As Filhas de Hárin escrita por JustAnotherGirl94


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Cumprindo minha promessa, estou reescrevendo minhas histórias.
Meu estilo mudou muito desde 2012, quando comecei a escrever esta aqui, então ela não lembra em nada a versão publicada neste mesmo site anteriormente, com o título de "A Promessa".

Espero que gostem! Comentários, crítcas (construtivas) e sugestões são sempre bem-vindos!



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Desde que lera aquele maldito contrato, a maior preocupação de Bilbo Bolseiro era o dragão que o aguardava no interior de Erebor, a Montanha Solitária. Não havia passado pela sua cabeça que talvez não vivesse para chegar até lá.

                Naquele exato momento, estava fugindo de um bando de orcs após passar boa parte da noite discutindo não com um, nem com dois, mas com três trolls sobre a melhor maneira de cozinhar anões.  E ainda não haviam completado um mês de viagem. Se esse era o começo da viagem, não queria nem pensar no final.

                Havia acabado naquela situação porque havia dado ouvidos à Gandalf. E onde estava o mago agora? Ninguém sabia, pois ele havia sumido pela segunda vez - a primeira havia sido logo antes de encontrarem os trolls mas, justiça seja feita, naquele momento ele avisou que estava se afastando. Agora, parecia ter sumido em pleno ar.

                Ele depositava tanta esperança de que Gandalf iria aparecer e salvar o dia novamente, que ele podia ver o mago à sua frente. Mesmo fechando os olhos com força e chacoalhando a cabeça, ele ainda estava lá, em meio às rochas um pouco mais à frente. Levou mais alguns segundos até Bilbo entender que não estava alucinando – o mago estava mesmo lá, suas vestes cinzentas ajudando-o a se camuflar em meio às pedras e permanecer invisível aos orcs.

                “Por aqui, seus tolos! ” gritou Gandalf e o hobbit, meio empurrado, meio arrastado pelos anões à sua volta, logo viu-se lado a lado com o mago, encarando a entrada de uma caverna muito bem escondida entre as rochas. Não era possível enxergar seu interior, mas, considerando que a alternativa era uma morte lenta e cruel nas mãos dos orcs, que escolha tinham?

                Antes que os orcs pudessem dizer “Coelhos de Rhosgobel”, a maioria dos anões da Companhia de Thorin já havia passado pela fenda na rocha. O último a passar foi o próprio Thorin, praticamente arrastando seu sobrinho Kili, que havia insistido em ficar para trás, dando cobertura para o resto do grupo.

                Enquanto tio e sobrinho passavam pela entrada e Gandalf respirava aliviado após contar 13 anões (e um hobbit), todos sãos e salvos na pequena caverna em que se encontravam, trombetas de caça ressoaram ao longe. Por um momento, a sombra de um orc ocupou completamente a entrada do esconderijo, mas logo desabou com um baque no chão, já morto, uma flecha atravessada em seu pescoço.

Thorin puxou o projétil do cadáver, para logo em seguida jogá-lo no chão.

“Elfos!” resmungou, enojado.

Gandalf olhou para o anão, parecendo (ou fingindo estar) tão espantado quanto ele. Foi salvo de dizer ou responder qualquer coisa graças a Dwalin:

“Há uma trilha aqui” gritou o guerreiro, que havia avançado para averiguar os limites da caverna, “mas não consigo ver para onde leva. Devemos segui-la? ”

“Claro! ” o mago respondeu, aproveitando a deixa para fugir do olhar acusador de Thorin.

—/-

                A trilha seguia, estreita, por entre paredões rochosos que se erguiam muito acima do grupo de anões. Próximo ao fim, o caminho ficava mais largo, até que se abria em um patamar circular, parcialmente coberto por uma queda d’água. Partindo deste patamar, uma série de lances de degraus escavados na própria rocha desciam dezenas de metros.

                “Este é o vale de Imladris, a última Casa Amiga a leste do Mar” explicou Gandalf. “Na língua comum, é conhecida como...”

                “Valfenda” completou Bilbo.

                O mago assentiu.  Em instantes, Thorin estava a seu lado, furioso:

                “Então este era seu plano o tempo todo. Buscar ajuda com nossos inimigos” o anão resmungou entredentes. “Você acha que os elfos abençoarão esta jornada? ” Insistiu. “Eles vão tentar nos impedir”.

                “Claro que vão!” Gandalf admitiu “Mas temos perguntas que precisam de respostas”.

                Thorin não respondeu, e o mago continuou:

                “Se quisermos ter sucesso nessa empreitada, precisamos abordar essa questão com tato. E respeito. E até mesmo um pouco de charme. E é por isso que você vai deixar que eu fale.

—/-

Desceram os degraus pelo que pareceram horas. A certa altura, estes acabaram e, em seu lugar, havia uma trilha que acompanhava a curva de uma queda d’água. Ao dobrarem, depararam-se com uma grande área circular, de onde partia uma escada, ladeada de cada lado por uma estátua de pedra de uma sentinela (acompanhada por sua própria sentinela viva), que levava a um conjunto de construções mais acima. E, descendo os degraus na direção dos recém-chegados, um elfo de cabelos negros e vestes cinzentas.

