Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 27
Capitulo 27: Rapunzel


Notas iniciais do capítulo

Olá! Cá está mais um capítulo da minha amada fic! Espero que gostem!



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Era mais uma noite fria na cidade de Filotes. Rapunzel, Soluço e Merida estavam no banco cinzento de trás do carro conduzido pelos pais da loira. Olhavam a estrada pelas janelas, vendo os carros coloridos passarem pelo asfalto negro à noite, junto das luzes brancas das luminárias, sob o céu escuro.

A alemã mais nova estava com os cabelos loiros presos em uma longa trança repleta de enfeites, usava um vestido leve e esvoaçante e um confortável sobretudo caro, ambos de tom violeta com enfeites dourados e botas da mesma cor.

Se via assustada, de cabeça baixa, os cabelos estavam presos, mas mesmo assim, mechas louras caíam dos lados de seu belo rosto, o dorso magro estava curvado, balançava os joelhos sem parar, e segurava um jarro de flores, segurava nas mãos de dedos delicados, apoiado sobre seu colo.

— Se quiser, a gente entra lá com você, Rapunzel – falou o castanho.

— Não, obrigada Soluço, mas isso é algo que eu tenho que fazer sozinha.

— Nós esperaremos você do lado de fora do quarto – falou Arianna no banco da frente, no lado do passageiro.

— Obrigada, mãe.

— Sinceramente, Rapunzel, eu não sei porque estamos fazendo isso – falou a ruiva.

— Não somos melhores do que nossos inimigos se nos alegramos com o sofrimento deles.

— Mas pra quê correr o risco?!

— Ela vai estar desacordada!

— E também tem policiais na porta a observando o tempo todo – completou Fredderick, enquanto conduzia o veículo.

— Tá – disse a cacheada, desagrada – Eu não concordo com isso, mas se é o que quer fazer, tem o meu apoio.

— O nosso apoio! – completou o de óculos.

— Obrigada pessoal! – Rapunzel falou sorrindo para o casal, mas logo depois franziu o cenho – Por falar nisso, cadê o Jack? Faria sentido se ele estivesse aqui.

— Ah, esquece ele, Rapunzel – falou a escocesa batendo no vento com a mão como se espantasse um inseto.

— Ligaram pra ele? – perguntou a loira.

— Não – respondeu o norueguês com tom de vergonha.

— E devíamos?! Até parece que ele iria atender alguma de nossas ligações! – falou a celta.

— Merida, calma, o Jack ainda é nosso amigo – disse o escandinavo.

— Não foi o que ele disse naquela dia!

— Crianças! – falou Fredderick – Chegamos.

O veículo adentrou o vasto e cheio estacionamento do Hospital de Filótes.

Caminhavam todos juntos pelos corredores pálidos e gelados do edifício, orientando-se através dos funcionários e dos pacientes. Rapunzel sempre na frente, carregando um belo vaso de vidro com Violetas dentro, um olhar sempre temeroso em sua face.

Chegaram até um quarto com um policial na frente.

— Com licença, será que eu posso entrar para ver como ela está? – perguntou a loira.

— Sabe quem é que está aqui dentro, garota?

— Sim, eu sei, por isso que eu quero ver ela. Será que o senhor me deixaria entrar?

— Tenho ordens expressas dizendo que não posso deixar ninguém entrar. Somente pessoal autorizado.

— Com quem eu preciso falar para ter autorização?

— Nosso capitão está ali dentro – falou gesticulando com o rosto – Ele...

— É o pai adotivo dela, eu sei, será que o senhor poderia perguntar para ele se eu poderia entrar? Eu prometo que não vou fazer mal à ela.

O homem fez careta, pegou um rádio em seu ombro esquerdo para falar com o comandante.

— Fala que é a Rapunzel, filha dos donos da rede de cervejaria Corona.

O policial a olhou surpreso, depois falou no aparelho.

Em um curto diálogo, a mais nova conseguiu uma autorização.

— Obrigada – agradeceu calmamente e sorrindo.

O homem abriu a porta para ela, mas fechou ao notar a aproximação dos demais.

O quarto do hospital estava gelado, e as paredes eram saturadas de branco.

Rapunzel olhou diretamente para a cama defronte à porta, onde viu sua outrora inimiga, deitada inconsciente sobre o leito de lençóis brancos, rodeada de aparelhos que a mantinham viva. Seu rosto alvo estava parcialmente coberto pelos aparelhos do tubo, mas seus olhos fechados pareciam serenos, como se estivesse em um confortável banho quente.

