um pouco falha, ele parecia muito nervoso.  Lunac percebeu a tensão, mas não entendia a razão. Apenas acenou com a cabeça e deixou que ele continuasse. 

A gente se conhece já faz um tempo né?! E bom, preciso admitir que eu nunca tive uma amizade tão entregue assim. Sabe todas às madrugadas que passamos conversando juntos? Aquilo foi mágico! Sinto que eu posso falar qualquer coisa e não serei julgado por você. admitia Dayan, abrindo honestamente seu coração.  

O outro rapaz respirava fundo ao ouvi-lo, ele tinha receio do que estaria prestes a escutar em seguida. 

Eu sinto que… Eu acho que estou sentindo algo por você, entende?! revelara Dayan, com seu coração pulsando a mil. Ele sentia medo, receio, angústia, mas ainda sim, foi capaz de ser sincero com seus sentimentos. 

Lunac engoliu a seco, ficando sem reação por alguns segundos. Dayan percebeu que ele recuou, o que o fez sentir uma forte pontada em seu coração. 

Olha Dan, eu gosto muito de você. E para ser bem honesto, nem eu mesmo sei até onde vai esse gostar. admitiu ele , abrindo várias brechas e esperanças no coração do outro rapaz. 

Eu acho que podemos ir devagar, sabe? E, quem sabe… Lunac fora interrompido pela presença de uma terceira pessoa. Um garoto que aparentava não ser da mesma escola que eles se aproximava, pulando nos braços do mais alto. Deu um beijo na bochecha de Lunac antes de perguntar: 

Oi meu amor, o que você tá fazendo aqui?! E quem é esse? Questionou Irvin, intrigado. 

Dayan ficou momentaneamente boquiaberto e arfou disfarçadamente, engolindo a seco e piscando um pouco mais do que devia. 

Ah, esse é meu amigo da aula de música que eu te falei, lerdão. respondeu Lunac, brincando. 

—  Uhum, me lembro disso. É, você tem mania de fazer amizade fácil né? disparou ríspido, porém rindo logo em seguida. Irvin era irreverente, divertido e aparentava ser muito autêntico. 

—  Bom, me desculpe você, seja lá quem seja, mas esse demônio aqui ficou de ir lá em casa e já está atrasado. Então, vambora! Explicou Irvin, acenando totalmente desinteressado para Dayan, que correspondeu com um tchau;

Ao se virar novamente para o jovem, Lunac tentou se explicar:

 Então Dan, é que ele… só que antes que pudesse concluir, o próprio Dayan o interrompera:

—  Tá tudo bem. Imagino que você esteja bem ocupado hoje… Pode ir! afirmou o garoto, de cabeça baixa. 

Nesse momento, Lunac se aproximou de Dayan segurando seu pulso, mas o soltando logo em seguida. Ele inclinou um pouco para poder ver o rosto do garoto por debaixo da franja, mas Dayan acenou em negativa com a cabeça. 

Nós terminamos essa conversa amanhã na formatura, combinado? respondeu Lunac, sendo apressado por um grito eufórico de Irvin. 

Se eu te pedisse para ficar, você ficaria? questionou Dayan quase num sussurro, levantando a cabeça. 

O quê?! perguntou Lunac. O garoto moveu a cabeça de um lado para o outro e desconversou. 

Esquece! Vai lá, você está atrasado. respondeu, dando um último aceno para o rapaz, antes de virar de costas e seguir rumo a sua casa. 

Por um instante, Dayan acreditou que Lunac não havia respondido por não tê-lo ouvido, já que ele sussurara. Mas a verdade era que ele ouvira em bom tom, só não sabia o que responder, deixando a conversa suspensa, sem uma resposta…

Ao chegar em casa, Dayan tomou um banho, guardou seus pertences e deitou na cama encarando o teto, pensativo. “Será que eu fui muito precipitado? Não sei dizer… Quer dizer, eu fui totalmente sincero com os meus sentimentos. E disso eu tenho muito orgulho!” Refletia o garoto, pegando no celular e lendo as últimas mensagens que trocou com Lunac. 

Tive a sensação de ele falaria alguma coisa se aquele outro não tivesse aparecido… Mas não sei. Ele não foi tão sincero quanto eu fui. Na verdade, aquele besta só me deixou com mais perguntas do que respostas. Droga! E amanhã é a formatura ainda por cima…” bufava em meio a devaneios, Dayan respirava fundo tentando se recompor. Ao mesmo tempo em que se sentia derrotado por ter totalmente sincero com o que sentia, ele também  se sentia orgulhoso e feliz de tê-lo feito. 

