Pandemônio escrita por Lady Singer


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorou, mas aqui esta o novo capítulo. Enjoy.



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O zumbi a nossa frente caiu com um golpe rápido de Raul, mas tínhamos que correr agora, o apartamento que estávamos não tinha grade, mas o da frente, 304, tinha e pelo menos os zumbis que estavam neles não nos alcançariam. A porta do 302 se partiu e dois zumbis tropeçaram para frente, um veio em minha direção e se empalou na faca em minhas mãos o outro correu ate Raul que também estava pronto para recebe-lo.

O 303 já tinha a porta quebrada e estava vazio, mas o quarto andar ainda tinha zumbis que tentavam arrebentar as portas. Os dois primeiros a descer eram crianças entre 10 e 14 anos, corpos pequenos e frágeis, olhos vazios e bocas sangrentas. Os dois se atiraram da escada e revelaram outros três adultos que avançavam mancando pelos degraus, cerrei os dentes enquanto recuava.

— se matarmos os menores seremos mordidos e se recuarmos muito ficaremos encurralados- o homem ao meu lado murmurou

— alguma ideia?- resmunguei- talvez bloquear a porta?

— vai nos prender no apartamento, melhor recuar ate a porta, usar as bolsas para defender um braço e usar o outro para golpear.

— se você for mordido eu acabo com você – ele deu um aceno que talvez significasse ‘tenha cuidado também’

Juntos, recuamos ate a parede e puxamos as bolsas da costa, Raul tinha a melhor proteção e sabia disso por que se posicionou mais a frente; deixei a faca firme na mão e me preparei. Os três adultos tinham tropeçado nas crianças, mas todos os cinco já estavam levantando ou rastejando ate nos.

— o menor não consegue levantar, ele vai ser mais fácil de matar, mas fique atento aos pés.

Os três adultos bateram na bolsa de Raul e um dos adolescentes, o que ainda podia andar, tentou mordê-lo no ombro, esfaqueei essa primeira, no olho, e avancei para um dos adultos.

— cuidado com o pé- o alerta me fez pular e evitou uma mordida na panturrilha, chutei o zumbi no chão agradecendo mentalmente pelas botas com bico de ferro.

Dois zumbis adultos tinham caído, mas Raul ainda lutava com um particularmente forte, não era uma disputa que eu pudesse ajudar se não nos livrássemos do zumbi que tentava morder nossos calcanhares. Meu chute tinha deslocado a mandíbula o que dificultaria qualquer mordida, mas não arrisquei e minha faca entrou com facilidade no crânio dele. Ouvi Raul gemer com o esforço de lutar contra o ultimo zumbi restante e decidi que uma tática arriscada podia ser nossa melhor opção.

Afastei-me alguns passos e chamei a atenção do zumbi com um chamado alto

— Ei monte de carne podre!

O som da minha voz distraiu o zumbi tempo o suficiente para que Raul o acertasse, enquanto o corpo dele caiu no chão eu vi meu amigo cair também. Pânico inundou minha voz quando tentei falar.

— te mordeu?

Ele arfava e não respondeu, minha única resposta foi o grunhido e rugido dos zumbis contidos pela grade.

“mate-os antes que eles atraiam todos os zumbis no condomínio”

Recuei ate a grade do 304 e furei os dois zumbis que rosnavam para mim no olho e na têmpora, eles caíram sem muito mais esforço. Raul começou a levantar e apontou para a bolsa que estivera segurando, havia um rasgo nela e um lençol manchado de vermelho podre.

— a bolsa rasgou, mas eu me esqueci de tirar o lençol que uso de travesseiro de dentro- ele riu sem humor- salvou minha vida.

Sem perceber soltei um soluço estrangulado e pulei para abraça-lo, o alivio de que ele não tinha sido mordido superando a medo dos zumbis ou da morte.

— seu idiota!- choraminguei – você não pode morrer e me deixar com uma mulher traumatizada e uma criança para cuidar!

— sinto o seu amor por mim- ele respondeu apertando mais o abraço – tá tudo bem Cris, eu to bem.

Eu não queria soltá-lo, mas tínhamos que verificar os apartamentos que agora estavam limpos de mortos-vivos. Minhas mãos ainda tremiam e eu notei que Raul pressionava o braço com força, ainda pensando que quase fora mordido.

— como vamos levar a comida ate as meninas? Lá só tem um pacote e meio de biscoito.

— Não sei Raul, talvez seja melhor trazê-las aqui- ele me encarou com uma pergunta muda – aqui tem mais comida do que podemos carregar e boa parte dela não pode ficar muito fora da geladeira.

— vai ser muito difícil trazer Del aqui depois do que aconteceu com a...

— teremos que convencê-la, é mais seguro com o bloco trancado- o vi concordar – até porque quem entraria num condomínio infestado como esse sem saber o que pode encontrar? É nossa melhor opção a que não podemos ir para o interior.

Eu sabia que a resistência dele era somente com a segurança, mas também sabia que ele não poderia contestar o que eu dizia sem transporte para a estrada e com o risco de atrair mais zumbis do que afastá-los, ficar escondidos era nossa melhor opção.

Em vez de discutir comigo ele abordou outro problema.

— como sairemos daqui? O bloco deve estar cercado por mais zumbis do que conseguimos matar, mesmo com a noite agitada.

— Eu não sei – senti os olhos queimarem com lagrimas, mas eu não podia me dar o luxo de chorar agora – vamos preparar um dos apartamentos para ser um abrigo e pensamos em algo.

