- I- Inoue? - Meus nervos gelaram, eu estava diante da namorada do meu melhor amigo, ou melhor dizendo, da minha secreta confusão sentimental. Ainda sentia-me culpada pela situação vivida com o ruivo, será que ela poderia imaginar que nós tínhamos avançado um pouco da nossa barreira de amigo? Será que ela  havia descoberto algo? Ou será que era apenas uma visita? Era uma grande incógnita.

- Ohayo, Kuchiki-san! – comprimentou sorridente.

- O-ohayo Inoue. Que surpresa em vê-la.

- Er... Faz um tempo que não nos vemos né?!

- É... - fez-se um breve silêncio.

- Kuchiki-san eu... – a estudante retomou a conversa, sua cabeça estava levemente inclinada – Eu estou sabendo sobre o seu problema e eu... Eu sinto muito pelo o que está acontecendo com você, eu... – ela se aproximou e gentilmente segurou minhas mãos transparecendo um sorriso radiante – Eu tenho certeza que a Kuchiki-san vai sair muito bem dessa e logo logo estaremos rindo disso tudo – Inoue sempre foi uma boa pessoa e nunca deixou de desejar o bem de todos... Ela merece ser muito feliz.

- Arygatou, Inoue.. – agradeci retribuindo o sorriso, contudo a ruiva persistiu em demonstrar um semblante mais cabisbaixo.

- Kuchiki-san, eu... Eu preciso te perguntar uma coisa. Mesmo nessa situação eu... Eu preciso te perguntar. – Observei a garota interrogativamente.

- Hã... Pode perguntar.

- Kuchiki-san... O que você realmente sente pelo Kurosaki-kun? – Rapidamente prendi minha respiração, paralisei diante do questionamento. Céus, o que ela sabia?

- I-Inoue eu... Por que está perguntando isso? – virei-me de costas para ela evasivamente, mais uma vez aquela pergunta. Aquela pergunta... A mesma pergunta que o próprio Ichigo havia feito a mim, e que eu repondi tão amargamente.

- Kuchiki-san eu preciso saber a sua resposta, eu... – hesitou e voltei a encará-la – Eu acho que eu comenti um grande erro. – lamentou a moça, deixando-me ainda mais intrigada a respeito daquela conversa.

- Erro?

- Sim. – a ruiva segurava o outro braço olhando para o límpido riacho desoladamente.

- Inoue.. – me aproximei – O que aconteceu? – Para a minha surpresa ela encarou-me com olhos marejados e subtamente se ajoelhou diante de mim com as mãos sobre o rosto.

- I-Inoue? – tal atitude me surpreendeu, queria entender o que estava pertubando a jovem.

- Kuchiki-san me perdoa! Eu sou uma pessoa muito má! – Eu não sabia o que ela tinha feito para se sentir assim, mas eu sabia que naquele coração não havia maldade.

- Está tudo bem. – repousei ternamente as minhas mãos sobre seus ombros – Está tudo bem..

~~•••~~

- Sente-se melhor? – Ela afirmou possitivamente com a cabeça. Agora estava mais calma. Estávamos sentadas na beira do riacho sentindo a leve brisa daquele dia. Olhei para ela ainda intrigada com seu comportamento...

- Kuchiki-san eu.. – mas ela começou antes que perguntasse algo – Eu conheço o Kurosaki-kun há um bom tempo e sempre o admirei – engoli seco. Um certo desconforto infiltrou-me com essas palavras. – Mas ele sempre foi uma pessoa muito solitária... Mesmo rodeado de amigos, ele fazia questão de pegar uma distância segura, tornando-se quase inalcançável. Ele guardava para si a sua mágoa e a culpa de não ter conseguido salvar a sua mãe do atropelamento...

Era verdade... Quando voltei para Karakura encontrei esse Ichigo, triste e sem vontade de viver. Ele cultivava fortemente as marcas daquele dia...

Tudo aconteceu em uma tarde chuvosa. Ichigo voltava da aula de karatê  com a sua mãe, o seu porto-seguro... Ele sempre foi muito dependente dela e a amava incondicionalmente.

Mas a tragédia foi inevitável.

