Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 14
Capitulo 14: Neve III




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Hans corria desesperadamente pelo chão de pedra da Praça de São Miguel em direção à porta, onde não haviam muitos enfeites e era iluminado apenas pelos postes de luz branca. Estava frio, mas o desespero lhe era tanto que mesmo estando molhado, não se importava, e nem mesmo notava, tendo em vista que era finlandês.

O castanho seguia desesperadamente correndo até a porta do parque em meio à escuridão fria da noite, ouvia apenas o som de seus gemidos e de seu arfar enquanto isso. Talvez por isso não tivesse notado que havia alguém em seu encalço.

De repente começou a nevar e de trás dele surgiu um jovem Jack furioso, jogando-se sobre o mesmo, abraçando-lhe as pernas, impedindo-o de correr.

Assim que o derrubou, afastou-se do mesmo, se levantando.

— Mas o quê?! – disse Hans de bruços no chão, olhando-o, sem entender – Quem é você agora?!

— Já se esqueceu de mim? Olha bem pra cor dos meus cabelos e dos meus olhos! Quem você acha que eu sou?!

O mais velho se levantou lentamente, olhando aquele rapaz audacioso de cima, arqueando uma sobrancelha.

— Se eu não soubesse que a Elsa não tem irmãos homens diria que você é irmãozinho caçula dela e da Anna. Mas como eu sei disso, e como o seu sotaque russo não disfarça, diria que é irmãozinho da Esmeralda Frost – falou desdenhando do apelido da família, aquilo irritou o russo.

— Meu nome é Jack. Jack Frost – citou o apelido com orgulho – Eu fui o cara que te jogou na água agora a pouco, lembre-se desse nome no futuro.

O finlandês riu baixando a cabeça e balançando os ombros.

— Garoto, dá o fora. Você não tem que morrer aqui. Isso não tem nada a ver com você.

— Você magoa minha irmã, ataca minha amiga e a Elsa, mas isso não tem nada a ver comigo?!

Hans arqueou uma das sobrancelhas de novo.

— O que a Elsa é sua? – perguntou sorrindo maliciosamente.

Jack inevitavelmente corou arregalando os olhos.

— Ah, então é isso. É o amor...

Ao notar o deboche, o platinado inevitavelmente franziu o cenho rangendo os dentes e o atacou.

A princípio Hans se assustou com aqueles jovens punhos brancos indo repetidas vezes em direção ao seu rosto, mas logo se adequou a situação, desviando-se enquanto caminhava para trás, aos poucos sorrindo novamente em tom de deboche. A ideia daquele garoto magro e mais baixo tentando lhe acertar um golpe em meio a um ataque imprudente de fúria lhe era ridícula.

Mas quando notou o vento de um dos socos passar perto de seus cabelos castanhos molhados, decidiu revidar, mas ainda em tom de deboche, quase como um mero aviso à ingenuidade do russo. Acertou-lhe um tapa na face jovem com a mão forte.

Jack recuou o rosto gemendo na hora, pondo a mão sobre o mesmo, mas nem por isso se amedrontou, desiludiu ou recuou, mas respondeu com um chute alto e direto, este que acertou em cheio a face do mais alto, que acabou gemendo enquanto o rosto voltava-se para o céu.

De repente ambos pararam, se observando, o russo olhou assustado ao notar que havia lhe acertado um golpe. O finlandês imediatamente recobrou a razão, segurando o nariz dolorido, de repente olhou a mão e viu sangue. Olhou o mais novo com os olhos verdes arregalados e indignados, aquele rapaz lhe havia profanado a sacralidade de seu orgulho e de sua aparência.

— Você não fez isso... – disse ameaçadoramente, assim resolveu atacar com toda sua brutalidade.

O mais velho avançou atacando com socos e chutes muito bem executados, aquilo fez o platinado perceber que seu adversário também tinha treinamento, assim, precisava tomar mais cuidado. Jack era leve, magro, cheio de energia, e a neve e o frio nunca lhe foram empecilhos contra isso, assim, ele usou de toda a sua agilidade para fugir dos constantes ataques abruptos de Hans, caminhando para todos os lados, mas vez ou outra os membros longos e fortes do mais alto lhe alcançavam e assim se tornava necessário defender-se com os antebraços jovens e magros.

De repente, o mais novo foi pressionado contra a imagem de São Miguel Arcanjo, assim, sendo golpeado repetidas vezes pelo mais velho, que não se segurava nem um pouco. Os golpes violentos de seus punhos fortes atingiam Jack, que se fechava, protegendo-se, sentindo a fúria de Hans contra seu corpo, que seguia lhe agredindo com o rosto furioso e os olhos brilhando de ódio.

As roupas grossas do mais novo tornava aquela violência suportável, mas não iria suportar para sempre, e os golpes do mais velho começavam a fazer seus antebraços doerem. Notou que precisaria sair daquela situação, Hans o atacava com golpes abertos, assim, Jack tentou lhe acertar um soco de surpresa, e conseguiu, um golpe mal dado, com menos da metade da força que precisava, mas o suficiente para fazer seu oponente parar um segundo, para lhe acertar outro chute direto no peito, fazendo-o recuar, aproveitou-se da situação, saltando e golpeando a face do finlandês com o cotovelo.

Hans sentiu os golpes do mais novo, seu corpo e rosto recuaram com eles, mas não dobraram sua vontade. Chutou o russo novamente, que desta vez se defendeu com as mãos unidas, mas acabou tropeçando e caindo para trás.

O mais velho caminhou de cabeça erguida e rosto furioso na direção do mais novo, que assim que o viu, levantou-se e recuou, correndo em direção ao palco escuro, sendo iluminado pelas luzes distantes dos postes. Pronto para continuar a luta ali.

O castanho o seguiu com a cara fechada. Subiu à escada indo em direção ao seu jovem oponente, pronto para continuar a luta. Assim, novamente o atacou.

Hans atacou-o, chutando-lhe bem no meio do peito, fazendo o platinado recuar até a parede, gemendo. Atacou-o repetidas vezes sem misericórdia, desta vez lhe acertando alguns golpes abruptos na face e na cabeça. Achou que eles fariam Jack cair, mas não foi o que aconteceu.

O mais velho jogou o russo contra a parede, apertando-lhe o pescoço com força rangia os dentes. Jack sufocava vermelho, padecendo sob suas mãos fortes, tentava alcançar-lhe o rosto, mas estava distante demais, e suas mãos não eram tão fortes quanto as de Hans, então decidiu lhe golpear nas dobras dos braços, fazendo assim a face do mais velho se aproximar dele, o suficiente para agarrar-lhe os cabelos molhados, para assim aproxima-lo mais ainda e morder seu nariz com toda a força.

O castanho gemeu quando sentiu o aperto dos dentes duros em seu rosto, mordendo em uma parte extremamente sensível.

Tentou seguir sufocando o mais novo, mas o instinto lhe impelia a empurra-lo, para livrar-se daquela dor insuportável, além de também não conseguir respirar naquela situação. Assim, puxou os cabelos alvos de Jack, e embora sentisse um pedaço de sua pele sair de seu rosto, tirou o mais novo de cima de si.

Ao se desvencilhar do mesmo, ainda sem ar, o russo lhe golpeou a face, mesmo que sem forças. Mesmo com a dor insuportável assolando Hans, ele revidou aquilo, e lhe acertou um soco certeiro nas costelas do mais novo, fazendo-o gemer e se ajoelhar diante dele sobre uma perna.

O finlandês apoiou-se na parede, segurando o nariz, sentindo seu sangue escorrer, tentando respirar, a um metro e meio de distância dele estava o russo, ajoelhado, com a cabeça baixa, a mão sobre costela que lhe foi atingida, recuperando a respiração também. A situação os forçou a assumir um acordo não verbal de dar um tempo.

O eslavo cuspiu para o lado, sentiu um gosto desagradável de sangue, pensou que era sangue do seu inimigo, e talvez também fosse, mas deu-se conta de que também havia começado a sangrar pela boca.

— Eu quero te fazer uma pergunta! – disse Jack ainda de joelhos, ofegando.

— O que você quer saber? – perguntou o mais velho, furioso e com a face manchada de vermelho quente escorrendo.

— Se você já estava namorando com a Anna, por que se envolveu com a minha irmã?

Hans enxugou o sangue da face, olhou-o com fúria e disse: “Você não vai viver muito mesmo, então não faz mal eu contar pra você!”.

O mais novo amaldiçoou a frase, e prestou atenção no mais velho.

— Eu sou o caçula de treze filhos, quando meu pai morrer, nós todos herdaremos partes do império dele, e isso pode ser antes do que eu imagino, mas o problema é que as melhores partes vão ficar para os filhos mais velhos, entende onde quero chegar? – Jack seguiu calado, observando – Eu sou o mais novo, eu já sei o que me aguarda, um pedacinho de nada que não vai ter futuro nenhum, e eu mereço mais do que isso! Então eu me lembrei, minha mãe também era empresária antes de se casar com meu pai, eles se casaram e assim multiplicaram o poder deles, então por que não fazer o mesmo? Assim eu parti em uma cruzada para conhecer todas as famílias que faziam parceria comercial com meu pai, para assim, me casar com uma moça e herdar o império da família dela, assim que me casasse, só precisaria dar um sumiço nela.

