O Conto do Cão Negro escrita por BlackLupin


Capítulo 17
Capítulo 17: O Casamento




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O anúncio de que Tiago e Lílian iriam se casar muito em breve pegou a todos de surpresa. Era evidente o quanto aqueles dois se amavam, porém, em seu círculo de amizade acreditava-se que Sirius e Flori seriam os primeiros, já que estavam juntos há mais tempo. Entretanto, a notícia foi recebida com igual entusiasmo, ainda que alguns acreditassem secretamente que ambos estavam indo rápido demais.

A verdade é que o modo como as coisas pareciam cada vez mais incertas e sombrias por conta de Voldemort e seus seguidores fazia com que muita gente acreditasse que não viveria muito tempo e por isso acabasse apressando as coisas; muitos casamentos inesperados ocorreram entre vários conhecidos naquele período. Além do mais, Flori era da opinião de que, se algo fosse acontecer eventualmente, como era o caso do casamento de Lily e Tiago, então não havia problema nenhum em querer adiantar.

A cerimônia foi reservada aos familiares do casal e amigos íntimos dos tempos de escola e outros da Ordem, e mesmo assim muitas pessoas compareceram devido à popularidade do casal. Lílian escolheu Flori como sua madrinha, enquanto Tiago, para a surpresa de ninguém, chamou seu melhor amigo para estar ao seu lado no altar naquele dia importante. A única que não fizera questão de comparecer foi a irmã mais velha de Lily, mas pelo que Flori sabia, ela e Lílian não tinham uma boa relação, por isso sua ausência não foi lamentada pela noiva.

Enquanto um bruxo magro e de cabelos em tufos conduzia a cerimônia, Flori não pôde deixar de lançar olhares constantes a Sirius do outro lado do altar, completamente estonteante em seu traje a rigor. Os cabelos compridos e o sorriso de canto que ostentava o faziam parecer mais bonito do que nunca. Estava verdadeiramente feliz por Tiago e ouvia concentrado às palavras do celebrante, no entanto, ao notar-se observado, sua atenção desviava-se para a namorada e ele a olhava de maneira penetrante e com um sorriso misterioso, como se estivesse imaginando ambos no lugar dos amigos.

Ela sentiu uma certa tristeza ao imaginar a cena. Flori havia sido a única aprovada como Desfazedora de Feitiços. O resultado saíra meses atrás, mas somente agora ela fora chamada para uma missão. Não tinha todos os dados ainda, por isso não sabia para onde iria; geralmente os Desfazedores de Feitiços eram mandados para o Egito ou então para um lugar onde havia boatos de ser o verdadeiro caminho para El Dorado. A única coisa de que tinha certeza, porém, era que seu tempo com Sirius estava acabando, pois partiria na próxima semana e essa era a razão de sua melancolia. Por um lado estava feliz por finalmente seguir a carreira que vinha desejando há muito tempo, por outro, as coisas iam tão bem entre ambos no último ano que ela sentia uma dor aguda e latente no coração ao saber que teria de deixá-lo.

Quando a carta com o resultado chegara em sua casa, Sirius foi o primeiro a parabenizá-la, orgulhoso por ela, e quando a coruja entregara o aviso há duas semanas de que em breve teria de partir, ele procurou não demonstrar tristeza quando estava com ela, indicando que a apoiava totalmente, porém, pegou-o olhando com uma expressão soturna para o porta-retratos de ambos diversas vezes, o que mostrava o quão perturbado ele se sentia nos últimos tempos. Flori tentou conversar sobre isso algumas vezes, contudo Sirius sempre desviava o assunto; ela entendia que ele preferia aproveitar aqueles últimos momentos da melhor forma possível ao invés de discutir tristemente como seria sua relação dali em diante.

