—Bem-vindo ao quartel das feias!

 Então, Betty foi aceita no grupo, mas não na íntegra, porque por muito tempo ela não foi convidada para sentar à mesa com elas e ter contato real. A razão não seria outra senão sua ´´feiúra``. Depois de aceitá-lo no quartel, Betty começou a dançar e beber com eles. E assim, ela saía com as amigas uma vez por semana para um “happy hour” e a Beatriz saía para beber. Não é só que ele nunca esteve bêbada em sua vida. Betty bebia sim, mas escondido, junto com suas priminhas, os filhas de sua tia Clarisa María Pinzón Sánchez, quando vinham uma vez por ano. Ela guardava uma garrafinha de licor em seu armário, que,  em ocasiões especiais,  misturava com o suquinho de amoras que tomava todo dia. Claro, que este ´batismo` era escondido de seus pais. Betty não era alcoólatra, só tomava uns drinques para relaxar quando tinha que falar em público ou enfrentar certas situações que a deixavam tímida. Era para relaxar.

   Mas agora que estava com as meninas do quartel, não sentia necessidade de esconder isso. Eles a faziam  beber, então, estava sempre procurando por bebidas. Mas sempre no tempo livre, para se distrair dos problemas da empresa.  

   Ah, o quartel das feias! Suas companheiras inseparáveis. Apesar de fofoqueiras e intrometidas, eram grandes companheiras, sempre ajudando umas às outras.  

    Ela não queria mentir para eles, mas precisava. Teve que decidir que estava apaixonada por seu amigo Nicolás Mora. Nicholas era uma versão masculina dela, com óculos grossos, penteados e roupas antiquadas, mas outro gênio financeiro. Eles eram um casal perfeito, mas eram como irmãos, como se consideravam.

   Mas ela tinha que decidir que Nicolás era seu namorado, e que os que estavam no quartel suspeitavam que ele estava apaixonado por seu chefe, Seu Armando.

— Ah, Seu  Armando! Tão divino!

        Betty sempre se lembrava do dia em que começou a ansiar por ele. Tão divino e lindo! Tudo nele a seduzia, seus olhos, seu sorriso, sua loção, seu andar, sua conversa. Tudo a deixava louca. Ele a defendia, admirava sua inteligência, pedia conselhos, para ele ela era sua confidente e amiga. E quando eles conversavam sozinhos naquele escritório, ela podia sentir o cheiro de sua loção, seu abraço (para ele, abraços de apoio de um amigo, para ela de am   or). Ela sentiu seu calor, seu toque.

    Mas era tudo ilusão e fantasia, Don Armando era um sonho impossível, era como se apaixonar por um ator de cinema,  apesar de passar o dia todo com ele. Ele era rico, bem colocado na sociedade, bonito, elegante e, pior de tudo, COMPROMETIDO.  Ele se casaria em poucos meses. E ela, Betty, era pobre, desgrenhada, muito feia e, o pior de tudo, apenas sua empregada feia.  Ia ser uma solteirona por toda a vida. Mas como ela era muito inteligente e um gênio financeiro, Armando sentiu-se atraído por ela. Não de uma forma romântica, muito menos sexual, mas de uma forma inexplicável.

“Me inspira algo que nunca senti por nenhuma mulher, nem por Marcela nem por minha mãe: ternura, uma admiração inusitada, quero abraçá-la e protegê-la cada vez que ela é menosprezada e magoada. Eu sinto que você gosta porque eu me sinto tão carinhoso.   De que bobagem estou falando? Betty me respeita muito, ela não sente isso por mim. Eu sou o chefe dela, mas um chefe não abraça uma funcionária como eu faço com ela. É que Betty é muito mais do que isso para mim: ela é uma amiga. Sim minha amiga. Mas não como essas amiguinhas que tenho ao meu redor. Não! Com Betty eu não pensaria essas coisas. Apesar de ser F-E-I-A, ela é uma garota decente, de sua família.”

     Ao contrário do que pensava Armando, Betty não só pensava nele só como chefe ou como amigo. Pensava-o romanticamente e também sonhava com ele e o imaginava em todos os lugares, principalmente quando ia dormir e quando saía com as amigas, principalmente Aura María e já estava para lá de Bagdá, como diziam nos idos de 1999 e antes.

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Em uma dessas sápidas:

— Oh, Betty! Obrigado por vir comigo. Você sabe, se não fosse esse o caso, meu amigo não concordaria em sair, porque seu primo o está visitando esta noite.

—Espero que goste de mim  -risada de ganso - e não fique desapontado.

—E por que você ficaria desapontado?

—Não é sempre que eles querem sair com a feia da Betty!

—Oh Betty! Você tem que parar de olhar assim. Você é engraçada, inteligente e tem uma boa conversa! Pare de se sentir tão feia! Você pode encantar qualquer homem, ainda mais, mija, depois de alguns drinks, dos chamados "embelezadores" qualquer um desses começa a ver qualquer mulher como uma "triplemamita"! Vai por mim!

— Risa   -Aura Maria! Pode ser que bebam estes embelezadores e achem que "qualquer mulher" é uma dessas mamacitas, mas jamais comigo. Betty a feia!

—Se dê uma chance e verá como cedem!

"Não, Don Armando com um paladar tão fino. Nem bêbado me veria diferente ou me beijaria" -Pensou.