Do lado direito da sala, próximo a uma cadeira, estava um homem de uniforme policial, alto, magro e forte, de cabelos negros e um bigode no rosto. Seus olhos tristes estavam vermelhos, como se houvesse chorado. Estava de pé com a coluna ereta, e segurava ao seu lado um quepe dourado com estrelas.

Ela olhou para o homem, hesitou um pouco, mas depois falou.

— Oi. Eu sou...

— Eu sei quem você é, Rapunzel, eu sei.

Um instante desconfortável de silêncio surgiu.

Então, o capitão apontou para uma estante branca ao lado da cama, dizendo: “Se quiser, pode colocar o vaso bem ali.”.

— Ah, obrigada! – falou caminhando até a mesma, e se surpreendendo ao notar que já havia um jarro ali.

Olhou calmamente o rosto de Cassandra, só de perto reconheceu as marcas das feridas que havia feito nela.

Olhou sem jeito para o pai da mesma e perguntou: “O que os médicos disseram?”.

— Que não sabem quando ela vai acordar. Pode acordar qualquer dia desses, ou... Morrer assim.

A germânica olhou com receio para a morena no leito, sentiu-se culpada por vê-la em tal estado.

— O lado bom é que, devido ao estado dela, caso ela acorde, o juiz vai diminuir a pena, e pode até deixar ela em uma prisão domiciliar, já que ela nunca vai melhorar cem por cento.

— Não?! Por quê?!

— Ela caiu de uma altura muito grande, é meio óbvio que vão haver sequelas. Parece que ela vai ficar aleijada...

Rapunzel baixou a cabeça, apertando os dedos.

— Me desculpe, eu não queria fazer mal à sua filha – falou erguendo o rosto.

— Não seja boba, Rapunzel. Você é quem foi atacada por ela, e ela é minha filha, sou eu quem devo me desculpar. Devia ter notado que o comportamento dela estava muito estranho.

— Mas mesmo assim, é por minha causa que ela está aí.

— Se não fosse ela aí, seria você no cemitério. Pelo menos as duas estão vivas. E a vida sempre nos dá novas oportunidades. Como pai, fico feliz em saber que vocês pararam ela antes que ela fizesse qualquer coisa da qual pudesse se arrepender depois. Prefiro ela hospitalizada do que com sangue inocente nas mãos.

— Eu queria ter conseguido parar ela de uma forma que ela não ficasse assim no final.

— Eu sou policial, sei que existem situações em que não temos muitas alternativas. Me desculpe por qualquer dano que a minha filha tenha lhe causado.

A loira sorriu para o alemão.

— O senhor parece amar muito sua filha.

— Eu nunca casei, e fui eu quem a criei, ela é o mais próximo que eu tenho de uma família criada por mim.

Outro instante de silêncio surgiu, enquanto observavam a paciente.

— Me perdoe a pergunta, mas por que está aqui?

— Eu?! – disse a alemã sem jeito – Eu estou aqui porque... Bem, estou aqui porque... Sua filha parecia estar sofrendo – falou com um tom sério.

— Você certamente deve ter conhecido ela bem melhor do que eu.

— Eu prometi a mim mesma que quando ela acordasse, eu seria amiga dela.

— Se ela acordar.

— Não. Ela vai acordar – falou a germânica sorrindo e olhando para a conterrânea – E não vai demorar muito.

O germânico estava com um semblante triste, mas manifestou sua surpresa ao notar a bondade da mais nova.

— Você é uma boa menina.

— Obrigada, o senhor também me parece um bom pai – disse ela sorrindo, novamente – Desculpe, mas agora eu tenho que ir.

— Eu vou avisar você quando ela acordar – falou enquanto via Rapunzel passar pelo mesmo com serenidade.

O capitão sentiu-se muito mais tranquilo após aquela conversa, chegou a sorrir.

A loira saiu do quarto, e foi levada para passear pelos pais com os amigos, observando os belos enfeites de Natal da cidade. A noite foi regada a doces e risos, e voltaram tarde para suas casas

No dia seguinte, a alemã acordou razoavelmente tarde. Ergueu-se desorientada sobre sua grande cama cor de rosa com lençóis disformes, com a barras e cortinas enfeitadas levemente abertas.

Usava uma blusa rosa sem mangas, seus longos cabelos estavam soltos e bagunçados.

E era iluminada por uma fosca luz branca que adentrava a grande janela de seu quarto.

