Reflect escrita por Kurai


Capítulo 3
Bloop


Notas iniciais do capítulo

Houshou Marine é da 3ª geração de Hololive JP, e Murasaki Shion da 2ª.



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“...Nee, você deveria tomar mais cuidado com as tralhas que pega por aí!”

Uma voz. Parecia tão longe. Parecia irritada. Estava falando em atlanteano..? Não tinha certeza, mas era o que parecia. O mundo estava fora de foco.

“...Eu não resisti, Shion-tan~~ Olha bem pra ela. Olha. Olha que coisa pequena e fofa. Olha. Não dá vontade de morder??”

...O que..?

‘Pequena e fofa’? Como ousam? Como..? Sua cabeça doeu. Gawr rosnou para si mesma. Como podia estar sentindo dor numa hora dessas? Estava em algum lugar desconhecido, fraca e ferida, ouvindo duas garotas discutindo o que podia ser seu fim. Afinal, pelo que tinha entendido, seria transformada em refeição e mordida.

Ouviu o mar. O som suave de ondas. O movimento de seu próprio corpo sugeria que ainda estavam no meio do oceano, ao sabor da maré. Conseguia sentir que estava em água salgada, mas ainda assim, não conseguia se mexer. Tentou respirar fundo, focar a mente, conseguir ao menos notar aonde estava.

“Oy, Shion-tan, você ouviu algo?”

“Acho que ela acordou. É sua tralha. Vá lá dar um oi. Se ela morder sua cabeça fora eu vou rir.”

Tralha..? Ela rosnou outra vez, o sangue pulsando com força em seus ouvidos. Os instintos de superpredador ativaram, a forçando a enxergar com clareza apesar da dor e da situação. Estava... Num quarto de madeira. Mas não só num quarto de madeira. Estava amarrada dos pés à cabeça, e trancada dentro do que parecia um enorme tanque de vidro e metal. Haviam desenhos e letras por toda parte ao redor do tanque. Partiam dele e se estendiam até quase tocar as paredes, cobrindo todo o chão em um grande círculo. Havia um segundo tanque ao lado do dela, menor, mas coberto por um pano.

Entendeu rápido sua situação. Era uma prisioneira.

Assim que as duas silhuetas apareceram no marco da porta, ela se atirou contra o tanque. Mesmo amarrada e ferida, se debateu contra o vidro, uma, duas, três vezes. Uma das figuras soltou um grito surpreso e correu na direção dela ao notar a resistência, começando a recitar algo numa língua desconhecida.

A garota não parecia ter saído da adolescência ainda, pequena, reta, de cabelos brancos e expressão mal-humorada, usando roupas um tanto escandalosas e um enorme chapéu roxo pontudo. Tinha estendido as mãos enluvadas contra o tanque, cujo vidro agora rachava, e os rabiscos pelo chão começaram a brilhar em resposta. Gawr sentiu suas amarras se apertarem, e sua força ser drenada.

Sua visão turvou mais uma vez. As imagens entravam e saíam de foco. A garotinha mágica arfava, claramente se esforçando para mantê-la contida. Bambeou e ameaçou cair, mas a outra, uma mulher mais velha de tapa-olho e extravagantes roupas vermelhas, a manteve firme no lugar.

Por fim, a testa sangrando, Gawr parou de se debater, exausta. Toda a energia que ainda tinha usava para não desmaiar novamente. Quando percebeu que tinha tido sucesso, a garota de cabelos brancos suspirou de alívio e se largou sentada no chão, tentando se recuperar. A outra aproveitou para se aproximar do tanque. Bateu com o indicador no vidro, sorridente. Gawr rosnou em resposta.

“Ela é nervosa! Dá vontade de apertar as bochechas até arrancar, não dá!?”

“Você é... Maluca... Capitã...” a outra retorquiu zangada, em ofegos.

“Consegue me entender? Você consegue, Shion-tan colocou um feitiço tradutor aí. Qual seu nome? De onde você veio?”

A mulher tinha energia de sobra. E não parava de sorrir. Gawr queria arrancar o sorriso da cara dela em uma dentada. Ela só rosnou novamente e não respondeu.

“Eeeeh, Shion-tan, tem certeza que o feitiço funciona? A não ser que o nome dela seja ‘rawrr, grawrr’, ou não funciona, ou ela não quer falar comigo.”

Shion parecia cansada demais para brigar, mas sua expressão claramente era a de alguém que queria muito.

