P.O.V Da Sam

Chegamos ao hospital, encontramos o ex-vizinho de Freddie na sala de espera, o rapaz se levantou às pressas assim que nos viu e veio falar com a gente. Foi ele que se arriscou socorrendo a Carly, segundo o rapaz chamado Billy Boots, a Shay estava bastante abalada e assustada. Nunca imaginei que ela pudesse passar por toda aquela situação, era de fato muito lamentável.

— Obrigado, cara. Se não fosse por você, sabe Deus o que teria acontecido... - Meu namorado agradeceu apertando a mão do ex-vizinho.

— Só fiz o que era certo, não pensei duas vezes, ela precisava de ajuda. - Billy era bem novo, devia ter cerca de 20 anos.

Ele foi corajoso, o tal de Antony poderia estar até armado.

— Ela está muito machucada? - Perguntei.

Nós dois estávamos nervosos e preocupados. Deixamos as crianças na casa da Sra. Benson, Freddie não quis entrar em detalhes com a mãe, só contou que Carly estava no hospital.

— Ele machucou o rosto dela, acho que ela deve ter fraturado o nariz. - Respondeu.

— Canalha! - Meu moreno fechou as mãos em punhos e estremeceu.

Notei que a mão direita de Billy estava vermelha e inchada, ele também tinha hematomas no rosto, devido ter entrado em luta corporal com o agressor.

Não era qualquer pessoa que se arriscaria para defender alguém da maneira que ele fez.

Aquilo era muito perigoso.

Ficamos ali aguardando a Carly, ela apareceu acompanhada de uma enfermeira, andando devagar, estava com o rosto bastante inchado e com um curativo sobre o nariz.

Freddie levantou imediatamente e foi até ela que se jogou nos braços dele se pondo à chorar.

Não me incomodei, eu sabia que eles precisavam daquele abraço, que Carly necessitava de consolo.

— Não quebrou, só está machucado... - Ela disse quando se afastaram.

Benson tinha perguntado sobre o seu nariz.

— E a Belinda? - Perguntou pela filha.

— Está na casa da minha mãe, não se preocupe, ela está bem. - Ele a tranquilizou.

Carly apenas assentiu e olhou em minha direção, Billy tinha ido até o bebedouro ali perto.

Então, eu levantei e fui até ela com calma.

Ficamos cara a cara, depois de tanto tempo... Vê-la naquele estado me dava tanta tristeza e pena.

— Oi. - Minha voz saiu baixa.

— Sam! - Seus olhos castanhos encheram de lágrimas.

Carly soluçou alto e eu abri os braços, lhe oferecendo um abraço.

E quando ela veio para mim, eu envolvi seu corpo trêmulo e nós duas desabamos aos prantos.

Freddie se afastou com os olhos marejados.

— Já passou, já passou... Ele não vai mais te machucar. - Afaguei suas costas.

— Sam, você não entende... Me desculpa por tudo... Me perdoa... Eu sinto tanto... Perdão... Por favor, me perdoa... - Tentou se abaixar.

Ela queria ficar de joelhos.

Não deixei, eu a segurei e a mantive em meus braços.

— Não vamos falar disso agora, ok? - Fiz carinho em seus ombros.

[...]

Como o Spencer estava viajando com a esposa e Carly pediu, praticamente implorou para não contarmos nada ainda, decidimos levar ela para casa, onde poderíamos cuidar dela. Ela queria ficar perto da filha, Freddie foi buscar as crianças e nós duas ficamos sozinhas.

— Por quê está fazendo tudo isso por mim? - Aceitou a xícara de chá.

— Porque sei que no fundo, você faria o mesmo por mim... - Eu acreditava naquilo.

— Você é tão boa, eu não mereço a sua compaixão... - Disse rouca e com a voz embargada.

— Não te odeio, Carly, eu só nunca entendi o porquê...

— Você foi embora, Sam. - Me interrompeu, ela queria explicar, eu a ouvi atentamente. - Foi embora sem se despedir. Você era como uma irmã... Eu te amava como se você fosse da família e você era. E você saiu de Seattle, nos abandonou...

— Tive os meus motivos. Você ficou com o Freddie mesmo sabendo dos meus sentimentos por ele...