Dayan passou a madrugada tentando entender o que Lunac estava tentando dizer mais cedo, o garoto chorou até pegar no sono por cansaço. 

No dia seguinte, Beatriz apareceu na sua casa já fazendo alarde:

Você não vai ficar na cama chorando por causa de macho no dia da nossa formatura, mas não vai mesmo! brandiu ela, puxando o cobertor do amigo e o fazendo se levantar. 

Bora, temos skin care para fazer. comentou, abrindo sua necessaire.

Mais tarde naquele dia, de caminho ao salão onde aconteceria a festa de formatura, Dayan recebeu uma mensagem de Lunac: “Precisamos terminar aquela conversa…” dizia o texto. Dayan engoliu a seco, e desceu do carro, arrumando seu paletó. 

O garoto foi surpreendido por vários abraços, beijos e felicitações de amigos, colegas e pessoas que sequer havia visto no colégio.  

Eu ajudei na decoração, vem ver! comentava Beatriz, puxando o amigo rapidamente para o interior do salão. Ao adentrar, Dayan ficou impressionado com a delicadeza do design de interior planejado para aquela noite. O tema da festa era “Gigantes para sempre” que fazia homenagem ao time de futebol do colégio, e também aos formandos naquele momento tão especial. 

Ao fundo havia um extenso palco para a apresentação anfitrião da noite, e performances com música ao vivo. Com lustres luxuosos e quadros antigos, toda a decoração era monárquica, colocando os formandos como reis e rainhas e o grande salão como um imponente castelo. Tudo era muito brilhante e reluzente, trazendo toda a magnificência da qual Beatriz tanto se gabava. 

Ok, eu admito. Você se superou! reconheceu ele, sabendo que aquele elogio era muito importante para a amiga. Beatriz sorriu agradecida e feliz com o resultado. 

Dayan caminhou em direção ao bar e pediu algo forte, ele sabia que precisaria. Assim que o barman lhe entregou o drinque ao se virar ele avistou Lunac cruzar a porta de entrada do salão. E ao lado dele Irvin… Rapidamente, Dayan virou-se de volta e bebeu tudo num gole, indo em direção ao terraço do lugar. Ao perceber a movimentação do garoto, Beatriz tratou de ir atrás do amigo.

Não vou deixar você ficar aqui sozinho no seu dia de formatura. Foda-se esse garoto, Dan. Fala sério! dizia ela furiosa. Apesar de parecer óbvio para a garota, ela reconheceu que o amigo precisava de apoio e não de palavras duras naquele momento. 

Toma isso… dizia ela, entregando a cópia da chave da cobertura para ele, e também uma “bala” para deixá-lo mais entretido com a noite. 

Eu sei que você não curte essas coisas. Mas, talvez, só por hoje, seja necessário. falou ela, piscando para o rapaz e o colocando para dentro do terraço, trancando-o pelo lado de fora, mas sabendo que ele tinha a cópia da chave, caso quisesse sair. 

Obrigado! foi só o que Dayan conseguiu responder antes de ver a porta fechar bem na sua cara. 

Pensativa, Beatriz achou melhor sair e comprar um remédio para entregar junto ao “doce” que oferecera ao colega. “Ele nunca tomou isso antes. Se der merda, não quero ser responsabilizada“ pensava ela. 

Cinthya, eu vou na farmácia ali na esquina e em vinte minutos eu tô de volta, tá?! Qualquer coisa me liga!  avisou a amiga, saindo rapidamente do salão. Ao sair percebeu que Scotty chegava com uma roupa elegante e uma mochila bem grande. 

Tá bonito ein, Scotty! Aproveite a festa. cumprimentou ela, seguindo rumo a farmácia. Ela não imaginaria o que estaria prestes a acontecer…

Dayan na cobertura via o céu estrelado e não conseguia conter as lágrimas, lembrando-se das vezes em que parou no telhado do colégio e as observava junto de Lunac. 

Você já fez a sua escolha... Você não está aqui. murmurava para si mesmo, arfando. 

Numa reação totalmente inconsequente, o garoto decidiu engolir a bala oferecida pela amiga, começando a sentir seu corpo dormente minutos depois de ingeri-la. 

Eu gostei mesmo de você, babaca. admitiu ele, engolindo o choro ineficazmente. As lágrimas rolavam mesmo sem autorização.

Toda a situação era muito delicada para Dayan. Ele havia acabado de experimentar uma droga que seu organismo nunca havia ingerido antes, sua ansiedade acelerou seus batimentos cardíacos, e chegou num ponto em que o garoto estava deitado no chão, gargalhando de sua própria derrota. 

