Ele age estranhamente comigo, às vezes, sinceramente eu não o entendo. Ele já está ao lado de alguém, mas me trata tão ou mais “forte” quanto antes. Por que ele pede mais a minha atenção? A atenção que ela o dá já não é o suficiente?

Eu tenho o meu orgulho, e ele foi ferido... Ferido assim como o meu coração.

Está tudo para baixo
Eu tenho que fazer minha vida fazer sentido
Alguém pode dizer o que eu fiz?
Eu senti falta da vida
Eu senti falta das cores do mundo
Alguém pode dizer onde eu estou?

Eu tento... Eu tento e faço o que posso para ficar o mais longe possível, finjo-me de indiferente e em alguns momentos sou até mais rude, mas quando eu menos espero, ele já está ao meu lado novamente. Céus, o que eu faço?

Ignorar, fingir, desviar o olhar são as ações que me restam. Ele não sabe como machuca testemunhar os seus encontros, numa doce e triste ilusão que eu poderia estar ali, naqueles braços, no lugar dela.

Porque agora eu me encontro de novo
Tão pra baixo, longe do sol
Que brilha dentro dos lugares mais escuros
Eu estou tão pra baixo, longe do sol novamente 

Minha nossa, quanto egoísmo! Eu deveria estar feliz por eles, pois são pessoas que amo e quero muito bem, mas simplesmente não consigo. Será que eu sou tão ruim assim?

Às vezes eu acho que sou ou me faço de idiota. Sim, idiota! Idiota por ser tão egoísta, idiota por sofrer em silêncio assim, idiota por ainda gostar dele...

Penso e (re) penso...

O superior coração, mesmo fragmentado, impõe as suas regras e faz-me receber as suas ordens passivamente, mas agora chegou a hora de eu ditar as minhas próprias regras. Levantar-me-ei e seguirei em frente. Eu já passei por coisas piores e superei. Por que não superar agora? Traçarei o meu novo rumo...

Pisco os meus olhos e desperto do meu transe emocional guardando o meu fiel caderno na mochila. Estou na sala do 3º ano B, segunda semana de aula depois das férias, daqui a alguns meses estarei na faculdade, lugar onde não o verei mais... Pelo menos espero – não sei se fico feliz ou triste com isso.

Olho para frente e vejo a professora, que mais uma vez está proferindo as suas corriqueiras “palavras cordiais”. Que de cordiais não tem nada...

- Ohayo, queridas pestes  desinteressadas e delinqüentes – “suave” como sempre – hoje vocês terão mais um animalzinho para se juntar a esse zoológico. Pode entrar Shiba Kaien.

O que? Shiba Kaien? O mesmo Shiba Kaien?

Um garoto alto, de cabelos pretos meio arroxeados rebeldes, e de olhos verdes entra na silenciosa sala. Mal posso acreditar, é o mesmo Shiba Kaien! Meu velho amigo que juntamente com o Abarai Renji acompanharam-me parte da minha humilde infância e que infelizmente o destino tratou de nos separar através das adoções.

Sim, eu sou adotada. No entanto sou adotada por nada mais nada menos que o marido da minha irmã mais velha. Hisana cuidou de mim quando eu era apenas um bebê, mas devido a nossa condição precária de sobrevivência ela me deixou em um orfanato. Algum tempo depois ela conheceu o milionário Kuchiki Byakuya no qual se casou. No entanto, meses após descobriram que ela possuía uma rara doença e que não tinha mais nada a ser feito. Contudo antes da morte, Hisa pediu ao Nii-sama (foi isso o que ele passou a ser para mim)  que me encontrasse e me resgatasse.

Convivi sete anos da minha vida com o estourado Renji e com o despreocupado Kaien. Após a minha adoção eu ainda cheguei a pedir ao Nii-sama que adotasse também os dois. A princípio a idéia não lhe agradou, mas mesmo relutante ele resolver atender ao meu sincero pedido. Foi uma alegria que quase não coube no meu peito de tão grande, porém ela murchou quando tivemos a notícia que o Renji e o Kaien foram adotados pelas famílias Abarai e Shiba, respectivamente. Fiquei entristecida admito, mas também muito feliz, pois ambos a partir daí teriam uma família.

Neste momento parecia eu que estava em túnel do tempo, por ironia do destino Kaien estava logo ali, diante de mim.

- Shiba você pode se sentar naquela cadeira vazia a esquerda daquela nanica de cabelo preto sentada ali – Eu nem liguei para o venenoso insulto da docente. Tratei apenas de voltar o meu olhar para aquele velho conhecido que me encarava com surpresa.

- Rukia? - Deu até vontade de rir da cara boba que ele ficou, mas me contive.

- Hum vejo que já se conhecem. Kuchiki, no intervalo trate de mostrar o colégio ao novato.

- Hai! – Quando dei por mim ele já estava acomodado no assento ao lado.

- Rukia, eu não acredito! Quanto tempo! – falou irreverente, mas baixinho para não chamar a atenção.

- Eu também não estou acreditando, Kaien. Eu pensei que nunca mais o veria. – respondi no mesmo tom de voz que ele. Por um breve instante eu tive a ligeira impressão que um certo alguém nos observava... Mas deve ser loucura minha.

- Eu não Rukia, eu sempre tive a esperança de poder revê-la um dia. Estou muito feliz por reencontrá-la. – Ele estendeu um largo e belo sorriso para mim. E essa imagem tão sublime me convenceu, que sim, que as coisas podem melhorar.                                                                       

Acho que o meu caderninho vai gostar de saber disso.

Eu tenho que fazer minha vida ter sentido
E agora eu não posso fazer o que eu fiz

Continua...