Depois do Crepúsculo escrita por FSMatos


Capítulo 15
Capítulo seis


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Não, eu não abandonei a história. Estou de volta e pretendo não ir mais.
Como é bom poder voltar a escrever.

Boa leitura.



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EDWARD

Caius e sua comitiva chegaram ao amanhecer. Carlisle foi recebê-los do lado de fora. Ver seus olhos dourados depois de tantos séculos gerou um certo incômodo no vampiro mais velho. A esta altura, ele tinha esperanças de que Carlisle abrisse mão de uma ideia tão absurda como se privar do sangue humano. Mas lá estava ele, sendo resiliente (como sempre!). - Não entendia como Aro tinha tanta consideração por um vampiro tão estranho, por mais inteligente e culto que fosse. Para ele, seu irmão era, muitas vezes, estupidamente apegado e obstinado. Se toda esta determinação não tivesse trazido tantos frutos bons para eles ao longo dos milênios, já teria o abandonado na primeira oportunidade.

— Caius. Há quanto tempo. - disse Carlisle em sua voz cordial de sempre. Eles apertaram as mãos. - Estávamos esperando por você.

— Estavam? - perguntou ele, irritado. Repassou mentalmente a conversa que teve com Aro após a invasão surpresa e toda a história contada sobre nós de Bella para Natalie, sua nova melhor amiga, antes de passarem pela transformação. Como Alice tinha dito antes, Caius estava desgostoso por não poder nos levar como prisioneiros. Mais uma vez, Aro estava fazendo o que bem entendia e isso o deixava com raiva e contrariado. - Então admite que seus filhos e você, Carlisle, cometeram diversos crimes e ameaças às nossas leis?

Carlisle suspirou.

— Sobre isso, espero que esteja disposto a ouvir nosso pedido de desculpas pela invasão… e pela menina. Meus filhos são muito apegados à ela. Não queriam que nada de ruim acontecesse.

Caius bufou. Que tocante!, desdenhou.

— Poupe o fôlego e as palavras bonitas, Carlisle. Estamos aqui para outros assuntos, e não fazer cumprir a lei. Aro me mandou por outro motivos. Motivos… amigáveis.

— Compreendo. - Carlisle manteve o tom de voz humilde, mas por dentro estava aliviado. Por mais que confiasse nas previsões de Alice, estava tenso com uma possível hostilidade. - Entrem, por favor. Assim poderemos ouvi-lo.

Caius assentiu, a contragosto, e todos os cinco o acompanharam para dentro, tirando suas capas ao cruzar a porta. Carlisle, em um gesto educado, as guardou no armário com cabides. Até a visão de Alice, este armário não existia, sendo incluído na entrada sob recomendações da mesma. Eles eram vampiros mais tradicionais do que nós e a etiqueta era muito valorizada. Qualquer coisa para agradar e evitar problemas.

Esme, que estava ao lado da porta da sala de estar, cumprimentou Caius com um sorriso doce assim que o mesmo entrou:

— Sr. Caius, seja bem-vindo. - E estendeu a mão para ele. Mesmo mortificado com a delicadeza da mulher, Caius seguiu o protocolo e beijou a sua mão, os olhos passeando pelo ambiente amplo e muito claro. Não era nada parecido com o castelo, porém, era agradável. Ou pelo menos considerou ser. Jasper já estava fazendo o seu bom trabalho.

— Esta é Esme, minha esposa. - disse Carlisle, soando orgulhoso. - Foi ela que projetou a casa. - comentou, notando o espanto e olhares analíticos dos visitantes, por um momento se esquecendo de nossa existência.

— A senhora tem talento. - comentou Caius, sorrindo um pouco. - Carlisle tem sorte. - E então fez uma careta, perguntando-se porque de repente ele estava tão relaxado. Mas logo a confusão foi embora quando outra onda dos poderes de Jasper o atingiu.

— Obrigada. - disse Esme, seu sorriso se aplicando. Era um sorriso ensaiado, obviamente, mas que conseguia manter com naturalidade graças a nuvem de tranquilidade que envolvia a sala.

Até Emmett, que estava eufórico com um possível embate entre ele e alguns lutadores experientes da escolta de Caius, aquietou-se. Rosalie, quase sempre tensa, estava grata por Jasper ser útil em um momento delicado. E Alice… ela tinha pedido para não ser influenciada pois precisava de seus nervos para permanecer sempre alerta e constante, sem pontos cegos. Eu tinha pedido pelo mesmo, e Jazz concordou com ambos.

Ao meu lado, Emmett respirou fundo, engolindo uma risada. Jazz tem ele na palma da mão agora. E esse idiota nem percebeu! Hahaha!

Em um momento menos mórbido, eu teria vontade de rir também.

— E estes são os meus filhos: - continuou Carlisle. Um grande ponto de interrogação acendeu dentro da cabeça de Caius ao ouvir a palavra “filhos”. - Emmett, Rosalie, Jasper, Alice e Edward. - nomeou ele, apontando para cada um de nós enquanto falava.

Caius nos cumprimentou com um aceno de cabeça.

— Vejo que sua vinda ao novo continente lhe rendeu bons frutos. - elogiou, sentindo um gosto metálico na ponta da língua nada agradável. Aro era o homem dos elogios falsos, e não ele. - Aro ficará feliz em saber disso.

— Tenho certeza que sim. - Carlisle concordou, repassando brevemente a última conversa que teve com Aro antes de deixar a Itália e viajar em direção ao que um dia seria os Estados Unidos. Claramente, Aro não ficou nem um pouco feliz, mas nada podia fazer para que ele mudasse de ideia. Para Carlisle, ele já tinha passado tempo demais ali; não havia mais nada para ser aprendido ou para o qual poderia contribuir. - Sente-se, por favor. - disse, apontando para o sofá de dois lugares vazio.

— Obrigado. - murmurou, dirigindo-se até o móvel indicado. Os guardas que o acompanhavam se posicionaram atrás dele, protegendo sua retaguarda, mas nem eles estavam desconfortáveis, subjugados pelos poderes de Jasper, também.

A fim de recriar o cenário mais adequado para aquela conversa, como havia sido instruído por Carlisle e Alice, todos nós nos sentamos também. Era um gesto desnecessário, visto que para nós, seres de pedra imutáveis, ficar de pé durante alguns minutos, horas ou dias não faria diferença alguma. Ter móveis em casa era apenas parte da encenação de que éramos humanos e uma decoração bonita que Esme gostava de ter.

Caius olhou para cada um de nossos rostos, demorando meio segundo a mais em Alice e eu. Mais uma vez, perguntou-se como nós tínhamos passado despercebidos por entre os túneis de escoamento e as masmorras. Ou como sabíamos para onde estávamos indo, pois na história de Bella, não havia ficado claro quais tipos de poderes tínhamos, apenas que eles existiam.

Apesar de Aro e Marcus terem se convencido de que foi somente um erro logístico, cometido por cabeças distraídas e que foram descartadas da maneira adequada logo em seguida (sem pontas soltas), Caius dificilmente acreditava em coincidências. Já fazia alguns anos que tinha notado algumas movimentações suspeitas entre os guardas de menor e médio nível, como aqueles nas suas costas. Tentou alertar os irmãos de suas desconfianças, porém, foi-lhe orientado a buscar provas mais concretas do que olhares estranhos e vozes sussurradas já que Aro, em diversas vistorias, não detectou nenhum pensamento ou lembrança fora do esperado ou aceitável. Nenhum resquício de traição passada ou iminente. Portanto, considerou que tudo não passou de uma tentativa frustrada de resgate de um antigo amante e que contava somente com a sorte de encontrá-la naquele labirinto.