Nesse retorno, Ichigo andava um pouco mais a frente que sua mãe, feliz e distraído, não viu o perigo que se aproximava. Na estrada próxima ao rio que corta cidade vinha um carro desgovernado em direção àquela criança, Mazaki-san ao notar a terrível ameaça não pensou duas vezes, ela correu até o seu filho e o tirou da mira do veículo, porém ela não pode sair a tempo... Desde então a culpa começou a consumir aquele jovem coração, o corroendo.

- Mas tudo mudou quando você chegou Kuchiki-san – fitei a ruiva surpresa e confusa.

- E-eu?

- Sim, você Kuchiki-san – ela respondeu serenamente –  Você o entende melhor do que ninguém. – ela me encarou profundamente – Só você conseguiu fazer a chuva do coração do Kurosaki-kun parar – Inevitavelmente senti as maçãs do meu rosto esquentarem, ficando totalmente sem-jeito.

- E-eu não fiz nada Inoue, ele mesmo consegiu se reerguer, ele mesmo que se tornou mais forte. – sorri para mim mesma. Sim, Ichigo havia crescido e se tornou um grande homem, que a todos quer proteger com o seu jeito humano e sincero de ser.

- Mas talvez ele não teria conseguido sem você, Kuchiki-san. Vocês tem um laço muito forte, e eu quase estraguei tudo... – Cada frase dela conseguia me deixar mais intrigada.

- I-Inoue?

- Kuchiki-san, você conseguiu fazer o que eu nunca conseguiria, e isso.. Isso me causou tanta inveja sabe... Eu queria a atenção dele, eu.. – ela apertava o punho fortemente, e sua voz saía trêmula, eu apenas escutava, um pouco tonta com as informações. – Eu nunca vou ter o coração do Kurosaki-kun... – Nani? Minha mente gritou.

- Inoue vocês estão namorando, então.. Então você tem o coração do Ichigo, vocês...

- Nós terminamos – interrompeu-me prontamente, deixando-me estática diante da afirmação.

- V-vocês. o que? – indaguei quase sussurando.

- O que você ouviu Kuchiki-san – Ela não me encarava, ela simplesmente fitava a paisagem com uma feição de difícil descrição. – Foi tudo um erro Kuchiki-san, um erro meu...

- Inoue, por favor conte-me o que aconteceu. – Pedi, sentido-me esquisita com tudo.

- E você tem todo o direito de saber, Kuchiki-san. – ela suspirou – Como te falei antes, eu sempre tive uma ponta de inveja pela a sua aproximação com o Kurosaki-san. Eu tentava dizer para mim mesma que eu não podia sentir isso, que você era minha amiga e o Kurosaki-kun também, mas... Meu egoísmo falou mais alto. - hesitou por um instante, porém continuou a oratória -  Outro dia eu encontrei o Kurosaki-kun sentado sozinho na sala olhando para o nada, e não resistir e fui falar com ele...

- O-ohayo Kurosaki-kun! – O garoto estranhamente continuava inerte, sem pronunciar nada.

- Kurosaki-kun! – A ruiva falou mais autivamente, o suficiente para o garoto despertar.

- Ah, Inoue?

- Ohayo Kurosaki-kun! – respondeu sorridente, para ela não era muito difícil sorrir para ele.

- O-ohayo... Posso ajudar em alguma coisa?

- Ah eu... Erh... – a moça começou a balançar freneticamente os braços, e sorrindo meio desconcertada perante aqueles olhos castanhos - Eu só queria saber como você estava... – Ichigo, por sua vez, olhou-a um pouco confuso, mas logo voltou a se concentrar na paisagem visível da janela.

- Eu estou bem, não se preocupe. – respondeu meio inexpresivo. A moça sentiu-se um pouco mal com as palavras e a reação seca do rapaz. Observou aquele ser e, em tese, já sabia a causa daquele misterioso comportamento. Resolveu, então, arriscar.