— Estava tão desesperado que pensava poder se casar com duas de uma só vez?! Meus parabéns, pois agora perdeu as duas, duas moças de bem!

— Eu só queria ter um plano reserva! Eu conheci muitas moças na minha vida, mas muitas já eram casadas e eu precisava de uma solteira! Outras não eram tão bonitas e eu tenho meus limites, já outras eram inteligentes demais, foi aí que eu percebi que precisava melhorar no meu disfarce. Então eu encontrei a Anna, tão ingênua, carente e desesperada por amor... Foi tão fácil... Ela se entregou de bandeja, quase um presente de Deus. Meu plano inicial era a Elsa – o russo franziu o cenho ao ouvir aquilo, sua raiva aumentou – Mas ela era inacessível demais, então a Anna dava para o gasto, eu estava quase convencendo ela a se casar comigo, depois disso só precisaria dar um jeito de fazer parecer que a Elsa morreu da doença dela e por fim dar um sumiço na Anna, mas enfim, tudo saiu pela culatra.

— E a minha irmã? – disse Jack consumido de ódio.

— Ela era meu plano reserva caso algo desse errado com Anna. Eu sabia que ela era neta de Norte quando eu apareci na casa da sua família perguntando inocentemente por ele. Não faz ideia da minha decepção ao descobrir que ele tinha a filha viva e que a sua mãe ainda iria assumir o comando da empresa da sua família antes dela. Eu até considerei seduzir a sua mãe, mas ela é fria demais, além de não dar a menor importância para o sexo oposto, me pergunto como ela pôde ter três filhos.

— Ela ainda ama o meu pai!

— É... Isso é trágico! Ela é muito bonita, e mulheres iguais a ela não são fáceis de se encontrar. Será que ela curte caras mais novos? – perguntou provocando.

— Para de falar das mulheres da minha família! – gritou.

Hans caminhou na direção dele, o olhando de cima com a cara fechada, parando bem perto do mais baixo.

— Para conseguir o que eu quero Jack, aceitava até fazer sua irmãzinha mulher – disse sorrindo com desdém.

O platinado gritou de fúria, e assim, ignorando a dor que sentia, pulou contra seu inimigo, acertando uma cabeçada em seu queixo.

O mais velho novamente olhou para o alto e afastou-se colocando a mão no queixo. Jack agarrou-o pela roupa e acertou-lhe a face com o cotovelo repetidas vezes, o castanho tentava se desvencilhar do mesmo, mas estava atordoado demais, não esperava por aquela cabeçada abrupta. Ambos caminharam pelo palco.

De repente, o finlandês conseguiu acertar um soco mal dado no olho do mais novo, que novamente recuou a face gemendo, mas logo depois foi agarrado pela roupa, sentiu as mãos grandes e fortes de Hans em seus ombros, sabia o que ele queria fazer.

Jack colocou o antebraço no peito, aguardando a joelhada, e quando a mesma chegou, o golpe foi suportável, com o outro braço, o russo agarrou-lhe a perna, fazendo-o perder o equilíbrio, o mais velho pulou, tentando recuar, mas o mais novo conseguiu atingir-lhe a dobra da perna com o pé, fazendo o inimigo tombar no chão.

No chão, rapidamente o platinado buscou alcançar-lhe a face, onde começou a desferir repetidos socos no rosto sujo de Hans, seus punhos jovens e alvos também era rápidos, de tal maneira que o castanho não conseguia acompanhar. Mas o finlandês conseguiu fugir daquela situação agredindo o rosto do mais novo com a mão aberta.

Ambos se levantaram e voltaram a lutar, Jack agora mais confiante e raivoso contra o homem que falara de sua querida irmãzinha.

O mais novo havia voltado a se encolher, suportando novamente os golpes carentes de misericórdia do castanho, sentiu-o acertar-lhe o rosto vez ou outra, de repente, as mãos dele novamente o agarraram, desta vez os cabelos alvos, viu que seu rosto estava indo em direção ao joelho duro de Hans, mas o russo novamente se protegeu.

Novamente protegeu-se com o antebraço e agarrou a perna do mais velho, buscando atingir a dobra de seu joelho, Hans se deu conta de que não era uma ideia tão boa tentar ataca-lo com os joelhos, pois novamente caiu, com o mais novo socando sua face, mas desta vez, sem ficar lá para ver a reação que o castanho tomaria.

Ambos estavam suados e ofegantes, mas seguiam ávidos pela luta.

Hans, furioso, atacou Jack novamente, que cobriu a face com os antebraços, mas desta vez o punho forte do mais velho acertou-lhe o peito, fazendo-o gemer e saltar. Agarrou-lhe os pulsos, impedindo-o de se proteger, antes de qualquer golpe, o russo pulou, acertando-lhe uma cabeçada no rosto novamente. O mais velho revidou pulando e chutando seu peito magro com os dois pés, caindo no chão logo depois.

Estavam de pé na entrada do palco, então o platinado acabou voando pela porta do mesmo, caindo no chão frio e cheio de neve, onde havia mais luz.

Ficou deitado ali, respirando com a boca aberta, seu peito magro subindo e descendo, testemunhando seu ar virar neblina, os olhos azuis arregalados olhando o céu, que agora mostrava um pouco da bela luz da lua e suas estrelas consortes, iluminando-o enquanto a neve fina caía, sentindo frio, sentindo a dor de seu corpo, e seu sangue escorrer.

O castanho saiu do palco, caminhando com o rosto fechado e o cenho franzido, desceu as escadas, e se direcionou até o mais novo, que seguia deitado à luz azulada da lua, inerte. Ao chegar perto dele, ergueu o pé para atacar, mas o platinado estava hábil e reagiu a tempo, golpeando a dobra de seu joelho da única perna que seguia de pé, fazendo-o cair de quatro no chão, gemendo.

O russo imediatamente afastou-se dele, rolando no chão e erguendo-se com rapidez. Ficaram a quase dois metros de distância. Jack de pé, Hans de quatro no chão, olhando-o com fúria nos olhos.

— Eu tenho outra pergunta!

O mais velho o olhou em silêncio, enquanto lentamente se erguia, mas com dificuldade.

— Por que você atacou a Anna e a Elsa?

— Eu achei que tinha deixado bem claro que eu precisava dar um sumiço nelas para assumir o controle da empresa da família delas.

— Mas você não precisaria estar casado com pelo menos uma delas?

— Eu posso forjar uma certidão de casamento falsa bastante convincente Jack. Eu ainda poderia fugir para a Noruega e apresenta-la ao tribunal, assim assumiria o comando da empresa, tudo o que eu precisaria era apaga-las desse mundo de forma que não se ligasse a morte delas à minha pessoa!

— E você achou que poderia matar elas sem ninguém te ver.

— Vocês tinham se separado. Se eu atirasse elas da ponte e elas se afogassem, congelassem, batessem com a cabeça em uma pedra, não importa, mas que acontecesse ao mesmo tempo em que ninguém me visse e aquilo parecesse um acidente tudo teria dado certo!

— Mas isso foi antes de eu surgir... – disse sorrindo.

— É... Na verdade foi bom você aparecer, assim eu posso pelo menos me vingar.

Hans atacou Jack, que novamente recuou, mas o castanho atacou com chutes, e suas pernas longas o alcançaram várias vezes, mas o platinado conseguia se proteger devido à distância, contudo aproveitou o momento certo para chuta-lo na cintura, afastando-o, mas o finlandês agarrou-lhe o tornozelo, o russo pulou na hora chutando sua face, caindo no chão.

O mais novo rolou pela neve para se afastar ao mesmo tempo que se levantava, mas foi agarrado pelo casaco por Hans que por um instante hesitou, e ambos se olharam assustados a uma curta distância, todavia logo depois o mais velho decidiu atacar com uma cabeçada, contudo devido à hesitação, Jack teve tempo de reagir, colocando a ponta do cotovelo diante da face, fazendo o mesmo acertar-lhe o olho.

O finlandês gemeu enquanto Jack ria. Hans chutou o peito do mais novo fazendo-o se afastar enquanto colocava a mão sobre o olho ferido.

O russo gemeu com o golpe, mas seguia rindo enquanto se afastava.

— Qual é o problema? Sem joelhadas hoje? Foi por isso que hesitou?

O mais velho, com o olho roxo começou a aproximar-se dele com o rosto em fúria, não gostou nada de ver alguém rindo dele.

Atacou com fúria e força, conseguiu alcançar seu oponente, acertou um chute bem efetuado no antebraço do mesmo, fazendo-o afastar-se e cambalear, depois lhe atacou a face, acertando um soco na ponta de seu queixo, fazendo-o cambalear até cair distante. Decidiu se vingar das risadas do russo.

— Acha que a Elsa ficaria com um pivete igual a você?

O mais novo deixou de sorrir ao ouvir aquilo.

— Fala sério! Ela é bonita, inteligente e muitos caras melhores do que você gostam dela!