Nossa invasão acendeu de novo dentro de si o fogo da conspiração e do medo de outrora, quando o mundo sobrenatural e humano coexistiam a plena luz do dia e as leis eram das guerras entre os grandes clãs das antigas civilizações. Estava quase certo de que dariamos as respostas que ele tanto procurava pois não acreditava na hipótese de que tínhamos conseguido atravessar os túneis subterrâneos sem ajuda, contando apenas com o acaso.

E mesmo que Bella tenha falado sobre nós para a amiga e que tínhamos descumprindo a lei ao permitir que ela se aproximasse e tivesse a confirmação de suas teorias, para Aro, Bella ter aceitado se transformar para nos poupar foi o suficiente para que os nossos erros fossem reparados; ou assim ele o declarou. Nem Caius acreditava em tamanha benevolência por parte do irmão, mas sabia que aquilo era parte de sua intensa obsessão, e Bella agora tinha se tornado foco dela, por mais que a “pestinha” fosse praticamente indomável, não podendo ser afetada por nenhum poder mental daquele castelo, nem pelo próprio Aro ou Corin (que seria muito útil em convencê-la a colaborar e parar de atacar qualquer um que a provocasse). Inclusive, antes de sair de Volterra, inspecionou pessoalmente o escoltamento de Bella até a cela especial, onde ela foi trancafiada para que pudesse se acalmar depois do último surto de raiva.

Ainda que controlasse a sede muito bem, com só poucos meses em sua nova vida, ao ponto de conseguir conversar com os outros humanos do castelo, a garota era geniosa e cabeça dura. Não obedecia ao protocolo, lidava com os líderes com indiferença, mesmo que Aro a tratasse com o mesmo carinho e respeito que os de mais membros da guarda (às vezes um pouco mais), além de ter rosnado para as esposas. E Aro ainda queria lhe dar um manto! Oposto completo de sua amiga Natalie, que era mais tranquila, mas muito suscetível ao descontrole e ao frenesi por causa de sangue. Aro entendeu que isso era devido aos seus poderes aflorados em sua nova condição, com os quais ela ainda não estava acostumada. Heidi a mantinha estável, obrigando-a com os seus poderes a colaborar e ficar sob controle. Mesmo que Bella ficasse isolada a maior parte do tempo, saindo poucas horas por dia para treinar e acompanhar os trabalhos rotineiros do castelo, Natalie era pelo menos cinco vezes mais monitorada, precisando muitas vezes evitar as rotas comuns dos funcionários humanos. Mas, assim como Bella, vinha apresentando um salto evolutivo anormal nos últimos meses desde que despertou. Os anciãos associam esta mudança ao fato de que Heidi era uma boa disciplinadora e que Natalie não tem uma mente impenetrável como a de sua amiga, ou “irmã”, como Aro costuma dizer, apesar de ser difícil de driblar quando está determinada a obter algo.

De qualquer forma, para Caius, era mais importante conseguir as suas respostas do que lidar com duas recém-criadas custosas. Porém, Aro não permitiu que a família de Carlisle fosse tratada com hostilidade. Até Marcus, que pouco se posiciona sobre assuntos disciplinares ou de investigação, não foi a favor dele. Como aquilo era uma decisão tomada pela maioria, Caius não teve outra escolha a não ser obedecer e se conformar. Mas sem perder as esperanças.

Tive que me controlar para não me remexer no lugar à medida que as enxurradas de novas informações acerca do atual estado de Bella recaiam sobre mim. Muito menos arfar quando vi sua nova aparência através de seus olhos turvos. - Bella estava linda, sem sombra de dúvidas, com o cabelo mais escuro ainda, mas sem perder seu fundo avermelhado, pesado e passando um pouco abaixo da linha da cintura, postura elegante e felina. Tinha constantemente uma expressão feroz no rosto toda vez que se deparava em uma situação estressante e que a fazia perder a cabeça, ou desprezo sempre que precisava estar no mesmo ambiente que os outros membros daquele castelo. Não parecia em nada a garota que deixei anos atrás em uma floresta, frágil, quente e muito humana. Ela estava rígida e agressiva, e seus olhos vermelhos como sangue pareciam capazes de matar alguém apenas ao encará-los. - Caius gostava disso, mas não gostava do fato de não conseguir controlá-la. Ela era uma bomba-relógio prestes a explodir e que Aro insistia em não largar de mão. “Um talento tão único, como Jane e Alec”, ele disse. Caius queria realmente acreditar que valeria a pena toda essa dor de cabeça por causa da garota. Preferia descartá-la, ou mandá-la embora. Aro poderia se preocupar com a sua coleçãozinha particular depois.

Edward, está tudo bem?, perguntou Jasper, detectando a minha mudança de humor. Eu estava irritado, fervilhando de raiva por aquele homem e eu mesmo.

Eles estavam tratando Bella como um bicho selvagem, tentando domá-la de todas as maneiras. Não para que ela não se tornasse um perigo devido a sua condição de recém-criada, mas que ela servisse a guarda como uma leal guerreira e assassina; pois era isso que ela estava se tornando toda vez que se alimentava de sangue humano. Tudo que eu menos queria para ela: que um dia fosse como eu fui e se arrependesse; que me odiasse por isso, assim como um dia eu odiei Carlisle.

Engoli um rosnado e o meu movimento foi detectado por um dos guardas, mas meu irmão, sem deixar passar nada, envolveu-me em uma bolha de desinteresse, o que tornou-me uma figura muito entediante e assim desviando a atenção dele sobre mim.

Seja lá o que você esteja vendo na cabeça dele, mantenha a calma, senão vou ser obrigado a intervir. Não vou deixar que sejamos arrastados como criminosos só porque você está de mal-humor, grunhiu Jazz, despejando outra onda de paz pela sala, mas ainda respeitando os limites à minha volta.

Vi quando a Alice previu o olhar de Caius sobre mim, antes mesmo dele se virar novamente em minha direção, dando-me tempo de me recompor.

— Diga-me, Edward, - murmurou ele, seus olhos leitosos pelos anos queimando corpos de pedra. Nem mesmo cinco segundos haviam se passado desde que o homem mais velho se sentou no sofá. Aro havia dado a minha descrição e a de Alice para ele, a fim de que pudéssemos ser facilmente identificados. Uma tática a qual denunciava que, apesar de ser uma visita diplomática, Aro não nos deixaria escapar nem mesmo de uma “simples inspeção”. - como vocês dois passaram por nós?

— Achei que esta era uma visita amigável. - disse, lembrando-o de sua fala de poucos minutos atrás.

Meu tom morto, quase de desdém, o incomodou, mas Jasper impediu que evoluísse para um estado mais preocupante. Tudo tinha que sair perfeito. Pega leve, cacete!, alertou-me mentalmente. Se ele pudesse me chutar, o teria feito.

— Não entenda mal, Edward. Estou perguntando pois, como encarregado pela formação da guarda de menor escalão, preciso saber que tipos de erros meus homens cometeram. - disse ele docemente.

— Os túneis estavam vazios. Tivemos o caminho livre por inteiro.

— Vazios? - Seus olhos piscaram uma vez, surpreso. Ou melhor, fingindo estar surpreso. Mas ele não enganava a mim, muito menos ao Jazz ou Alice, que monitoravam possíveis reações. - Você tem certeza?

