Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 15
Capitulo 15: Guerra e Amor I


Notas iniciais do capítulo

Oi! Eu sei que infelizmente tenho demorado a postar, mas vou tentar resolver isso o quanto antes.



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Soluço estava com dez anos, era dia de levar os filhos ao serviço, e o austero Stoico havia honrado a tradição. Lá estava um minúsculo e magricela Haddock sentando em um banco de madeira bem feito no bem iluminado escritório do pai, cheio de lâmpadas de luzes brancas. Perto dele, estavam os filhos dos demais funcionários, fiéis subordinados de Stoico. Nolan estava distante, paquerando as clientes da loja de roupas de inverno.

O pequeno filho do escandinavo forte e ruivo estava sozinho, pois o pai trabalhava, ordenou ao primogênito que tomasse conta do caçula, tarefa que o mesmo negligenciou de prontidão, Soluço também estava sozinho porque não se dava bem com as crianças de sua idade, então decidiu averiguar o trabalho dos profissionais.

Caminhou silencioso pelos bastidores da loja, conhecendo os corredores de paredes verde-claro com teto de madeira e várias lâmpadas brancas enfileiradas e organizadamente espaçadas.

Observando os vários profissionais correndo de um lado para o outro, até que encontrou uma sala iluminada de paredes amarelo-claro, onde trabalhavam os artistas da empresa, viu vários modelos de roupa que achou bonitos, tentou dar alguns comentários, mas os desenhistas, excessivamente absortos em seu trabalho, o repeliam, assim, tentou ele mesmo pegar algumas tintas e pintar ele mesmo uma roupa com suas subdesenvolvidas capacidades artísticas, mas algo deu errado.

O pequeno Soluço confundiu produtos químicos dentro de uma sala pequena com tinta, e a reação da mistura não foi a melhor coisa do mundo, uma vez que o resultado foi um incêndio que aterrorizou os funcionários, que saíram de lá correndo aos gritos carregando o menino, e queimou toda a sala onde os funcionários trabalhavam.

Stoico tocou o alarme, agarrou o extintor de incêndio e acabou com o mesmo basicamente sozinho, e depois perguntou o que havia acontecido. Ninguém se segurou em apontar o dedo para o jovem responsável do incidente.

Lágrimas haviam em seus olhos verdes entristecidos. O pai ficou furioso e ordenou que Bocão levasse a criança para casa. Valka riu quando soube da história, mas aquele fora um dos piores dias da vida de Soluço.

De repente o escandinavo acordou na cama macia de lençóis brancos, sentando-se de imediato, sentindo a umidade de seu suor nos lençóis, o que não era natural, pois estava frio. Luzes brancas de inverno invadiam seu quarto pelas janelas de vidro, tocando o chão limpo de madeira, onde Banguela dormia em um canto próximo à cama.

Seus olhos claros estavam atormentados pela recordação do passado. Sentou-se de lado na cama, colocou os pés descalços no chão, sentindo o frio da madeira, curvou o corpo magro para frente e tocou a face úmida.

— Por que eu me lembrei disso? – perguntou em sussurro para si mesmo.

Parou por um segundo, suspirando, remoendo aquelas memórias horríveis, em sequência a várias outras humilhantes e frustrantes. Refletindo todas as suas vãs tentativas de agradar o pai e ser quem queria ser. Doía.

De repente, no chão, um gato norueguês da floresta preto surgiu miando, tocando suas pernas vestidas com o focinho, olhando o dono com seus olhos verdes, como se perguntasse se estava tudo bem.

— Eu estou bem Banguela, obrigado pela preocupação – sorriu para o mesmo, que seguiu lhe observando, de repente, como se quisesse mudar de assunto falou para si mesmo – Que hora é essa? – pegou os óculos de armação negra e o colocou na face, depois pegou o telefone e viu que já devia estar almoçando – Nossa! Desculpa Banguela, você deve estar com fome, não é? Vem, eu vou preparar algo pra você.

Levantou-se, o norueguês usava uma camiseta verde de mangas curtas e uma calça moletom azul escura, os cabelos castanhos bagunçados, e o suor secando pela influência da temperatura ambiente.

Abriu a porta de madeira e saiu do quarto com o fiel companheiro.

Para sua surpresa, a primeira coisa que ouviu foi uma música pesada que vinha direto da cozinha, e uma animada voz feminina cantando junto a ela.

Quando olhou na cozinha repleta de belos, coloridos e brilhantes enfeites natalinos, notou algo que lhe divertiu bastante. Era Merida quem ouvia música enquanto cozinhava. Usava uma camiseta xadrez verde escura, de botões negros e mangas longas que estavam dobradas até os cotovelos, que caía sobre uma calça moletom azul, duas roupas que não combinavam, era bem a cara de Merida. Nas mãos haviam duas conchas sujas com os temperos da comida, as quais usava como bateria enquanto dançava de olhos fechados.

O mais novo parou sorrindo diante da cena, não notou que a escocesa poderia se sentir bisbilhotada novamente, mas estava tão cansado que não reparou nisso. Banguela ficou ao lado dele observando aquilo, sem entender o comportamento da ruiva.

A celta não sentia nada, pois se concentrava mais na comida, na música e em seus passos de dança do que com qualquer coisa que estivesse atrás dela.

Quando os hussardos alados chegaram!

When the winged hussars arrived!

Um grito de ajuda em tempos necessitados aguardando o socorro da Liga Santa

A cry for help in time of need, await relief from Holy League

60 dias de cerco, em menor número e fracos

60 days of siege, outnumbered and weak

Enviou uma mensagem aos céus, soldados feridos deixados para morrer

Sent a message to the sky, wounded soldiers left to die

Eles defenderão a muralha ou a cidade cairá

Will they hold the wall or will the city fall

Dedicação

Dedication

Dedicação

Dedication

Eles estão em menor número de quinze para um

They're outnumbered fifteen to one

E a batalha começou

And the battle's begun

Então os hussardos alados chegaram

Then the winged hussars arrived

Descendo a montanha

Coming down the mountainside

Então os hussardos alados chegaram

Then the winged hussars arrived

Descendo da montanha eles mudaram a maré

Coming down they turned the tide

Enquanto os dias passam os mortos são empilhados

As the days are passing by and as the dead are piling high

Sem escapatória e sem salvação

No escape and no salvation

Túneis e salas cheias de explosivos foram cavadas bem abaixo das muralhas

Trenches to explosive halls are buried deep beneath the walls

Plante as cargas lá e observe o medo da cidade

Plant the charges there and watch the city fear

Desespero

Desperation

Desespero

Desperation

É uma corrida desesperada contra a mina

It's a desperate race against the mine

E uma corrida contra o tempo

And a race against time

Então os hussardos alados chegaram

Then the winged hussars arrived

Descendo a montanha

Coming down the mountainside

Então os hussardos alados chegaram

Then the winged hussars arrived

Descendo da montanha eles mudaram a maré

Coming down they turned the tide

Bolas de canhão caindo do céu

Cannonballs are coming down from the sky

Janízaros, estão preparados para morrer?

Janissaries are you ready to die?

Buscaremos nossa vingança olho por olho

We will seek our vengeance eye for an eye

Vocês serão parados nos degraus dos nossos portões

You'll be stopped upon the steps of our gate

Nestes campos vocês terão apenas o nosso ódio

On this field you're only facing our hate

Mas, de volta para casa, o sultão está selando seu destino

But back home the sultan's sealing your fate

Nós lembramos

We remember

Em setembro

In September

Essa é a noite em que Viena foi libertada

That's the night Vienna was freed

Fizemos o inimigo sangrar!

We made the enemy bleed!

Nuvens de tempestade, fogo e aço

Storm clouds, fire and steel

Morte vinda de cima fizemos o inimigo se ajoelhar

Death from above make their enemy kneel

 

Merida seguia dançando sem parar de olhos fechados, sacudindo a cabeça e os volumosos cabelos de fogo cacheados chacoalhavam livres, até que então abriu os olhos azuis alegres e se assustou. Gritou ao mesmo tempo que deixava as conchas caírem, fazendo um metálico abafado pela música alta. Logo depois foi até o telefone para diminuir o volume.

Soluço e Banguela seguiam parados lado a lado observando-a.

A face alva dela estava vermelha e de repente a escocesa gritou: “Mas que droga! Qual é o seu problema?! Por que você vive me bisbilhotando?!”.

— Eu?! – respondeu o norueguês pondo as mãos alvas no peito e franzindo o cenho logo após recobrar a consciência – É você que está dançando na cozinha de uma casa cheia de gente! Você achou mesmo que não corria o risco de ser vista aí?! Poderia ter sido qualquer outra pessoa!

— É, mas por algum motivo foi você! Não achou que devia pelo menos anunciar de alguma forma que estava aí?!

— Eu não sei porque fui eu, mas... Quer saber?! Esquece, eu acabei de acordar a última coisa que eu preciso agora é me estressar! Eu só vim colocar comida pro meu gato! – falou com as mãos jovens erguidas e caminhando pelo chão de madeira até a geladeira enquanto a ruiva o observava com verniz de indignação.

O castanho chegou até a grande geladeira branca, sendo seguido pelo fiel felino com a cauda negra erguida. Puxou de dentro dela uma lata de atum, abriu-a e colocou no chão para Banguela comer. Rapunzel havia realizado a cortesia de comprar para o gato sua comida favorita em honra à sua amizade e companheirismo estabelecidos com o dono. Soluço foi grato à ela por isso.