— Ela passou a vida isolada em um quarto de hospital! – argumentou, mas era possível notar em sua voz como aquelas palavras o haviam afetado – Como ela pode ter conhecido tantos caras assim?

— Ela vivia em um quarto que tinha todo tipo de coisa, e todos os dias entravam pessoas usando aquelas roupas de astronauta no quarto dela pra ficar com ela, como por exemplo professores. Não sei se você já viu, mas ela sabe tocar piano, acha que ela aprendeu sozinha? Acha que ela aprendeu sobre negócios sozinha? Ela via caras mais interessantes do que você todos os dias!

— É mentira! – disse e logo depois correu em direção a ele para ataca-lo enquanto gritava.

Tentou acertar-lhe a face, mas foi agarrado e levou um soco no estômago, que o fez cair para trás, se afastando.

— Será mesmo?! Ou será que é só o seu ego tentando te enganar? Olha só pra você! Magrelo, baixo, tem aparência doente, não é muito diferente do seu amigo! Ela é alta, linda, culta, sinceramente eu preferia ela à Anna.

Ele novamente atacou gritando, mas Hans segurou seu soco, acertou-lhe novamente a barriga e depois sua cabeça, jogando-o para longe.

— Sejamos realistas Jack, ela merece coisa melhor do que você. Alguém como eu seria bem mais apropriado!

— Cala a boca! – gritou quando novamente tentou ataca-lo, mas foi golpeado na face, caindo de novo.

— Perto de você eu sou um deus! – falou com ar de vitória.

Voltaram a lutar. Jack agora perdia a luta, e Hans saboreava a vitória, dando-lhe golpes que sabia que iria tardar o fim do confronto, sentindo um sádico prazer ao ver seu oponente mais jovem humilhado e sem alegria.

Mas mesmo assim o mais novo não perdia o vigor, e o prazer da vitória começava a ficar insosso, pois aquela rapaz era irritante com sua persistência.

O russo atacou o finlandês com outro soco, mas o mais velho segurou-lhe o pulso e acertou-lhe a cabeça com uma cabeçada. Jack cambaleou para trás com a mão na mesma, caindo sobre um joelho.

— Tá legal garoto, isso já ficou chato! Você é irritante!

— Você nem faz ideia – disse ele com a voz sofrida, de cabeça baixa, ofegando, com a mão na testa.

— Reconheça! Você perdeu a luta! Eu sou mais forte que você! Desiste e eu considero não fazer com você aquilo que eu queria!

— Não! – respondeu Jack ainda joelhos.

— Por que você não desiste?

— Eu vou te responder com uma frase que eu li no mangá do meu amigo – ergueu a cabeça – Você acha que eu vou desistir só porque você é mais forte que eu?! – falou com o rosto pálido em fúria, os olhos azuis intensos e raivosos, enquanto seu sangue carmesim escorria quente pelo cenho franzido e entre seus olhos.

Voltaram a lutar, o russo seguia perdendo a batalha sofrendo mais ainda agora com os golpes do mais velho. Hans o agarrou pelos cabelos alvos machados de sangue, e de repente, começou a sufoca-lo entre seus braços, o mais novo tentou se desvencilhar, debatendo-se, mas o castanho apoiou-se de costas na estátua, e assim ficaram.

O platinado tentava puxar o braço forte do finlandês, enquanto seu rosto manchado de sangue se avermelhava, e sentia-se sufocando. Hans havia decidido acabar com aquilo.

— Vamos acabar logo com isso Jack? – falou de forma perversa em seu ouvido.

E assim ficaram, o mais alto sufocando o mais baixo com seus braços fortes, enquanto Jack, tentava se desvencilhar puxando-o com seus braços magros, apoiados de costas contra o pedestal da estátua angelical, que parecia observa-los, a lua azul os iluminava e a neve caía lentamente enquanto o russo padecia.

Mas de repente, o eslavo reagiu rapidamente, enfiando o dedo no olho não inchado de Hans, que por estar apoiado na estátua não teve para onde fugir, embora tenha se debatido. A dor da unha de Jack arranhando seu globo ocular era insuportável, assim acabou soltando um dos braços que apertava o pescoço de seu oponente e tirou a mão de Jack de sua face, livrando assim o próprio olho.

O platinado viu uma chance naquele momento, onde os braços do mais velho se soltavam, e aquela era a chance que precisava. Mordeu a mão de Hans, que gemeu se debatendo, livrando-o de suas mãos assassinas.

O russo ficou de frente contra ele, chutando-lhe entre as pernas, fazendo-o dar um breve salto e se curvar colocando a mão sobre a zona golpeada. Jack o agarrou pelo pescoço e um dos braços, jogando-o no chão.

Hans ficou caído, com as pernas contraídas, sem ter muita reação. O mais novo não hesitou, agarrou-lhe um dos braços fortes, o mais velho se debateu, mas devido a sua condição não conseguiu fazer muita coisa. O russo colocou-o em uma posição em que o imobilizava, caso contrário quebraria seu braço. O castanho ficou parado com os olhos fechados, com o pé direito do platinado em sua cabeça, forçando-o contra o chão enquanto tentava se levantar, mas era impedido.

Assim ficaram ambos, diante da bela estátua de São Miguel Arcanjo. O rosto angelical olhando serenamente para baixo, debaixo de seus pés um demônio nefasto em meio à ruina, iluminados pela bela luz da lua, a neve branca e fria caindo ao redor deles.

— Fica quieto Hans, senão eu quebro o seu braço! Eu falei para o Soluço ligar para a polícia, eles já devem aparecer.

— O que acha que eles vão pensar quando nos virem assim? É mais fácil eles deterem você!

— Você não vem muito nessa cidade não é?! Esse parque é lotado de câmeras já têm alguns anos. Naquela ponte onde você tentou matar a Anna e a Elsa também tem uma. Eles vão saber de tudo o que você fez com elas.

Ao ouvir aquilo, Hans arregalou os olhos verdes e imediatamente começou a se debater.

— Hans! Para! Não! Para! Droga! – praguejou Jack, e sem enxergar outra alternativa quebrou-lhe o braço.

O mais velho gemeu alto ao sentir seus ossos se movimentarem da maneira que não deviam, mas aquilo o fez se libertar do mais novo, e imediatamente arrastou-se no chão, fugindo do mesmo, logo depois se levantando.

— Você não vai a lugar algum! – gritou o mais novo, mas o finlandês atacou-o com punho esquerdo cerrado, fazendo-o recuar um pouco.

O castanho lhe agarrou os cabelos manchados de sangue e tentou acertar-lhe joelhadas de novo, quando não conseguiu, aproveitou a posição desvantajosa de Jack e seguiu atacando-o enquanto seu corpo se encontrava curvado, mas de maneira rápida e abrupta, o russo lhe agarrou a traqueia com força e na ponta dos dedos brancos enquanto sua cabeça de cabelos brancos permanecia baixa.

Hans segurou o pulso do mais novo na hora, mas um de seus braços estava quebrado, e havia muitos traumas físicos em seu corpo para que seu outro braço usasse sua força total, assim, o castanho apenas segurou-lhe o pulso sem conseguir se desvencilhar, enquanto sentia a dor em sua garganta e não era capaz de se libertar.

Jack lentamente ergueu a face com sangue escorrendo de seu nariz e olhando seu inimigo mortal sem rastros de misericórdia. O mais velho se intimidou com aquilo enquanto segurava-lhe o pulso magro, e surgia medo em seus olhos verdes. À medida que o russo se erguia, ficando com a coluna ereta, o finlandês era empurrado para baixo pelo platinado, forçando-o a se ajoelhar.

O eslavo segurou-lhe a traqueia com a mão esquerda, ergueu o punho direito e olhou seu inimigo com fúria. Assim, começou a bater, à medida que lhe agredia, dizia porque estava batendo.

— Esse é por ter atacado a Elsa, esse é por ter magoado a Esmeralda, esse é por ter atacado a Anna, esse é por assustar a Rapunzel, esse é por fazer a Merida cuidar de tirar a Anna da água e cuidar da Rapunzel sozinha ao mesmo tempo, esse é pelo Soluço ter que ficar sozinho com as meninas, esse é por me fazer perder tempo com você e esse é porque não importa o quanto eu te bata, nunca vai ser o suficiente em comparação ao quanto você realmente merece!

Parou de esmurra-lo, cansado. Hans cuspiu sangue para o lado, exausto com o rosto vermelho, inchado e cheio de sangue.

— Esse é seu melhor?! Minha avó bate mais forte! – disse sorrindo e com escárnio.

Jack arregalou os olhos azuis e cansados diante da alegação, sua boca aberta diante daquela face ferida. Alterou o rosto, gemendo de raiva e começou a sufoca-lo. O castanho não podia fazer muita coisa diante daquilo.

Ao longe, Soluço e as meninas procuravam ambos, todos com verniz de preocupação, correndo assustados. Anna tremia de baixo da camada de um casaco extra oferecido pelo conterrâneo masculino.

Ao virem o russo estrangulando o finlandês, ambos encharcados de sangue, correram com desespero.

