As Filhas de Hárin escrita por JustAnotherGirl94


Capítulo 2
Capítulo 2




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CAPÍTULO 2

                O resto da noite havia sido tranquilo – após deixarem a sala de Elrond, Thorin, Balin e Bilbo foram ao encontro da Companhia.

Encontraram os outros anões confortavelmente instalados em um amplo aposento – um quarto de hóspedes ou um alojamento para tropas, pelo tamanho – ocupado por várias camas e alguns armários, todos devidamente empurrados contra as paredes; o espaço vazio foi ocupado pelos sacos de dormir do grupo, dando ao cômodo o aspecto de um grande acampamento.

Após uma rápida explicação do que Elrond descobrira, e prometendo mais detalhes no dia seguinte, todos foram para seus sacos de dormir, o cansaço do dia – e da noite anterior – fazendo com que caíssem no sono quase imediatamente.

Apesar do cansaço, na manhã seguinte todos os anões (sem exceção) já estavam de pé ao nascer do Sol.  Ao acordarem, Bombur rapidamente providenciou algo para o café da manhã e, enquanto comiam, Thorin cumpriu a promessa feita na noite anterior e explicou detalhadamente, com a ajuda de Balin, tudo o que Elrond havia descoberto no mapa e sobre o mapa. Balin havia trazido, entre seus pertences, um segundo mapa (sem runas lunares, até onde sabiam), que abrangia das Montanhas Azuis até as Montanhas de Ferro, ao redor do qual os anões estavam reunidos, comparando os dois mapas, discutindo possíveis rotas, e ouvindo a opinião de quem já havia viajado entre os dois reinos pelos caminhos menos conhecidos quando alguém bateu à porta. Ao abri-la, Balin deparou-se com o mesmo elfo que os havia recebido na tarde anterior – Lindir, não era assim que Gandalf o havia chamado?

Lindir estava ali (contra a vontade, mas nunca arrancariam isso dele) com um convite para Thorin Escudo-de-Carvalho: Lorde Elrond os aguardava para o almoço, dentro de duas horas, no mesmo local onde haviam feito a refeição na noite anterior.

O tom do convite não deixava espaço para recusa; e foi assim que, duas horas depois, os treze anões (e mais o hobbit) estavam mais uma vez diante do Senhor de Valfenda. Mas algo estava diferente. Várias vezes, ao longo da refeição, Thorin flagrou o elfo encarando-o, taciturno, ou conversando aos sussurros com Gandalf.

Logo entendeu o motivo: assim que os pratos foram retirados e o grupo estava prestes a retirar-se, Elrond chamou-o;

“Lorde Thorin, gostaria de conversar com o senhor. Em particular.” acrescentou, ao ver Fili e Kili juntarem-se ao tio.

Com um gesto, Thorin dispensou sua Companhia. Enquanto os anões se afastavam, Elrond acenou para que Gandalf e o rei anão o seguissem. Caminharam em silêncio até a mesma biblioteca onde o anfitrião havia lido o mapa na noite anterior.

“É um grupo e tanto esse que você reuniu, Thorin Escudo-de-Carvalho” falou Elrond, fechando a porta ao entrarem no cômodo. “Mas apenas treze anões, para uma tarefa dessa magnitude?”

“Deveriam ser  14” respondeu Gandalf, ignorando o olhar reprovador de Thorin “mas um não apareceu.”

“Curioso... e apenas um ausente?”

“Não vejo a importância disso.” Thorin interrompeu a conversa.

“Eu levo a proteção de meu vale muito a sério, Thorin” Elrond respondeu  “Após nossa...caçada, a vigilância foi redobrada, visando a eliminação de qualquer orc que, por ventura, tivesse ficado para trás. Logo antes do nascer do Sol, sou avisado que, de fato, dois estranhos haviam sido pegos após atravessarem os limites do vale. “ o elfo encarou o anão “Dois anões.”

Isso não fazia sentido. Mesmo que um deles fosse Hárin, quem poderia ser o outro? O estômago de Thorin revirou; o único anão em que conseguia pensar era Dís, sua irmã. Mas ela não abandonaria a responsabilidade que havia assumido ao concordar em ocupar a posição de regente em seu lugar...certo?

“Demorou um pouco, mas conseguimos convencê-los a nos dizer seu nome e o que queriam. Imagine minha surpresa quando responderam que buscavam você. Não disseram o por quê, claro, mas eu esperava que você soubesse a resposta.”

“Quais seus nomes? Onde estão? Gostaria de fazer esta pergunta a eles pessoalmente, pois não faço ideia do que está acontecendo.”

“Estão hospedados aqui, da mesma maneira que você e seus companheiros. Logo após o almoço, pedi a Lindir que fosse buscá-los. Logo devem estar aqui.” Elrond explicou. calmamente.

Dito e feito: o elfo havia acabado de falar quando alguém bateu à porta.