Merida seguiu o observando o tempo inteiro com a testa branca franzida.

O escandinavo havia colocado a lata bem distante da cacheada, antes de ir embora comentou: “Aliás, eu gostei da sua dança, poderia até ganhar um prêmio com ela.”.

A escocesa considerou responde-lo, mas viu que apesar da ironia, não havia tom de provocação na voz do mais novo.

O castanho caminhou um tanto raivoso para o quarto, a ruiva ouviu a porta bater, seguiu olhando-o com o cenho franzido, os olhos azuis ressentidos, mas voltou-se à comida e aumentou de novo o volume do celular, agora tocava uma música que a celta amava, e que apascentava seu coração, trazendo à tona sua terna devoção.

Ela cantava baixinho.

Joana, Senhor, é o Seu esplêndido trabalho

Jeanne, Seigneur, est ton oeuvre splendide

Um coração de fogo, uma alma guerreira

Un cœur de feu, une âme de guerrier

Vós os entregastes à virgem tímida

Tu les donnas à la Vierge timide

Que Vós queríeis coroar com louros

Que tu voulais couronner de laurier

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Nossa esperança está em vós

Notre espérance repose en vous

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Rogai, rogai por nós

Priez, priez pour nous

Joana ouviu em seu humilde prado

Jeanne entendit dans son humble Prairie

Vozes do Céu a chamam para lutar

Des voix du Ciel l'appeler au combat

Ela partiu para salvar a pátria

Elle partit pour sauver la patrie

A doce jovem a comandar um exército

La douce Enfant à l'armée commanda

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Nossa esperança está em vós

Notre espérance repose en vous

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Rogai, rogai por nós

Priez, priez pour nous

Dos guerreiros orgulhosos ela ganhou as almas

Des fiers guerriers elle gagna les âmes

A Divina Glória do Enviado do Céu

L'éclat divin de l'Envoyée des Cieux

Seu olhar puro, suas palavras de chamas

Son pur regard, ses paroles de flammes

Certamente curvando frentes ousadas

Surent courber les fronts audacieux

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Nossa esperança está em vós

Notre espérance repose en vous

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Rogai, rogai por nós

Priez, priez pour nous

Joana, você é nossa única esperança

Jeanne, c'est toi notre unique espérance

Do céu, digne-se a ouvir nossas vozes

Du haut des Cieux, daigne entendre nos voix

Venha até nós, venha e converta a França

Descends vers nous, viens convertir la France

Venha salva-la uma segunda vez

Viens la sauver une seconde fois

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Nossa esperança está em vós

Notre espérance repose en vous

Santa Joana da França

Sainte Jeanne de France

Rogai, rogai por nós

Priez, priez pour nous

 

No quarto, o jovem Soluço caminhava sonolento de volta para a cama com os brancos lençóis disformes.

Deitou-se de volta, se encolheu e abraçou a almofada branca, gelada e macia na esperança de sonhar desta vez com algo melhor, ainda se sentia abatido pelo sonho de antes, o peso da dor aumentou assim que voltou para os aposentos.

Mas o escandinavo se viu decepcionado, pois acabou tendo o mesmo sonho que teve antes, mas desta vez ouvindo os comentários maldosos de seus pequenos companheiros.

— Parabéns viu!

— Nunca vi alguém fazer tanta burrada!

— Valeu hein!

Ele passou caminhando com o corpo magro e pequeno curvado, sendo acompanhando por Bocão, um dos únicos que se compadecia dele.

— Obrigado, obrigado, eu tentei! – respondeu o filho do dono da loja em meio à tristeza humilhante.

Olhou pelo canto do olho, notando a garota por quem era apaixonado, ela sorria para o primo do castanho comentando: “Que idiota!”.

De repente ela notou que Soluço a observava, fechou a cara diante dele, mesmo com a tristeza do escandinavo estampada na face, ela não demonstrou um pingo de simpatia ou de misericórdia. Aquela era uma das piores lembranças do norueguês, a garota que amava jamais sentiria nada por ele além de desprezo.

O loiro alto com próteses que o acompanhava sentiu atiçar nele o dever de proteger o aprendiz, assim silenciou o garoto que mais humilhava o castanho, o primo, empurrando-o para trás com desdém, contudo o garoto escarnecedor não se abateu por aquilo, apenas se reergueu dando risadas.

O rosto do castanho se contorceu enquanto dormia, uma lágrima infeliz escorreu de seus olhos fechados.

Então alguém bateu com força na porta.

Soluço saltou assustado sobre a cama, pensou ter se enganado, mas de repente bateram na porta outra vez, com a mesma intensidade. Sua face manifestou desgosto perante aquilo, levantou-se suspirando e caminhou até a porta, esfregando os olhos enquanto bocejava.

Abriu a mesma, e por um segundo ficou aterrorizado com o que viu, saltando os ombros.

A escocesa alta o olhava de cima com uma sombra hostil no rosto fechado, o corpo parecia pronto a ser agressivo, e os volumosos cabelos cacheados faziam-na parecer alguém bem maior do que realmente era.

O norueguês estava prestes a falar algo, mas Merida interrompeu.

— Eu vou matar o seu gato! – disse mantendo a hostilidade no rosto.

— Hã... O quê?! – falou sem entender.

A ruiva não disse nada, apenas o agarrou com a mão forte pelo pulso magro e o puxou até a cozinha com enfeites natalinos, onde Soluço percebeu do que ela estava falando.

A lata de atum que o escandinavo havia aberto para alimentar Banguela estava vazia, mas parecia não ter sido o suficiente para matar a fome do animal, pois longe dela, o gato negro devorava um bife enorme e suculento que evidentemente havia sido feito para acabar com a fome de alguém bem mais glutão do que ele.

O dono da criatura olhou de relance para a dona do bife, que não estava nem um pouco feliz, e fez questão de demonstrar isso ao devolver o olhar.

O castanho sorriu erguendo as mãos abertas como se dissesse: “Animais! O que se pode fazer contra a fome deles?!”.

Mas a celta não viu graça naquilo.

Banguela voltou-se na direção do dono com o pelo preto do rosto sujo de molho, e miou no que parecia um sorriso.

Aquilo pareceu um insulto para Merida, que caminhou até o gato de punho cerrado e gemendo de raiva.

Mas Soluço correu até o mesmo antes e o tirou do chão, abraçando-o e protegendo.

— Opa! Opa! Lembre-se do juramento dos cavaleiros medievais! Defender as mulheres e os mais fracos! E ele é só um gatinho inofensivo e indefeso!

— Os humanos mais fracos! E esse gato não é humano!

— Sim, mas ainda assim, toda vida tem seu valor! É pecado matar animais só por maldade, sabia? Os cavaleiros medievais não concordariam com você!

Ela estava prestes a investir, mas se deteve na hora.

O argumento do norueguês foi o suficiente para a ruiva conter seu impulso, por mais que a imagem do gato com os pedaços restantes da carne nos dentes com um aparente sorriso que parecia dizer “obrigado” ainda lhe provocassem.

Ela fechou os olhos azuis, soltando o ar acumulado em seus pulmões enquanto baixava a cabeça.

A criatura terminou a refeição enquanto ronronava.

— Tá bem, eu faço outro! – disse a escocesa raivosa caminhando até a cozinha.

O escandinavo colocou o gato voltado para seus olhos verdes e o olhou com ar de reprovação, Banguela pareceu entender aquilo, pois parou de ronronar.

— Muito feio! Gato feio! Não faça mais isso! – repreendeu, e logo depois o colocou de volta ao chão, onde o mesmo voltou-se para lamber as manchas de molho que haviam ficado no piso de madeira.

O castanho se sentiu responsável, notou que Merida voltava para a cozinha, frustrada, e com boas razões, então correu e se colocou diante da mesma, que se assustou na hora.

— Espera! – falou erguendo as mãos – Deixa eu compensar você!

— O que quer dizer?! – perguntou a mais alta colocando uma mão delicada na cintura, franzindo o cenho alvo.

— Eu cozinho outro bife pra você! É a segunda vez que isso acontece! Me deixe compensar!

— E você sabe cozinhar?! – questionou ela cruzando os braços, sorrindo em tom de deboche, erguendo uma sobrancelha.

Soluço pareceu insultado com aquilo, respondeu a ela primeiro fazendo uma careta com olhar de sarcasmo, logo depois disse: “Não, estou me oferecendo pra fazer algo que eu não sei. É claro que eu sei cozinhar! Por que não saberia?!”.

A ruiva permaneceu de braços cruzados, a dúvida fixada em sua bela face, agora aumentando mais ainda, notou que aquilo incomodava o norueguês, então a manteve, metade por vingança, metade por diversão.

— Eu garanto! Faço um dos melhores bifes que você vai provar na vida! Vai deixar muitos de seus restaurantes favoritos no chinelo!

Mas a escocesa manteve a mesma expressão questionada e debochada no rosto.

O escandinavo fez carranca.

— Cavalo dado não se olha os dentes! Vai querer ou não?!

A celta finalmente cedeu, fechando os olhos, dando de ombros e erguendo as mãos, mantendo o sorriso debochado.

— Tsc, é, tá bom, então! Não sou eu quem estou comprando a carne mesmo! Vou esperar ali no sofá!

Merida deu as costas para um Soluço ainda fazendo careta, observando-a se afastar.

O castanho caminhou até o forno e pegou um avental, pegou outro bife congelado e começou a prepara-lo para cozinhar, havia aprendido como preparar carne ainda congelada para tal, sua família vinha de um lugar frio.