                “Mithrandir” ele cumprimentou Gandalf efusivamente.

                “Lindir!” o mago retribuiu o cumprimento com igual entusiasmo.

                “Ouvi que você tinha chegado ao Vale” o elfo comentou em sua língua natal.

                “Preciso falar com Lorde Elrond” Gandalf respondeu na Língua Comum.

                “Lorde Elrond não está” o elfo – Lindir – respondeu, também na Língua Comum.

                “Não está? Onde ele está?”

                Quase que respondendo à pergunta, o som de trombetas de caça, quase completamente abafado pelo estrondo de dezenas de cascos de cavalos, ecoou pelo vale. Antes que Gandalf ou Lindir pudessem fazer (ou dizer) alguma coisa, Thorin gritou algo na língua dos anões, que imediatamente organizaram-se em círculo, uns de costas para os outros, e cerraram suas fileiras.

                Os cavaleiros recém-chegados (elfos, obviamente) adentraram a área onde os anões estavam a galope, cercando-os sem diminuir a velocidade; um dos últimos cavaleiros avançou, também a galope, direto para Gandalf e Lindir, ainda parados na escada.

                “Gandalf!” o cavaleiro saudou ao desmontar.

                “Lorde Elrond. Mellon nin” respondeu o mago, pondo a mão sobre o peito e, em seguida, estendendo-a na direção do amigo. “Onde estava?” perguntou, na língua élfica

                “Caçando um grupo de orcs vindos do sul” Elrond entregou as rédeas de sua montaria para um de seus soldados. “Matamos vários perto da passagem escondida. Não é comum que cheguem tão perto de nossas fronteiras. Algo – ou alguém – os atraiu” concluiu o elfo.

                “Ah, deve ter sido nós” Gandalf comentou, com a mesma casualidade de quem fala sobre o clima.

                Ao ouvir a resposta do mago, Elrond voltou sua atenção para o grupo que o acompanhava. Por fim, seus olhos se fixaram em Thorin, mais à frente do grupo.

                “Bem-vindo, Thorin, filho de Thrain, filho de Thror” o elfo cumprimentou-o.

                “Não creio que nos conhecemos” respondeu o anão.

                “Você tem o porte de seu avô” continuou Elrond, ignorando a resposta atravessada de Thorin. “Conheci seu avô quando ele era o Rei Sob a Montanha”.

                “É mesmo? Ele nunca mencionou você” o anão retrucou, sarcástico.

                Os dois, elfo e anão, se encararam em silêncio por alguns instantes, um estudando o outro. Então, ainda sem tirar os olhos de Thorin, Elrond gritou algo em élfico para Lindir.

                “O que ele disse?” Gloin empurrou os outros anões até chegar à frente do grupo. “Ele está nos insultando?”

                “Não, mestre Gloin” respondeu Gandalf, calmamente. ”Ele está oferecendo comida”.

                Os anões cochicharam entre si por algum tempo, até Gloin tomar novamente a frente do grupo.

                “Neste caso, mostre o caminho”

—/-

                “Muito gentil de sua parte nos convidar para jantar” Gandalf agradeceu a Lorde Elrond “mas temo não estar vestido adequadamente para a ocasião”.

                “Você nunca está” o elfo retrucou, rindo.

                Enquanto todos se sentavam à mesa, Gandalf pediu para que Elrond desse uma olhada nas espadas que haviam encontrado na caverna dos trolls. Curioso, o elfo prontamente concordou. Com cuidado, puxou a arma de Thorin da bainha:

                “Esta é Orcrist, a Fende-Orc” os olhos do Senhor de Valfenda brilharam “Uma lâmina famosa, forjada pelos Altos Elfos do Oeste, meu povo. Que ela lhe sirva bem” desejou, embainhando a espada novamente e entregando-a ao anão, que inclinou a cabeça em agradecimento.

                “’E esta” a atenção do elfo voltou-se para a arma que Gandalf lhe estendia “ é Glamdring, o Martelo do Inimigo. Ambas foram forjadas na Primeira Guerra, para a guerra contra os orcs. Mas onde vocês encontraram tais armas?”

                “Em uma caverna de trolls, na Grande Estrada do Leste, logo antes da emboscada dos orcs” Gandalf respondeu, evitando entrar em detalhes.

                Mas Elrond não desistiria tão fácil:

                “E o que estavam fazendo na Grande Estrada do Leste? ” pressionou.

                Neste momento, Thorin pediu licença e levantou-se para se juntar à sua Companhia, sem tirar os olhos de Gandalf, que entendeu o recado: Nem. Uma. Palavra.

                Assim que o anão havia se afastado o suficiente e não podia mais ouvi-los, Elrond voltou-se para o mago:

                “Treze anões e um Pequeno” comentou “ Estranhos companheiros de viagem, Gandalf”

                “’Eles são descendentes da Casa de Durin” Gandalf justificou “ são um povo nobre e decente, e possuem uma cultura surpreendente, com um amor profundo pelas artes. ”

                Lorde Elrond suspirou. Por algum motivo, era difícil acreditar em Gadalf, pensou, enquanto desviava de um pedaço de comida que vinha em sua direção e assistia, impávido, um anão subir na mesa de jantar.