No dia da minha formatura e olha onde eu estou. Que patético! dizia, rindo de si mesmo, enquanto observava a lua atenciosamente. A música parou repentinamente, mas Dayan sequer notou. Sua mente delirava e já não distinguia mais alucinações da realidade.  

Abaixo de onde ele estava, Scotty começou algo que não poderia voltar atrás…Ao adentrar ao lugar, o garoto tratou de bloquear as saídas com cabos de vassoura, madeiras e todo o material que encontrou. 

Ao finalmente cruzar a porta do salão e chegar na festa, o jovem puxou da mochila uma metralhadora MP5 que havia roubado de seu pai, 

Vocês vão me pagar... prometeu ele, claramente alterado e tenso. 

Cara, calma. Isso não vai… Artie, o anfitrião da festa, tentou acalmá-lo, mas foi interrompido com um tiro que perfurou o seu peito, manchando sua blusa de sangue. 

O caos se instaurou por todo o salão. Pessoas corriam para todos os lados sem saber para onde ir. Nervoso e totalmente descontrolado, Scotty atirava em qualquer um que se movimentasse próximo a ele, criando pilhas de corpos um em cima do outro. 

As luzes coloridas do salão atingiam o piso ensanguentado refletindo aquele que antes era um sonho, tornando-se um pesadelo. 

Dayan, ainda deitado, ouvia os disparos, mas não foi capaz de identificá-los como tiros. Ele continuava deitado no chão, rindo sozinho. 

Scotty caminhou até o centro do salão e atirava em qualquer um que visse pela frente. Alguns ele atirava mais de uma vez, mesmo com a pessoa já caída no chão. Ele queria ter a certeza de que estavam mortos. 

Todo o cenário antes brilhante agora dava lugar a um ambiente caótico, sombrio e temeroso. 

Passados alguns minutos daquele horror, algumas viaturas da polícia chegaram. Ninguém conseguiu sair do salão. Alguns fingiam ter sido atingidos deitados no chão, outros conseguiram se esconder no banheiro. Mas a maioria dos alunos ali presentes foram vítimas de Scotty. 

Ao ouvir a sirene da polícia, o garoto armado subiu para a cobertura e atirou na fechadura, entrando. 

Com o efeito da droga já enfraquecido, Dayan se levantou e vislumbrou Scotty portando uma metralhadora com o seus braços, rosto e roupas totalmente ensanguentadas. Seu coração pareceu parar por um breve instante, um arrepio intenso de medo percorreu todo o seu corpo. 

Scotty… O que v-você fez? questionou ele com a voz falhada, gaguejando em algumas partes. O garoto tremia, sem saber o que dizer ou fazer.

 

—  Não, você não. Você sempre foi legal comigo. Me perdoa, Dayan. Eu não vi que era ele… foi tudo o que Scotty disse antes de mirar contra a sua própria cabeça e disparar um tiro, matando-o no ato. 

Dayan gritou em pânico, vendo o corpo desfalecido do colega de classe bem na sua frente. Era a primeira vez que o garoto via a morte tão de perto, o que o deixou totalmente desnorteado e incapaz de pensar com clareza. 

Depois de pensar no que Scotty acabara de dizer, Dan só conseguia pensar em uma pessoa…

 LU,, MEU DEUS, LU! gritava o jovem, descendo às escadas da cobertura. “Você trate de estar bem, babaca, imbecil. Você me prometeu uma conversa, pelo amor de Deus. Lu….” era tudo o que ele conseguia pensar com a mente a mil.

Ao chegar no salão viu o piso da festa totalmente coberto por corpos e sangue, pessoas que ele conhecia, interagia e que, de certa forma, cresceram com ele, todas elas sem vida, jogadas ao chão.

Ele levava suas mãos até a boca, incrédulo não acreditando na cena que estava vendo. 

E ao olhar mais ao fundo, seus olhos se arregalaram e seu coração doeu como nunca naquele momento. 

NÃO! brandiu ele, vendo a polícia finalmente entrar no lugar. 

Dayan se aproximava de um corpo conhecido, totalmente desolado. 

Eu te amo. foi tudo o que conseguiu dizer antes de perder a voz e ser interceptado pelos policiais e a ambulância.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar! A opinião de vocês, além de bem vinda é muito importante pra mim.
A depender do interesse, posso adaptar o final para uma continuação. ♥

And if tonight is my last,
What i gotta do?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Se essa noite for a minha última" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.