A ruiva sentou-se no sofá da sala, observou por alguns instantes os enfeites na mesma, ela e os amigos haviam feito um bom trabalho.

De repente Banguela aproximou-se dela, passando o pelo em suas pernas com calça moletom. Olhou-o com os olhos azuis e o rosto insolúvel. Empurrou-o levemente para longe, mas a criatura parecia ter gostado dela, afinal de contas, apesar de tudo, ela já o alimentara duas vezes.

A escocesa seguiu empurrando-o de forma delicada, mas a criatura não entendia a aversão que aquela humana sentia.

Já estressada, a celta virou-se para Soluço, que estava de costas para ambos, ao longe, de avental, acendendo o fogo para cozinhar.

— Soluço! Seu gato está me incomodando! Chama ele de volta pra você!

— Ah, brinca um pouco com ele! Têm vezes que ele fica um pouco agitado quando não posso dar atenção à ele – respondeu sem se virar.

— Eu vou guardar ele no seu quarto! – falou pegando ele e se levantando.

— Não faz isso! É crueldade deixar ele o dia inteiro preso ali sozinho! Ele não é um gato selvagem! – falou olhando-a por cima do ombro.

— Você não estava fazendo isso há alguns dias atrás?! – respondeu ela, olhando-o.

— Isso era quando todo mundo estava enfurnado nos quartos, ele ficava o dia inteiro no quarto, mas não ficava sozinho, eu estava lá com ele. E às vezes saíamos lá pra fora quando ele precisava fazer suas necessidades!

Ela fungou, devolvendo-o para o chão, o gato voltou a oferecer carinho à ela, ronronando em suas pernas.

— E o que eu faço?!

— Faz carinho nele, tem uma lanterninha aí perto que Rapunzel comprou e deixou aí ontem, ou então pega um fio de novelo de lã e faz ele perseguir.

Sem jeito e sem interesse, Merida aderiu aos seus conselhos. Pegou uma lanterna pequena e fez Banguela sair que nem bobo atrás da luz, tentando captura-la.

Soluço sorriu e voltou aos seus afazeres.

A escocesa tinha parado de mexer no telefone, guardando-o o no bolso, havia apoiado o cotovelo destro na coxa atlética e apoiou o rosto desinteressado na mão direita.

Aos poucos achou divertido manipular o caminho pelo qual o gato seguia, um divertimento inicialmente maligno, mas depois viu graça no comportamento do gato e começou a sorrir. Talvez aquele gato ladrão de comida não fosse tão ruim assim.

Depois pegou um fio escondido no sofá e o fez persegui-lo também, estapeando-o com as garrinhas nas patas fofas, chegou a cair enquanto fazia. A escocesa riu ao notar o comportamento realmente engraçado da criatura. De repente, o dono do gato olhou-a por cima do ombro, e sorriu alegre ao ver ambos se divertindo, depois voltou a cozinhar.

Decidiu colocar uma música enquanto cozinhava, pegou o telefone, passou várias delas até que notou uma que ouvira muitas vezes na vida, seus olhos verdes fixaram-se naquela opção, e fizeram-no recordar-se do sonho maldito, mas sabia que se sentiria melhor ao ouvir algo que expressava suas emoções.

Então aumentou o volume, selecionou e deixou o telefone tocar.

Assim que começou, Merida olhou surpresa para ele, eles gostavam da mesma música, ela também havia a escutado muitas vezes.

Observou o escandinavo caminhar para lá e para cá trabalhando em sua refeição, quando o mesmo notou ser observado, fez alguns passos de dança para a escocesa dar risada, e funcionou.

O castanho olhou sorrindo para ela, e assim sorriram um para o outro, haviam se lembrado que apesar de tudo, se davam bem.

A ruiva seguiu brincando sorridente com felino, Soluço seguiu cozinhando, mas no fundo aquela canção fazia Soluço lembrar do pai, e Merida lembrar da mãe. A música continuou.

Uma coisa, eu não sei porque

One thing I don't know why

Não importa o quanto tente

It doesn't even matter how hard you try

Tenha isso em mente, eu criei esta rima

Keep that in mind, I designed this rhyme

Para explicar no devido tempo

To explain in due time

Tudo o que eu sei

All I know

O tempo é uma coisa valiosa

Time is a valuable thing

Observe-o voar enquanto o pêndulo balança

Watch it fly by as the pendulum swings

Veja a contagem regressiva até o final do dia

Watch it count down to the end of the day

O relógio marca a vida

The clock ticks life away

É tão irreal

It's so unreal

Não olhei para baixo

Didn't look out below

Veja o tempo passar pela janela

Watch the time go right out the window

Tentando aguentar, mas nem sabia

Tryin' to hold on, did-didn't even know

Eu desperdicei tudo só para ver você ir

I wasted it all just to watch you go

Eu mantive tudo aqui dentro e mesmo tentando

I kept everything inside and even though I tried

Tudo desmoronou

It all fell apart

O que isso significou para mim será eventualmente

What it meant to me will eventually

Uma memória de uma época em que tentei tanto

Be a memory of a time when I tried so hard

Eu tentei tanto e cheguei tão longe

I tried so hard and got so far

Mas no final isso não importa

But in the end it doesn't even matter

Eu tive que cair, que perder tudo

I had to fall to lose it all

Mas no final, isso importa

But in the end it doesn't even matter

Uma coisa, não sei porque

One thing, I don't know why

Não importa o quanto você tente

It doesn't even matter how hard you try

Tenha isso em mente, eu criei esta rima

Keep that in mind, I designed this rhyme

Para me lembrar de como eu tentei tanto

To remind myself how I tried so hard

Apesar do jeito que você estava zombando de mim

In spite of the way you were mockin' me

Agindo como se eu pertencesse a você

Acting like I was part of your property

Lembrando de todas as vezes que você brigou comigo

Remembering all the times you fought with me

Estou surpreso que tenha chegado tão longe

I'm surprised it got so far

As coisas não são mais como eram antes

Things aren't the way they were before

Você nem me reconheceria mais

You wouldn't even recognize me anymore

Não que você me conhecesse naquela época

Not that you knew me back then

Mas tudo voltou para mim no final

But it all comes back to me in the end

Eu mantive tudo aqui dentro e mesmo tendo tentado

You kept everything inside and even though I tried

Tudo desmoronou

It all fell apart

O que isso significou para mim será eventualmente

What it meant to me will eventually

A memória de uma época em que tentei tanto

Be a memory of a time when I tried so hard

Eu tentei tanto e cheguei tão longe

I tried so hard and got so far

Mas no final, isso não importa

But in the end it doesn't even matter

Eu tive que cair, que perder tudo

I had to fall to lose it all

Mas no final, isso não importa

But in the end it doesn't even matter

Eu coloquei minha confiança em você

I've put my trust in you

Empurrado o mais longe que posso

Pushed as far as I can go

Por tudo isso

For all this

Só há uma coisa que você deve saber

There's only one thing you should know

 

Eu coloquei minha confiança em você

I've put my trust in you

Empurrado o mais longe que posso

Pushed as far as I can go

Por tudo isso

For all this

Só há uma coisa que você deve saber

There's only one thing you should know

Eu tentei tanto e cheguei tão longe

I tried so hard and got so far

Mas no final, isso não importa

But in the end it doesn't even matter

Eu tive que cair, que perder tudo

I had to fall to lose it all

Mas no final, isso não importa

But in the end it doesn't even matter

Passado um tempo, a ruiva sorridente pegou Banguela no colo, onde começou a brincar e fazer carinho no mesmo, que seguia ronronando.

Mas de repente, seu telefone tocou, fazendo-a saltar os ombros e desfazer o sorriso. Praguejou o aparelho em escocês fazendo careta quando teve que colocar o gato no chão e apanhar o mesmo no bolso.

Quando viu o telefone tocando, estranhou, pois não reconheceu o número, e ele também não tinha foto.

Franziu o cenho e atendeu.

— Alô?

— Oi! Merida!

— Quem está falando?! – perguntou ela com hostilidade.

Na cozinha, o norueguês desviou sua atenção de seus afazeres e a observou enquanto esperava o bife terminar de cozinhar, as costas apoiadas na cozinha próxima ao fogão. Estranhou aquele tom de voz vindo da ruiva. Ela estava falando como se do outro lado estivesse um inimigo mortal.

— Não reconhece a minha voz? – perguntou a pessoa do outro lado da linha enquanto a escocesa esperava explicações com o cenho franzido – Sou eu! O jovem Macintosh.

Seu cenho por um instante voltou ao normal, com um verniz de alívio, mas logo depois sua face feminina assumiu uma expressão de desprezo.

— Oi, Macintosh – falou apoiando-se no ombro do sofá.

— Oi! Eu soube o que houve com você e sua mãe! Achei que... Talvez precisasse de um ombro amigo.

— Ahã, sei...

— Então... Você está bem?

— Foi minha mãe que mandou você me ligar?! – perguntou em forma de ataque.

A linha do outro lado ficou muda.

Passados alguns segundos desconfortáveis, com Soluço e Banguela observando a celta sem que a mesma notasse, então Merida chamou: “Macintosh?!”.

— Hã... – foi o único longo som emitido pelo rapaz.

O jovem Macintosh de nariz grande e longos cabelos negros e lisos seguiu segurando o telefone no vivo a voz próximo ao lábios abertos, estava sem camisa e com tinta azul no peito, fazia parte de alguma torcida.