—/-

                Após o jantar, a Companhia de Thorin foi para os aposentos que lhe foram designados, enquanto Thorin, Balin, Gandalf e Bilbo seguiram Elrond até uma enorme biblioteca, iluminada principalmente pela luz do luar.

                A hora da verdade havia chegado.

                “Mostre o mapa a ele, Thorin” pediu Gandalf.

                “Nossos negócios não dizem respeito aos elfos” respondeu o anão.

                “Thorin...” Gandalf soava exasperava.

                “É o legado de meu povo, cabe a mim protegê-lo, bem como a seus segredos” Thorin insistiu. Balin, a seu lado, nem disfarçava a expressão de orgulho em seu rosto.

                “Poupe-me da teimosia dos anões! ” explodiu Gandalf “Seu orgulho será sua ruína! Lorde Elrond é um dos poucos na Terra-Média capazes de ler o mapa, então mostre-o a ele.

                Thorin hesitou por um momento, então levou a mão ao bolso interno do casaco e tirou de lá o mapa. A expressão triunfante de Balin logo se transformou em pânico quando percebeu o que seu pupilo estava prestes a fazer.

                “Thorin, não...” implorou.

                Mas foi em vão. Thorin ergueu a mão para silênciá-lo e, finalmente, entregou o mapa a Elrond.

                “Erebor” foi o primeiro comentário do elfo a respeito do mapa. “Por quê o interesse neste mapa?”

                “Puramente acadêmico” Gandalf garantiu, rapidamente “ Como você sabe, artefatos deste tipo às vezes contém...escritos ocultos” o mago continuou.

                Elrond voltou a analisar o mapa, sem deixar de prestar atenção em Thorin e nos demais. “Interesse acadêmico. Certo” pensou.

                “Você ainda lê a antiga língua dos anões, não? ” Gandalf insistiu. Elrond não respondeu, murmurando consigo mesmo em sua língua natal. Mas Gandalf captou algumas das palavras ditas pelo elfo.

                “Runas lunares?” refletiu por um momento, a testa franzida “É claro! Algo fácil de passar despercebido”, resmungou.

                “Runas lunares só podem ser lidas sob a luz de uma Lua que esteja na mesma fase, durante a mesma estação do ano, da ocasião em que foram escritas” explicou Elrond.

                “E você pode lê-las?” Thorin perguntou, ansioso. Pela primeira vez desde que recebera aquele mapa, sentia esperança.

                Elrond gesticulou para que o seguissem até uma pequena mesa de pedra, completamente iluminada pelo luar.

                “Estas runas foram escritas em uma noite de lua crescente, na véspera do solstício de verão, há quase 200 anos”. Elrond depositou o mapa com cuidado sobre a mesa. Assim que os raios de luar tocaram o documento, runas apareceram, como se marcadas a fogo.

                “O que dizem? ” perguntaram Gandalf e Thorin ao mesmo tempo.

                “Fique ao lado da pedra cinzenta quando o tordo bater e o sol poente, com a última luz do Dia de Durin, brilhará sobre a fechadura” leu o elfo.

                “O que é o Dia de Durin?” Bilbo sussurrou para Balin.

                “É o primeiro dia do ano-novo dos anões” explicou o ancião “ quando a última lua do outono e o primeiro sol do inverno aparecem juntos no céu”.

                “Más notícias! ” exclamou Thorin “O verão está passando, logo será o Dia de Durin!”

                “Ainda temos tempo! ” Balin tentou acalmá-lo.

                “Tempo? Para quê? “ aquela conversa estava deixando Bilbo confuso.

                “ Para encontrar a entrada!” Balin respondeu pacientemente. Então, voltando-se para Thorin: “Só precisamos estar no ponto certo, na hora certa. Somente então a porta poderá ser aberta!”

                “Então este é seu objetivo? Entrar na Montanha Solitária?” perguntou Elrond, acusação permeando suas palavras.

                “E daí?” retrucou Thorin.

                “Alguns não considerariam isso sábio” o elfo respondeu, devolvendo-lhe o mapa, que o anão aceitou sem dizer nada.

                “Você vai precisar de ajuda”

                Thorin permaneceu em silêncio. “Já tenho toda a ajuda de que preciso ”, pensou amargamente. Ao contrário de Daín, seu próprio primo, que havia dito a Thorin que aquela missão pertencia a ele, e somente a ele, os anões de sua Companhia haviam aceitado ajuda-lo, mesmo que alguns fossem motivados mais pela recompensa financeira do que por qualquer outra coisa. Mas, ainda assim, haviam contribuído – primeiro com seu ouro e, agora, com suas armas e habilidades.

                Perdido em seus pensamentos, Thorin mal registrou os desejos de uma boa noite de descanso feitos por seu anfitrião. Seria uma noite longa – tinha muito sobre o que refletir.


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