Ao fim da cerimônia, os presentes foram convidados a se deslocarem ao salão ao lado para a celebração. Lá, uma banda contratada pelos noivos tocava um ritmo animado e, na opinião de Flori, meio folclórico com todas aquelas flautas, gaitas e alaúde. Ela aproveitou o início da festa para colocar as conversas em dia com o pessoal da escola que não via há muito tempo. Na verdade, a situação da comunidade bruxa era tão caótica, que até mesmo com suas melhores amigas, com exceção de Lílian, é claro, não conversava há vários meses. Ficou sabendo por Marlene que, infelizmente, as coisas entre ela e Remo não deslancharam, devido a ambos não disporem de muito tempo para se encontrarem por conta de seus compromissos com a Ordem. Flori teve pena da amiga, pois era óbvio o carinho que um sentia pelo outro, e isso a fez se lembrar de suas próprias tribulações novamente. Mudou para outra conversa imediatamente, antes que começasse a sentir mal-estar outra vez.

Depois de alimentados os convidados ocuparam a pista de dança e Flori se surpreendeu com a versatilidade de seu parceiro de dança. Notando sua perplexidade, Sirius resolveu quebrar o agradável silêncio entre eles para perguntar:

— O que foi? Está com cara de quem viu um Sinistro.

Flori piscou os olhos e então riu, achando a pergunta hilária, considerando que, naquele momento, dançava com um verdadeiro representante daquele espécime.

— Só estou surpresa com a sua destreza na dança. – Respondeu. – Eu não fazia ideia de que possuía esse tipo de habilidade.

— Você já me viu dançar.

— Não, eu já vi você espantando zonzóbulos. – Corrigiu Flori, dessa vez arrancando uma risada dele.

— Tudo bem, você tem razão. Eu não sou dos mais exímios dançarinos. – Admitiu. – Mas tive uma ajudinha do seu pai.

— Então não havia nada de errado com a moto naquela semana. – Adivinhou astutamente.

— Me pegou.

— Caramba, o que eu não daria para ver você e papai valsando ao redor da sala. – Suspirou sonhadora.

— Na verdade ele me cedeu a sua mãe. – Explicou Sirius – O que não deixou de ser estranho. – Murmurou.

Seu riso aumentou ao imaginar o namorado segurando a cintura de sua mãe e conduzindo-a de maneira constrangida.

— Bom, devo dizer que meus pais o ensinaram muito bem.

— Eu também tenho minha parte do mérito. – Sorriu Sirius.

Flori revirou os olhos e sacudiu a cabeça.

— De qualquer forma, agradeço pela iniciativa.

— Eu não podia fazer feio com uma garota como essas dançando comigo, embora...

— Sim? – Incentivou ela, erguendo a sobrancelha de maneira indagadora.

— Embora esteja perdendo um pouco da minha concentração agora. – Confessou.

— Por quê?

— Porque esse vestido coladinho está me deixando louco. – Sussurrou. – Não vejo a hora de estarmos sozinhos novamente para deixá-lo em pedaços.

— Sirius! – Exclamou Flori, enrubescendo.

Ela olhou ao redor, mesmo sabendo que com o barulho da música dificilmente alguém poderia ouvir sua conversa. Ele deu uma risadinha, visivelmente satisfeito com a reação constrangida da garota. De repente, seu sorriso malicioso foi substituído por uma expressão de horror e Sirius bateu na própria testa, como se acabasse de se lembrar de algo.

— Droga! – Xingou, assustando-a pela súbita mudança de humor.

— O que foi?

— Esqueci o presente de Pontas lá na moto! Preciso pegar antes que comecem a abrir os presentes!

E antes que pudesse dizer algo, Sirius a largou e disparou para a porta de entrada do salão, que se abria para um lindo jardim. Flori bufou, sentindo-se levemente irritada por ter sido largada no meio da pista de dança. Preferiu fazer de conta que nada havia acontecido e dirigiu-se até a mesa das comidas, pronta para descontar sua frustração em um pedaço de bolo.

Vinte minutos depois voltava Sirius, parecendo ainda mais aflito do que quando partira. Flori considerou seriamente em lhe dar um gelo, mas vendo que seu desespero era real, sentiu seu aborrecimento se abrandar.

— Qual o...

Ele não a deixou terminar.

— Eu o perdi! Perdi! – Exclamou.

— Espera aí, não está falando do...

— Sim, do presente! Eu o perdi!

— Como foi que você o perdeu? Afinal, o que era mesmo? – Indagou, tentando se lembrar se Sirius havia mencionado o que daria a Tiago no dia do casamento.

— Um pomo, Flori! O primeiro que ele pegou e nem me pergunte como eu o consegui, porque foi difícil a beça!

