Bons Momentos - ShinoKiba (Vol. 02) escrita por Kaline Bogard


Capítulo 20
Bons Momentos - A nossa família




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805744/chapter/20

Natal era um feriado voltado para casais apaixonados, fato que fazia o feriado encher-se de corações iluminados. Mas para a família Aburame-Inuzuka, acabou tendo um significado mais ocidentalizado, tornando-se um momento de reunião familiar.

À medida que os anos passavam e as crianças cresciam, ficava-se mais difícil reunir todos na ocasião. Cada um era tão cheio de planos! Às vezes o emprego impedia, compromissos de negócios, viagens... tanta coisa conspirava contra...

Mas houve um natal especial em que conseguiram reunir todos os integrantes daquele clã caloroso, que fez o clima abaixo de zero parecer ameno (exceto para Kiba, que se protegeu embaixo de várias blusas quentinhas).

Masako e Shinta conseguiram vir com a pequena Misaki, uma Beta de oito aninhos que o casal adotou. Por algum motivo não conseguiram ter filhos com laços sanguíneos e ao visitar o Orfanato, aquela garotinha os conquistou de imediato. Era o primeiro natal que passaria com a nova família! Aburame Masako, que abriu seu próprio negócio: um escritório de advocacia com uma ex-colega de faculdade e que já pensava em abrir uma filial na vila vizinha. E Aburame Shinta, que adotou o sobrenome da esposa, Omega exótico que mantinha o marcante moicano colorido (naquela noite pintado de verde e vermelho) mas num corte mais baixo. Ele trabalhava num dos restaurantes de Naruto, como uma espécie de “faz tudo”. Era um ótimo rapaz, mas nunca se adaptou a horários e regras de empregos formais, pulando de arubaito em arubaito até que sossegou ao aceitar a vaga que Naruto lhe ofereceu.

Naruto e Sasuke vieram participar do jantar também, claro. Eram parte da família e conseguiram adaptar os horários para conhecer não apenas Misaki, como ver o novo filhotinho daquele Clã, Nathan, com menos de um aninho, filho da atual namorada de Kaoru, uma jovem estrangeira de pele escura e personalidade forte.

Kaoru, ainda psicólogo do Hospital Geral, nunca desistiu de encontrar a Alma Gêmea e viver uma relação como a dos pais e da irmã. Carregava na história uma ex-namorada, mãe de Yukio e atriz que alcançou sucesso internacional, se mudando de Konoha. E uma ex-esposa, que o presenteou com dois filhotes Beta, Makoto e Akira. Ambos viviam com a mãe, que compartilhava a guarda especialmente nas férias e datas especiais, pois o trabalho a fez se mudar para Sunagakure levando os filhos. Essa decisão causou grande sofrimento a todos, principalmente a Akira, filhote mais novo do casal divorciado. O pequeno Beta nasceu com espectro altista severo, sofrendo de um defict social e afetivo grave. O menino apegou-se demais a Kiba, única pessoa com a qual conseguia ter um nível mais concreto de contato. Levá-lo para outro pais fez com que criança, avós e demais sofressem. Mas nada no mundo demoveu a mãe e só restou um caminho: adaptação. Ao contrário da mãe de Yukio que nunca desejou a gestação, buscou aproximar-se ou saber mais do filho, entregando tudo sobre ele a Kaoru e seus pais, e jamais deixou de morar com os avós paternos, muito apegado sobretudo a Shibi.

Agora o velhinho passava boa parte do tempo sentado em um cadeira de rodas, sem muita força nas pernas, embora recuperado do enfarto sofrido anos atrás e que debilitou seu físico. Passava um pouco dos noventa anos, com saúde na medida do possível e inquestionável lucidez. Assim como Tsume, idosa que enfrentava uma luta contra a diabetes para a qual acabou perdendo dois dedos do pé esquerdo e que ameaçava roubar-lhe também a visão, conquanto sequer arranhou o gênio forte! Naquela fase era um teste de paciência para Hana, ainda abraçada à vida de solteira e dedicada à Clínica Veterinária. Um teste que ela vencia bem, diga-se de passagem. E sem nunca reclamar! Ela nutria esse vínculo de apoio mútuo com a mãe desde que Shigure começou a dar problemas e trazer tristeza para a família.

Depois de todos aqueles anos não tinham sequer uma notícia do homem. E de vez em quando Kiba se via pensando no pai, nas injúrias que passava e em como perdeu a luta para o vício apesar de toda a ajuda que recebeu. Lembrar disso fazia com que o Omega se sentisse um tanto fracassado. Era tão apegado à família, aos laços, fossem de sangue ou de afinidade. Em momentos assim precisava respirar fundo e se lembrar de que fez o que estava ao alcance. E que insistir em algo que ia contra as decisões de Shigure só fazia ambos sofrerem, e outras pessoas por tabela. Não tinha respostas para o que aconteceu com seu progenitor e carregaria esses fantasmas, essa ausência, para sempre em sua história. Algo similar ao que Shino levaria consigo até o fim de sua existência: a dúvida pelo rumo que a mãe escolheu, nunca saber para onde o vento levou a Omega de espírito livre, que tipo de desafios o destino lhe deu, como terminou os dias ou até mesmo se ela encontrou esse fim ou ainda estava viva.