- Está assim por causa da kuchiki-san, não é? – O ruivo retornou seus olhos, agora surpresos, à garota. Naquela ocasião os amigos Ichigo e Rukia estavam brigados. O motivo dos conflitos entre os dois, em geral, eram sempre bobos, mas daquela vez a razão era outra... Havia um outro “cara” do 3º ano A que estava persistentemente “arrastando asa” para a Kuchiki, e isso incomodava muito o jovem de cabelos laranjas. Este começou a tratar a sua amiga de maneira pouco cordial, não contando a ela os seus motivos e promovendo, então, discussão atrás de discussão. E Inoue Orihime sabia muito bem disso.

- Eu ficar triste por causa daquela anã? Nunca! – Virou a cara emburrada. Eram palavras vagas, para ele principalmente, mentirosas. Ficaram alguns segundos em silêncio até que a sua colega voltasse a falar com um  ar ligeiramente sério.

- Kurosaki-kun, está confuso ou está gostando mesmo da Kuchiki-san? – Ela precisava ouvir diretamente a resposta dele, talvez com uma pequena esperança de que a resposta fosse negativa.

Naquele instante Ichigo estava fazendo jus ao seu apelido “Morango”, pois estava tão vermelho quanto um..

-Na na na na na-nii???? Não, não! Eu... Eu...Arg! – falar de sentimentos definitivamente nunca fora o forte do garoto. – Eu... eu... – aos poucos começava a se acalmar, enquanto a ruiva o olhava curiosa – Eu, eu não posso sentir nada por ela.. – lamentou.

- Mas por que, Kurosaki-kun? – indagou em tom baixo a outra.

- Eu... – novamente a paisagem da jenela o atraía – Nós somos amigos, melhores amigos... Eu não posso estragar essa amizade, eu não posso... Ela fez muito por mim, ela fez a chuva do meu coração parar... Eu não posso destruir esse laço. – Para a sua decepção, agora a moça pode entender melhor o que se passava naquele conturbado coração. Entendeu mais ainda a importância daquela baixinha de olhos azuis na vida do ruivo, contudo, ela também queria ter essa importância na vida dele, afinal também era amiga dele e podia fazer o mesmo.

Essa era a sua concepção.

- E você sabe o que ela sente por você?

- Eu não sei... – Sua voz estava mansa.

- Então eu irei descobrir. – Ela já tinha o seu plano...

- Você o quê?

- Eu vou descobrir o que ela sente por você. Eu irei te ajudar. – Prestativa? Não. No fundo o seu plano era egoísta. Tinha que ser egoísta ao menos uma vez na vida, e essa era a hora.

- S-sério? – continuava incrédulo. Por que ela estava fazendo isso por ele?

- Com certeza! Eu quero ver vocês felizes, afinal somos amigos né?! – Ele sorriu levemente afirmando com a cabeça, ela sorriu amarelo, mas sentido uma pontada de triunfo, pois agora estava a um grande passo de conseguir o que tanto almejava.

- No fundo eu sabia que eu estava errada, mas eu não conseguia desistir dos meus objetivos... – Tais reminiscências me deixaram absorta. Então o Ichigo já estava gostando de mim, ele tinha os mesmos receios que eu tinha... Eu mal podia acreditar...

No entanto, ainda sim não entendia o porquê ele começara a namorar com a Inoue. E esse suposto plano? Realmente Inoue tentara me interrogar sobre os meus sentimentos, lembro-me disso.

- Você realmente veio falar comigo.

- Sim, mas você não estranhou tudo o que aconteceu naquele dia? - sua feição era extremamente séria.

A garota ruiva caminhava em direção a um belo rapaz de cabelos e olhos castanhos que estava encostado tranquilamente em uma das árvores isolada do pátio, ele era um grande atrativo das estudantes.

- Aizen-sama! – chamou-o.

- Ora ora, se não é a Inoue Orihime. O que deseja? – mostrou um sorriso sarcástico.

- Vim falar de um assunto que eu acho que é de seu interesse.

- E qual seria? – a jovem o encarou firmemente.

- Kuchiki Rukia. – ele apliou o seu sorriso.

- Prossiga.

- Sei que você quer muito ela, e eu acho tenho o plano perfeito para isso. – ele se aproximou da aluna.

- Estou escutando atentamente.

Continua...