“Entre!” respondeu, sem tirar os olhos de Thorin, que sustentou o olhar. Às suas costas, ouviu a porta abrir, o barulho de passos pesados abafados pelos tapetes do aposento, e a porta fechando.

Somente então Thorin tirou os olhos de Elrond e voltou sua atenção para os recém-chegados. Estava pronto para confrontá-los, exigir saber quem eram, o que queriam e como sabiam onde encontrá-lo. Mas bastou olhar para eles para saber que não seria necessário. Ele os conhecia – e muito bem, aliás, praticamente desde o dia em que nasceram.

“Meera. Breanna. O que vocês estão fazendo aqui?” perguntou quando conseguiu recuperar a voz.

“Lorde Thorin” as duas jovens inclinaram a cabeça respeitosamente, cumprimentando em uníssono.

“Como chegaram até aqui? Onde está o pai de vocês? Ele é quem devia estar aqui.”

As irmãs se entreolharam. Meera, a mais velha, respirou fundo antes de responder.

“Lorde Thorin, ele...nosso pai... ele está morto.”

Thorin deixou-se cair em uma das poltronas próximas.

“Como assim, morto? O que aconteceu? Ele estava bem quando parti de Ered Luin.”

“Ele foi atacado, ainda perto da montanha, junto com alguns outros viajantes, que conseguiu fazer soar o alarme. Os guardas foram ajudar, e nós corremos também quando ouvimos o sinal, mas já era tarde demais. Ele foi levado até os curadores, mas não havia muito que eles pudessem fazer. Ele morreu ao anoitecer daquele mesmo dia.” Meera não conseguiu continuar. Estava lutando contra as lágrimas, mas não ia chorar na frente de seu rei. Pelo canto do olho, flagrou a irmã discretamente enxugando os olhos com a manga da camisa, sem ser notada.

“Isso... isso é terrível.” Thorin passou a mão pelo rosto. “Sinto muito. Mesmo. Mas tenho que perguntar: o que vocês estão fazendo aqui?”

“Bem” Meera mexeu nervosamente no tapete com a ponta da bota, desviando o olhar de Thorin para o chão “ Nós sabíamos que ele era esperado, então tínhamos que avisá-lo. E Balin e Dwalin... eles merecem saber.”

“Claro”

Alguém pigarreou, chamando a atenção de Thorin.

“É bom saber que não representam perigo nem à Valfenda nem à sua missão, Thorin, mas você se importaria de fazer as apresentações?”

“Estou certo de que conhece Meera e Breanna, Gandalf. São as filhas de Hárin.”

“Hárin era o 14 membro. Dois de seus primos também fazem parte da Companhia” Gandalf explicou para Elrond, que assentiu. “Meus pêsames pela sua perda” o mago acrescentou.

“E também há a questão do contrato.” Acrescentou Breanna.

“Contrato?”

“O que ele assinou, tornando-se membro da sua Companhia.”

“Não se preocupem com isso. Hárin contribuiu para o financiamente dessa viagem, assim como os demais. Caso tenhamos sucesso, vocês receberão a parte dele na recompensa.”

“Não!” Meera exclamou alto, antes de se controlar “Não queremos que o contrato seja anulado.”

Thorin franziu a testa, sem entender.

“Como assim?”

“Queremos ficar no lugar dele” esclareceu Breanna.

“Impossível! Não posso permitir isso.”

“Por quê?”

“Vocês são duas jovens mulheres, não posso submetê-las aos riscos dessa jornada.Não deveriam nem mesmo ter se arriscado viajando até aqui. Vão voltar para Ered Luin assim que possível.”

“Eu não vou voltar” Breanna respondeu “Meera pode voltar se quiser. Mas eu não volto.”

“Por quê não? É sua casa” Thorin retrucou, incomodado com a jovem desafiando-o.

“Não é mais minha casa. Por enquanto. Ou talvez nunca volte a ser.” Enquanto falava, Breanna mexia-se, inquieta, no mesmo lugar.

Então Thorin entendeu. Sua relutância em voltar talvez tivesse mais a ver com a morte do pai – e da mãe, quase um ano antes – do que com o desejo de desafiar a autoridade do rei.

“Vocês não querem voltar a Ered Luin por causa do que aconteceu a seus pais.” Não era uma pergunta, era uma afirmação.

Breanna assentiu mas, envergonhada, não ousou encará-lo.

“Mas se você não voltar, para onde pretende ir?”  Gandalf intrometeu-se na conversa.

“Não sei” Breanna deu de ombros. “Talvez eu siga atrás da Companhia, ou fique por aqui, se Lorde Elrond permitir, é claro.”

Então Breanna preferia ficar com os elfos a voltar para Ered Luin. Isso demonstrava o quanto ela estava sofrendo. Mas ainda era mais seguro que a outra alternativa – seguir a Companhia, sozinha (ou com a irmã, mas não importava).

“E Dís? Ela sabe que vocês estão aqui?”

“Sim” Meera respondeu “Ela achava muito difícil encontrarmos vocês, mas disse que entendia os motivos de estarmos fazendo isso.”