Partir o cadeado no 304 não foi difícil com uma chave que o levávamos na mochila e uma vez dentro com as facas na mão exploramos juntos os cômodos, o bloco 10 era de apartamentos de três quartos uma pequena cozinha, sala também pequena e um banheiro. A cozinha estava podre, havia sangue para todos os lados e a carcaça do que um dia fora uma pessoa, não vi muito mais antes de vomitar e ser arrastada dali por Raul.

Ele me ofereceu um pano para limpar a boca e, com o nariz torcido, indicou os quartos. O primeiro e menor quarto estava bagunçado, parecia ser o quarto de uma criança e tinha marcas de mãos sangrentas pelas paredes, passamos para o outro; o segundo quarto era o maior e estava fechado, empurramos a porta com cuidado e ela se abriu mostrando o quarto de um casal arrumado e limpo.

— zumbis não abrem portas, eles quebram se notam algum barulho ou cheiro – analisamos ao redor – acho que esse está habitável – declarei.

O guarda-roupa estava aberto e roupas limpas empilhadas suavemente dentro dele, algumas delas deviam servir em mim, me vi ansiosa para tomar um banho descente e vestir algo limpo em vez do trapo machado e fedorento que estive usando por um mês. O apocalipse zumbi era a pior situação para uma mulher em idade fértil, o período mensal sem banheiros, absorventes e remédios para cólica causavam dias e dias de quase inatividade no grupo, Raul como o único não afetado por isso tinha que se arriscar sozinho na busca por comida nesses períodos.

— o ultimo quarto é um escritório e despensa- anunciou Raul – tem bastante comida aqui e algo que você precisa ver.

Como se meus pensamentos tivessem sido lidos o ultimo quarto tinha vários pacotes de absorventes, junto com pasta de dente, fio dental e escovas novas. Do outro lado, pacotes de arroz, feijão e macarrão, litros de leite na validade, farinha e trigo. Tínhamos gás encanado no condomínio e uma caixa d’água – nosso esconderijo atual- com agua o bastante para suprir um apartamento por meses à frente. Tudo o que precisamos é trazer Del e Ket com segurança e poderíamos usar de tudo o que achamos no bloco para nos sustentar!

— acho que isso é o mais perto que podemos ter de um a vida normal aqui- Raul disse ao meu lado – limpamos esta cozinha ou usamos a cozinha do 301, temos a grade como proteção e camas.

Concordei com ele e acrescentei:

— Os zumbis do lado de fora são uma defesa extra e embora nos mantenham presos também afasta outros humanos. Só precisamos trazer Del e Ket, mas como vamos avisar a elas?

Não tínhamos nenhuma ideia, nos ocupamos tentando deixar o apartamento livre e habitável. Raul tirou os corpos dos zumbis da porta e da cozinha, já que eu não poderia fazer isso, e os enrolou num grande lençol manchado no hall; a cozinha uma vez livre da carcaça foi meu trabalho, tentei lavar a maior parte do sangue do chão e das bancadas usando o mínimo de água possível- dois baldes e meio- e praticamente todo o desinfetante do andar.

Depois todos os lençóis e travesseiros foram transportados para o quarto de casal, a cama empurrada para a parede deixou um espaço no chão livre para um segundo colchão e Raul fez outra cama confortável ali. A comida não perecível encontrada no terceiro andar foi estocada na dispensa do 304 e o cadeado trocado por um novo guardado na bolsa - tínhamos mais quatro da loja de chaves que usamos como abrigo mês passado. O Sol indicava que eram perto de quatro horas quando sentamos para comer algo.

— Você esta com sorte hoje – Raul comentou abrindo um pacote – é o seu biscoito favorito.

— Morango? – sentei ao seu lado sorrindo – Achei que o ultimo tinha acabado uma semana atrás.

— E tinha, mas por acaso eu encontrei esse aqui na dispensa.

— Obrigada– respondo sincera – Já faz um tempo desde que alguém se lembra dessas coisas pequenas pra mim.

— Bem nos fomos amigos por um tempo na escola– ele gesticula pra mim e ele mesmo – Bem, ate eu ser idiota o suficiente para me influenciar pelos outros.

Eu tinha conhecido Raul no sexto ano do ensino fundamental, viramos amigos por um ano ate que a turma decidiu que eu não era ‘legal’ e começaram a implicar com Raul para que eu ficasse sozinha, ele escolheu me ignorar e eu passei anos sem nenhum amigo ate mudar de turno. Eu já não pensava nessa historia há anos.

— Isso já faz muito tempo, eu fiquei com raiva de você por muitos anos, mas isso é coisa de criança agora.

— Mas eu nunca pedi desculpa– ele insistiu, eu sabia onde isso ia dar – Eu não fui um...

— Não precisa sério.

Ele ficou em silencio, mas eu podia ver a resistência dele em querer falar. O resto da refeição, (se eu considerar um biscoito tal coisa), foi feita em silêncio enquanto a luminosidade diminuía no quarto. Estávamos no fim do período seco então o sol desapareceria pouco depois das cinco.

— Temos que trazer as meninas aqui– disse por fim – E discutir se deixamos alguém na caixa-d’água como vigia ou no topo desse prédio.

Raul acenou em silencio e seguiu para a porta com a mochila novamente fechada em suas costas, alcançando o corredor o ouvi murmurar algo que não pude distinguir e o segui. Esse apartamento parecia ser um abrigo promissor e eu sinceramente espero que possamos ficar seguros aqui.

— Temos um problema Cris – a voz de Raul era estranha, como quando encontramos Del semanas atrás.

Acelerei os passos e encontrei Raul e uma dupla desconhecida, pelo menos até eles se virarem para me encarar, Alan e Luan, dois alunos da mesma escola que estudei.


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Notas finais do capítulo

Os capítulos teram uma atualização lenta, mas virão.
Se você gostou não esqueça de deixar um comentário, ajuda muito.