Virou o rosto para uma Elinor zangada que através de gestos ordenou o garoto negar e seguir conversando. Ambos estavam no depósito escuro de equipamentos esportivos de alguma escola.

— Não! – não enganaria nem uma criança.

— Ela está aí? – perguntou.

A mais velha entre os três baixou a cabeça suspirando, pondo as pontas dos dedos nas pálpebras fechadas.

— Não!

— Tá bem, fala pra ela que eu disse oi, isto se ela não estiver me ouvido é claro. Tchau!

Desligou o telefone e guardou no bolso, suspirando de cabeça baixa, aquele havia sido um golpe baixo, mas a celta reconheceu que de certa forma era engenhoso da parte da mãe. Usar a situação a seu favor, pegar o sofrimento da filha e usa-lo para tentar aproxima-la dos garotos com quem queria que a filha se envolvesse, e que por sinal se sentiam atraídos pela mesma.

A cacheada levaria alguns segundos para absorver aquilo, mas não foi o que aconteceu, pois poucos minutos depois o telefone tocou de novo. Era um número que não estava salvo entre os contatos de Merida. Atendeu sem demora, revirando os olhos, já sabendo o que aconteceria a seguir.

— Alô! – falou sem simpatia.

O escandinavo e o gato se olharam de longe, estranhando a situação.

— Hã.... Oi! Hã... Merida não é?

— Oi Dingwal – respondeu seca.

— Hã... Então, como você está, sua mãe me disse que você está chateada!

Desligou assim que ouviu.

Voltou a guardar o telefone, ficou com os tristes olhos azuis voltados para baixo, batia com a ponta do delicado dedo indicador esquerdo no braço do sofá, esperando.

O telefone tocou, e antes que o primeiro toque passasse, ela atendeu.

— MacGuffin! Oi! Merida o é! – o jeito desordenado de falar não deixou de ser uma afronta à paciência da escocesa.

— Ah! Eu não vou passar por isso! – falou desligando o telefone.

A ruiva cacheada sabia que ninguém mais iria liga-la, e que Elinor havia feito mais um de seus ardis.

A celta baixou a cabeça, apoiando os cotovelos nos joelhos, passando a mão pelos volumosos cabelos cacheados, indignada e atormentada com a situação.

Voltou a brincar com Banguela, mas havia perdido o ânimo de antes.

Então, Soluço havia terminado de cozinhar. Esquentou o restante da comida e logo depois disse: “Merida! Está pronto!”.

Merida o olhou assustada, ainda remoendo o desagradável ocorrido. A fria luz branca agora entrava forte por uma das janelas distantes, iluminando a silhueta sentada da escocesa, deixando seu corpo parcialmente escondido na escuridão.

Sua face voltou-se para o chão, retornou para Soluço e olhou ao redor, fez isso repetidas vezes, como se pensasse se devia comer agora ou deixar para depois. Então, decidiu se levantar e comer do prato que lhe ofereciam.

Banguela a acompanhou em silêncio, a escocesa pegou um prato e começou a colocar sua comida, o norueguês afastava-se da mesma enquanto a ruiva colocava sua refeição, sem deixar de olha-la nem por um segundo. Em outra circunstância, a celta teria se irritado, mas desta vez estava abatida, de cabeça baixa, permaneceu sem dizer nada.

Quando pôs a comida, seguiu calada de volta ao sofá, não seria a primeira vez que comeria fora da mesa, então não era de se estranhar.

O castanho a seguiu junto ao felino, curioso, depois sentou-se do outro lado da mobília azul.

Assim, ficaram os dois, Soluço no canto esquerdo, com Banguela deitado aos seus pés descalços, Merida à direita, almoçando, um imenso espaço entre ambos, o chão e o teto escuros, a luz pálida iluminando pequenas partes de ambos.

O escandinavo a olhava pelo canto dos olhos, queria perguntar algo, a cacheada não o notava, seus olhos claros perturbados pela investida de sua mãe.

O castanho decidiu falar.

— Merida, eu sei que não é da minha conta, mas...

—Se não é da sua conta, então não pergunta! – respondeu ela, os olhos furiosos.

O norueguês se calou, observando-a assustado, talvez aquele não fosse de fato o momento ideal para conversar, então decidiu abandonar a ideia.

A escocesa seguiu com olhos raivosos enquanto dilacerava carne com os dentes, mas também estava triste, e brigar com quem lhe preparara comida não a fez se sentir melhor.

De repente, engoliu a comida, baixou o olhar abatido e suspirou.

— Desculpa Soluço – o dono do apelido voltou o olhar para a mesma, surpreso, o gato norueguês fez o mesmo, a sensação aumentou depois de notar que a ruiva estava com lágrimas quentes acumuladas nos olhos azuis – Eu sei que só está tentando ajudar! E à propósito, obrigada! Este é mesmo um dos melhores bifes que eu já comi. Valeu!

O mais novo respondeu com um sorriso, logo depois disse: “Eu disse, um dos melhores que já comeu na vida.”.

A celta retribuiu o sorriso e baixou os olhos.

— É a minha mãe – falou voltando o rosto para frente, na direção da televisão.

— O que aconteceu? – o castanho a olhava diretamente, junto ao felino que subia em seu colo, parecendo preocupado.

— Lembra de quando eu falei que ela queria que eu namorasse com um dos filhos de um dos sócios dela?

— Aquela sacanagem?! Sim.

— Bem, ela deve ter pensado que eu estou sofrendo muito e fez eles ligarem pra mim agora à pouco pra se aproveitarem disso. Talvez pensou que com eles sendo um tipo ombro amigo ela iria ter pelo menos uma coisa que ela queria.

O escandinavo olhou-a perplexo, calado, logo depois disse: “Isso foi...”.

— “Baixo” ?! “Errado” ?! “Perverso” ?!

— É...

— Nunca achei que minha mãe pudesse fazer algo parecido.

— Talvez ela esteja desesperada.

— Talvez – falou voltando-se finalmente para o amigo.

O casal de repente desviou o olhar, ambos o direcionando para baixo, insossos, Soluço decidiu quebrar o gelo.

— Mas eles pelo menos são bonitões? – perguntou sorrindo.

Merida ergueu os olhos e quase deixou uma risada escapar.

— “Bonitões” ?! Só se for em comparação com um orc! – respondeu agora mais alegre.

O garoto riu, agora sentando com as pernas cruzadas sobre o sofá, de frente para a garota, que fazia o mesmo enquanto ria.

— São tão ruins assim?

— Fala sério! O primeiro que eu conheci foi Macintosh, se acha o tal por ser magrelo, mas é dono de um nariz de Pinóquio e uma cabeleira de dar inveja em qualquer garota por aí! O cara mais afeminado que eu já conheci na vida!

— Caramba! – disse o garoto em meio a risadas, apoiando a face magra no punho alvo.

— O segundo foi o MacGuffin! Um gordão brutamontes, não deve nem conseguir segurar uma xícara sem quebrar! Além de que parece que ele literalmente parece não pensar em nada quando vai falar.

— Sério?!

— É! Ele sempre fala as coisas fora de ordem! Sempre! Viver com ele deve ser um saco!

O norueguês seguiu rindo.

— E o último, mas não o melhor é o Dingwal, um moleque que chamar de morto chega a ser um elogio para ele e um insulto para os mortos, além de ser muito feio e ter dentes enormes! – Merida então gemeu revirando os olhos e mostrando os dentes – Se minha mãe queria me arrumar um namorado que ela pelo menos arrumasse boas opções!

— Que eles pelo menos fossem fortões! – disse o castanho erguendo os braços magros, fazendo como tivesse músculos a mostrar.

— Até que mais fortes do que você eles são, inclusive o Dingwal!

O escandinavo deixou os ombros e os braços caírem fazendo careta para a escocesa, que sorriu em resposta.

De repente um instante de silêncio se seguiu. O casal voltou a baixar a cabeça.

— Eles me ligaram dizendo que queriam conversar sobre meus problemas, mas eles não dão a mínima para eles.

Então ergueu o rosto belo e triste e viu o jovem magrelo à sua frente, que sorriu em resposta, ele sim estaria interessado e disposto a ouvir as devastadoras adversidades de sua vida.

— Sabe, às vezes eu queria que minha mãe só me deixasse em paz, mas ela não consegue aceitar quem eu sou. As coisas das quais eu gosto – levantou o olhar e balançou a cabeça para os lados, concluindo algo consigo mesma – Tá, vá lá, vou aliviar pra ela e dizer que eu também admito que lidar comigo as vezes é complicado.

— Nisso você está certa – brincou.

A ruiva fez careta.

— Se sabe disso então por que está aqui?

Soluço então mudou o rosto, a face manifestando desconforto, como se acabassem de lhe acertar o ponto fraco, piscou e pigarreou várias vezes, ajeitando-se no sofá e desviando o olhar.

— Eu também admito que às vezes é difícil lidar comigo.

— Eu ainda não me esqueço daquela noite – disse a cacheada em tom vingativo.

O norueguês a fitou por um instante com os olhos verdes desconfortáveis, logo depois prosseguiu.

— E eu aprendi que ninguém é perfeito. E que para se conviver com alguém para se ter um relacionamento, uma amizade ou algo mais, devemos aprender a esquecer os defeitos dela. E é isso que eu estou fazendo.

Merida o olhou com a sobrancelha arqueada sobre um par de olhos azuis questionadores.