Esmeralda chegou antes do resto, agarrando os pulsos firmes do irmão dizendo: “Jack! Já chega! Você venceu!”.

O mais novo não queria solta-lo, sentia que aquele homem merecia morrer, seus dentes rangiam enquanto seus olhos brilhavam de ódio.

— Jack! Se você mata-lo vai parar na cadeia, talvez ele mereça isso, mas você não merece ir preso! – continuou a irmã.

Recobrando a razão, o platinado o soltou. O mais velho caiu apoiando-se no chão com uma das mãos, a cabeça baixa e tossindo.

A russa olhou o irmão caçula, aliviada, viu o rosto ferido, onde sangue escorria e um dos olhos estava levemente roxo, sentiu-se culpada, e aquela visão lhe feriu a alma.

Atrás dela, ainda joelhos no chão, Hans, com o rosto sangrando, o olho roxo e inchado, e a pele vermelha, riu debochando.

— Eu sabia que você não ia conseguir! Você é um fraco, Jack Frost!

Enquanto falava, Esmeralda, furiosa e instintiva se virou, agarrou-o pelos cabelos com a mão direita e acertou-lhe em cheio o rosto com uma joelhada brutal.

Ele caiu cara no chão.

Merida aproximou-se dos irmãos, sorrindo, olhando da executora do ataque à vítima caída.

— Belo golpe! – elogiou.

O finlandês gemeu de bruços no chão frio, sentido a dor e o gelo da circunstância, de repente olhou para frente e viu um par de botas familiar, era a sua ex-namorada ruiva, segurando um casaco sobre os ombros, olhando-o furiosa, o busto subindo e descendo e seu ar virando neblina.

Antes de se dar conta do que estava acontecendo, foi agarrado abruptamente por ela, que o ergueu com uma força inacreditável, forçando-o a ficar de pé. Conduziu-o segurando pelas roupas até um lago perto do palco onde neblina voava, colocou-o de costas para o mesmo, a face do rapaz nitidamente entorpecida, sem ter noção do que estava acontecendo, ou mesmo quem ele era.

Sem misericórdia, a escandinava acertou com toda força um soco em seu rosto, fazendo-o cair no lago fundo e frio.

Seu conterrâneo a observava enquanto se aproximava de Jack, que agora era auxiliado pela irmã mais velha.

— Chamaram a polícia? – perguntou olhando o castanho.

E um segundo depois de perguntar, as sirenes surgiram gritando enquanto luzes azuis e vermelhas brilharam na entrada.

— Sim – respondeu o norueguês.

Os oficiais saíram das viaturas e correram para onde estavam as testemunhas.

— Policiais, prendam-no! – gritou Elsa, apontando o dedo para Hans, que boiava imóvel no lago congelado, com os braços estendidos.

Os homens observaram a situação. Havia um sujeito boiando como um moribundo na água, um rapaz ferido apoiado pela irmã, e várias outras pessoas observando a situação. A escandinava platinada notou que teria muito o que explicar.

Assim, juntos, todos foram falar com os oficiais, contando toda a história e lhes informando como as câmeras de gravação a comprovava, exceto os irmãos Frost que ficaram conversando distantes. Os policiais já possuíam um aparelho vinculado às câmeras da praça, onde podiam acessar o que precisavam, vendo os atentados de Hans e a reação inicial de Jack e por último, a reação dos demais no final.

Um dos homens de farda olhou Anna, estranhando o comportamento da mesma.

— É que ele é um monstro! – disse Merida, sorrindo, tentando se explicar.

Enquanto isso, Esmeralda olhava Jack, chorosa, segurando o rosto ferido do irmão caçula, o olhando de cima.

— Ah, Jack! Olha só pra você! Me perdoa! Isso é tudo culpa minha!

— Ah, tá tudo bem Esmeralda, se acha que eu estou mal devia ter prestado mais atenção no outro cara! – disse e logo depois riu, mas imediatamente gemeu, pondo a mão sobre uma das costelas golpeadas.

— Eu vou te levar pra casa! Mamãe e eu vamos cuidar de você lá!

— Esmeralda, eu ainda não vou sair da casa do vovô!

— Eu mesma deixo você lá depois, mas primeiro vamos pra casa!

— Ué, por que não vamos logo para um hospital? – perguntou Merida se aproximando do mesmo.

Soluço e Rapunzel caminhavam ao lado dela, atrás de ambos as irmãs norueguesas observavam um Hans meio acordado e meio inconsciente sendo levado algemado pelos policiais de Filótes.

— Não é primeira vez que Jack se machuca, temos tudo o que é necessário para cuidar dele lá em casa, só usamos o hospital como último recurso.

— Nós vamos com vocês! – disse Soluço.

A russa se surpreendeu ao notar que aquelas pessoas estranhas que se importavam com seu irmão.

— Esperem! Aonde vocês vão? – perguntou Elsa correndo até os demais.

— Até a casa do Jack, a família dele vai cuidar dele lá – respondeu a loira.

— Vamos com vocês – disse Anna.

— Não tem espaço para tanta gente no carro – respondeu Esmeralda.

— Então vocês vão na frente! – respondeu a norueguesa ruiva – Elsa e eu vamos de táxi.

— Tudo certo! Me acompanhem para saber qual carro é.

Assim fizeram, Jack, ensanguentado, sentou-se no banco da frente, ao lado da irmã, atrás dele iam seus amigos.

Elsa e Anna pegaram um táxi, ordenando-o a seguir o mesmo rumo que o carro dos Frost.

E assim aconteceu.

No carro que a russa dirigia estava silencioso, a situação era bastante desconfortável, tanto pelo amigo ferido quanto por estarem com alguém que não conheciam dentro de um carro.

No táxi, a mais velha consolava a irmã enquanto lhe segurava as mãos e a abraçava para aquece-la.

— Mãe! – gritou Esmeralda ao sair do carro, logo após estaciona-lo desesperadamente, fazendo cantar o pneu.

Dentro da casa, Rubi se assustou, foi correndo para a porta ver o que havia acontecido. Usava um suéter branco que lhe subia pelo pescoço.

— O que aconteceu? – perguntou assustada ao ver os filhos caminhando até a casa, o mais novo manchado de vermelho enquanto era auxiliado pela irmã, os demais estavam logo atrás, caminhando assustados devido a manobra da jovem russa.

— Ele brigou com o Hans!

— O Hans?! Seu namorado?! Por quê?!

— Porque ele é um canalha!

— Traga ele até aqui – falou ficando parada na porta observando os filhos passarem, entraram Esmeralda e Jack, Soluço entrou logo depois – Entra, entra, entra – disse a mais velha à medida que passavam por ela – Pega uma cadeira Jack! – quando viu as duas moças caminharem preocupadas para dentro da casa, as duas mulheres russas as barraram – Quem são vocês? – perguntou Rubi colocando os pulsos na cintura, a filha mais velha as olhando com sereno desconforto de cima.

Rapunzel e Merida observaram a situação de olhos arregalados, não esperavam por aquilo, os ciúmes da mãe de Jack havia se tornado claro como água. Sorriram uma para a outra, vendo graça na situação.

— Nós já nos vimos antes, a senhora não se lembra? – disse a loira – Naquele dia que a senhora visitou o filho da senhora.

— Ah, é, vocês são as garotas que estão morando com meu filho, não me lembrava que você era da Alemanha.

As duas mais baixas arregalaram os olhos.

— Seu sotaque não engana.

A alemã sentiu-se flagrada.

— Essa é a Rapunzel, eu sou a Merida, é um prazer conhecer a senhora.

— E você é da Escócia.

A ruiva riu diante da situação.

— Jack! Eu adorei a sua mãe! – disse a escocesa, olhando-o por entre os corpos das mulheres, o platinado se encontrava sentado em uma cadeira, despido de suas vestes sujas de sangue, Soluço estava ao lado dele observando a situação.

— Eu sou Rubi, essa é minha filha Esmeralda.

— Com licença! – interrompeu Rapunzel – Eu não quero ser indelicada, mas o Jack está precisando de mais atenção agora!

As duas russas a observaram, a expressão desconfiada debaixo dos cabelos brancos as tornavam idênticas.

— Eu faço medicina na faculdade! Por favor, ele é só o nosso amigo! Queremos saber como é que ele está! – exclamou a alemã.

Rubi olhou em seus olhos verdes brilhantes e preocupados, notou que o que falava era verdade.

De repente o táxi chegou e dele saíram mais duas moças estranhas, a filha de Norte não gostava nada daquilo. Moveu-se um pouco para dar passagem à Rapunzel e Merida, a loira passou primeiro, veloz e preocupada.

A ruiva viu Elsa caminhando preocupada em direção à porta. Antes de entrar apontou a platinada norueguesa antes de entrar dizendo para a mãe de Jack: “Se quer saber é com ela que deve se preocupar!”.

Após entrar, a escocesa sussurrou para a loira: “Faz faculdade de medicina mesmo?”.

— Se eu estivesse mentindo você saberia – respondeu sussurrando.

As duas sorriram uma para a outra, caminhando em direção ao amigo ferido.

As escandinavas caminharam até as eslavas paradas na porta, as olhando de cima com olhos de desdém.

