Bater de Asas escrita por Yasmin


Capítulo 19
19. Voltando para casa.


Notas iniciais do capítulo

Cuidarei dele porque o amo, mas não sei mais se isso é reciproco.



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Zack estava curado, segurei ele firmemente, ele parece leve ou eu estou mais forte, coloquei ele nas minhas costas, os pés dele ainda arrastam no chão por conta da altura dele, ele apoia a cabeça no meu ombro e seus chifres encostam na minha cabeça.

 

— Tomoe, você que sabe como organizar uma cidade, poderia ajudar esse povo a se reerguer?

 

Não sabia se estava pedindo de mais para ele, entretanto eu não tinha essa capacidade.

 

— claro, eles só precisam de um novo líder e...

 

O irmão de Zack aparece, como se fosse outra pessoa, ele está mais forte, mais parecido com o Zack, não parece mais aquele menino magro e doente que eu conheci, os olhos em fúria quase que brilhavam em chamas.

 

— Eu consigo, posso cuidar da cidade.

 

As pessoas se reuniam cada vez mais, acredito que eles não sabiam da existência do Kuran, penso que ele vá ser um ótimo líder, bem melhor que o antigo.

 

— Cuide da cidade e dos cidadãos, vai ser difícil, mas acredito em você.

 

Ele se aproxima de mim e coloca as mãos nas costas de Zack.

 

— Cuida dele por mim.

 

Por um segundo esqueci do Zack, arrumei ele em minhas costas e acenei com a cabeça e olhei para o céu.

 

— Puxa, nem sabia que o céu era dessa cor aqui.

 

O céu que antes parecia estar mergulhado em uma eterna escuridão, agora estava em um azul quase que brilhante, parece que a cidade voltou a vida. As pessoas estão em felicidade, estão todas saindo de suas casas e indo para as ruas comemorar, isso significava um novo começo para aquela cidade de excluídos.

 

— Tomoe vou voltar para casa, só não sei como.

 

Um casal de senhores com chifres se voluntariaram para levar a gente para casa, eles tinham uma carruagem igual a que nos trouxe aqui.

 

— Levo vocês em agradecimento por nos ajudarem, só precisamos sair da cidade para a carruagem funcionar.

 

Aceno com a cabeça, e levo o Zack ate a carruagem ainda desacordado, coloco ele gentilmente no banco almofadado, deitado ele parece estar tendo um sono ótimo, logo que deito ele, coloco minha mão em seu peito e a cor escura em minhas mãos ainda estão lá, vibrante e correndo em minhas veias, não vou pensar nisso agora.

 

Saio e vou me despedir do Tomoe que tem que ficar e ajudar Kuran, abraço os dois em silêncio, algumas pessoas da cidade vem me abraçar e agradecer.

 

Sinto um focinho enorme tocando o topo da minha cabeça, a grande raposa de Tomoe me olha com olhos expressivos como se nunca mais fossemos nos ver.

 

Ela abaixa a cabeça e eu encosto a minha na dela, ficamos assim alguns segundos, sempre fui próxima dos animais, mais essa diferiu, parecia que ela me abraçava mesmo não tendo mãos, era algo sentimental.

 

Assim me despeço de todos e entro na carruagem, levanto a cabeça de Zack e coloco ela em meu colo, passo meus dedos no cabelo dele que estava grande, um pouco abaixo da orelha, parece que faz séculos que não nos vemos.

 

Logo a viagem segue floresta escura adentro, mesmo o céu azul, a floresta que cercava a cidade era escura e sombria, mesmo já estando de manhã.

— Já estaremos do outro lado.

 

Arrumo as asas de Zack, sujas do seu próprio sangue, tento limpar imaginando tudo oque ele passou, seu pescoço também estava sujo passo minha mão nele e sinto o meu coração bater forte, tão forte que chega a doer.

 

— O.. Oque é isso?

 

Algo dentro de mim fala que eu deveria apertar ele, oque esta acontecendo? Passo minhas unhas que estão agora grandes pelo pescoço dele, minha boca começa a salivar, e eu seguro ele com força.

 

— Você me fez muito mal...

 

Esse pensamento passa pela minha cabeça, balanço ela para esses pensamentos sumirem, e lembro que minha mão estava em seu pescoço, as tiro e vejo que deixei uma marca exata da minha mão, coloco a mão na minha boca.