— Foi apenas um beijo. Não passou daquilo. E não significou nada para nenhum de nós dois! - Suspirou e olhou para baixo. - Eu ia te contar... Fui fazer isso, eu queria me desculpar... Você já não estava mais em Seattle. Sua mãe contou que você foi embora... Tem noção da dor que eu senti? Minha melhor amiga havia partido sem se despedir de mim... Eu chorei horrores, Sam... Passei meses sofrendo com a sua partida. Você me bloqueou das redes sociais, eu te ligava e você não atendia... - Chorou.

— Eu estava com raiva, muito magoada na época... E quando retornei, você e o Freddie estavam juntos. Muita consideração da sua parte. - Bufei.

— Também fiquei com raiva, também fiquei muito magoada... Por isso fiz o que fiz... Fiz ele ficar com raiva de você. Inventei mentiras. Fiz o Freddie acreditar que você teve um caso com o Brad. E saiba que não foi fácil fazê-lo correr atrás de mim, ele sempre te amou. - Contou.

— É, mas ele acabou caindo nos seus braços... Vocês até se casaram. - Joguei na cara dela.

— Freddie estava arrasado e carente demais, fomos para cama pela primeira vez e ele estava bêbado... Gemeu o seu nome. Transou comigo pensando em você... Mesmo que eu não sentisse nada por ele na época, eu me senti humilhada... Parte de mim queria o amor que ele sentia por você. Eu queria ser amada e desejada... Eu precisava tê-lo... Você tinha ido embora, tudo que me restou foi ele... Mesmo estando longe, você o tinha... Eu precisava tomá-lo de você, você machucou a nós dois...

— Foram vocês que me machucaram primeiro! — Rebati.

— Eu sabia que você ficaria sabendo sobre nós... E que isso te machucaria... Eu queria fazer você se arrepender de ter ido embora... Eu queria que soubesse que o me entregou de bandeja... Que ele correria atrás de mim... Mas na verdade, eu que corri atrás dele como louca. Eu fiz de tudo para conseguir que ele ficasse comigo. Por egoísmo, por despeito, por inveja... Por vingança. - Admitiu.

— E não adiantou de nada, não é mesmo? Você ficou com ele. Se tornou mulher dele... E o traiu! - Não medi as palavras.

Aquilo ainda me indignava.

— Sim, eu não era feliz, nem ele... Mesmo casado comigo, ele ainda te amava, até falava o seu nome durante os sonhos... Ele casou comigo porque eu o pressionava. E também por comodismo. Achei que seria capaz de fazê-lo me amar, e falhei miseravelmente, fiquei sabendo o que aconteceu quando retornou para Seattle, no aniversário dele... Então, decidi fazer o mesmo. Fiquei com os amigos dele. O Gibby foi o único que me rejeitou. Fazer sexo com outros homens era gostoso. O Freddie não me dava prazer, e quando ele tocava em mim, era tão... Monótono. Então, o Griffin apareceu, precisava de ajuda, Freddie não pensou duas vezes, ele tem o coração enorme. Foi difícil, mas até que o Peterson cedeu, ele me deu tudo que o Freddie não me deu. Atenção, carinho e amor... Fiquei grávida e desesperada, contei para ele, o que deixou ele com medo, o Griffin não é mau caráter, ele já estava arrependido, queria contar para o Benson e pedir perdão... Mas eu não deixei! Discutimos e eu ameacei fazer um aborto. Falei que tiraria a criança se ele contasse ao Freddie sobre o nosso caso. E o Griffin não teve outra escolha, assim que ele conseguiu um emprego e se estabilizou, ele foi embora de Seattle. Contei para o Freddie que estava grávida, ele ficou tão radiante, e o resto deve imaginar... Mesmo estando longe, o Griffin entra em contato de vez em quando, ele se importa com a filha... Eu só achava que de certa forma estava fazendo a coisa certa. - Confessou.

Eu estava completamente chocada com suas revelações.

Ela foi capaz de ameaçar e chantagear até mesmo o Griffin.

— Onde estava quando sua filha foi parar no hospital naquele dia? - Reuni forças para perguntar.

— Estava no motel com o Antony. - Sua resposta fez meu estômago embrulhar. - Sim, trair o Freddie de certa maneira me fazia sentir melhor... - Admitiu.

— Isso é repugnante, não fale mais nada... - Levantei do sofá e me afastei.

Ela foi para cama com tantos homens.