— E quem são as senhoritas? – perguntou a russa mais velha.

— Muito prazer! – disse Elsa preocupada – Eu sou Elsa e essa é a minha irmã caçula Anna. Nós somos amigas do Jack.

Estendeu a mão para ser cumprimentada. Mas as russas apenas mantiveram o olhar de desdém.

— Rubi.

— Esmeralda.

Se apresentaram.

— Vocês são norueguesas. Notei pelo sotaque.

— E a senhora é russa, notei pelo mesmo motivo – respondeu a escandinava platinada.

A princípio a resposta pareceu uma ofensa para Rubi, que de repente notou que Anna congelava de frio, permitiu que ela entrasse enquanto ordenava que a filha lhe preparasse algo quente para beber, junto de um cobertor grosso e um lugar perto da lareira acesa.

A norueguesa mais velha viu a irmã entrando e pensou que poderia fazer o mesmo. Seus olhos se encontraram com os de Jack que já era tratado pelos amigos. Ele havia feito tudo aquilo pensando nela. A relação de ambos não continuaria a mesma depois daquilo, para o bem ou para o mal.

Rubi notou aquela troca de olhares e interrompeu, colocando-se entre eles, olhando Elsa de cima, que voltou os olhos azuis para ela com verniz de medo, engolindo seco.

— Você também tem algo a ver com isso? – perguntou franzindo o cenho e com os pulsos na cintura novamente.

A mais nova se amedrontou.

— Eu meio que diria que ela é uma das causas – comentou Merida enquanto ajudava Jack a despir-se de suas roupas molhadas de sangue.

— Merida! – Rapunzel chamou sua atenção enquanto Soluço ria baixinho e o russo ruborizava, no sofá da sala, onde Esmeralda entregava uma caneca quente para Anna, ambas se voltaram para a situação.

Rubi voltou um olhar raivoso sobre Elsa, que arregalou os olhos brilhantes enquanto a delicada face alva ruborizava, seu coração acelerando.

— Jack! Estou adorando a sua família! – comentou a escocesa novamente – Você têm mais alguma mulher cheia de marra nela?

— Tenho uma irmã caçula – disse enquanto a loira levantava seu braço – Mas não espere a mesma violência.

A dona da casa finalmente deixou a última pessoa entrar, mas não gostava daquela moça. Juntos foram até Jack.

O platinado estava cercado e sufocado, sua mãe surgiu empurrando todos para os lados, conquistando espaço.

— Saiam da frente! – disse até que viu a alemã tocando as costelas do filho, que gemia ao ser encostado.

— O que houve? – perguntou a mais velha.

— Estou vendo se há costelas quebradas.

— E então? – perguntou Soluço.

— Parece que trincou, mas não quebrou. A senhora poderia...

— Esmeralda pega o gelo! – ordenou Rubi caminhando até a cozinha, já conhecendo as remediações.

Dentro de poucos instantes a filha mais velha de Rubi trouxe uma bolsa cheia. O russo pegou e a colocou sobre a costela dolorida, debaixo da roupa, sobre a pele, gemendo no ato.

Rapunzel deu a volta e decidiu checar as outras costelas.

— Merida, você pode por favor limpar o sangue no rosto do Jack?

— Por que eu?

— Não! Eu faço! – disse Rubi enquanto pegava uma tigela com água junto de um pano molhado e uma garrafa de líquido especifico para jogar em feridas abertas, logo depois foi até o filho, começando a lavar sua face vermelha.

— Parece que desse lado tem algumas costelas trincadas também – disse a loira enquanto tocava o platinado, fazendo-o gemer baixinho ao mesmo tempo que era lavado.

— Esmeralda... – ia chamando a filha, mas foi interrompida.

— Tá, já vou! – disse voltando até a cozinha indo buscar mais gelo.

— Traga também para o olho dele!

Assim cuidaram de um ferido Jack Frost, por fim, deixaram-no deitado sobre o confortável sofá da sala, descansando sobre as almofadas, sacos de gelo em seu tronco cheio de costelas doloridas e sobre o olho levemente inchado, suas feridas abertas estavam protegidas com ataduras e não precisou levar pontos.

Sua mãe houvera ordenado que todos o deixassem sozinho.

Isolados, Rubi conversou com todos e ficou sabendo de tudo o que havia acontecido.

O russo seguia deitado no sofá, como se dormisse, mas estava acordado, apenas se recuperando, iluminado pelas luzes douradas dos abajures da sala.

Sua mãe chegou para falar com ele.

— Como você está? – perguntou sentando-se como senhora na poltrona da sala.

— Se acha que estou mal, devia ver o outro cara – disse ele sem abrir os olhos.

— Pois é, gostaria de falar sobre esse outro cara.

O filho abriu o olho azul que não estava coberto pelo gelo.

— O que é que tem?

— Eu vi ele pessoalmente.

— E...?

— Os braços dele pareciam duas toras!

— Mas mesmo assim eu venci ele – respondeu sorrindo.

— Me disseram que ele estava com uma faca tão grande que atravessaria você como se fosse papel!

— Mãe, o que queria que eu fizesse?! Depois do que ele fez com a Esmeralda?! Ele tinha que pagar!

— Que chamasse a polícia! Não era você quem devia fazer justiça com as próprias mãos!

— A polícia nunca chegaria a tempo! Ele teria ido pra China hoje mesmo se não fosse por mim!

— Não se trata disso! Ele podia ter te matado! Não faça isso de novo!

O eslavo suspirou olhando para baixo.

— Meu pai teria orgulho de mim – respondeu como vingança.

A mulher arregalou os olhos ficando boquiaberta, seu corpo se curvou sobre a poltrona, chateada.

Os dois ficaram um tempo em silêncio, tristes, mas de repente, para quebrar o gelo, Rubi disse: “Você fez isso mesmo só pela sua irmã, ou tem mesmo algo a ver com aquela norueguesa de cabelos brancos?”.

Jack ficou em silêncio, sem saber o que responder. Aquilo já era o suficiente para sua mãe constatar.

A mulher se levantou, tocou o ombro dolorido do filho deitado com seus dedos delicados.

— Filho, eu já vou sair, mas antes tenho uma coisa para dizer sobre garotas.

— E o que é? – perguntou desconfortável.

— Nenhuma delas presta!

Beijou-lhe de repente a testa e saiu andando.

Seu filho a viu sair, confuso.

De repente, escondida, surgiu Esmeralda, que viu com um sorriso no rosto a mãe caminhar para longe.

— Eu só vou adicionar mais algumas palavras ao que a mamãe falou.

— E o que é? – perguntou o mais novo sorrindo.

— “Exceto sua mãe e suas irmãs”.

O mais novo sorriu diante do gracejo.

— Emma está no quarto, está acordada, quer que eu a chame? – perguntou a irmã enquanto caminhava até ele, puxando um banco e sentando-se do lado do mesmo.

— Ela sabe que eu estou aqui?

— Não necessariamente, ela viu os nossos visitantes e foi falar com eles, mamãe mandou ela ir para o quarto, quer que eu a chame?

— Não, eu adoraria, mas não quero que ela me veja assim.

Esmeralda observava o irmão ferido, tentava colocar um habitual sorriso no rosto, mas vendo-o ali, com dores, em parte por causa dela, não conseguia.

— Jack, obrigada por defender a minha honra.

— Relaxa, é pra isso que servem os irmãos.

— Os irmãos mais velhos. Era eu que devia proteger você, não o contrário.

— Você protegeu! Não lembra daquela joelhada que deu na cara dele?

Ela sorriu.

— Eu não gosto de ver você assim. De agora em diante vou tomar mais cuidado com os caras com quem eu saio...

— Ah, isso facilitaria muito a minha vida!

Os dois sorriram olhando um para o outro.

— Mas e quanto a norueguesa?

— Está falando da Anna, a ruiva?

Ela sorriu sarcasticamente notando a tentativa de Jack de desviar do assunto.

— Não! Boa tentativa, mas me refiro à cachinhos de nuvens ali.

O mais novo praguejou mentalmente enquanto revirava o olho.

— O que tem ela?

— Então, namoro ou amizade?

— Por enquanto não é nada. Ela vai embora dentro de poucos dias.

— Mas e quanto a você...

— Esmeralda! – interrompeu, desconfortável – Podemos não falar sobre isso?

— Tá bom – respondeu sorrindo – Eu acho que ela gosta de você – disse sugestivamente.

Jack revirou os olhos, se incomodando, mas gostando do rumo da conversa.

— Ainda que ela goste, isso não daria em nada porque, como eu já disse, ela vai embora daqui a alguns dias.

— Ainda bem! Eu não gosto da ideia de você namorando.

— Por que não? – perguntou franzindo o cenho e com malícia.

— Acho que nós todas sentiríamos muito a sua falta. Por isso a mamãe não gosta que você se envolva com outras garotas. Nem eu...

— Então papai deve ter feito um ótimo trabalho.

— Jack você não é só um clone do papai! Você é você! Tem um cerne, uma essência, e todas nós sentimos falta disso!

O mais novo ficou surpreso com as palavras da irmã, não achava que significasse tanto em casa.