— Estavam completamente livres. - disse Alice, cruzando as pernas magras e com o semblante mais relaxado que poderia apresentar. - O alarme soou apenas quando já estávamos fora dos muros da cidade. Caso contrário, teríamos sido interceptados, certo? - Ela sorriu, deixando o homem de cabelo claro irado, pois em sua cabeça conspiratória Caius acreditava que estávamos mentindo, e a ausência de medo em Alice e em mim desafiava seu orgulho, tornava nossos atos ainda mais desrespeitosos, como se estivessemos zombando dele e de seu discernimento.

Dessa vez, Jasper não impediu suas emoções de se aflorarem. Uma jogada bem feita, pois Alice viu que iria levantar suspeitas fazer com que esta informação fosse amenizada sem motivo aparente. Era como se os dois estivessem em perfeita sincronia, mesmo que não pudessem falar entre si.

Porém, Caius não estava autorizado a ser rude e impiedoso, então restou-lhe apenas sorrir, também.

— Isso é verdade. - concordou, lutando para não fazer uma careta. - Nos dias atuais, é raro encontrar servos leais e competentes. Quem deveria estar guarnecendo aqueles túneis ficou tão distraído com as festividades que se esqueceu de seus deveres. - deu de ombros em uma falsa lamentação. Tinha ficado satisfeito em eliminá-los pessoalmente, para que servissem de exemplo aos outros. - Em nossa posição como líderes de confiança, erros assim são inadmissíveis. Não concorda, Carlisle?

— Sim, Caius. - assentiu, encolhendo-se por dentro. Apesar de não poder ler a mente de Caius como eu, Carlisle conhecia a política de eficiência dos Volturi. Desde o início, quando ainda convivia com eles, nunca foi a favor deste tipo de punição, mas os guardas Volturi conhecem muitos segredos do castelo, entre saídas, entradas, rotinas e os cofres, e a possibilidade de usarem isso para um dia atacá-los era demais para que fosse ignorada. Uma coisa era sair por vontade própria, sem ressentimentos. Outra era ser expulso. - Vocês vêm fazendo um trabalho excelente ao longo dos últimos séculos.

— E pretendemos continuar assim. - O seu tom continuava cordial, mas sua mente gritava as mesmas palavras com ameaças. Ele não gostava do teatro. Preferia partir para a ação, deixando muito bem claras as suas intenções. - Por mais que a invasão tenha sido uma grande imprudência, ela serviu para que pudéssemos enxergar nossos pontos fracos e os erradicar. Devido este pequeno favor, Aro está disposto a recebê-los em nossa casa para que possamos conversar e, bem, relembrar velhos tempos.

— Muito gentil da parte dele perdoar os erros dos meus filhos. - disse Carlisle.

Caius ergueu a mão e apontou para cada um de nós.

— O verdadeiro erro foi cometido por todos vocês. Mas a garota, por incrível que pareça, foi leal por todos estes anos e não nos expôs. - Caius não confiava tanto assim pelo fato de Aro não conseguir entrar em sua mente, mas Bella era uma péssima mentirosa, tinha que reconhecer. Havia notado algo de errado com ela desde a primeira vez que a viu no torreão, segurando a amiga desacordada nos braços. Ela tinha negado conhecer o nosso mundo, mas estava tão evidente sua tentativa chula de enganá-los que seu irmão ordenou que ficassem de olho nelas duas até que houvesse alguma pista, uma confirmação de suas suspeitas. E, bingo! Em um momento de fraqueza sentimental, Bella se entregou. - Aro admirou-se tanto com seu compromisso que decidiu lhe dar a oportunidade de uma nova vida, e à sua amiga também. Sendo ela parte de nosso mundo agora, decidiu-se que toda esta dívida está quitada. Não há o que temer.

— Mas temos escolha sobre esta tal visita até Volterra? - perguntei pois Carlisle não tinha coragem e não achava prudente uma abordagem tão direta de suas reais intenções.

O olhar que Caius tentava sustentar quebrou-se e revelou o seu verdadeiro humor gélido. Seu peito vibrou com um rosnado baixo. Eu havia usado o mesmo tom debochado que Bella usou antes de atravessar a porta de ferro de sua jaula escura, quando ela perguntou se tinha escolha entrar naquele lugar ou não.

— Aro quer garantir que vocês não vão repetir tal insensatez. - grunhiu. - Ela poderia ter rompido o seu voto de silêncio. Humanos são voláteis.

— Sim, Caius. Nós prometemos… - Começou Carlisle, mas logo foi interrompido.

— Promessas são palavras ditas de maneira deliberada e visando um objetivo. - Agora Caius cuspia fogo pelos olhos. Tinha rompido sua máscara de cordialidade. Seria repreendido por Aro, mas sua paciência tinha cruzado todos os limites cabíveis. - Cumprir ou não dependerá apenas da índole de quem as proferiu. Aro confia em você, Carlisle, pois já esteve em sua mente e sabemos que respeita as leis. Mas e os outros? E se eles cruzarem com outros humanos “interessantes” e decidirem que irão dar brechas para especulações, ou pior: para que saibam a verdade? Está disposto a perder a confiança que depositamos em você?

— Como meus filhos, sei que respondo por suas atitudes. O que aconteceu com Bella foi um fato isolado e que tentamos corrigir com a nossa partida. Confiávamos nela, e apenas por isso ela permaneceu perto de nós por tanto tempo e fomos embora sabendo que ela não diria nada e nem a ninguém. - Até Carlisle, que sempre foi muito tranquilo, estava irritado com tais acusações e suposições. - E assim como sei de nossas responsabilidades, também confio no julgamento deles e que não seriam imprudentes novamente.

— É o que vamos averiguar. - disse ele, levantando-se em um salto impaciente. Tinha abandonado de vez as boas maneiras.

Vi pelo canto do olho Jasper e Emmett fazerem o mesmo. Em suas mentes, eles esperavam pelo conflito que tentávamos evitar. Jasper estava disposto a amedrontar a todos, torná-los seres frágeis e assustados, mas Alice o conteve, segurando a sua mão e puxando para si, deixando apenas Em de pé, em guarda. Um ataque poderia levar a retaliação posterior.

Caius observou tudo em silêncio, pronto para se abrigar atrás de seus guardas ao menor sinal de avanço. Os guardas, agora sem a influência de Jasper, estavam tensos e alertas de novo. Questionavam-se como não tinham previsto tal situação, permitindo-se estarem tão à vontade em um ambiente inimigo, agora atentos a quaisquer ordens que fossem dadas.

— Emmett, sente-se, por favor. - ouvi Rosalie murmurar. Ela tinha visto o movimento de Alice e estava tentando fazer Emmett seguir a deixa.

Relutante, ele a obedeceu, mas sem tirar os olhos de Caius e de seus homens. - Se Caius pudesse ter reações humanas, seu corpo estaria coberto de arrepios. O tamanho de Emmett e a aparência hostil de Jasper (com as suas inúmeras marcas de mordida) não ofereciam tranquilidade. - Muito pelo contrário.

Carlisle se levantou também, pondo-se no meio do caminho.

— Sim, nós vamos. - disse ele, concordando com o ancião. - Mas precisamos de alguns dias para deixar tudo organizado para a nossa partida, por não saber por quanto tempo ficaremos fora.

— Vocês têm quatros dias. Aro tem pressa.