— Mas e se ao esquecermos os defeitos das outras pessoas estivermos traindo nossas convicções? E se nós estivermos sofrendo por causa dos defeitos das outras pessoas?

— Não estou dizendo que isso deve ocupar o pedestal da coisa mais importante de nossas vidas, só estou dizendo isso porque é verdade.

— É isso que você faz com seu pai? Se esquece dos defeitos dele para tentar ter uma relação com ele?

O castanho deu de ombros, olhando para baixo e para o lado.

— Isso não é ruim?! – perguntou.

— É doloroso – respondeu voltando os olhos verdes para a escocesa em tom de seriedade – É humilhante.

— Se é humilhante então por que está me contando?! – seguiu o questionamento, curvando o corpo para frente.

— Porque é a verdade – respondeu com o rosto insolúvel.

A ruiva franziu a testa branca ao notar que era a segunda vez que ele dizia aquilo.

— Eu sei que não sou perfeito – o escandinavo baixou a cabeça – Mas apesar de tudo eu não gosto de mentir, eu prefiro falar a verdade, isso fazia parte do código da cavalaria medieval, e eu concordo com você, os cavaleiros realmente são exemplos a serem seguidos.

Na hora a cacheada arregalou os olhos azuis, sentiu a face macia ruborizar, seu coração saltou por um instante, e sentiu que finalmente havia encontrando um homem de honra, o que não notava em muitos homens por aí, por mais fortes e galanteadores que fossem.

O castanho seguiu de cabeça baixa, enquanto Merida tentava fazer o rosto reaver a cor normal, não queria que nenhum homem a visse daquela maneira, mesmo um homem de honra, ou um garoto de honra, tal qual Soluço.

Quando o norueguês finalmente ergueu face, notou a escocesa estapeando o rosto dos dois lados com as mãos delicadas, tentando desfazer um sorriso inconveniente que surgira em seu rosto agora parcialmente vermelho, estranhou a princípio, mas logo depois se viu distraído, pois a ruiva perguntou: “E seu pai nem ao menos tenta fazer o mesmo com você? Aquilo de esquecer os seus defeitos?”.

— Não – respondeu baixando a cabeça – E a sua mãe também não tenta, não é?

— Nem de longe – disse chacoalhando a cabeça, voltando ao normal, logo após refletir sobre, curvou a coluna magra, entristecida, refletindo – Acho que a vida seria mais fácil assim, sabe, mas como ela está sempre me julgando, é solitário, é sufocante, é...

— “A escuridão fria e sufocante continua para sempre, e nós estamos sós” – disse o castanho gesticulando tal qual um ator de Shakespeare.

A cacheada franziu o cenho ao ver aquilo.

— É... Quase isso – refletiu um pouco sobre as palavras do escandinavo, logo depois proferiu alguns comentários – Pesado, profundo. De onde foi que você tirou isso?

— Eu li em uma HQ – respondeu sorrindo.

— Uma... História em quadrinhos?! Tipo... As de super herói?!

— Sim! – manteve o sorriso.

— Desculpa, mas quando eu penso em história em quadrinhos eu penso em...

— Conteúdo infantil – interrompeu.

— É. Já disseram isso antes?

— Meu pai pensa a mesma coisa, ele odeia que eu goste de quadrinhos, mangás, animes, e outras coisas de heróis e desenhos japoneses. Mas é sério. Tem muitas histórias que possuem um conteúdo interessante, com algumas reflexões, recomendo que você leia um dia.

A celta sorriu.

— Qual seu super herói favorito?

— Ah, eu gosto de tantos, o Batman, o Homem Aranha, o Superman, a Mulher Maravilha, o Demolidor. Inclusive eu acho que você gostaria bastante da Mulher Maravilha!

— Eu prometo que um dia eu vou parar pra ler – disse ainda sorridente.

— Mas eu também adoro o Lanterna Verde! E tem o Juramento dos Lanternas Verdes que às vezes parece até ser um mantra!

— Juramento?! – Merida franziu o cenho, estranhando.

— É!

— E como é?

O escandinavo ergueu o punho, esticando o braço, a garota deu um leve recuo, assustada, mas achou engraçado.

— No dia mais claro, na noite mais densa, o mal sucumbirá ante a minha presença, todo aquele que venera o mal há de penar, quando o poder do lanterna verde enfrentar! – Soluço manteve os olhos verdes fixos nos olhos azuis da amiga, que olhava-o franzindo o cenho e sorrindo ao mesmo tempo.

— Legal.

— Tem uma cena em um jogo que eu adoro! Ele está dominado pela raiva e está prestes a sucumbir, mas ele recita o juramento e consegue superar a tentação.

— Por que você estendeu o punho?

— É que o anel fica no dedo do usuário, e o anel recarrega em um lampião verde.

— Que tal isso? – A escocesa repetiu o gesto anterior do mais novo, que sorriu a ver – No dia mais claro, na noite mais densa, o mal sucumbirá ante a minha presença, todo aquele que venera o mal há de penar, quando o poder de Merida DunBroch enfrentar!

Ambos riram balançando os corpos para frente e para trás.

— Um dia quero ter tanta autoestima quanto você!

— É fácil!

— Mas e você? Você gosta de história, certo? Quais figuras históricas você mais admira?

— Tem tantas! Luís IX, Carlos Magno, Ricardo Coração de Leão, mas tem também muitas mulheres fantásticas que são dignas de todo respeito do mundo, minha querida Santa Joana d’Ark que liderou os franceses contra os ingleses. Catarina Sforza, Senhora de Ímola e Condessa de Forli, nascida na Itália, liderou a cidade dela contra um cerco e teve colhões para lidar com o sanguinário Cézar Bórgia, inclusive com a derrota. Minha querida conterrânea Mary Stuart, conhecida como Maria da Escócia, rainha do meu país no século 16, um metro e oitenta de pura autoridade!

— Nossa! Você realmente gosta muito de história hein!

— Ah, eu adoro! Essas mulheres são todas exemplo pra mim! As mulheres de hoje me dão vergonha!

O norueguês riu novamente.

— E sua mãe? Ela gosta disso?

A escocesa baixou a cabeça, sorrindo, deu levemente de ombros, apoiando-se no sofá entre as dobras dos joelhos.

— Você disse que seu pai acha que você gostar de heróis é uma coisa que destoa da sua obrigação para com a Berk Winter. Minha mãe não pensa muito diferente do seu pai a respeito dessas heroínas.

O casal de repente baixou a cabeça, ficando em silêncio, a alegria de antes havia passado.

O castanho de repente ergueu a face.

— Eu nunca vi a sua mãe – disse franzindo o cenho, a ruiva o olhou de imediato – Eu sei que o Jack e a Rapunzel já a viram, e todos vocês sabem quem é o meu pai, mas eu não conheço a sua mãe.

— Ah, deixa que eu te mostro! – pegou o telefone e foi direto até a galeria.

A cacheada aproximou-se do mais novo, não deixaria outra pessoa mexer livremente em seu telefone sem saber no que estaria fuçando. A princípio se tornou uma sensação desconfortável, uma vez que estavam defronte um ao outro, até que ambos finalmente decidiram sentar-se de lado e se aproximaram, a distância era curta, mas não ligavam.

— Essa é minha mãe.

Mostrou uma foto onde Elinor se encontrava sentada usando um longo e leve vestido branco, lendo um livro e descansando em uma cadeira de praia. A mulher não sorria para a foto, uma vez que Fergus era quem tirava a foto, tirando-a da catarse de seu livro.

— Onde vocês estão nessa foto?

— Em uma praia, não me lembro exatamente onde. Meu pai tinha pegado meu telefone pra tirar algumas fotos, o dele tinha caído na água. Acredita que até hoje eu não tinha parado pra ver as fotos?!

O escandinavo a olhou com estranheza, logo depois voltou-se para o aparelho, a celta seguiu passando as imagens.

De repente, ambos se depararam com uma bela foto de Merida, onde a mesma se via usando um grande chapéu de praia cor de rosa, os cabelos soltos, óculos escuros em seu rosto esplêndido e um longo vestido verde sem mangas. A ruiva sorria na fotografia, pois no momento estava com o pai, sua pele alvo brilhava à luz do sol e caminhava sobre a espumante água salgada do mar, os pés cobertos até a metade das canelas.

 Soluço ruborizou ao ver aquilo, mesmo com todos os conflitos e intimidades com aquela ruiva escocesa violenta, nunca havia parado para notar e apreciar sua beleza, mas aquela imagem foi o suficiente para seu corpo ter uma reação involuntária. A cacheada não notou, apenas seguiu passando as fotos.

A celta seguia alegre fazendo várias poses para as fotos, embora não fosse vaidosa, fizera aquilo pelo pai que estava feliz. No decorrer das imagens, entre os vários gestos com os braços que Merida fazia, uma onda ia surgindo atrás da mesma.

— Ah, eu não acredito que meu pai tirou foto daquilo! – disse sorrindo, envergonhada.

Seguiu a passar as fotografias.

A escocesa havia sido atingida por uma onda baixa, que a atirou no chão. O pai da mesma havia tirado uma foto no momento exato em que a ruiva caía assustada, estendo os braços alvos de mal jeito para se proteger da queda, os óculos caindo do rosto, revelando os olhos azuis surpresos, o chapéu escapando dos cabelos volumosos.

A próxima foto foi da ruiva erguendo-se encharcada com a água do mar, rindo.

