O casamento e o sol

  Em 10 de outubro de 2001, quase dois anos depois de contratar Betty como sua assistente, Armando, o tigre, o solteiro mais cobiçado de Bogotá, casou-se em Isla Grande, uma das duas praias das Ilhas Rosario, com a mulher que ele disse que seria a última mulher com quem se casaria. Claro, isso foi antes de ele cair na armadilha que ele mesmo propôs. Ele a amava tanto que parecia um feitiço como seus pais e Mario Caldeirón costumavam dizer. Por conta disso, os três não estavam presentes.

  Ao receber o convite em sua casa em Bogotá, SeuHermes congelou, sua esposa lhe dizia que Betty se casaria com Armando e que eles teriam um bebê em breve. O que o fez franzir a testa ao lembrar-se da conversa no telefone com sua esposa:  ``Ela vai se casar exibindo uma barriga de não sei quantos meses! Julia, o que todo mundo vai dizer? Que nossa filha é uma sem-vergonha. Uma foguenta.``

  Ao que sua esposa respondeu: 'Não, eles dirão que se amam tanto que mal podiam esperar para estarem juntos e que este bebê nosso neto é fruto deste amor!`` 

  Mas nada disso funcionou, para Don Hermes a modernidade desses tempos não fazia sentido, ele não podia aceitar uma mãe solteira ou uma mulher casada grávida. Então ela recusou o convite para levar a filha até o altar e entregá-la a Armando. Caberia a Nicolás fazê-lo.

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  Mas era o casamento de sua filha e Hermes deveriacomparecer de alguma maneira, então vestiu um terno preto e foi para uma terra desconhecida, onde nunca esteve. Ele iria à cerimônia, escondido, sem que ninguém percebesse. Antes de sair, foi até o armário e pegou a arma.  Pensou em acabar com aquele doutorzinho que tinha tirado dele as duas mulheres com aquela cara de bom menino.

 "Você está louco, Hermes? Você vai deixar seu neto sem pai? Sua filha e esposa nunca o perdoariam." Nem reparará a honra e a promessa se o matar. O tempo não volta atrás.

  Então ele largou a arma no armário e pegou um ônibus para Cartagena, pois era uma viagem longa e não saberia guiar pelas estradas e muito menos ir de avião.  Ele ficou em uma pensão barata que servia café da manhã.

A cerimónia seria simples, com a presença de Catalina, Nicolás, Júlia, Rosa Ventura, irmã de Armando, Camila com o marido (que foram padrinhos) e os filhos, assim como Michel e os amigos do quartel, Bertha e filho de Aura Maria, Jimmy e o quartel, claro.    Sandra e Mariana choraram de emoção, assim como Carmencita, que acompanhei Armando até o altar. Mas ninguém além dos noivos estava mais emocionada que Julia. Sua única filha estava se casando e seu marido teimoso não deu o braço a torcer, isso também deixou Betty triste, ela sempre sonhou em ser levada ao altar por seu pai. Mal ela sabia que ele estava lá, na última fila atrás de um vaso. Ela conteve a emoção ao sussurrar “O diabo é porco”, lembrando a conversa que teve com Julia ao telefone alguns meses antes.

—E você senhora! Volte aqui!

—Esqueça Hermes!  Não vou deixar a menina sozinha. A gravidez é arriscada e ela precisa de mim para cuidar dela!

—Ela já não tem aquele cara que a sequestrou para cuidá-la?

—Armandnho não a sequestrou e trata a menina como uma princesa. Oh, Hermes, por que você não aceita que se amam e que este homem cumpre os requisitos do homem que queria para nossa filha? Se apaixonou por ela, feia como parecia! E está casando!

—Era para casar antes e não engravidar antes.

—Nem sempre as coisas são como queremos, mas Deus ajeita tudo.

Agora ele estava lá, chateado. Perdeu a oportunidade de levar sua filha ao altar. O teimoso segurou a vontade de chorar, mas não cedeu, preferindo assistir de longe a participar ativamente.Assim, viu Nicolás tomar o seu  lugar, carregando-a e entregando-a a Armando.

—Cuide dela. Não a faça sofrer ou eu juro que te mato! –disse Nicolás.

—E pode ter certeza que eu deixaria você fazer isso! Eu nunca a machucaria.

  Betty tinha uma barriga de 8 meses, seu vestido de noiva é cor champanhe com decote em V, modelo ombro a ombro e detalhes em renda, chegando abaixo dos joelhos, para dar mobilidade. A barriga de 8 meses se destacava no modelo, Betty exibia sua barriga com orgulho. Ao vê-la caminhar por aquela plataforma colocada na praia, com pétalas de rosa como tapete, Armando suspirou. Estava preciosa, linda, como uma deusa do universo carregando seu herdeiro naquele ventre que a fazia parecer mais bonita e mais sexy. Ele respirou fundo, não sabia se resistiria a tê-la na lua de mel como havia resistido todos esses meses por causa da gravidez de risco. Mas ela parecia tão bem neste dia. E de fato estava, o bebê que durante esses meses sempre se mexia. naquele dia estava quieto, o que permitiu que a mãe se movesse naturalmente.

A cerimônia naquele cenário maravilhoso, com o mar cristalino e o sol como testemunha, foi um encanto para todos os presentes, principalmente para os envolvidos que, depois de dizer sim e fazer seus votos de amor e fidelidade, se beijaram e nunca mais deixaram de se beijar, até precisarem respirar.