— Então, vai voltar pra casa?

— Ainda que eu quisesse, eu não poderia. Todo mundo que veio aqui pra me ver está morando lá agora, eu precisaria esperar eles irem embora para poder voltar pra casa.

— Está bem... Mas é sério, toma cuidado com as garotas tá, podemos ser piores do que o Hans – falou se levantando, movendo a sacola de gelo do olho do irmão para conseguir beijar-lhe a testa.

Logo depois saiu para o quarto.

De repente, outra figura de cabelos brancos surgiu na sala, de forma muito mais sutil e elegante. Jack lentamente a notou.

— Elsa?! – disse assustado.

Ela estava parada entre as luzes douradas da sala, de pé, sua mão direita segurando o braço esquerdo, um sorriso pouco convincente em seus lábios femininos e um tanto desconcertada.

— Posso entrar? – perguntou com educação e uma leve ponta de ironia.

— Claro! Me desculpe por não te receber de forma adequada – gracejou.

Ela sorriu, baixando a cabeça.

Aproximou-se dele, vendo-o deitado, não se sentiu bem diante da imagem.

— Eu conheci sua irmãzinha.

— Conheceu?! – disse surpreso.

— Sim! – sorriu – Ela é uma fofa. Acho que ela gostou de mim. Diferente da sua mãe e sua irmã mais velha.

— Por que acha que elas não gostam de você?

— Elas têm ciúmes de mim.

— Por que pensa assim?

— Elas me olham da mesma forma que minha irmã olha você.

O mais novo sorriu. Aquela norueguesa era bem perceptiva.

— Sua irmãzinha gosta muito de você – disse se sentando no banco – Deve ser um ótimo irmão.

— Obrigado.

De repente ficaram em silêncio, a conversa até ali estava agradável, mas sentiam algo diferente no ar, como se não era sobre Emma que deviam falar. O russo decidiu colocar as cartas na mesa.

— Elsa, escuta – a escandinava lhe fixou o olhar – Eu não sou o tipo de cara que tenta impressionar garotas com violência, mas... Isso também foi por você.

— Jack... – disse com tom de voz triste.

— Não que eu esteja querendo te culpar nem nada, mas é só que...

— Jack! – disse sorrindo, seus olhos imploravam para que pudesse falar, assim, o eslavo se calou – Eu estava pensando e... Eu não acho que mereço tudo isso... Você é inteligente, engraçado, divertido, tem amigos, irmãs e uma mãe que te amam muito. Eu sou só uma garota solitária e cheia de problemas. Você devia estar com alguém mais saudável e radiante do que eu.

O mais novo a olhou com a cara fechada por um instante. Logo depois respondeu.

— Elsa, olha nos meus olhos – a mais velha obedeceu em silêncio, sem pestanejar – Nós não somos tão diferentes assim por dentro, e você sabe disso – Elsa lentamente corou e sentiu o coração acelerar – Me desculpa, mas, eu não vou desistir de você tão fácil. Nunca encontrei ninguém igual a você na vida, e talvez nunca mais encontre, só sei que você é minha primeira paixão, e se eu deixar você ir embora, eu nunca vou me esquecer de você. E vou me arrepender para sempre se eu não lutar por você.

— Jack... – balançou a cabeça baixa com os olhos fechados e o rosto vermelho, no fundo sentindo-se feliz por ouvir aquilo, nunca se sentiu tão querida – Olha só como você está! Se não tivéssemos nos conhecido isso não teria acontecido! O Hans te machucou feio! A culpa é minha e eu não mereço alguém que me proteja tanto!

— Elsa, eu escolhi brigar com ele! E o derrotei! A culpa não foi sua. E outra, Hans está preso agora. Quais as chances de algo assim acontecer de novo?!

— Existentes! Quem não garante a existência de uma novo Hans na minha vida? E outra, eu vou pra Noruega daqui a alguns dias, e a gente mal se conhece!

— Elsa, a vida é assim! Um cara se apaixona por uma garota e vai atrás de conhece-la! É o que eu pretendo fazer com você! Por você eu brigaria com quantos Hans existissem e iria para qualquer lugar do mundo só para ver você. E meu avô é empresário, eu posso fazer isso!

A platinada riu pondo a mão no rosto.

— Olha, se você não sente nada por mim é só dizer – falou Jack, tentando disfarçar uma profunda tristeza.

Ela olhou para ele com os olhos azuis brilhantes e alegres, sorrindo com rubor nas bochechas, suspirou.

— Você é tão bonito – comentou enquanto lhe acariciava os cabelos brancos e gelados com os dedos finos.

O mais novo ruborizou ao ouvir o elogio e sentir o toque feminino dela em seus cabelos.

— Tão lindo... – disse enquanto continuava lhe acariciando os cabelos alvos – Qualquer garota teria sorte de ficar com você.

Os olhos azuis se entrelaçaram diante do momento. A tensão estranhamente começou a aumentar entre ambos. A norueguesa começou a aproximar-se dos lábios do rapaz deitado, prestes a selar um beijo, mas de repente, ouviram um barulho.

Um baque, que os tirou daquela situação, fazendo-os virar o rosto. E assim notaram de trás da parede, várias cabeças femininas, espionando-os, eram Merida, Rapunzel e Anna, as duas primeiras adorando a cena, e a última nem tanto. No chão próximo à parede, jazia um Soluço caído sobre o chão de madeira, envergonhado pelo flagra.

Elsa imediatamente se levantou, reavendo seu recato habitual, e Jack fez careta, amaldiçoando os amigos por terem aparecido na hora errada.

— Seu idiota! Qual é o seu problema! Tinha que cair logo agora?! – gritou a escocesa com o norueguês.

— Desculpa! Não foi de propósito!

A platinada caminhou em direção aos amigos dizendo: “Vamos, saiam daqui! Vamos deixar o Jack sozinho!”.

Os demais obedeceram a escandinava de cabelos brancos, enquanto caminhavam, o russo pôde ouvir sua amada brigando com as amigas como se fosse uma irmã mais velha, enquanto as duas seguravam um riso.

A única que permaneceu no lugar, embora escondida, era a norueguesa ruiva.

— Eu sei que está aí Anna – disse o eslavo.

A moça saiu ainda segurando uma coberta sobre as costas, os olhos azuis repletos de conflitos internos. Não era capaz de evitar o ciúme que sentia pela irmã, mas o fato de Jack estar deitado naquele sofá em tal estado, provava à ela que os sentimentos daquele garoto por sua irmã não eram falsos.

— Você está bem? – perguntou o platinado observando-a deitado.

Ela fez um pequeno sorriso. Anna estava praticamente incólume fisicamente, enquanto Jack estava com sua integridade física danificada, e mesmo assim, o russo lhe perguntava sobre seu bem estar.

— Estou. Obrigada, e você?

— Precisa mais do que isso para conseguir abater um Frost. Somos russos, sabe?

Ela riu baixinho.

Ambos se olharam, de repente, já não sorriam mais.

— Eu sei que não gosta que eu sinta algo pela Elsa. Mas eu juro que não sou como... – ia falar o nome de seu inimigo de algumas horas atrás, mas achou melhor não – Ele.

— Eu não sinto ciúmes apenas por você gostar dela. Mas também porque você fez por ela algo que eu jamais consegui fazer.

— O quê?

— Você a fez sorrir de novo! Eu tentei deixa-la alegre tantas vezes... Mas ela sempre ficava triste quando eu tentava! E aí do nada aparece você e salva ela...

— Anna...

— A Elsa é a única lembrança que eu tenho dos meus pais e da minha infância que jamais vão voltar! E eu não quero perder ela Jack!

— Escuta, Anna – disse o mais novo tentando se levantar, mas não conseguindo, preferiu ficar deitado – A Elsa te ama de uma maneira que você não compreende, nem nunca vai compreender... Você é a irmã caçula dela. E eu tenho uma irmãzinha, acho que você viu.

— Vi sim! – respondeu carrancuda, encolhendo os ombros, seus olhos claros cheios de água.

— Eu morreria pela minha irmãzinha e a Elsa por você. Porque os irmãos mais velhos são assim mesmo, às vezes decepcionamos nossos irmãozinhos e os magoamos, mas os amamos de forma incondicional. Tenho certeza que a Elsa devia sentir inveja sempre que você falava de algum cara pra ela.

— Você acha?

— Eu ficaria! – disse sorrindo.

A ruiva riu novamente.

— Jack, escuta... Eu acredito que você é um ótimo rapaz, mas é a minha irmã, e eu quero proteger ela de qualquer coisa, e hoje aprendi que nem todos são o que parecem ser.

Aquela frase diante do russo deitado e ferido pareceu uma ofensa ridícula e descabida.

— Então você quer a Elsa só pra você e eu também... Vamos fazer o seguinte, amigos e rivais – falou estendendo a mão para ela.

— Amigos e rivais – falou ela erguendo a mão.

Perto dali havia uma Rubi escondida, ouvindo a conversa.