Passou de novo, e tanto Soluço quanto Merida ruborizaram ao notar a imagem.

A escocesa estava de pé, ainda no mar, sorrindo, segurava o chapéu molhado e disforme na mão direita junto aos óculos, a delicada mão esquerda apoiada na cintura magra. Os cabelos ruivos e cacheados caíam molhados, o corpo inteiro encharcado e o vestido da mesma estava totalmente grudado em seu corpo, parecia transparente.

Com sua veste molhada e unida à garota, foi possível ver seu belo corpo delicado. Notou-se o corpo magro, com belas curvas com verniz de sensualidade e os volumes avantajados nos lugares certos. Uma verdadeira estátua de mármore.

A ruiva estava vermelha e chocada, de novo o norueguês contemplava a beleza de seu corpo virgem aos olhos dos homens. Antes era possível alegar o problema visual do castanho, tornando o mesmo um empecilho para manter sua honra intacta, mas agora não tinha ferramentas para lidar com tal coisa.

O escandinavo seguia com os olhos verdes arregalados atrás das lentes limpas de seus óculos, o rosto ruborizado ao notar a foto da cacheada. Por mais que as regiões mais íntimas da moça ao seu lado não estivessem evidentes, não era possível deixar de notar os atributos da celta.

— Não! – gritou Merida, empurrando o rosto de Soluço para longe e apagando a tela do celular.

O garoto caiu do sofá, arrastou-se para longe da escocesa depois do braço do móvel e baixou o rosto. Tirou os óculos e esfregou as mãos na face, se recuperando do ocorrido.

A ruiva atirou o aparelho que a expôs para o lado, também passava as mãos no rosto baixo, tentando fazer a pele reaver a cor natural. Os cotovelos apoiados nas pernas.

— Você sabe que não foi de propósito! – disse o norueguês se ajoelhando, olhando diretamente para a mesma, com o rosto ainda alterado – Dessa vez não pode negar!

— Só pode ser maldição! – comentou sem olhar o amigo – É a segunda vez. Isso não pode ser coincidência! Deus deve estar me punindo por algum pecado, mas eu não entendo porque manchar a sua alma pra penitenciar a minha.

— Manchar a minha alma?! – franziu o cenho.

A cacheada voltou o olhar para o mesmo, sobre o ombro, os olhos azuis estavam levemente perturbados, mas demonstravam pacifismo, se o castanho se sentiu ofendido, essa claramente não era sua intenção.

Então, ficaram um tempo em silêncio, envergonhados. O escandinavo jazia ajoelhado, de cabeça baixa, a celta ainda sentada no sofá, esfregando as mãos no rosto com a coluna magra curvada. Ambos cobertos pela escuridão do chão e do teto, apenas parcialmente iluminados pela luz pálida entrava pela janela.

De repente, Soluço soltou uma risada, Merida o olhou ainda franzindo o cenho.

— Conhece a história de Ártemis e Acteão?

— Ártemis?! A deusa lunar da caça na mitologia grega?

— Sim. Você é arqueira não é? Bem que combina com você.

A escocesa assentiu, sorrindo de leve pelo canto do lábio vermelho, balançando o rosto.

— Acteão era um caçador, descendente de Apolo, que era irmão gêmeo de Ártemis. Ele gostava de caçar longe dos amigos porque eles eram muito barulhentos. Um dia ele estava caçando sozinho, até que sentiu sede e ouviu o som da água em um riacho, ele correu até lá e se deparou com a deusa tomando banho com suas ninfas. Ele tentou sair dali, mas já estava admirado com o que via. E Ártemis era uma deusa que tinha jurado ser sempre virgem, e para fazer parte de sua corte as mulheres, ninfas, etc. também tinham de fazer esse juramento, ela se orgulhava de nunca ter sido vista sem roupa por nenhum homem. Acteão de repente pisou em um graveto, o que alertou todas que estavam ali...

— Aí Ártemis ficou furiosa, atirou um pouco de água nele e ele se transformou em um belo cervo – continuou a ruiva – Ele correu assustado e acabou sendo encontrado pelos amigos que na hora estavam caçando. Ele morreu estilhaçado pelos próprios cães de caça, e antes de morrer ouviu um dos amigos dizendo: “Hum, pena Acteão não estar aqui, ele perdeu uma bela presa” – terminou de contar a história sorrindo, percebendo que a punição do bisbilhoteiro grego poderia ser também aplicada a Soluço, como se agora a cacheada o estivesse ameaçando com tal poder.

O norueguês engoliu seco ao ver a expressão de satisfação no rosto da celta. Estaria mentindo se dissesse que não se lembra porque lembrou disso.

— Você não vai me transformar em um cervo para ser destruído pelos meus próprios cães de caça, né?

— Não, acho que faria mais sentido transformar você em um peixe e te atirar para o Banguela!

O gato olhava ambos conversando, por algum motivo emitiu um som que misturava raiva e satisfação. Então caminhou até o dono, que recuou a mão assustado ao sentir o pelo macio na mesma.

A celta riu.

— Naquela noite realmente foi um acidente? Será que você não fez que nem Acteão?! Talvez você quisesse fugir, mas não conseguiu.

— Ah, de novo essa conversa não! – falou revirando os olhos, em tom de reclamação – Ruiva, eu já disse! Eu estava morrendo de sono e não estava pensando direito! Quando eu abri a porta eu estava sem meus óculos então eu não pude ver nada! É sério!

Merida o olhou de soslaio, franzindo o cenho, agora sorrindo, estava gostando de ver o castanho sem jeito diante da situação.

O escandinavo tentou manter um recato, mas seu rosto vermelho não permitia.

Alguns segundos se seguiram assim até que Soluço disse: “Ah, o que eu posso fazer pra gente enterrar esse assunto, hein?!”.

A escocesa de repente relaxou-se no sofá cruzando as pernas.

— A conversa acabou de ficar interessante – disse sorrindo.

O norueguês a olhou ainda envergonhado, debaixo.

A ruiva olhou para a janela, onde notou a neve que preenchia o solo, parecia que toda noite nevava, e todo dia alguém precisava sair para tirar o acúmulo de neve da frente da casa com pá. Aquele era o dia da cacheada, mas decidiu usar o pedido do colega a seu favor.

— Hoje é meu dia de tirar a neve, mas eu estou cansada e muito frustrada, tira a neve pra mim hoje, que a gente finge que todas essas coisas nunca aconteceram. Fechado?

O castanho se ergueu do chão, o cenho franzido, os olhos verdes fixos por trás dos óculos, o rosto carrancudo. Caminhou até a celta que o observava com um leve sorriso oportunista.

— Fechado! – respondeu estendendo a mão alva para a mesma.

Merida seguiu sentada, observou os dedos do garoto, recuou sobre o sofá dizendo: “Limpa a neve primeiro, depois a gente aperta as mãos.”.

Soluço cumpriu de prontidão sua parte do acordo. Pegou uma volumosa jaqueta marrom e um par de botas pretas. Manejava uma grande e cinzenta pá de neve, o cabo de madeira velho. Pegava o gelo branco e atirava para longe, livrando o caminho por onde precisariam passar para poder sair pela rua.

Dentro da casa, a escocesa jazia confortável e aquecida, tomando agora um chocolate quente em uma caneca branca de onde subia o vapor. Observava o norueguês fazer o serviço cujo dia lhe destinava, através da grande janela congelada da sala. Sorria com a imagem do garoto magrelo e pequeno se penitenciando pelos seus pecados, mas ao mesmo tempo havia um brilho novo em seus místicos olhos azuis, não estava alegre apenas por sua pequena vingança ou por se livrar de um trabalho inconveniente, agora enxergava o castanho com outros olhos.

O escandinavo se viu sendo observado, olhou para ela e ergueu a pá com um sorriso mal feito no rosto gelado, como se lhe advertisse que estava cumprindo com seu trabalho, trabalho que lhe conferia terrível desconforto logo pela manhã.

A ruiva manteve um sorriso completo, e acenou de leve com a caneca.

Soluço voltou a trabalhar, de repente, sua mente teve um lampejo, fazendo-o pensar na foto que viu. Fechou os olhos brilhantes, tentando afastar aquilo da mente afiada, seu rosto frio ganhou tons de vermelho.

A cacheada não percebeu aquilo, mas também ruborizou. De maneira quase involuntária colocou a mão delicada de dedos finos no vidro gelado, sobre a imagem do garoto magrelo e de óculos.

De repente, Rapunzel saiu do quarto, os cabelos louros e lisos estavam presos em um rabo de cavalo, usava uma blusa fina e cor de rosa de mangas compridas, e uma calça moletom folgada.

— Bom dia Merida! – falou sorridente.

— Bom dia Punzie!

A alemã entrou no banheiro.

Jack também apareceu, bocejando e coçando o rosto.

— Bom Merida!

— Bom dia Jack!

O russo tentou abrir a porta do lavatório.

— Tem gente! – gritou uma moça de dentro do mesmo.

— Bom dia Rapunzel!

— Bom dia Jack!

Se cumprimentaram da maneira mais natural do mundo, mesmo em tal circunstância.

A celta nem por um segundo tirou o olhar da janela.

O platinado notou que Merida não desviava o olhar. Arqueou as sobrancelhas e caminhou até a mesma.

— O que está vendo aí?

A escocesa ficou calada, seguiu apenas sorrindo.

— Ué?! Não era seu dia de tirar a neve? Por que o Soluço está lá fora?