Depois de se despedirem, Caius e seus homens partiram. Disseram que estariam nos esperando em Nova Iorque, onde havia um avião particular esperando para nos levar até a Itália. Carlisle ficou conosco por um tempo, coordenando nossos próximos movimentos, e foi até o hospital deixar todos os seus assuntos em ordem. Esme preparou a casa para ser fechada. Alice e Rosalie organizaram as malas. Jasper, Emmett e eu saímos para caçar novamente. Aproveitamos este momento sozinhos para conversar e elaborar algum plano de emergência, caso as coisas saíssem dos eixos durante nossa viagem.

— Aqueles velhos não podem ser tão perigosos assim. - bufou Emmett depois de abater um alce carrancudo. Estávamos em uma parte inóspita do Canadá, perto da costa leste. Ali, as cidades eram escassas e os humanos, mais ainda. Portanto, podíamos caçar durante o dia, mesmo com o sol sobre nós, brilhando vigorosamente. - Vocês dois ultrapassaram as defesas deles.

— O lugar estava vazio, Em. - resmunguei, sentando-me em uma pedra alta e olhando a floresta de pinheiros ao meu redor. O lugar estava silencioso, e se não fosse pela presença de meus irmãos e suas mentes barulhentas (Emmett formulando mil e uma maneiras de causar confusão em nosso encontro, apenas para tirar Bella de Volterra; e Jasper, ainda mapeado o terreno, sendo o soldado tático e comandante que aprendera a ser. Segundo ele, nosso maior empecilho seria o próprio castelo e a quantidade de homens que os Volturi tinham. Teria que encontrar um jeito de se familiarizar com os túneis de escoamento se queríamos uma fuga limpa e sem baixas de ambos os lados. O suficiente para que partíssemos despercebidos. Claro, isso partindo do pressuposto de que Aro não encarasse nossa partida abrupta como uma ofensa e nos perseguisse como criminosos. Caso contrário, Jazz iria aderir a abordagem de Emmett. Qualquer coisa para nos proteger, principalmente Alice.), eu teria odiado ficar ali; precisava pensar de maneira organizada e ter seus pensamentos obstinados ajudava a clarear os meus, não me deixando totalmente preso ao desespero e à ansiedade. - Mesmo que Alice não estivesse comigo, eu teria conseguido entrar livremente.

— Não é à toa que Caius suspeita de que haja traidores. Um descuido tão estúpido que não deveria existir. Mas o verdadeiro problema está nas habilidades de luta e neutralização dos guardas que não vimos. - disse Jasper meio segundo depois, após se alimentar também. Eu deveria fazer o mesmo, mas estava agitado demais para pensar em qualquer outra coisa senão em Bella e sua nova condição. Jasper percebeu o meu estado de espírito, mas ainda cumpria a sua palavra em não intervir, focando somente no futuro que nos aguardava. - E, segundo Alice, eles estarão por todos os lados. Aro já espera que nós iremos tentar levar Bella embora de novo. Ficará de olho, em nossas mentes e nossos passos. Diferente dela, não seremos imunes aos seus poderes. Ele saberá.

— Saberá desta conversa? - perguntou Emmett, desdenhoso.

— E de qualquer outra que você tenha tido na vida. - grunhi, estremecendo. - Cada lembrança, cada som, cheiro, visão ou sabor que já tenha experimentado ou vivenciado. Aro saberá de tudo. É o que ele faz.

Emmett fez uma careta. A realidade de que o fator surpresa não estaria a nosso favor o deixava incomodado e tenso. Além da segurança de nossa família, pensava em Rose e no fato de que, por mais hostil que ela pudesse ser em alguns momentos e não ser pequena como as outras mulheres da família, ela não era uma lutadora, como ele ou Jazz, ou veloz como eu. Teria que ir com tudo se quisesse mantê-la segura, torcendo para ser rápido o suficiente para garantir suas costas enquanto a protegia.

— As coisas não vão chegar nesse nível. - Quem se manifestou foi Jasper, como se pudesse ler a mente de Emmett apenas por seu semblante impetuoso e a tensão que pairava sobre ele. - Nós vamos sair dali sem alarde.

— E depois? Torcemos para que não venham atrás de nós?

— Não cometeremos crime algum. Todos da guarda são livres para ir e vir. Temos esse pressuposto em nosso favor. - Por mais que Jasper entendesse que havia um tom muito ameaçador na visita mais recente de Caius, ainda confiava que os Volturi estavam dispostos a cumprir a lei se fossem estimulados o suficiente.

— Mas Edward e Alice disseram que Aro está obcecado por ela e pelo fato de ninguém conseguir entrar na mente dela. - E riu, irônico. Parece um certo alguém de alguns anos atrás…

Fiz uma careta. Quis mostrar os dentes para ele.

— Carlisle exigiu que tentássemos. - murmurou Jasper, e Emmett não o contradisse. - Sabemos que os Volturi não ficarão felizes. Talvez, com exceção de Caius. - bufou. Assim como Em, Jazz achava a situação, apesar de preocupante, um tanto engraçada também. Ele se virou para mim. - Você disse que Caius está praticamente implorando para que se livrem das duas.

Assenti, ainda encarando as copas das árvores.

— Ele acha que Bella e Natalie são trabalho demais e que atrapalham a rotina da guarda.

Jasper assentiu.

— Recém-criados têm o seu próprio ritmo. O encarceramento não funciona, só os deixam mais irritados. - Em sua mente, lembrou-se do tempo em que fazia parte dos exércitos do sul e treinou centenas de meninos para serem soldados perfeitos. Graças às suas habilidades, podia controlá-los e discipliná-los, descobrindo o que funcionava ou não. Com Bella, os Volturi não possuíam este tipo de recurso por conta de sua teimosia, e Natalie parecia ser pouco suscetível, também.

— Pretende pôr em prática as suas velhas habilidades de adestrador? - perguntou Emmett.

— Isso não tem graça, Emmett. - grunhi. Não estava com paciência para piadinhas.

— Não, não tem. Mas pode funcionar. - disse Jasper, me fazendo olhar para ele desde que havia se juntando a nossa pequena roda de conversa. - Se vamos ficar por tempo indeterminado, que pelo menos seja um tempo útil a nosso favor.

Naquele dia, mais tarde, Jasper contou a todos o seu plano. Carlisle o aprovou e todos concordaram com ele. Alice tinha pequenas ressalvas, mas nada que tornasse o resultado impossível de ser alcançado. Ela foi encarregada de traçar os detalhes finais, amarrar as pontas soltas. Estávamos cientes que tudo, tudo mesmo, poderia mudar e tomar um rumo diferente a qualquer momento; as possibilidades eram inúmeras. Nos preparamos para elas, também.

Em Nova Iorque, três dias depois, fomos recepcionados, ainda na pista de decolagem e ao lado do pequeno jato que nos levaria até a Itália, por guardas diferentes daqueles que estavam acompanhando Caius Volturi em sua visita, a começar por seus mantos: diferente dos guarda-costas, cujo os mantos eram cinza-claros, os deles eram cinza-médio, como grafite. Era um casal, posicionado muito formalmente ao lado do avião, formado por um homem muito grande e muito largo, surpreendentemente maior que Emmett, mas de alturas semelhantes, cabelos loiros ondulados e barba espessa, semblante relaxado, e por uma mulher, um pouco mais alta que Alice, cabelos escuros cacheados e revoltos, traços um pouco infantis e expressão neutra. - A mente do homem era como uma batida constante de pensamentos metódicos. Ele sabia quem éramos e o seu papel em nos escoltar até o castelo. Os pensamentos da mulher… bem, não eram os mais interessantes, por assim dizer. Era como encarar um espelho: você via o que ela via, mas nenhuma palavra que denunciasse suas funções, suas intenções ou quem era ela. Muito incômodo e confuso. Apelei para as próprias percepções de Jasper acerca da desconhecida, mas ele estava igualmente intrigado, como se as emoções dela fossem ondas vazias, correntes de ar que nada traziam de novo para o ambiente. Uma existência sem vida; diferente do homem ao seu lado, que estava tranquilo e um tanto feliz por estar ali.