“Ah, eu devia me apresentar primeiro! É verdade. Ahoy! Houshou Marine, capitã dos piratas Houshou, e a capitã de 17 anos mais jovem e bonita que vai encontrar em todos os sete mares!” ela declamou, fazendo uma pose ridícula, requebrando o quadril e piscando – o que pareceu idiota considerando o tapa-olho. “Você está no meu navio. E essa é a Shion-tan. Ela é uma bruxa. Pesquei você no meio do oceano, e então uma coisa tubarão gigante tentou atacar a gente e a Shion-tan deu um jeito nela.” Marine indicou o tanque menor coberto ao lado delas com o queixo.

Gawr arregalou os olhos. Tinham pegado seu..? Ela tentou se debater outra vez, na direção do tanque. Mas a essa altura mal conseguia se mover.

“Ei, ei, calma, calma! Ele está bem, só... Contido.” Marine explicou, puxando o tecido.

A coisa que estava presa ali era...

Era...

Gawr encarou aquela coisa, incrédula. O que era aquilo? Dormindo em posição fetal, preso dentro do que parecia uma bolha enorme ainda dentro do tanque, estava uma... Coisinha. Uma criaturinha minúscula, que lembrava vagamente um tubarão com pernas. Era quase adorável. Era repugnante.

“O que fizeram com ele?” ela demandou saber, bolhas escapando de sua boca ao tentar falar submersa. Estava falando em atlanteano, mas de alguma forma, as duas pareciam ter lhe entendido.

“Como a capitã disse, ele está... Contido.” A bruxa explicou, ainda do chão. “A bolha o impede de assumir a forma original. Ele está inofensivo enquanto não escapar dela.”

“Ele não é bonitinho!? Temos que dar um nome a ele.” Marine declarou, agora batendo com o indicador no vidro do tubarãozinho. A criaturinha pareceu acordar, e deu um bocejo agudo e fofo, soltando algumas bolhas no processo. “Oh! Ouviu isso? Bloop. Esse vai ser o nome dele.”

“Ele já tem um nome.” Gawr retorquiu, achando a cena toda nauseante. Não sabia porquê ainda estava falando. Não precisava falar. Só precisava sair dali e matar as duas.

“Nee, capitã Marine, o que vai fazer com eles? Eu não posso prender eles pra sempre. E você não pode só soltar eles de volta na água. Você viu o que aconteceu lá atrás. Qual é o grande plano?”

“O plano é. Eu saio daqui. Furo você com o tridente. Bem no meio do estômago. E você eu arranco a cabeça com dentadas.” Gawr interrompeu, olhando primeiro a bruxa, depois a pirata. A última riu.

“Podemos levar ela para a veterana Sora. Ou talvez Miko-cchi?”

“Quer jogar suas tralhas em outras pessoas agora??”

Enquanto as duas conversavam como se ela não estivesse ali, a raiva se acumulava até que tudo que Gawr enxergasse fosse vermelho. Como ousam...

Era Gawr, princesa de Atlantis.

Superpredador.

A mais forte do oceano.

A mais forte criatura em água ou terra.

Algo estalou de eletricidade em seu âmago. Os desenhos ao redor do tanque que a prendiam começaram a brilhar fracamente, piscando de leve e aumentando a luz à medida que Gawr os forçava. Shion não notou de imediato, ainda discutindo com Marine.

O navio rangeu devagar, se inclinando suavemente. Ninguém notou. Os desenhos brilharam com mais força. Uma onda bateu com força na lateral do navio, jogando as duas meninas para o lado em desequilíbrio.

Só então a bruxa notou o que acontecia e correu para reforçar os feitiços outra vez – tarde demais.

Com um estrondo explosivo, um relâmpago acertou o mastro, e outra onda se quebrou com força, fazendo o navio se inclinar perigosamente, ameaçando virar. Ao mesmo tempo, Gawr se jogou contra o vidro, que se estilhaçou em pedacinhos.

Marine lutou para se manter de pé, ao passo que Shion, esgotada, foi lançada contra a parede feito um boneco de trapos. Gawr encarou a pirata, os olhos vermelhos faiscando, e a observou levar a mão à arma em sua cintura. Pronta para saltar contra ela e impedir o tiro – coisa que experimentara por demais na França – ela hesitou, porém, ao ver a capitã soltar a mão da arma e a erguer lentamente, então se virar e correr para ajudar a bruxa antes que se ferisse gravemente contra alguma daquelas vigas.

Com as costas dela viradas para si, Gawr tinha a oportunidade de ataque perfeita. Não soube o que a fez decidir pelo contrário, mas julgou que era o momento adequado para enfiar a mão no tanque de seu tubarão, quebrando o vidro dele também, e agarrar a ‘bolha’, que era estranhamente resistente, correndo com ele para fora do barco e saltando de volta ao mar turbulento e tempestuoso.


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Notas finais do capítulo

Esse é o Bloop!
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