Esfregou os dedos femininos nas pálpebras ainda sonolentas.

Lentamente recobrou a consciência e os pensamentos lúcidos aos poucos chegavam à sua mente. Chegou a se lamentar por si mesma por alguns ocorridos, mas notou, sobre sua cama um livro, e reparou em uma pequena frase iluminada pela pouca luz fraca que adentrava o quarto.

“A melhor definição de homem é um ser que anda sobre duas pernas e é ingrato”.

Por algum motivo, aquelas palavras atingiram sua mente como uma bala, e ficaram cravadas tal qual um prego na madeira.

Decidiu se levantar para começar o dia. Abriu a janela, arrumou a cama e guardou o livro. Viu que era um livro de Dostoiévski chamado “Memórias do Subsolo”. Houvera lido um pouco na noite passada, antes de dormir, como uma homenagem ao seu amigo russo.

Saiu de seu quarto, desceu as escadas e encaminhou-se até a cozinha.

Estava iluminado naquele recinto, a luz fosca de fora era agradável, e Arianna já estava fazendo o almoço. Algo que costumava fazer quando não tinha que trabalhar cedo, sabia que sua filha gostava de sua comida.

Fredderick assistia televisão no sofá da sala, próxima à cozinha.

Rapunzel abraçou, beijou e tomou a bênção de seus pais, depois sentou-se à mesa, aguardando a comida enquanto mexia no celular.

Próximo ao momento sagrado do almoço, ainda no aparelho, a loira acabou passando por uma matéria de jornal.

“Mulher conhecida por tratar bem animais, deixou filho preso uma semana em barril, o garoto foi forçado a se alimentar de suas próprias fezes para sobreviver”.

Seu coração sensível se abalou ao ler aquilo. Então, sua mãe colocou a comida sobre a mesa, à sua frente.

Sentiria nojo da mesma, se as palavras daquele livro não houvessem interferido em seu julgamento. Ao invés de sentir nojo, apreciou a comida bonita e quente que estava ali, com o vapor branco subindo, exalando um bom cheiro.

— Obrigada, mãe!

A castanha sorriu para a filha.

A família almoçou unida.

Ao final, ainda à mesa, Rapunzel perguntou aos pais que lavavam os pratos, enquanto a mesma guardava.

— Vamos sair para algum lugar à tarde?

O casal se olhou.

— Desculpe-nos filha, mas infelizmente, temos que sair para ir à uma reunião, mas se quiser, emprestamos um de nossos carros e você pode levar os seus amigos para um passeio, o que acha? – sugeriu o castanho.

— Não, o Soluço e a Merida vão para um jantar romântico hoje, se eu for com eles, vou acabar queimando os dedos.

— Ah, nos perdoe, filha.

— Ah, tudo bem, eu posso ir sozinha! – falou sorrindo.

Os pais pararam, se olhando surpresos. Não esperavam tal atitude de Rapunzel, que nunca saíra de casa sozinha. Estava habituada a sair apenas com outras pessoas, ou ficar em casa, por medo, medo dos três.

— Tem certeza? – perguntou a mãe.

— Absoluta!

Assim, quando chegou a hora, Fredderick e Arianna foram para um lado em um carro, e a mais nova para outro.

A loira estava nervosa, pois jamais saíra sozinha para passear, mas sabia muito bem onde queria ir.

Fora até a Praça de São Miguel, e passara a tarde ali. Apreciou a paisagem, passou pelos lugares onde houvera vivido dramas e alegrias com os amigos. Fez bonecos de neve, anjos de neve, brincou com as crianças entre várias outras coisas, tal qual patinar no gelo e brincar com alguns animais pequenos.

Decidiu entrar em uma sorveteria branca com logo rosa. Ao entrar na mesma, estava deserta, havendo apenas um garoto bem jovem ali para atende-la, que apoiava-se no balcão com o cotovelo, deixando o rosto entediado repousar sobre a palma de sua mão.

Ele era baixo, mais do que Rapunzel, tinha cabelos negros com uma pequena mecha pálida, pele alva, olhos azuis acinzentados e era magro. Usava um uniforme branco, e em seu crachá estava escrito “Varian”.

— Boa tarde, um sorvete de morango, por favor! – falou colocando o dinheiro no balcão.

— Boa tarde – respondeu simpaticamente – Gostaria na casca grande ou pequena?

— Grande! Muito obrigada!

O garoto logo aprontou o sorvete conforme os desejos da loira.