Uma felicidade sem explicação, mas que logo foi justificada pela surpreendente euforia de Esme e Carlisle ao ver os dois guardas Volturi, nos atingiu. Emmett e Rosalie também os reconheceram. Em suas lembranças, aquele mesmo casal vestia roupas diferentes, mais antigas, dos anos 40, e sem toda a formalidade.

— Abner, Gabriela! - Carlisle foi até o homem grande e o abraçou. Ele praticamente sumiu por entre os braços volumosos e compridos. Esme fez o mesmo com Gabriela, e também foi recebida com entusiasmo. Notei por Jasper quando houve a quebra daquela fachada de emoções vazias, que foram substituídas por apreciação, tão genuína quanto de Abner.  - Não esperávamos vê-los por aqui.

Abner se afastou, o rosto sério iluminando-se em um sorriso caloroso.

— Muita coisa mudou em sete décadas, Carlisle. - Abner riu.

Mais uma enxurrada de lembranças, tanto de minha família quanto do casal usando mantos escuros. - Eles haviam se encontrado antes, uma única vez, após a nossa partida do local que viria a ser Forks posteriormente. Mais precisamente, no ano de 1948. Nesta época, eu estava em Denali com os nossos primos, como uma pequena férias. Alice e Jasper ainda se juntariam a nós dois anos depois; isso explica porque não os reconhecemos, mas lembro de Carlisle mencionar sobre eles, meses depois, quando retornei para casa.

Abner era um homem tranquilo e inteligente, amante da filosofia e política e por mais que não entendesse muito de medicina, fez inúmeras perguntas à Carlisle, além de elogiar muito Esme e Rosalie, e disputar forças com Emmett (Emmett perdeu e jurou que haveria uma revanche. Claro que ele nunca se esqueceu de sua promessa, nem mesmo Abner que, por mais sereno que fosse, tinha um pouco de competitividade dentro de si). Gabriela foi mais reservada no início, mas não demorou mais do que meio dia para se soltar e aderir ao humor excêntrico de Emmett e ao entusiasmo artístico de Esme. Elas conversaram por horas sobre tudo, Gabriela chegando a revelar que ela e Abner tinham um filho juntos, da época em que ambos eram humanos. Gabriela foi transformada primeiro, quando tinha 26 anos, e mais tarde ela transformou Abner, quando ele estava morrendo pelo câncer e seu menino, Luther, tinha somente 16 anos. O garoto ficou sob os cuidados dos avós e teve uma vida tranquila. Envelheceu, teve filhos e netos. Estava com 80 anos, atualmente. Ambos faziam questão de acompanhar a vida de Luther de longe, sempre muito felizes por vê-lo tendo uma vida comum e normal. Não que eles odiassem ter a vida que possuíam - A mortalidade e a imortalidade havia os unido para sempre -, mas nunca deixaram de lado a ligação que tinham com o filho, às vezes lamentando não poderem estar por perto de maneira significativa.

Foram as primeiras lembranças que Gabriela permitiu transparecer, junto de um rosto envelhecido e sorridente, muito semelhante ao de Abner se o tempo tivesse agido sobre ele, mas os cabelos brancos eram tão curvilíneos quanto o dela. A onda de ternura que emanava dela deixou Jasper em choque; sua primeira associação foi Esme e o amor que ela tinha por nós. Quis sorrir diante de tal descoberta, mas preferiu se conter.

Foi a vez de Emmett e Rosalie ir até eles, tão sorridentes quanto os nossos pais. Ele deu o seu grande abraço de urso em Abner, e depois Gabriela, erguendo-a do chão e rindo com entusiasmo. Ela também riu, uma risada delicada de sinos de vento, mas com um “quê” de grave no meio. Rosalie foi mais contida em seus cumprimentos, limitando-se apenas a um aperto de mãos e beijos no rosto.

— Uma mudança e tanto. - Concordou Carlisle. - Edward, Alice, Jasper, esses são velhos amigos nossos: Abner e Gabriela. Abner e Gabriela, estes são os nossos outros filhos. - Ele nos apresentou rapidamente. - Nunca pensei que veria vocês deste outro lado do mundo. Nômades costumam viajar apenas pelos lugares que conhecem, por segurança e conforto, além de muitos considerarem tedioso ficar em um único lugar.

— Não estamos aqui de passagem. - murmurou docemente Gabriela, adotando um pouco da postura rígida de antes, fechando sua mente e suas emoções novamente. - E pode acreditar, não é tedioso. Ainda mais, ultimamente… - Sua frase inacabada ficou suspensa no ar, e vi quando os seus olhos caíram sobre o meu rosto.

Este foi o gatilho para que os novos rostos de Bella e Natalie aparecessem nos pensamentos de Abner e uma pequena risada escapar de seus lábios. Ele sabia que o tom e as palavras de Gabriela eram uma espécie de “piada”.

— Qual é a graça? - perguntou Jasper, olhando para mim, procurando pelas respostas corretas.

O questionamento chamou a atenção de Abner. Afinal, esta deveria ser uma pergunta feita a ele, e não a mim.

Mas foi Alice quem respondeu, deixando ainda mais intrigado:

— Eles explicarão tudo quando estivermos no ar. - Em sua visão, Abner e Gabriela nos forneciam um dossiê completo do que estava acontecendo no castelo com elas e sua nova e nada agradável vida. Eu já havia visto parte dela antes, na própria mente de Caius, mas vê-la pela ótica de outra pessoa, menos tendenciosa e aparentemente mais empática, tornava a absorção das informações muito mais palatável. - Estão nos esperando na Itália. Não temos tempo para ficar parados aqui. - Alice sabia que nosso atraso poderia deixar os ânimos um pouco agitados; a pontualidade era valorizada.

— Ela tem razão. Nós precisamos ir. - concordou Abner, a voz denunciando a sua curiosidade. Ele também tinha perguntas a fazer, além de nos contar as poucas novidades. Gesticulando para o piloto e sua tripulação (todos humanos), ele nos convidou: - Estamos partindo.

Foi uma viagem longa e relativamente agradável. O assunto desconfortável foi esquecido por algum momento. Abner e Gabriela contaram sobre a sua trajetória nos últimos setenta anos. - Eles continuaram como nômades por um tempo, explorando o continente americano de ponta a ponta, conhecendo outros vampiros como eles e aprendendo sobre culturas diferentes das deles. O motivo das viagens era por inspiração gerada pelas histórias de viagens de Carlisle; queriam ter uma experiência semelhante. Quando não havia mais nada para ver ali, partiram para a Europa. Depois África, Ásia e por último a Oceania. Eles descreveram como “a lua-de-mel perfeita”, visto que, quando ainda eram simples humanos morando na fronteira com o México, eles haviam idealizado como seria se pudesse viajar pelo mundo inteiro após o casamento. Um sonho bobo de jovens noivos, mas que acabou se realizando de alguma maneira.