Algumas horas após o tratamento da família Frost, Jack finalmente saiu pela porta, recebendo da mãe um pote remédio para aliviar a dor das costelas até que melhorem, advertindo-o para que tomasse aquilo na frequência exigida. Esmeralda o levaria de volta para casa de Norte. Elsa e Anna novamente pegariam um táxi.

No dia seguinte. Todos acordaram cedo em mais um dia frio da cidade de Filótes. Permitiram que Jack dormisse até mais tarde, contudo, não demorou muito para que o russo acordasse, ainda com dores no corpo, e o olho menos inchado e dolorido. Elsa e Rapunzel o chamaram para jogar água morna sobre o inchaço enquanto o mesmo se sentava sobre uma cadeira. A loira falou que era com o propósito de aumentar o fluxo sanguíneo para a área. O eslavo também tomou o remédio de sua mãe, que também fora reconhecido pela alemã.

Enquanto tomavam juntos um café da manhã, viram uma reportagem falando de Hans. Embora Anna se encontrasse triste por sua desilusão, os demais se alegraram ao saber que o finlandês seria preso por seus crimes repudiáveis. A norueguesa platinada consolou a irmã em meio à tristeza.

Também almoçaram juntos. A escandinava mais velha fez questão de auxiliar Jack em tudo, o mesmo adorou aquilo. A ruiva da Noruega notou que o mesmo se gabava daquilo, quase como se fosse para ela.

Depois do almoço, Anna recordou a todos que haviam combinado de ir comprar as decorações e as árvores de natal. O russo tentou convencer a todos que deveria ir com Elsa, mas a irmã da platinada argumentou que elas iriam buscar várias árvores e traze-las com um carro alugado, e como as árvores eram pesadas, um garoto com as costelas feridas não era a melhor opção para carregar tanto peso.

O argumento dela convenceu a todos. Jack precisou se submeter a ir junto de Merida, Soluço e Rapunzel buscar os vários enfeites listados por Anna e sua prima. As irmãs foram para um lado, os demais foram para o outro. Anna mostrou a língua para Jack ao sair caminhando com Elsa para comprar as árvores. O mesmo sorriu daquela atitude.

Horas depois, os quatro voltavam de um distante shopping, conhecido por ter as melhores lojas com enfeites de natal, algumas pertencendo ao próprio Norte. Enquanto voltavam carregando as compras, Merida e Jack discutiam.

— Qual é o seu problema?! Você fez a gente tomar o caminho mais longo de propósito! – gritou a ruiva.

— Qual é o problema Merida? Achei que fosse uma atleta. Não pensei que fosse achar ruim andar um pouquinho.

— Pra você falar é fácil! Está carregando as sacolas mais leves!

— Ah, desculpa, será que minhas costelas quebradas estão incomodando você?

— Estão só trincadas, não quebradas – comentou Rapunzel.

— Dá um tempo pra ele Merida, a gente só veio pelo caminho mais longo, mas agora estamos indo pelo caminho mais curto – disse Soluço.

Jack olhou para baixo, como se aquilo o incomodasse.

— Respondendo à sua pergunta: Sim, suas costelas estão me incomodando, e agradeceria se elas pedissem desculpas.

— Disse a rainha da empatia e delicadeza – comentou o norueguês sarcasticamente.

— Ele está ferido Merida, devia ser mais sensível – falou a alemã.

— Eu sou sensível! Mas sério, vocês também não acham isso estranho? Ele está machucado e ainda assim decide ir pelo caminho mais longo?

Aos poucos silenciaram a discussão. Chegaram então a uma ponte de pedra, coberta pela fria neve branca em um lugar deserto. Perto dela havia uma loja com a logomarca do Norte, onde também ficava uma câmera de luz vermelha.

Todos seguiram andando naturalmente, mas de repente, antes de entrar na ponte, Jack parou segurando as sacolas leves, mas volumosas, seus olhos azuis arregalados, vendo seus amigos caminharem naturalmente por aquele lugar.

Os demais andavam como se fosse outro dia qualquer, sequer notaram o atraso do russo. Mas de repente a loira voltou-se para o lado para ver seu paciente e viu que ele não estava próximo à ela.

— Jack?! – chamou ao vê-lo parado atrás de si, na entrada da ponte, a cabeça baixa, inerte debaixo do vasto céu branco e gelado, cheio de nuvens frias.

Soluço e Merida voltaram-se para ele.

— Jack, vem! – chamou a escocesa – Qual é o problema? Está chateado pelo que eu disse?! Deixa de ser chorão!

O norueguês notou algo estranho na postura do platinado.

— Jack, algum problema? – franziu o cenho.

As meninas olharam o castanho, e notaram desconforto no ar.

Jack seguia de cabeça baixa, os olhos cobertos pela sombra, cercado pelo frio cenário branco.

— Vocês se lembram do acidente que tirou a vida do meu pai? – perguntou sem erguer a face.

Os três o olharam no meio da ponte, voltando toda sua atenção à ele.

— Sim – Rapunzel respondeu baixo.

— Foi aqui – disse com peso na voz.

Os ombros dos demais saltaram, arregalaram os olhos e trocaram olhares.

— Oh, Jack! – disse a loira com tom de lamentação.

Os amigos caminharam até ele.

— Então foi por isso que você tomou o caminho mais longo? – perguntou Soluço.

O russo fez que sim com a cabeça.

— Você não queria passar por aqui – disse Merida.

Ele repetiu o gesto.

— Ah, Jack – disse a ruiva – Me perdoa!

De repente, todos abraçaram o platinado, primeiro as meninas, e quando ambas chamaram a atenção do escandinavo, o mesmo se viu forçado a contribuir. Ficaram ali de pé, aglomerados, no meio da neve, lotados de casacos e sacolas cheias de enfeites de natal.

O eslavo sentiu uma pequena nuance de calor em seus sentimentos gelados, tal qual uma fogueira em um iceberg. Ele sorriu disfarçadamente enquanto uma lágrima secreta escorria pelo seu rosto cheio de feridas murchas.

Após alguns instantes assim, Jack comentou: “Já tem alguns anos que eu não passo aqui. Antes não tinha aquela loja do meu avô, e também não tinha uma câmera filmando esse lugar. Vô Norte achou que seria uma boa ideia tomar conta daqui, até colocou escutas, sabe, pra passar a ideia de que nós somos maiores do que esse lugar, e do que aconteceu.”.

Todos viram a loja, a câmera e a luz vermelha piscando.

Em silêncio, Merida ofereceu a mão para Jack, como se o convidasse a enfrentar seus sentimentos nocivos contra aquela ponte, Rapunzel fez a mesma coisa. Jack aceitou.

Assim, devagar, os quatro atravessaram-na. A tarefa foi dolorosa para o russo, o mesmo sentia inúmeras coisas desagradáveis ao passar por ali. Soluço o observava com responsável atenção, e assim, conseguiram atravessar.

Voltaram para casa mais alegres, e assim começaram a organizar tudo.

Anna e Elsa levaram cinco grandes pinheiros para a casa. Todos tinham diferentes ideias de como decorar as árvores, devido a isso, combinaram que Soluço, Merida, Jack e Rapunzel decorariam cada um uma árvore enquanto as irmãs decoravam a casa. No final os quatro se reuniriam para misturar suas ideias e enfeitar o quinto pinheiro.

Enquanto enfeitavam, Anna colocou músicas de natal para tocar.

Deus vos libertou, cavalheiros felizes

God rest ye merry gentlemen

Não deixe nada te desanimar

Let nothing you dismay

Lembre-se de Cristo nosso Salvador

Remember Christ our Savior

Nasceu no dia de natal

Was born on Christmas Day

Para salvar todos nós do poder de Satanás

To save us all from Satan's pow'r

Quando nos perdemos

When we were gone astray

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Conforto e alegria

Comfort and joy

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Deus vos libertou, cavalheiros felizes

God rest ye merry gentlemen

Não deixe nada te desanimar

Let nothing you dismay

Lembre-se de Cristo nosso Salvador

Remember Christ our Savior

Nasceu no dia de natal

Was born on Christmas Day

Para salvar todos nós do poder de Satanás

To save us all from Satan's pow'r

Quando nos perdemos

When we were gone astray

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Conforto e alegria

Comfort and joy

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Em Belém, em Israel

In Bethlehem, in Israel

Este bendito bebê nasceu

This blessed Babe was born

E colocado dentro de uma manjedoura

And laid within a manger

Nesta manhã abençoada

Upon this blessed morn

O qual Sua Mãe Maria

The which His Mother Mary

Nada recebia desprezo

Did nothing take in scorn

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Conforto e alegria

Comfort and joy

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Não temas então, disse o Anjo

Fear not then, said the Angel

Não deixe nada que você tema

Let nothing you affright

Este dia nasceu o salvador

This day is born a Savior

De uma virgem pura brilhante

Of a pure Virgin bright

Para libertar todos aqueles que confiam nele

To free all those who trust in Him

Do poder e poder de Satanás

From Satan's pow'r and might

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Conforto e alegria

Comfort and joy

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Deus vos libertou, cavalheiros felizes

God rest ye merry gentlemen

Não deixe nada te desanimar

Let nothing you dismay

Lembre-se de Cristo nosso Salvador

Remember Christ our Savior

Nasceu no dia de natal

Was born on Christmas Day

Para salvar todos nós do poder de Satanás

To save us all from Satan's pow'r

Quando nos perdemos

When we were gone astray

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

Conforto e alegria

Comfort and joy

Oh, novas de conforto e alegria

Oh tidings of comfort and joy

 

Quando estavam perto de terminar, Anna e Rapunzel começaram a usar a cozinha para fazer os mais diversos pratos quentes e saborosos. Tortas macias que saiam abrasadoras do forno e se desfaziam facilmente ao serem colocadas na boca, biscoitos crocantes aos montes em bandejas, e chocolate quente em canecas brancas. Enquanto se deliciavam com tudo, dançavam ao som das músicas de natal.