Ao contrário da misteriosa mulher, Shino criou raízes fortes naquela Vila, assim como Shibi, escolheu plantar as raízes e criar algo. Uma família. Uma carreira de sucesso. Um legado. Trabalhou anos como professor até ser reconhecido e promovido não apenas a coordenador de curso, mas a coordenador da Academia, recusando quando a direção do colégio lhe foi ofertada. Era um cargo burocrático demais, fora de seu perfil. Agora estava aposentado, cuidava de uma pequena horta no quintal de casa e dedicava-se ao hobby infantil de observar insetos. Mas tinha tanto conhecimento na área da docência que prestava consultoria à Academia de Konoha, volta e meia fazendo palestras para os alunos e ministrando cursos rápidos para os professores da nova geração. Os dias se tornavam calmos, então podia dedicar-se ao marido, ao pai que morava com eles, dividindo os cuidados com o neto mais velho, pois Yukio era mesmo apegado a Shibi!

Kiba acabou não tendo uma carreira como de Shino. Quando era jovem as oportunidades com as quais sonhava estavam fora de seu alcance. Omegas era limitados, a sociedade se mantinha arcaica em alguns aspectos. Ele teve que amargar a desistência de muitas coisas, adaptando-se e notando que podia encontrar a felicidade em paliativos: trabalhar na clínica o fez tão feliz quanto, talvez, ser detetive e prender bandidos o faria. Não ter a reposta para essa questão era outro fator que Kiba carregaria consigo, um fantasma enchendo sua mente de infinitos “e se”, todavia que nunca o fez duvidar da felicidade que viveu naquelas décadas todas em que entregou-se aos cuidados de Aburame Shino, após um atrapalhado pedido de casamento e uma cerimônia inesquecível. Felicidade que não seria trazida por nenhuma profissão, nenhum ganho monetário ou conquista acadêmica. Pois apenas encontraria no abrigo seguro que os braços daquele Alpha se tornaram. Que foram apoio indubitável a ajudá-lo nos problemas mais complicados; a sustentá-lo na dor mais profunda. Quando pensou em desistir, e não foi apenas uma vez, havia uma mão de dedos grandes e fortes, que proveu apoio em cada segundo, e nunca deixou Kiba desprotegido ou sem resguardo.

Teria sido um apoio reciproco?!

Ah, sim! Kiba nunca duvidou. Podia sentir o coração de Shino através do vínculo, não apenas cônjuges, mas Almas Gêmeas e Companheiros Perfeitos. Opostos perfeitos, harmônicos e complementares. Assim como Verão e Inverno, tempestade e calmaria.

Alpha e Omega.

Apesar de tudo, de todas as lágrimas derramadas que pareciam nunca ter fim, de obstáculos que pareciam intransponíveis, de decepções, medos e arrependimentos, ainda assim, os bons momentos eram efusivos, inúmeros, soberanos.

Quando pensava na própria história, que também era a história de Aburame Shino, Kiba só via vitórias. Até mesmo no sofrimento: vitórias.

E foi por isso tudo que agradeceu. Do seu lado esquerdo: uma árvore enorme, que quase chegava ao teto da casinha em que viveu desde que pegou as malas e saiu do lar de Tsume; toda enfeitada com bolinhas vermelhas e rodeadas por incontáveis presentes. A sua direta, um presépio! Presépio! Kiba nunca ouviu falar daquilo, bonequinhos de argila que recontavam a noite cristã em seu ápice! Mas foi presente de Vanessa, namorada estrangeira de Kaoru. Shino e Kiba aceitaram de bom grado, felizes em conhecer um pouco mais sobre a cultura diferente e pela demonstração de afeto. O presépio representava boas graças! Por que recusariam?!

No ar... o cheirinho de ceia!! Ceia estrangeira, claro! Isso Kiba conhecia desde sempre! E alguns pratos típicos de Konoha também, nenhuma fronteira restringia aquele Omega quando o assunto era comer! Naruto e Shino estavam responsáveis por aquela parte da noite de natal. Dois cozinheiros excelentes que só enchiam a família de ótimas expectativas!!

E na frente de Kiba, aquele pequeno altar. Uma oferenda de doces típicos e takoyaki, incenso queimando em um fio de fumaça que dançava irregular rumo ao céu. E a foto da jovem adolescente, linda e feliz, que acabara de completar dezesseis anos e sonhava coisas grandes. Que parecia ter uma vida toda pela frente.

Aburame Hikaru partiu a exatos dez anos, data forte que teve o poder de reunir a família para festejar o abençoado natal.  Sua fadinha bailarina teria comemorado vinte e seis anos, a juventude em toda sua exuberância. E olhando aquela jovem sorridente, com covinhas nas bochechas, Kiba conseguia imaginar com toda certeza do mundo: as glórias em competições de balé, a carreira como dançarina que a levaria a conhecer o mundo. Então, obviamente, Hikaru se tornaria professora e, assim como o pai Alpha, ensinaria as futuras gerações e dividiria seu conhecimento, toda sua experiência. E uma excelente mãe.

Ela seria feliz, ah como seria.

Se tivesse tido a chance.

Mas ao fechar o ciclo daquela ferida, Kiba decidiu não lamentar o que poderia ter sido e não foi. Ele escolheu comemorar e celebrar dezesseis anos inteirinhos vividos ao lado de uma criança que só sabia sorrir e distribuir carinho em abraços apertados; que foi a tradução do Kanji escolhido para nome: luz. Luz em essência, luz para todos.

Não foi fácil dizer adeus e guardar todas as lembranças no coração. Conquanto fosse necessário dar um passo em frente e abandonar apenas o sofrimento, trazendo na alma todos os bons momentos vividos juntos.

E por isso foi fácil para Kiba agradecer por ter conhecido e amado Aburame Hikaru, unindo as mãos e reclinando-se de leve numa prece silenciosa transbordante de fé, esperança e certeza.

“Um dia te reencontro, menina”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tem mais uma arte: https://imgur.com/24mrKG2



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bons Momentos - ShinoKiba (Vol. 02)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.