Foi após a visita à Oceania que o casal se juntou aos Volturi, quinze anos antes deste reencontro. Eles acompanharam um antigo amigo, Hako, até a Itália. Ele pretendia se juntar a guarda, por admirar o trabalho feito pelos anciãos. Abner e Gabriela já tinham ouvido falar sobre a guarda, mas nunca puseram os pés a menos de mil quilômetros de Volterra. Eram nômades, afinal. A cautela excessiva estava em suas mentes. Foi Hako que os convenceu. - No fim, o amigo foi embora em menos de dois anos e eles ficaram. Gostavam de estar lá e nutriam admiração pelos irmãos e seus servos, mas nada tão devocional quanto os membros mais antigos. É claro, seguiam o protocolo e chamavam os seus senhores de “metres”. Diferente de Bella e Natalie; os outros ficavam indignados e horrorizados. Eles achavam engraçado tamanha ousadia. Não sabiam distinguir se era parte da personalidade delas ou coisa de recém-criados. Abner lembra de ser um saco como um novo vampiro, mas nada tão vigoroso. Gabriela também não.

— Bella sempre foi corajosa, quase maluca! - Emmett riu, lembrando-se de quando ela se posicionou tão firmemente quando estava sendo perseguida e exigia não ser ignorada. - Quando era humana, nunca teve medo de um bando de vampiros. Duvido muito que ela vá ter agora, já que é uma de nós.

— Essa Natalie não parece ser muito diferente. - comentei. - Espalhafatosa, sem dúvida.

— Sim, ela é. - Foi a vez de Abner. - Ela está deixando Heidi maluca. Nunca vi aquela mulher ter que se empenhar tanto para manter alguém dentro dos eixos, olha que eu conheço ela há pouco tempo. Até os outros parecem estar com pena.

— Escorregadia. - murmurou Gabriela.

— Como uma barra de manteiga. - Abner concordou. - Se Caius não fosse tão assustador, creio que Heidi já teria lavado as mãos há muito tempo.

— E vocês podem comentar sobre isso? Não vai irritar os seus senhores? - perguntou, Rosalie. Ela, junto comigo e Alice, que não conseguia relaxar. Na cabeça dela, seríamos tratados como prisioneiros em Volterra. Não que estivesse muito longe da provável realidade, mas Aro não era tolo ao ponto de ser agressivo de forma tão explícita, ainda mais se tratando Carlisle. Ele ainda gostava do antigo companheiro e o admirava; era o que Alice nos garantia, e ela nunca errou.

Gabriela gesticulou, como se dispensasse a ideia.

— Não, não é informação confidencial. Afinal, vocês já irão presenciar tudo. - Sua mente ainda era um grande painel do mundo exterior. Pelo que Abner deixou transparecer, este sentimento de vazio era parte do treinamento de Gabriela, visto que a maioria dos poderes entre os vampiros estava relacionado com a mente. Uma camuflagem capaz de ocultar os seus rastros até mesmo de Demitri, o melhor rastreador já encontrado, visto que ele capta a essência de sua mente, tornando-o eficaz em qualquer escala de dificuldade. Encontraria um fugitivo até mesmo nas profundezas do mar, se esta fosse a sua tarefa. Mas isso não explicava o fato dela estar tornando-se invisível ao Jasper também. Uma habilidade única, de fato. - Só pedimos que tenham cautela. Onde há recém-criados, há muita tensão envolvida. E Aro está intrinsecamente envolvido com elas. Afinal, foi o seu veneno que as transformou.

A esta altura, estava mais do que óbvio para nós que Aro não iria ceder com facilidade a qualquer proposta feita. Alice mantinha a mente ocupada, sondando todas brechas, mas o futuro parecia caminhar por vias tortuosas que nem mesmo ela conseguia compreender: decisões que ainda não haviam sido tomadas, mas que poderiam afetar tudo e tomar rumos desagradáveis. - Vi quando houve uma pequena mudança imediata em suas visões, as imagens do castelo sendo substituída por uma pista de pouso em meio a campos verdes, sob o céu estrelado.

Um segundo depois, uma comissária de bordo abriu a porta da cabine e veio até nós. A tripulação tinha sido instruída a ficar isolada de nós, por segurança. Eles sabiam o que éramos; um dos muitos lacaios humanos dos Volturi. “Comida reserva”, disse Gabriela em tom de piada quando Emmett perguntou.

— Pousaremos em quinze minutos. - Ela se dirigiu a Abner, mantendo uma distância respeitosa e encarando os olhos vermelhos sem hesitação, como um animal bem treinado.

— Obrigado, Cristina. - agradeceu Abner, com um sorriso singelo.

Todos ouviram quando o coração da humana se acelerou, mas o seu rosto permaneceu com a cor normal graças a maquiagem.

Ela assentiu e se retirou.

— Bem, que a festa de boas-vindas comece. - disse ele, sarcasticamente.

Em vez do aeroporto de Florença, pousamos em uma pequena fazenda a meio caminho de Volterra, em uma pista por entre árvores enormes. Caminhamos em silêncio por um estradinha até alcançarmos a parte mais aberta do terreno. Ao longe, podíamos ver a construção principal, típica da região: uma casa antiga, de dois andares, feita de tijolos de pedra e telhas desbotadas pelo sol. O dia ainda estava amanhecendo, mas já haviam trabalhadores guiando centenas de ovelhas em um rebanho organizado. Eles ignoraram nossa presença, embora suas mentes estivessem consideravelmente agitadas, com pensamentos que variavam de medo dos olhos vermelhos de Abner e Gabriela, ao fato de que nossas peles pareciam cintilar um pouco na luz da aurora. Mas eram muito bem pagos para não ficarem encarando ou se questionando.

— Sua rede de empregados humanos é bem grande. - comentou Jasper quando já estávamos do lado de dentro. Ouvimos quando o último humano presente na residência se retirou às pressas pela porta dos fundos. - Não me parece muito seguro que tantos humanos de uma vez nos vejam assim.

— Esta fazenda nos pertence há um século. - falou Abner enquanto éramos guiados em direção a adega, no subsolo. Gabriela foi até um painel de pedra, uma parede vazia, e cuidadosamente o retirou da parede. Deveria pesar pelo menos uma tonelada e meia, peso demais até mesmo para os quinze humanos dali conseguirem arrastar sozinhos. Por trás dele, um túnel escuro entalhado em blocos de pedra, muito semelhante ao das masmorras. - Os funcionários são rotativos, não duram mais do que cinco anos. Então não se preocupem, temos plena cautela. - Ele gesticulou para que entrássemos logo atrás dele, com Gabriela na nossa retaguarda. - Este é um dos nossos canais de escoamento. Nos poupa dos olhares de humanos que não podem ser persuadidos.

Foi uma corrida silenciosa pelos túneis. Não havia luz natural ou cheiro aparente pelos primeiros quilômetros, mas logo pudemos enxergar algo à frente. Depois, odores sutis de outros que haviam transitado por ali.

— Estamos quase dentro do círculo da cidade. - anunciou Gabriela com uma voz monótona e estranha. Alice, Jasper e eu ouvimos, vimos e sentimos quando Abner se fechou também, abandonando sua postura descontraída de antes, quando nos recepcionou em Nova Iorque.

Faz parte do protocolo, ouvi Alice pensar quando teve uma visão de meu questionamento. Dentro dessas paredes, todos são marionetes. Até mesmo eles, que parecem ser nossos amigos. Aqui dentro eles são guardas, portanto, não conte com ajuda. E me mostrou uma visão, onde tudo dava errado. Era uma fumaça, um sopro simplório de possibilidade, mas era algo a se considerar. Se aquele primeiro encontro saísse dos eixos, eles não se colocariam a nosso favor. Por mais que não venerassem os anciãos, ainda os respeitavam.