  Em meio aos cumprimentos, Nicolás vê Don Hermes de longe e se aproxima:

—Seu Hermes, espere!

—O que quer Nicolas?

—Por quê, seu Hermes?

—Eu não esperava que alguém me visse aqui. Foi um erro vir, não conte a ninguém que me viu.

—Está partindo o coração de Betty, ela ficaria muito feliz que você a tivesse guiado e entregado a seu marido.

—Que diferença faria¿ Já se entregou a ele muito antes!   Ela não precisa mais de mim. Ela tem você e o sequestrador para cuidarem dela.

—Você sabe que não é um sequestrador. Eles se amam.

—Não sei.

—A promessa, a promessa foi cumprida, Seu Hermes!

  Don Hermes seguiu o caminho ao longo da praia, sem olhar para trás. Ninguém além de Nicholas o viu lá. Neste momento, umas gotas de chuva refrescante propicionaram um cenário deslumbrante. O sol pintado em um céu laranja e azul, com as gotas de diamante.

  Armando manteve Betty perto de seu corpo, para mantê-la aquecida e protegida, mas algumas gotas insistiam em tocar suas peles douradas.  Teriam que esperar um pouco até chegar à recepção do Ananda Hotel Boutique, uma casa colonial do século XV, onde também passariam a lua de mel.

—Está bem meu amor?

—Sim.

E essa chuva que não para.

—Aiiiiii!!

—O que aconteceu? Um chute?

—Não acho nada mais forte que isso!

  Betty escorregou, sendo segurada por Armando e jogada no chão.

—São as contrações!     -disse Berta.

—Mas já? Ainda falta um mês.    -disse Sandra.

— Nem sempre nasce na hora, pode ser prematuro. - disse Sofia.

—E agora?   -perguntou Nicolau.

—Temos que levá-la para a clínica.

—Mas como vamos levá-la até lá?   -perguntou Nicolau.

—Eu vou levar!     -disse Armando, preparando-se para levar Beatriz nos braços, de barriga e tudo, até o carro, um Cadillac conversível azul que alugara com motorista e tudo para levar Betty ao casa à praia e os dois à festa.

  Diante dos protestos do motorista, dizendo que ia sujar o carro, Armando gritou com ele e quase ocupou o lugar do motorista. Ele só se acalmou para ajudar Beatriz a respirar.

Mas ao invés de irem para a festa que os esperava, foram para o hospital.

  Eles sabiam que não era apenas um alarme falso. Sua filha nasceria naquele dia.

La luna

  Apesar da quebra d`água, a entrega ainda demorou algumas horas. Nasceu uma menina branca com olhos verdes como os da tia Camila, cabelos pretos como os do pai, com covinhas como as do pai, mas testa e queixo como os da mãe, todos ficaram encantados em vê-la.

  Apesar de prematura, Luna Aurora Mendoza de Pinzón nasceu grande e teve dificuldades para nascer, por isso Beatriz estava cansada tanto do parto quanto de receber tantos visitantes. Já havia dado de mamar e a única coisa que queria era dormir. Haviam sido muitas emoções para um dia só.

 Nesse momento, um senhor careca e de bigode se aproximou, era quase careca e tinha bigode.

—Papai? –disse, pensando  já estar dormindo.

—Hoje, ao te ver vestida de noiva, eu ainda não sabia, era uma confusão de sentimentos. Mas depois de ver minha neta através do vidro, tão linda e enorme, algo mexeu comigo. Eu sei que estava errado, mas minhas intenções eram boas, eu queria te proteger do mundo. Os pais erram pensando em fazer o melhor, mas nem sempre é assim, talvez eu tenha errado em fazer a promessa, sem a sua autorização.

—Pai...  -disse, não acreditando que ele estava lá.

—Sim sou eu. Beatriz Aurora, você sabe que eu nunca vou gostar ou concordar com sua escolha, Armando Mendoza não é o tipo de homem que eu queria para você, mas eu sei que foi sua escolha!  E espero que do fundo do coração seja feliz!

—Obrigado, pai, pela compreensão. Desde o início, desde que vi seu Armando, me apaixonei por ele. E se me entreguei a ele, foi porque o amava.

—Não me dê detalhes!

—Há coisas que você deve saber: ele me amava, pai. Ele me amou antes de saber que eu era bonita, no escuro do quarto ele não sabia como eu era. E ele se apaixonou por mim. Por isso revelei o segredo para ele, considerando que a união de nossas peles era sagrada e que não podia negar que ele me visse como eu era.

—Estou velho e nunca vou entender.

—A promessa foi cumprida, me revelei ao meu marido. Para o homem que seria meu marido.

—Descanse, Betty. -Ele dá-lhe um beijo e deixa-lhe uma rosa branca.

  Betty adormece. No dia seguinte, lembra-se de tudo e pergunta a Armando se viu o pai.

—Seu pai? Seu pai nunca esteve aqui!

—Então foi tudo um sonho?

—Beatriz, desculpe.

—Parecia tão real.

Ele a abraça e vê a flor branca.

—E essa flor?

—Esta flor? Ele estava aqui, Armando, ele estava aqui! Meu pai estava aqui e ele me deu esta flor.

  Armando a abraçou alegremente. Lá fora, Nicolás ouviu os gritos de alegria de Betty e soube do que se tratava, ela havia providenciado para que Hermes viesse ver a filha e a neta, assim como Dona Júlia.

—Cuide das nossas meninas, mas te espero em casa quando tudo estiver tudo bem, sabe que também preciso de você e elas tem um homem para cuidar delas!

FIM