— Mas... como foi que você o perdeu? – Quis saber a garota, cada vez mais confusa. – Eu vi você colocando uma caixinha no bagageiro da moto hoje de manhã, a não ser que... você não o tirou da caixa, tirou? – Sirius baixou os olhos, o que foi resposta suficiente. – Por que fez isso?!

— Ora, encontrei com Aluado no meio do caminho e ele duvidou de que fosse o mesmo pomo. Precisava provar que não estava mentindo! – Defendeu-se Sirius.

— Por Merlin, Snuffles! Eu não acredito que você foi tão...

— Idiota? – Adivinhou o rapaz.

— Bem, não importa. O que pretende fazer agora?

— Eu lembrei que na época da escola você era uma excelente apanhadora e pensei que seria a pessoa mais indicada a me ajudar. – Sirius fez a sua cara de cachorro sem dono e piscou angelicalmente.

— Ajudá-lo a sair da sua própria bagunça, não é? – Corrigiu a garota. – Tudo bem, vamos logo com isso. – Suspirou. – Para onde ele voou? – Perguntou.

— Na direção do jardim. – Respondeu ele, correndo para acompanhá-la.

Eles desceram os degraus que levaria ao jardim e passaram a vasculhar o local. Flori apurou os ouvidos à procura do familiar ruído de asinhas batendo, porém, com a música vindo do salão era difícil distinguir qualquer coisa. Ela ordenou que Sirius procurasse perto da fonte, enquanto ela olharia as roseiras perto do estacionamento. Esquadrinhou cada centímetro daquele lugar, analisando com olhar de águia, mas sem sucesso. Ela voltou para perto de Sirius e o achou ajoelhado diante de um canteiro de tulipas.

— Encontrei! – Anunciou.

Ele se virou para ela e Flori notou que havia algo redondo na palma de sua mão, só que não era um pomo; era um anel.

— Que brincadeira é essa, Black? – Indagou Flori, com um tremor na voz.

— Nunca falei tão sério em minha vida. – Retrucou Sirius, com um sorriso. – Você disse que queria que fosse surpresa e que eu estivesse ajoelhado. Temos até flores...

— Todas essas breguices. – Completou ela, num sussurro assombrado. – Ma-mas e quanto ao meu trabalho? Eu vou embora em alguns dias e não sabemos quando irei voltar. – Lembrou.

— Eu não ligo. Não me importa se você estará de volta em um ou dois anos ou até dez. Estarei à sua espera. – Declarou. – O que me diz, toupeirinha, aceita se casar comigo?

— Sirius...

Flori sentiu os olhos úmidos e um aperto na garganta. Não sabia o que dizer, ou melhor, como expressar o que sentia naquele instante.

— Amor, qualquer que seja a sua resposta... será que você poderia me dizer logo? Minhas pernas estão me matando! – Brincou Sirius.

— Oh, meu Deus! – Flori soltou uma espécie de soluço misturado a uma risada e o ajudou a ficar de pé. – Me desculpe!

— E então? – Desta vez ele parecia verdadeiramente ansioso.

— É claro que sim! – Bradou ela, pulando em seu colo e o beijando com tanto vigor que o rapaz se desequilibrou.

Flori o soltou e Sirius aproveitou para colocar o anel em seu dedo; os olhos dele brilhavam e havia um sorriso imenso em sua face. Ele a beijou uma última vez e então ambos se viraram para voltar ao local da festa. Flori levou outro susto ao se deparar com os amigos espiando a cena entre as vidraças do salão. Ao notarem os rostos felizes do jovem casal, começaram a vibrar loucamente.

— Eu não acredito! Todos já sabiam? – Indagou Flori, virando-se para ele.

— Quem você acha que deu a ideia do pomo? – Disse Sirius, indicando Tiago com a cabeça.

— Eu devia ter desconfiado.  Remo nunca faria você abrir um presente que não é dele. – Murmurou.

— Venha. – Chamou, oferecendo sua mão. – Estão nos esperando.

Flori hesitou brevemente.

— Tem certeza de que irá esperar por mim? – Perguntou.

— O tempo que for necessário. – Garantiu.

Sorrindo, Flori segurou na mão de Sirius com força e juntos entraram no salão.


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