Chegamos à origem das luzes distantes: um conjunto de três elevadores em uma espécie de saguão subterrâneo. Um deles tinha um conjunto numérico para senha ao lado das portas duplas e estava fechado. Os outros dois estavam aguardando por nós no piso, e estavam sendo segurados por duas figuras femininas, duas vampiras desta vez. Por um breve momento, eu não as reconheci, e então a vidência de Alice agiu. Fiquei chocado, a princípio, mas mantive o semblante neutro pois não esperava ver uma delas tão cedo.

— Carlisle, Esme, estas são Heidi e Natalie. - apresentou Abner. Ele foi até as duas as cumprimentou com beijos no rosto. Gabriela, que vinha logo atrás, avançou para fazer o mesmo.

— Sejam bem-vindos. Vocês estão atrasados. - reclamou aquela nomeada como Heidi, um sorrisinho sarcástico nos lábios, cutucando Gabriela com a ponta da unha escarlate antes que a garota menor pudesse se afastar; uma provocação. Havia muitas entre elas, visto que Gabriela demonstrava ser tão formidável com ela em alguns aspectos. Uma rivalidade besta que ela insistia em cultivar, mesmo que sua adversária claramente mostrasse não se importar.

— Cinco minutos. Nada demais. - murmurou Gabriela secamente e espelhou o sorriso de Heidi, apagando-o do rosto imediatamente em seguida. - Acredito que não será problema nenhum para eles esperar pelos convidados. - Deu de ombros. - Imprevistos acontecem. O que me diz, Natalie?

A garota, que até o momento está imóvel e silenciosa como uma estátua, focando apenas em analisar cada um de nossos rostos e tentar associá-los à história que ouviu de Bella um pouco antes da transformação (havia pensado muito em Bella desde que foram separadas para receber seus treinamentos, mais ainda quando soube que ela tinha ido parar na jaula especial de novo), abriu um sorriso enorme, iluminando o seu rosto como o de uma criança.

Batendo palminhas como uma adolescente, abandonando a postura formal, ela respondeu:

— O Sr. Aro está se dirigindo até as masmorras mais abaixo para trazer Bella e fazer com que se junte a nós. - Seus olhos iluminados pareciam dançar com a luz; ela tinha recebido permissão para retornar o contato com a melhor amiga depois de longas semanas difíceis em busca de autocontrole para ambas. Havia ficado triste e cabisbaixa na maior parte do tempo, principalmente quando tinha que ignorá-la, porém, finalmente teria o que queria quase que por necessidade.

Abner riu dos pulinhos de Natalie e Heidi fez uma carranca. Era bizarro para ela ver aquela euforia toda, de Natalie, do próprio Mestre Aro. Até Marcus parecia chocado. Ninguém entendia o que havia de especial naquela rebelde. Apenas que tinha uma mente impenetrável e afiada. A língua também, se a irritasse por tempo suficiente.

— Se Aro está feliz, devemos nos juntar a ele logo, evitar qualquer mal-estar. - disse Jasper, tentando segurar a risada em relação a figura diante de si. Emmett não se continha; podia senti-lo se sacudir logo atrás de mim, não parando nem mesmo quando Rosalie o cutucou e Esme lançou a ele um olhar de censura.

Se Gabriela era um poço seco, sem emoções, Natalie era como uma cachoeira abundante, derramando litros e litros de pura felicidade e paixão. Quando falava de Bella, a sensação para Jasper era como a de um amante apaixonado falando de sua donzela querida. Havia ternura, amor, carinho. Saudades. A transformação tinha apagado de sua mente muitas lembranças, de sua família ainda humana, da própria Bella, mas seu coração ainda estava no lugar que julgava que deveria estar. Olhando mais profundamente em sua mente, não havia um interesse romântico em Bella, por mais que os sentimentos denunciasse algo diferente. Natalie a adorava e nem sabia direito o porquê, se tinha sido por sua beleza, por seu intelecto, seu caráter, sua fragilidade ou sua teimosia. Talvez um conjunto de ambos fatores.

Assim como Jasper, eu quis rir. Não por achá-la ridícula, como considerava Heidi, ou algum inusitado, como pensavam Abner e Em, mas por sua felicidade genuína. E por todo o nervosismo que fazia o meu corpo formigar. - Anos haviam se passado desde o último contato com Bella. As visões de Alice ofereciam apenas vislumbres de possíveis reações ao que seria proposto aos irmãos Volturi, pois era nisso que ela focava. Ela havia tentado prever as reações prováveis de Bella ao nos ver, ao me ver, mas nada estava concreto. Mais uma vez, o futuro dependia da decisão dela, de como ela nos receberia. Isso só demonstrava que nossa chegada era desconhecida para ela e nada mais. E o seu humor volátil não aliviava a tensão do reencontro.

Não me surpreenderia se ela quisesse arrancar a minha cabeça ou simplesmente me chutar para fora do castelo. Eu merecia. Ou que me xingasse com todo o nojo e raiva do mundo. Eu estava preparado para o seu desprezo. - Porém, uma partezinha minha, egoísta e iludida, fantasiava o momento com olhares apaixonados; dois amantes que nunca se esqueceram.

Culpo minha mãe por essa migalha de esperança. Desde o meu retorno, Esme permaneceu imaginando como seria a nossa vida depois da transformação de Bella. ”Já que ela não é mais humana, não haveria desculpas para estarem longe um do outro, correto?”; eu a ouvi murmurar para Carlisle, como se não soubesse que a escutava. Era de propósito, um exercício diário para me animar. E, por alguns instantes, funcionou. Mas então eu lembrava do que fiz, de sua expressão de dor antes de largá-la no meio da floresta. Não sei se ela chegou a me perdoar, ou se ainda gostava de mim. Pelo que Natalie pensava, Bella havia seguido em frente, arranjou um namorado e entrou para faculdade. E os únicos momentos em que demonstrava estar triste era quando precisava voltar à Forks. Inclusive, sua expressão quando falava de mim, ainda que nublada pela visão limitada da vida humana, não parecia das melhores. Provavelmente a resposta para a grande questão era “não”, ela não havia me perdoado. Céus, por que isso me deixava tão frustrado? Não era o esperado, afinal? Eu não deveria me dar esse luxo de querer, de desejar um final diferente do inevitável. Ela não tinha esquecido o que eu fiz, e jamais esqueceria. Ver a minha cara, ouvir a minha voz, apenas acabaria desencadeando outra crise de raiva. Eu não precisava das visões de Alice para ter certeza.

Você está bem? Aquela voz dentro da minha cabeça me deixou confuso, principalmente pelo fato de que eu não estava me concentrando em nenhuma. Esta era intrusiva e decidida, mas o tom permanecia doce, como se realmente estivesse preocupada. Eu ainda olhava para Natalie e ela me encarava também. Levei milésimos de segundo para entender que ela estava falando comigo. Como? Ela me contou o que você faz, que pode ler mentes. É uma lembrança confusa, por ser humana, mas eu não esqueci. Você está oscilando, como as ondas marinhas. Por quê?

— Tem razão. - concordou Heidi, interrompendo aquela comunicação silenciosa repentina e toda a minha divagação. Nem um segundo havia se passado desde que Jasper havia falado. - Vamos subir. Como somos muitos, precisaremos ir em elevadores separados. Natalie?

— Senhora. - Natalie fez uma mesura e depois gesticulou para nós: - Por aqui.