 

— Oque eu estou virando?!

 

Tiro a cabeça dele do meu colo e vou sentar no banco da frente apertando minhas mãos em minha cocha. Não demora muito para eu ver uma fumaça preta em volta da carruagem, e logo que ela se vai, vejo o campo aberto e florido que tem entre minha casa e a de Zack.

 

— Enfim em casa...

 

O senhor para a carruagem a beira da minha floresta e fala que não pode passar dali.

 

— Tudo bem aqui esta ótimo, eu consigo carregar ele o resto do caminho.

 

Levanto e coloco novamente Zack em minhas costas, ele ainda esta muito leve, e os chifres dele ainda batem no meu rosto. Pago algumas moedas de ouro para o senhor, ele me agradece radiante e se vai.

 

Paro olhando a floresta com o sentimento de nostalgia e ando floresta adentro ate minha casa, que continuava lá intocada. Arrumo Zack em minhas costas e me impulsiono para facilitar a chegada na varanda, o som de meus pés é alto e pássaros voam.

 

Ligo a luz e respiro fundo o ar denso de uma casa que passou muito tempo fechada, levo Zack ate minha cama, deito ele e tiro o cabelo de seu rosto, ele esta molhado, verifico com minha mão em sua testa se é febre.

 

— Ele está bem.

 

A roupa dele rasgada não tem mais jeito, tenho a ideia de tirar ela já que ele esta com calor, passo a mão em minha cintura e tiro a adaga que ele me deu, rasgo o pouco de tecido que sobrou da camisa dele e tiro.

 

— Parece ser minha vez de cuidar de você, espero não ter te dado trabalho.

 

Tiro seus sapatos e abro a janela colocando eles para tomar sol, também tiro os meus e deixo ao lado do dele.

 

Olho pela janela e olho a minha adaga, lembro do que fiz ao pescoço de Zack, vou ate a cabeceira da cama, abro a gaveta e jogo ela dentro e a fecho.

 

— Melhor deixar guardado para a segurança de todos.

 

Passo na frente do meu espelho e paro me olhando, as pontas dos meus braços escuros.Ando pela casa e vou ate a cozinha para abrir a claraboia, a luz do sol entra e toca meu rosto, dou um sorriso.

 

Abro as outras janelas e o vento entra levando o ar preso para fora, sento no Puff cansada e coloco minhas mãos em paralelo na frente do meu rosto.

 

— Como vou resolver isso...

 

Olho para onde Zack esta deitado em um sono profundo se recuperando.

 

— Ele... será que ele fez de proposito?

 

A única vez que ele me mordeu foi na casa dele... ele ficou fora de controle ou estava fingindo?Não é possível, ele parecia estar sendo verdadeiro. Prefiro acreditar que foi sem querer...

 

Dois dias se passa, cuidando de Zack de nos poucos momentos de "lucides", alimentava ele e o limpava com um pano molhado, mas ele não falava e não abria os olhos, acredito que nem sabia que eu estava lá.

 

Nesses dois dias eu cozinhava e falava com ele como se ele estivesse lá do meu lado, meus olhos de noite ficavam escuros e vermelhos, como os de Zack, então eu saia e ficava nas nuvens ate melhorar. No segundo dia fui até a árvore onde dormimos e fiquei lá um tempo olhando a cachoeira, mas logo tive de voltar para ver se Zack ainda dormia.

 

Na manha do terceiro dia eu verifiquei os cristais de energia para ver se não acabaria sem energia ou gás, porque não queria ir à cidade, e estava tudo certo, então eu sentei na mesa olhando minhas mãos que o escuro cada vez mais subia para o resto do meu braço, me sentia sendo envenenada lentamente, talvez eu já estaria morta se eu tivesse só sangue humano, mas algo eu já coloquei em minha cabeça.

 

— Ele não me deixou assim de propósito.

 

Escutei a cama ranger, e passos lentos, mas pesados darem a volta no tronco e ficarem na minha frente. Com aquela cara seria, porem mais séria do que nunca. E aquelas palavras que saíram da sua boca talvez mudaria o rumo da nossa relação para sempre.

— Não foi sem querer.

 


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Notas finais do capítulo

Essas palavras cortaram meu coração mais do que qualquer lança ou mordida fez.



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