— A gente fez um trato – respondeu o olhando, de forma debochada, não queria transparecer qualquer tipo de admiração – Ele tirava a neve no meu lugar hoje que eu parava de pegar no pé dele por causa daquela coisa do banheiro.

O eslavo riu.

— Não acredito que você fez isso com ele.

Começaram a observa-lo juntos.

Então, a germânica também saiu do toalete.

— O que vocês estão vendo? – perguntou caminhando até os amigos.

Explicaram em duas ou três frases.

— Merida, isso foi maldade! Sabe que ele não fez por mal!

— Relaxa! Eu vou cumprir minha parte do acordo!

— Está bem, vocês duas continuam aí se divertindo com o sofrimento e a humilhação dele. Eu vou escovar os dentes e preparar algo.

Assim fez. As meninas seguiram observando o norueguês. De repente, Rapunzel, que seguia sorrindo, olhou a amiga ruiva, notou que ela sorria sem parar, e havia um estranho brilho em seus globos oculares.

Por um instante a loira arregalou os olhos, estranhando, logo depois, sorriu de novo, alegre por ver a cacheada com tal expressão.

A celta notou-se ser observada, voltou-se para a colega, notando o olhar malicioso e satisfeito.

Merida respondeu com um suposto olhar de incompreensão, mas a alemã seguiu mantendo a mesma expressão no rosto, e assim saiu em direção à cozinha, pegando pratos, copos, panelas e talheres, preparando o desjejum.

A escocesa voltou a observar o castanho.

O escandinavo seguia focado em seu trabalho humilhante, o cenho alvo franzido, verniz de seu esforço, tanto físico quanto mental, para não pensar naquela foto. Suor escorria de sua têmpora branca enquanto tirava neve com a pá, e o frio cortante que o sufocava não ajudava muito.

A rua à esquerda de Soluço estava coberta pela neblina cinzenta, tornando difícil enxergar a maioria das casas, de vez em quando se ouvia passar um carro rapidamente na escuridão, deixando manchas sobre a neve. Seria assustador estar sozinho ali se não estivesse hospedado naquele casarão.

O norueguês então ouviu um barulho que realmente fez sua espinha gelar. Risadas, distantes, mas terrivelmente familiares, que pareciam se aproximar pela névoa que começava a perder sua densidade sombria.

Ao longe, notou uma série de formatos estranhos, caminhando com elas em sua direção, uma série de vozes conhecidas.

Estava cansado devido ao trabalho, que já estava quase terminado, mas naquele momento, sentiu toda sua força ser sugada, tanto que deixou a ferramenta que usava cair no chão, fazendo um barulho metálico desagradável.

O ar havia sumido de seus pulmões e queria fugir, mas algo o impelia a não fazer isso. Estava assustado, olhou de relance para a casa, tratando-a tal qual uma fortaleza para onde poderia fácil e simplesmente fugir.

A ruiva que seguia o observando desfez o sorriso de seu rosto, franziu o cenho e recuou um pouco para trás quando notou aquela reação estranha amigo ao vazio desconhecido.

O castanho de repente tirou os óculos, escondendo-os no bolso, como se fossem motivo de vergonha, para estranhamento maior da cacheada.

Posicionou-se como se estivesse pronto para lutar, ou correr. Sentia-se intimidado.

Uma série de vozes conhecidas começaram a conversar na neblina.

— Tem certeza Astrid?! – disse uma voz masculina amedrontada.

— Cala a boca Perna de Peixe, eu te falei, essa é uma vizinhança rica, tem um monte de carros antigos com enfeites de capô maneiros e a gente só vai pegar um que achar mais legal – falou uma voz hostil de menina.

— Acho melhor vocês falarem mais baixo, se não os donos das casas podem ouvir vocês – disse uma garota cuja voz era calma e racional.

— Cala a boca Heather! – disse Astrid – Tá todo mundo em casa, que tipo de idiota sairia de casa num frio desses?! E aliás, tá cheio de neblina aqui, eles não ver a gente. Só vão saber o que aconteceu quando saírem em seus preciosos carros de luxo!

O escandinavo aos poucos ouviu as vozes ficarem mais próximas, até que finalmente uma série de figuras saíram da escuridão da névoa.

Soluço os reconheceu.

Três rapazes e três moças. Todos altos e fortes, dois dos garotos eram imensos, todas as garotas eram magras. Dois tinham cabelos negros, quatro possuíam cabelos loiros. Usavam todos roupas de frio.

O sorriso no rosto dos seis desapareceu assim que notaram Haddock sem óculos, olhando-os de uma estranha maneira desfocada, como se não enxergasse com nitidez.

Um assustador instante de silêncio surgiu.

A cacheada observava aquilo franzindo o cenho.

À esquerda, um Soluço hesitante, suado e assustado. À direita, um estranho grupo de adolescentes, a menina da frente, provavelmente a líder da gangue era uma loira de cabelos trançados, usava jaqueta vermelha, calça jeans clara e botas marrons. As mãos alvas e frias estavam enfiadas nos bolsos do casaco rubro. Olhava o castanho de cima com desdém.

Atrás dela estava toda a turma, compartilhando do sentimento.

— Oi, pessoal! – disse Soluço forçando um sorriso, tentando parecer alegre em vê-los, enquanto não enxergava muito mais do que borrões coloridos no meio da neblina cinzenta e fria – Que bom ver vocês de novo!

Astrid e seus amigos trocaram olhares, estranhando.

O garoto enorme de cabelos negros passou à frente dos demais dizendo: “Soluço! Priminho! Onde você esteve por todo esse tempo?! Seu pai está louco atrás de você sabia?”.

— É, eu sei! – falou desfazendo o sorriso, sentiu-se mal.

— Ele falou que como éramos seus amigos a gente poderia saber onde você tinha se enfiado! Mas a gente infelizmente não sabia! Ele falou que era para ligarmos pra ele assim que descobríssemos onde você está!

— Vocês não vão ligar pra ele de verdade, vão? Eu estou bem! Sério!

— É o que vamos ver! – disse Astrid se aproximando com um sorriso – Dá licença amor.

O garoto parrudo voltou-se junto à turma. Haddock esmoreceu abruptamente ao ouvir a loira o chamar de “amor”.

— Quantos dedos tem aqui? – perguntou ela erguendo o punho fechado, sabendo da deficiência visual do castanho, sabendo que não usava lentes de contato.

A gangue inteira riu.

Soluço apertou os olhos verdes olhando na direção da mão fechada da mesma, levou alguns segundos, mas percebeu.

— Não tem nenhum dedo seu levantad...

Não pôde terminar a frase, pois foi acertado de forma certeira no nariz sensível, caindo para trás, no duro chão frio, gemendo e segurando o rosto vermelho, resultado da agressão.

A turma de Astrid riu outra vez ao ver aquilo, a loira devolveu o olhar enquanto sorria.

Dentro da casa, a celta observava a cena, assim que viu o amigo ser acertado no rosto, indo ao chão, seu corpo de um salto, os olhos azuis arregalaram e uma fúria repentina surgiu.

Deixou de lado a caneca quente e bruscamente se ergueu caminhando até a porta.

Jack e Rapunzel degustavam seu café da manhã quando notaram a escocesa caminhar batendo os pés.

— Merida?! O que aconteceu?! – perguntou o russo com comida na boca, sorrindo.

— O Soluço foi agredido lá fora! – respondeu virando o rosto a ambos, antes de abrir a porta sem pegar os devidos agasalhos.

— O quê?! – disse a alemã com verniz de preocupação, olhando da amiga ruiva ao platinado com que comia.

Ambos ergueram-se dos bancos onde comiam, abandonando a refeição quente.

Passaram pela janela, onde viram Soluço ao chão, com as mãos sobre o nariz escarlate, e à frente dele toda uma gangue reunida, apertaram o passo e se juntaram à cacheada.

— Se afastem dele! – gritou a celta de longe, caminhando até a gangue, atrás dela um Jack hostil e uma Rapunzel preocupada.

O grupo se afastou instintivamente, franzindo o cenho, surpresos.

Merida se colocou diante do castanho no chão, atrás dela se posicionaram o platinado e a loira de olhos verdes, que ajudara o amigo caído a se levantar. Os três estavam descalços sobre o chão frio e sem agasalhos, ficaram tão preocupados que se esqueceram destes detalhes triviais.

— Quem é essa Soluço? Sua guarda costas?! – questionou Astrid – Eu até poderia brincar e perguntar se essa ruivinha é sua namorada, mas que tipo de garota em sã consciência iria querer namorar com você?! Até brincadeiras precisam de uma lógica!

O castanho, agora erguido, segurando o nariz ainda dolorido a olhou incomodado, mudo, apenas desviou o olhar para ver se tinha sangue em sua mão, quando viu que não tinha a abaixou, revelando a face abatida. Rapunzel o observava com empatia, notando seu sofrimento.

— Quem são vocês? – perguntou a escocesa franzindo o cenho.

— Claro! – falou erguendo o fino dedo indicador da mão direita – Desculpe, essa aqui é minha amiga sem graça que não gosta de apelidos, Heather, pode chamar esses de Cabeça Dura, Cabeça Quente, Melequento, Perna de Peixe, e pode me chamar de Astrid! – terminou sorrindo.

A ruiva os observou sem tirar a sensação de nojo de seu rosto.

— E o que vocês pensam que estão fazendo batendo no Soluço?!

— Qual é?! É o Soluço! Qual é o problema?