Motivos” repetiu Thorin “Então há mais por trás disso do que o desejo de dar a notícia do falecimento de Hárin.”

As irmãs se entreolharam – de novo.

“Nós sabemos que ele fez uma promessa para o senhor” revelou Meera “ E que essa promessa foi uma das razões que o levaram a participar da Companhia. E também era o motivo de ele estar acompanhando seu pai quando ele desapareceu.”

“Uma promessa? Que tipo de promessa?” perguntou Gandalf, subitamente interessado.

“O que você talvez não saiba, Tharkûn, é que Thráin sempre pensou em retornr a Erebor. Ainda não sabíamos a respeito do mapa e da chave, mas a ideia já estava lá. Quando Frérin morreu, pediu que Hárin ajudasse meu pai, em seu lugar, quando ele conseguisse levar seu plano adiante. Foi essa a promessa que Hárin fez a mim – quando Thráin decidisse que era o melhor momento para reconquistar Erebor, ele deixaria tudo para trás e partiria com ele, para ajudá-lo, como Frérin havia pedido. E foi o que ele fez. Mas o grupo liderado por meu pai nunca chegou à Montanha Solitária. Thráin desapareceu nos limites da Floresta das Trevas, e não tivemos mais notícias dele... até você me encontrar em Bree e me entregar o mapa e a chave, dizendo tê-los recebido das mãos de meu pai.”

Gandalf assentiu.

“E foi exatamente o que aconteceu. Eu o encontrei há alguns anos, prisioneiro nas masmorras de Dol Guldur. Muito pouco de sua memória – e de sua sanidade – restavam.”

Meera e Breanna nunca haviam ouvido aquela história, e agora encaravam Gandalf, chocadas.

“Veja, Lorde Thorin...” Meera arriscou-se a falar após alguns instantes de silêncio “É por isso que precisamos ir. Nosso pai fez uma promessa, não só a você e ao rei Thráin, mas também ao seu irmão. E morreu antes de cumpri-la. Devemos isso a ele... e a seu irmão.”

Thorin encarou as duas jovens à sua frente.

Coragem. Honra. Lealdade. Disposição. Essas eram as coisas que ele havia procurado em seus companheiros – e, mesmo que nem todos tivessem motivos nobres para se juntar a ele nessa empreitada, nenhum deles havia deixado de demonstrar exatamente isso.

E ali estavam elas. Haviam demonstrado coragem em deixar seu lar em Ered Luin. Honra, para cumprir uma promessa que nem passara pela mente de Thorin cobrar. Lealdade, à ele e a seu objetivo, assim como seus pais. Disposição, para enfrentar os desafios.

Coisas que ele havia esperado de seu primo Dáin, e dos chefes dos outros clãs.

E não recebera.

“Não é nossa luta” eles haviam dito.

 Mas aquelas duas já consideravam aquela luta delas também.

Como era mesmo o ditado que Frérin costumava repetir?

Não podemos mudar os planos de Mahal.

Talvez aquilo tudo fosse o plano de seu criador.

“Vocês estão cientes dos perigos? Se acabarem se juntando a nós, não vou garantir a segurança de vocês, nem poderei tratar vocês de maneira diferente – nem mesmo você, Meera.”

“E nem nós queremos isso, Lorde Thorin.  Quanto aos riscos, temos uma ideia do que poderemos encontrar na estrada. Claro que torcemos para uma viagem tranquila, mas nos sentimos preparadas para o que acontecer.”

“Vocês ainda usam as mesma armas?”  Thorin quis saber.

“Sim. Eu uso o machado de minha mãe e  Breanna, um arco de caça e a espada de meu pai.”

“Amanhã, quero ver o que vocês sabem fazer. O quão bem conseguem se defender. Com base nessa demonstração, vou decidir se vocês podem se juntar à Companhia ou não.”

Pela primeira vez desde que entraram no cômodo, as irmãs pareciam animadas com alguma coisa, e assentiram entusiamaticamente.

Olhando pela janela, Thorin pôde deduzir que apenas algumas horas haviam se passado.

“Já que tudo o que havia para ser discutido até o momento já foi discutido...não seria melhor vocês descansarem mais um pouco?.”

“Claro, estão convidadas para se juntarem a nós para o jantar – assim como você e sua Companhia, Thorin.”

Thorin achou o convite de Elrond uma péssima ideia. Mas ele era o Senhor de Valfenda, o dono da casa, o anfitrião; e, como tal, podia convidar quem bem entendesse para jantar, independente da opinião de Thorin.

“Nós adoraríamos, claro” Meera respondeu, olhando de soslaio para Thorin “ se não for um problema, claro.”

“Não será” garantiu o anão, escondendo o quanto estava contrariado. Sua mente havia acendido o sinal de alerta. Tudo aquilo parecia – não, não parecia, era uma péssima ideia – mas ele não conseguia pensar em outra solução.

Seria um jantar muito interessante.


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