De manhã, apesar de tudo, Armando escreve um cartão.

—Ah mudou de texto?  Quem diria?

“Ontem, pude sentir seu coração batendo junto ao meu novamente. Senti que apesar de me repelir, o seu corpo queimava de desejo em contato com o meu. Não sei porque andas tão distante e fria, mas sei que ainda me ama e me deseja, como eu a ti.”    Cínico!

Mas mesmo com raiva, sabia que o que dizia no cartão era verdade. Se ele a espremesse e a beijasse com força, cederia aos seus braços, estava encharcada só de recordar. Aquele homem, seu verdugo, continuava dominando seu pensamento e seu corpo. Será que era masoquista? Gostava de sofrer, por isso amava os piores tipos? Pois Armando, com certeza era um sádico.

Precisava ir ao banheiro, estava quente demais. O cheiro e a pele dele a colocavam a mil. Ainda mais com as visitas constantes que sua salinha, por qualquer desculpa e com tanta ternura. Por que não gritava-lhe simplesmente como antes, tinha que olhar com aqueles olhos de carneiro degolado?

—Por quê? Por que se foi, por que não ficou comigo? Tínhamos combinado passarmos a noite juntos?

—Mas que coisa não? Esqueci-me que tínhamos combinado de ficarmos juntos. Ojojo E marquei um jantar com Nicolás. Não sei onde estava com a cabeça, deve ser o amor!

—Amor, Betty? Amor? E esquece um compromisso que tinha comigo?

Apesar da dificuldade de reação perante ele, ela logra, debochadamente, fingir-se indiferente, perante um Armando nervoso e necessitado que está confuso. Só sabe que inexplicavelmente, deseja tanto esta mulher que só consegue estar com ela.

—Como pode ficar assim? Perdemos nossa noite. Agora, Marcela vai voltar.

—Que pena não, doutor? Que pena! Mas foi o senhor que impôs estas regras e não eu.

—Sim, mas. Mas... era diferente antes!  A situação mudou!

—Preciso trabalhar agora.

Armando foi chateado para sua sala, Betty cheia de raiva, não aguentando mais, foi até a sala dele e sem se importar se a porta estava aberta e alguém ouviria, começou a gritar-lhe:

—Quer saber o que está acontecendo? Quer saber mesmo, doutor? O senhor é um idiota, um aproveitador, tal como Miguel era ou pior, pois o senhor amo de verdade. Mas só estava comigo por conta de sua empresa.

E mete a mão na cara dele.

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Mas logicamente é só um sonho. Armando sai com cara de não entender nada. Betty fica a bordo do choro.  Queria ter coragem de ir a sua sala e abordá-lo. Desde que descobriu a carta há alguns dias que sonha em pedir explicações. A questão é que sabe que lhe mentirá e acreditará na mentira, pois, tem verdadeira loucura por ele.

—Cerdo! Don Armando é um cerdo!

Acende a vela que Catalina lhe presenteou para tentar se acalmar, mas seu coração está atormentado. Quer embora daquele lugar, mas seus pais precisam do dinheiro.

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