— Não sentem vergonha de bater num cara que usa óculos?! – perguntou a alemã.

— Ele não estava usando óculos quando eu bati! – respondeu ela sorrindo, os olhos azuis brilhando de escárnio, os amigos rindo – Por que não perguntam porque esse idiota não se defendeu?

— Você é menina, homem que bate em mulher é covarde – respondeu o russo de cenho franzido, os olhos furiosos.

— E homem que apanha de mulher é frouxo – respondeu Astrid, voltou-se para o castanho atrás dos amigos – Eu sei que você é os dois Soluço, mas se pudesse escolher ser só um, qual você escolheria?

Haddock a encarou com o rosto fechado, o nariz reavendo a cor natural.

— Acham isso justo? Seis contra um? – questionou a ruiva, raivosa.

— Eu bati nele sozinha.

— Ah, tá, até parece que se ele não revidasse e tirasse esse sorrisinho da sua cara vocês todos não iriam partir pra cima.

— Ah, se o problema é só esse, por mim tudo bem! – falou tirando um par de brincos das orelhas femininas – Pega aqui amor, podem ir vocês, a gente se encontra naquela lanchonete, eu não preciso da ajuda de ninguém pra acabar com esse fracassado.

Soluço ousou recuar um pouco ao notar o olhar maligno da garota que o agredira se aproximando, mas de repente a cacheada surgiu em sua frente, opondo-se à Astrid.

As duas ficaram cara a cara, havia menos de dez centímetros entre seus pés. A princípio a agressora se assustou, não tinha o hábito de alguém manifestar ferrenha contraposição às suas vontades.

A gangue logo atrás impeliu-se a reagir, mas parou quando a líder ergueu o braço sem virar o rosto.

— O que acha que está fazendo ruivinha? Quer mesmo apanhar por esse zé ninguém? Vai por mim, não vai me querer como inimiga, nenhum de nós.

Os punhos da celta estalaram quando se fecharam. A loira maligna ouviu.

— Quer mesmo brigar?! Por mim tudo bem, mas se não notou somos seis contra quatro, ou melhor, seis contra três, o Soluço não conta.

Os olhos azuis raivosos das duas se fixaram uns nos outros, um ódio mortal e gigante nasceu naquele instante. Merida não gostou de ver seu amigo agredido e humilhado, Astrid odiou ser contrariada. Não tinham cautela nenhuma ao manifestarem silenciosamente a aversão mútua.

A tensão era palpável no ar, os narizes femininos quase se encostavam e dos dois lados, os amigos de ambas estavam realmente considerando que uma brutal violência aconteceria ali mesmo entre as novas arqui-inimigas.

Soluço olhava surpreso, não esperava ser tão fervorosamente protegido.

— Agora escuta, eu não ligo pra quem vocês são, mas eu digo uma coisa à vocês, se fizerem isso com o Soluço de novo, eu juro que...

— Merida, calma... – disse o platinado, mas se interrompeu, gemendo, colocando a mão sobre uma das costelas feridas.

— Você já tomou o remédio hoje? – perguntou Rapunzel.

A escocesa notou que aquela situação não era favorável para uma possível briga, então se abrandou, olhou em volta e percebeu algo.

Voltou-se para a loura maligna que se via surpresa com a maneira com a qual o garoto que mais desprezava na vida estava sendo defendido.

— Vão embora! – disse a ruiva.

— Não vai rolar ruivinha – respondeu com um debochado sorriso amaldiçoado.

— Ah, vai sim, se você não percebeu, a neblina está se dissipando, e os vizinhos estão todos nos olhando pelas janelas das casas – nesse momento, Astrid e a gangue olhou ao redor, notando que as palavras da cacheada eram verdadeiras – Se começarmos a brigar aqui eles vão chamar a polícia, e nós moramos aqui, o que acha que os policiais vão fazer com vocês quando virem seis marginais por essas bandas?

A inimiga da celta olhou ao redor, viu uma senhora de rosto enrugado olhando-os pela janela, franzindo o cenho antigo, pegando um telefone enquanto olhava com o rosto carrancudo para o grupo desconhecido causando problemas.

Astrid amaldiçoou mentalmente a todos, seus planos haviam descido por água a baixo.

— Droga! – sussurrou.

— Pss – disse Merida, gesticulando com o rosto, como se faz para expulsar um cachorro.

A loira arregalou os olhos azuis, sentiu seu ódio aumentar, não se esqueceria daquilo, mas decidiu dar meia volta.

— Anda, vamos embora galera! – falou indo para junto dos amigos.

A escocesa olhou vitoriosa, depois voltou-se aos amigos, vendo o bem estar de Soluço.

— Aí ruiva, se quer um conselho, fica longe desse inútil – disse Astrid, a ruiva a olhou como se olha um inimigo mortal, um instante de silêncio surgiu, a loira havia entendido a resposta da cacheada – Quando ele por fogo na sua casa não diga que eu não avisei.

— Estamos morando com ele há semanas, até agora ele não pôs fogo em nada! – respondeu Jack.

— Talvez ela só esteja dizendo isso porque o Soluço não aceitou os serviços que ela tem oferecer e acabou queimando o alcoice onde ela trabalhava – falou a celta.

Astrid arregalou os olhos, ofendida, caminhou na direção de Merida com o punho erguido dizendo: “O que foi que você disse?!”

Mas foi segurada por Melequento.

— Astrid, aqui não!

A loura ofendida olhou na direção de sua mais nova inimiga rangendo os dentes, os olhos azuis brilhando de raiva.

Abrandou-se um pouco e apontou o dedo dizendo: “Vai ter volta ruiva! Pode acreditar!”.

— Eu estarei esperando!

— Só espero que da próxima vez não seja tão idiota e se lembre de vestir algo ao sair no frio sua estúpida!

A escocesa não respondeu.

Astrid saiu andando, batendo o pé, furiosa, os amigos a cercaram, e juntos caminharam até virar a esquina.

Os quatro os observaram até que sumissem. Depois voltaram-se todos para o norueguês.

— Puxa gente, obrigado! Ninguém nunca me defendeu assim antes!

— É pra isso que estamos aqui! – disse Rapunzel – Mas acho que deve um agradecimento especial à Merida.

O castanho voltou-se à ela, que agora chegava, a face alva abrandada.

Soluço não disse nada, não sabia como agradecer pelo que a amiga havia feito.

Sem dizer nada, a ruiva pegou os óculos na roupa do escandinavo, abriu-os, limpou e os colocou de volta no rosto do dono.

— Assim está bem melhor – falou sorrindo.

Por um segundo, o norueguês ficou em choque, pela primeira vez não achou ruim usar óculos.

A cacheada ofereceu a mão para que a apertassem. O castanho a olhou sem entender por um segundo, mas logo respondeu gesto, tocando os dedos macios da celta, notando que estava tocando a mão de uma mulher.

Jack e Rapunzel não disseram nada, apenas observaram ambos.

De repente, Merida sorriu para Soluço, tocando a cintura, como na foto. O escandinavo arregalou os olhos com o rosto vermelho, e a escocesa saiu caminhando em direção à porta.

Todos a acompanharam com os olhos, surpresos.

Enquanto a ruiva subia as escadas, olhou por cima do ombro para o castanho, os lábios sorrindo, os olhos azuis brilhando alegres e um pequeno rubor nas bochechas, logo depois, seguiu seu caminho e entrou na casa.

Soluço levou um tempo para assimilar aquilo, mas ao final, sorriu de leve, sentindo uma ponta de felicidade.

Ei pequena flor de macieira

Hey little apple blossom

Qual é o problema?

What seems to be the problem?

Todos aqueles a quem você conta seus problemas

All the ones you tell your troubles to

Eles realmente não se importam de verdade com você

They don't really care for you

Venha e me diga o que você está pensando

Come and tell me what you're thinking

Porque quando o barco estiver afundando

'Cause just when the boat is sinking

Uma pequena luz brilha

A little light is blinking

E eu virei para te salvar

And I will come and rescue you

Muitas garotas andam por aí em lágrimas

Lots of girls walk around in tears

Mas isso não é para você

But that's not for you

Você tem procurado por todos os lados há anos

You've been looking all around for years

Alguém a quem contar seus problemas

For someone to tell your troubles to

Venha e sente-se comigo e converse um pouco

Come and sit with me and talk awhile

Deixe-me ver seu pequeno e lindo sorriso

Let me see your pretty little smile

Coloque seus problemas em uma pilha

Put your troubles in a little pile

E eu irei acabar com eles para você

And I will sort them out for you

Muitas garotas andam por aí em lágrimas

Lots of girls walk around in tears

Mas isso não é para você

But that's not for you

Você tem procurado por todos os lados há anos

You've been looking all around for years

Alguém a quem contar seus problemas também

For someone to tell your troubles to

Venha e sente-se comigo e converse um pouco

Come and sit with me and talk awhile

Deixe-me ver seu pequeno e lindo sorriso

Let me see your pretty little smile

Coloque seus problemas em uma pilha

Put your troubles in a little pile

E eu irei acabar com eles para você

And I will sort them out for you

Eu vou me apaixonar por você

I'll fall in love with you

Acho que vou me casar com você

I think I'll marry you


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Notas finais do capítulo

Aqui está. Espero que tenham gostado.
Nomes das músicas:
1 Winged Hussars - Sabaton
2 Chant à Sainte Jeanne d'Arc - Santa Teresa de Lisieux
3 In the end - Link Park
4 Apple Blossom - The White Stripes



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