— Por isso eu me arrependo tanto, me tornei nisso que está vendo... Antony me iludiu, ele disse que iria largar a esposa para ficar comigo. - Chorou.

— Você se apaixonou por ele? - Fiquei incrédula.

— Não! - Negou. — O único homem que eu já amei e ainda amo, deve me odiar no fundo, eu o magoei muito... - Soluçou.

— Griffin. - Concluí.

Carly se curvou e vomitou no meu carpete. Fui para perto dela.

— Me perdoa, Sam? - Me olhou limpando a boca.

— Claro que perdoo. - A abracei.

A coitada estava bastante abalada.

Nossa conversa também me abalou demais.

No entanto, foi muito importante para esclarecermos tudo.

[...]

P.O.V Do Freddie

— Quero ir embora. - Carly avisou.

— Você sabe que pode ficar aqui por uns dias. - Eu disse com calma.

Também não teria problemas para a Sam.

— Não é isso, tô falando de me mudar, sair de Seattle. - Explicou.

Olhei para a Bel em seu colo, senti um aperto no peito.

— Vai embora por causa do Antony? Carly, a gente vai dar um jeito, não precisa...

— Eu preciso ir. Não só porque quero ficar distante daquele homem, eu só sinto que já deu, quero me mudar, está sendo sufocante, entende? Tenho minhas economias, dou meu jeito. Posso trabalhar. - Ela estava mesmo decidida.

— Se é o que quer, saiba que você nunca estará sozinha, você tem o Spencer e a sua cunhada. - Sam a lembrou.

Olhei para a nossa filha... Eu sempre amaria aquela criança.

— Sinto muito, Freddie. - Carly percebeu a minha tristeza.

Ela iria levar Belinda para longe de mim.

— Está tudo bem... - Eu não podia e nem iria impedí-la.

Sam que estava ao meu lado, segurou a minha mão esquerda e fez carinho.

— Vou atrás da minha felicidade. E ela com certeza não está aqui. - Prosseguiu.

— Espero que consiga ser feliz, de verdade. Um dia você vai encontrar alguém que te ame e cuide bem de você. E você nem precisa de alguém para ser feliz, só precisa de um amor que complemente a sua felicidade, que acrescente em sua vida. - Fui sincero.

— Obrigada por tudo, Freddie... E também muito obrigada, Sam. Por ter cuidado da minha filha e por me receber na sua casa. - A Shay estava mesmo agradecida.

Sam sorriu emocionada, ela não guardava nenhum rancor.

— Eu os afastei, fiz ambos sofrerem e também fui tão infeliz. - Lamentou.

— Não fale mais sobre esse assunto, vamos deixar pra lá... É passado. - Minha loira tentou enxugar as lágrimas.

— Por quê tá chorando, mamãe? - Alex correu para perto dela.

As duas estavam chorando.

— Não é nada, meu anjo, tá tudo bem, filho, agora está tudo bem... - O pegou no colo.

Nosso filho abraçou ela, e deitando a cabecinha na curvatura de seu pescoço, ele olhou para Carly.

— Ele é uma criança muito linda. - A morena sorriu para o nosso pequeno.

— É uma cópia minha, né? - Falei divertido e tentando descontrair.

— Vovó disse que sou igualzinho, a cara do papai! - Alex disse alegre e nós rimos.

— Você é mais bonito, filho. - Sam beijou a bochecha dele.

— Vocês formam uma família tão bonita. - Disse Carly emocionada.

— Obrigado. - Agradeci.

Eu estava feliz porque sabia que não existia mais nenhuma rixa entre elas.

Carly havia pedido perdão por tudo.

E Sam a perdoou, assim como eu, resolvemos deixar todas as coisas ruins no passado... O que importava era o presente.

Eu tinha a mulher que amava e o meu filho ao meu lado, também aprendi com meus erros.

A vida nos ensina que certas coisas ruins acontecem para nos fortalecer e mudar o nosso ponto de vista. Sam e eu ficamos tanto tempo afastados, e mesmo enfrentando tantas coisas, acabamos nos aproximando e ficando juntos, porque nada iria mudar o que sentíamos um pelo outro.

E Carly também merecia ser feliz e seguir em frente.

Nós três iríamos nos esforçar para reconstruir a nossa amizade.

Porque além da família, a amizade também é importante, e Carly merecia uma segunda chance.