Segui em sua direção, com Alice, Jasper e Abner em meu encalço. Alice estava agitada. À medida que o momento se aproximava, mais suas visões eclodiam. Tudo estava mais claro, nossa recepção, as conversas e perguntas superficiais que seriam feitas a princípio, mas nada que viesse de Bella, o que a esta altura era inútil tentar descobrir. Isso a deixava maluca, e se não fosse por Jasper, ela já teria tido um surto antes mesmo de entrar naquele elevador.

Ela é persistente. comentou novamente a voz mental de Natalie. Mesmo não tendo os seus desejos atingidos, ela continua batendo na mesma tecla. A frustração é exaustiva. Espero que ela tenha boa estrutura para lidar com tanta carga.

— Como você sabe o que ela está fazendo? - perguntei, ao mesmo tempo em que expulsei sua voz intrusiva e tentei adentrar sua mente, entender o que ela estava fazendo.

Minha fala chamou atenção dos outros.

— Eu não sei o que ela está fazendo. — disse Natalie, tanto com a voz da mente quanto a falada, tornando suas palavras intensas, como se ressonasse por todo o meu corpo. Ela me encarava pelo reflexo do metal do elevador, sem olhar para trás. - Mas sei que está tentando alguma coisa, mas não está conseguindo.

Quis rosnar para ela., tamanha era a sensação de pânico sem sentido que havia tomado conta de mim.

— Dá para parar com isso? - disse entredentes. Seja lá o que estivesse conseguindo fazer, era de dar calafrios. Um vampiro poderia ter calafrios? Aparentemente, sim.

Senti Jasper lançando um pouco da sua aura de calma sobre nós. Ele estava confuso e alerta ao ver a minha repentina agitação e respiração acelerada. Alice já tinha visualizado que não havia perigo iminente, e por isso permaneceu neutra, retornando sua atenção para o que estava à frente. Abner apenas observou em silêncio, aguardando. Ele já tinha visto aquilo antes, minha estranha reação às palavras de Natalie, em outros guardas. Nenhum deles parecia explicar com precisão. Apenas que era avassalador. - Eu entendia este ponto. Mesmo sendo um ser imortal de pedra, as pernas enfraqueceram um pouco. A sensação era muito semelhante à descrição de “pressão baixa” dada pelos humanos.

— Desculpe. - murmurou Natalie, sendo cem por cento sincera ao perceber que tinha feito algo de errado por impulso. Seus pensamentos envergonhados comprovaram isso. Ela se virou para mim. - Só queria que acreditasse. - Um toque de medo ornava a sua voz e sua mente. Medo de ter me machucado.

Antes que eu fizesse a próxima pergunta, a porta do elevador se abriu para uma pequena recepção iluminada. Os outros já esperavam por nós. Heidi parecia nervosa ao notar o nosso desconforto, porém, logo nos recompomos. Carlisle se aproximou, intrigado, e Natalie se afastou para perto de Heidi, evitando qualquer outro contato.

Algum problema? Ele havia captado bem o clima estranho, principalmente o meu rosto, um misto de surpresa e confusão, assim que as portas se abriram.

Balancei a cabeça, não querendo falar sobre isso. Por mais que eu quisesse saber como isso tinha ocorrido, se era alguma espécie de dom de Natalie, não era momento para tais questionamentos.

Heidi nos chamou e nos guiou para dentro.

— Aro está demorando! - grunhiu Caius, andando de um lado para o outro. Ele estava impaciente. Antes de nossa chegada, ele havia tido outra conversa com os seus irmãos, insistindo em nossa punição. Aro e Marcus não estavam dispostos a regressar com a palavra, preferindo se prender aos eventos que se desenrolaram posteriormente.

Eles já estão subindo, disse Alice, mostrando-me Aro conduzindo Bella através dos corredores do salão em frente a sua cela, a recepção principal e a que levava até o torreão, a grande sala onde todos se reuniam. Aro a guiava com um dos braços entrelaçados ao de uma Bella de olhos vermelho-escuros, quase negros, fosse por sede ou raiva, a cara paralisada em uma expressão indecifrável. - Se meu coração ainda fosse um órgão ativo, ele estaria dando cambalhotas. Ela estava linda. Não, esta não é uma palavra justa para descrevê-la neste momento; Bella estava deslumbrante. Se meus olhos ainda pudessem fazer lágrimas, eles estariam cheios delas. Era odioso como a sua humanidade havia a abandonado em tão pouco tempo. E era tudo culpa minha.

Você está sendo muito duro consigo mesmo. Era Esme. Não estava prestando atenção nela, apenas no rosto de Bella, visto através da vidência de Alice e dos funcionários do castelos, humanos ou não. Ao que parece, naquele momento, eu não estava fazendo um bom papel em esconder os meus sentimentos corretamente. Esme podia ver uma das minhas mãos tremendo levemente e o meu rosto de perfil, o olhar focado na pequena porta de madeira.

— É o que acha? - sussurrei, em um tom irônico. Alguns rostos viraram para mim, mas eu os ignorei. Estava tão impaciente em dar um fim nisso quanto Caius, entretanto, por razões diferentes. Eu não queria matar ninguém. Morreria, se isso deixasse Bella feliz. Só precisava saber, finalmente, a extensão dos danos que causei. E quem sabe pedir que ela me perdoasse.

Será que estou sendo muito otimista?

Um dos guardas, de nome Corin, entrou apressadamente no recinto. Ele estava emburrado. Algo sobre estruturas internas danificadas e meninas mimadas. Não estava tão familiarizado com o idioma turco antigo, sua língua materna, então captei poucas coisas.

Aro e Bella ficaram parados do lado de fora.

— Quem está aqui? - perguntou Bella, farejando o ar como um animal procurando por algum perigo. Novidades repentinas sempre a deixavam agitada, isso não tinha mudado.

— Um velho amigo. - respondeu Aro alegremente. Apesar do tom despreocupado, estava alerta também para os seus possíveis atos subsequentes. - E a sua linda família. Tenho certeza que irá adorar conhecê-los. Eles são bem diferentes de nós. - E abriu a porta, levando-a para dentro consigo. - Meu querido amigo Carlisle! - exclamou ele, soltando Bella e vindo até Carlisle, dando-lhe um grande abraço. Ele realmente parecia feliz em nos ver, apesar de todo o desconforto gerado pelo convite.

Bella, com os seus olhos atentos, varreu todo o terreno ao redor e se deteve em nós. Ela paralisou ali, a poucos passos da entrada, mas seu rosto permanecia inabalável. Entretanto, a chuva de emoções que começaram a vir dela, denunciavam que havia outra coisa passando dentro de sua cabeça que ainda era silenciosa para mim. - Primeiro veio a surpresa, e depois a descrença, enquanto seus olhos caiam por cada um de nós. Meio segundo depois, Jasper sentiu toda incredulidade se transformar em dor e depois, desespero, em uma fração de segundo. E então seus olhos caíram sobre sobre Aro, perdendo um pouco mais de seu brilho, passando de um vermelho muito escuro para completamente negro.

A visão de Alice do que aconteceria logo em seguida e da captação que Jasper tinha das emoções dela só reforçaram o que eu já tinha percebido nela: a voracidade de uma fera enfurecida, pronta para despedaçar o seu captor.

Avançamos sobre ela antes que o pior acontecesse.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que continuam acompanhando.
Não esqueçam de deixar a opinião de vocês nos comentários. São sempre muito importantes para mim.

Até o próximo capítulo!



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