— Obrigada – falou sorrindo – Eu sei o que deve estar pensando, “estamos no inverno e essa louca ainda vai tomar sorvete?!”.

— Meu pai não me deixa insultar os clientes – respondeu gentilmente, quase rindo.

— Ah, essa loja é do seu pai?!

— É sim, se não percebeu, sou muito jovem para ter um emprego, mas eu sou o único da família e da empresa que sabe consertar a máquina de sorvete, então, cá estou.

— Ah, mas esse deve ser um serviço legal!

— O salário é bom. E eu posso usar o dinheiro para investir nas minhas experiências e pagar minha faculdade.

— Faculdade?! Já está na faculdade?! Então você deve ser bem inteligente – disse surpresa.

— Bem, é um modo de ver, mas meu pai acha que isso é besteira e que eu devia focar mais na sorveteria.

— É, tem pais que são assim mesmo, eu tenho um amigo que estava passando por uma situação parecida. Aposto que vocês dois se dariam muito bem.

— Ah, então por que você não me passa o número? – falou oferecendo a mão para escrever.

A loira arregalou os olhos verdes, ruborizando.

O mais novo fez o mesmo, compreendendo o que sua alegação deu a entender.

— O dele! – corrigiu desesperado – Me passa o número do seu amigo, para a gente conversar! Não que eu prefira homens, eu não prefiro! Eu gosto é de mulher!

— De mulher?! – franziu o cenho, sugestivamente.

— Não! Quero dizer, não que eu esteja dando em cima de você! Eu não estou! Eu só...

A alemã riu baixando e balançando a cabeça. Varian se acalmou ao ver aquilo.

— Olha, se quiser, eu posso vir aqui mais vezes – disse alegre e com o rosto ainda vermelho.

— É, pode ser – falou surpreso e ruborizado – Eu... Ficaria feliz.

— Tá bom – falou se afastando, olhando-o por cima do ombro enquanto se virava, com a colher de plástico nos lábios enquanto sorria – Tchau, Varian.

— Tchau – falou encantado.

Sentou-se em um banco para saborear seu sorvete, quando terminou elevou o olhar e se surpreendeu ao olhar o horizonte no céu.

O sol estava se pondo, e cobrindo de ouro algumas nuvens no céu.

Seus olhos verdes refletiam aquela beleza, pois seu maravilhado rosto delicado era atingido pela luz dourada.

Percebeu a aplicabilidade daquelas palavras literárias em sua vida. Apesar de todos os males que lhe ocorreram, tinha muito do que usufruir, mais do que muitos outros, e devia ser grata por aquilo. Sentiu naquele momento, que era capaz de deixar o passado para trás, e ser feliz em um mundo maravilhoso.

Eu vejo árvores verdes, rosas vermelhas também

I see trees of green, red roses too

Eu as vejo florescer para mim e você

I see them bloom for me and you

E penso comigo mesmo que mundo maravilhoso.

And I think to myself what a wonderful world.

Eu vejo céus tão azuis e nuvens tão brancas

I see skies of blue and clouds of white

O brilho abençoado do dia, a escuridão sagrada da noite

The bright blessed day, the dark sacred night

E penso comigo mesmo que mundo maravilhoso.

And I think to myself what a wonderful world.

As cores do arco-íris tão bonitas no céu

The colors of the rainbow so pretty in the sky

Também estão nos rostos das pessoas que passam

Are also on the faces of people going by

Vejo amigos apertando as mãos dizendo “como vai você?”

I see friends shaking hands saying how do you do

Eles estão realmente dizendo “eu te amo!”

They're really saying I love you.

 

Eu ouço bebês chorando, eu os vejo crescer

I hear babies crying, I watch them grow

Eles aprenderão muito mais do que eu nunca saberei

They'll learn much more than I'll never know

E eu penso comigo mesmo que mundo maravilhoso

And I think to myself what a wonderful world

Sim, penso comigo mesmo que mundo maravilhoso.

Yes I think to myself what a wonderful world.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nome da música:
What a Wonderful World - Louis Armstrong
Uma recomendação: O cantor havaiano de linda e pacífica voz Israel Kamakawiwo já fez uma mistura da música Somewhere Over The Rainbow com What a Wonderful Word, eu recomendo muito essa fusão e até mesmo aconselho considerar ela nesta história do que a que coloquei porque ela realmente é muito bonita.
Aí está! Muito obrigado aos que estão acompanhando.



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