As árvores de natal estavam bem espaçadas entre si. A árvore enfeitada por Rapunzel tinhas belos enfeites violeta com luzes douradas. A de Jack tinha vários enfeites azuis e prateados brilhantes com luzes brancas. De Soluço haviam diversos pinhos marrons com luzes brancas e enfeites vermelhos. De Merida havia uma grande mistura de verde e vermelho com luzes azuis. A que enfeitaram juntos era a mais bela e colorida de todas. A casa também estava cheia de guirlandas, laços, velas e bolas de natal matizadas.

Anna e Elsa se abraçavam ao notar a beleza do que fizeram juntas.

— Mandamos bem Elsa!

— Concordo! – disse a mais velha – Escuta Anna, sobre o Jack...

— Não Elsa – interrompeu – Tá tudo bem, nós somos irmãs, e isso não vai mudar, nunca, existem coisas que eu não posso fazer por você e certamente você precisa de muito mais vida além de mim e das paredes da nossa casa, ou daquele hospital.

— Mas eu nunca vou deixar de amar você – disse.

— Eu sei, mas não se engane, não pense que eu vou deixar o Jack tirar você totalmente de mim!

Sorriram uma para a outra.

De repente, o russo agarrou a platinada norueguesa pelo pulso delicado e a puxou para debaixo de um viçoso visco de natal, onde a tradição exigia um beijo.

— Nossa! Que coincidência! Um visco de natal! – disse ele com verniz de distração, Anna fez careta – Acho que não temos escolha Elsa! – falou oferecendo o rosto.

A mais velha sorriu com aquela iniciativa, se fosse em outra situação ou com outra pessoa, certamente rejeitaria o convite com seu habitual recato, mas viu o rosto ferido do mais novo, e sentiu que aquilo era justo. Assim, beijou-lhe a face.

Por mais que Jack quisesse aquilo, não esperava que Elsa acatasse com a brincadeira, por isso seu rosto ficou vermelho e seu coração acelerou.

Ao notar o rubor na face dele, ela também ruborizou, e por um instante se olharam com os olhos azuis brilhantes, havia beleza naquilo, e todos ali presentes sabiam, mesmo Anna.

Os dois platinados desviaram o olhar.

— Eu vou embora daqui a poucos dias – falou de cabeça baixa.

— Eu sei – ele também havia abaixado a cabeça – Me passa seu número! Vamos manter contato! – ergueu a face quando falou.

Ela ruborizou de novo. Salvaram o número do telefone um do outro.

Posteriormente, todos se viam conversando, separadamente. Anna chegou até Jack. O russo se espantou ao ver aquilo e imediatamente engoliu o pedaço de torta que mastigava, fazendo-o descer quase inteiro pela garganta.

— Oi Jack! – falou enquanto ele batia no peito feito ferido por causa da comida.

— Oi Anna – disse com a voz ruim.

— Desculpe, eu não queria fazer você engasgar.

— Não, tá tudo bem, eu adoro quando isso acontece – falou reavendo o fôlego.

Ela sorriu.

— Acho que entendo um pouco porque a Elsa gosta de você.

Ele olhou para a ela com o rosto mais sério.

— Vocês trocaram telefones?

— Sim.

— Então o relacionamento entre vocês dois é inevitável.

— Eu acho que você não vai gostar da minha resposta, mas eu acho que sim – respondeu.

Ela sorriu de novo.

— Só me promete que vai cuidar bem dela, por favor!

— Com a minha vida!

— Acho que isso pode demorar um pouco, ela vai pra Noruega em poucos dias!

— Mas ainda assim, no que ela precisar eu estarei aqui! E a você também.

Ela ergueu a face, arregalando os olhos.

— Obviamente eu não sinto por você o que sinto pela Elsa, mas eu considero você uma amiga, embora queira tirar a Elsa de mim. Eu não que tenha merecido passar pelo que passou com o Hans.

Ela sorriu com rosto contorcido, como se estivesse prestes a chorar.

— Obrigada Jack!

— De nada! – disse uma Rapunzel sorridente aproximando-se de Elsa.

A platinada a olhou surpresa e sorriu revirando os olhos.

— Eu não disse obrigada.

— Mas eu sei que está gostando do Jack, e que com certeza está feliz por tê-lo conhecido, aposto que se arrepende de como falou com ele antes.

— Precisava mesmo me lembrar disso?

A loira deu de ombros sorrindo e olhando para o lado.

— Boba!

— Mas admite! Está feliz não está?

— Tá, eu admito! Estou mais feliz do que estava quando cheguei aqui. Mas não vou agradecer você! – falou em tom de brincadeira.

A alemã abriu a boca enquanto sorria, notando a brincadeira da prima.

— Como pode dizer isso? Se não fosse por mim talvez nem sequer estivesse se sentindo assim agora!

— Eu não me casei com o Jack, nem sei se ele seria um bom marido, então não vejo o porquê de agradecer – manteve o tom de brincadeira.

— Mas o Jack salvou a sua vida! Talvez ele não teria feito nem isso se ainda estivessem brigados, talvez nem sequer iria querer sair com a gente.

Elsa olhou a prima com a cara fechada em condenação.

— Golpe baixo!

Ficaram em silêncio se olhando, a mais velha fuzilando Rapunzel com o olhar, enquanto a mesma seguia sorrindo para ela em tom de vitória. Mas aos poucos cederam e riram juntas.

— Você está bem? – perguntou Merida para uma Elsa distraída com os enfeites nas paredes.

A mais velha a olhou de lado, surpresa à início, mas ao notar o tom preocupado de seus sinceros olhos azuis em sua face prestativa, se tranquilizou.

— Estou – disse relaxando os ombros e baixando o olhar formando um sorriso, mantendo-se de lado – quero dizer, estou um pouco assustada ainda com tudo o que houve, mas estou bem...

— Desculpe não estar lá pra te ajudar na hora – disse apertando os olhos.

— Não seja boba, não esperávamos que Hans atacasse, e ainda que esperássemos eu não iria querer meter você nessa confusão, já não bastou meter o Jack – sua voz ficou triste no fim da frase.

— Ah, mas se estivesse lá na hora pode ter certeza que eu acabava com ele lá na ponte mesmo, se alguém como ele chegar de novo na sua vida é só me avisar que eu arranco os dentes dele sem dó! – falou com raiva, acertando o punho feminino na mão alva.

Elsa seguiu olhando-a de lado, por cima do ombro, com ar de descrença, mas logo se lembrou que ela era lutadora com faixa preta em várias artes marciais.

— Violência nem sempre é a resposta pra tudo Merida.

— Foi a resposta pra essa situação. Se não fosse pelo Jack talvez você estivesse morta agora.

— Sabe, talvez você devesse tentar ser mais delicada, acho que assim seu cavaleiro de armadura brilhante poderia ser atraído pra você com mais facilidade. Sabe, no passado também havia diplomacia.

— E ela frequentemente falhava – respondeu a escocesa sorrindo.

Elsa baixou a cabeça também sorridente.

— Mas admito que você tem um ponto – disse a cacheada.

— Você também.

A celta e a escandinava se olharam alegres, os olhos azuis brilhantes, sentindo afeto uma pela outra, Elsa, a irmã mais velha presando pela racionalidade e Merida, a caçula violenta presando pela última alternativa, diferentes, mas respeitando-se mutuamente.

— Você tinha planejado isso? – perguntou Anna à Rapunzel, que mexia em alguns enfeites da brilhante Árvore de Natal.

— O quê?! – perguntou antes de descer os braços e voltar-se à prima, olhando-a com seus serenos olhos verdes, os cabelos de ouro em um rabo de cavalo.

— A Elsa e o Jack! Você tinha planejado isso? – perguntou com o cenho vermelho franzido, os olhos azuis perturbados, cruzando os braços e curvando o corpo, estava mais desconfortável do que zangada.

— Anna, eu não tinha como planejar tudo isso, eu não esperava que o Hans aparecesse e que a Elsa e o Jack se apaixonassem! Eu que a Elsa se desculpasse com o Jack, só isso. Está tão enciumada assim?

A ruiva voltou-se para a irmã, que agora estava rindo e conversando perto de Jack, enquanto brincavam com enfeites de natal. A loira voltou o olhar para o mesmo lugar que a prima.

— Eu tenho tanto medo de perde-la pra sempre, me parece que ela só é feliz longe de mim.

A alemã olhou a situação com tristeza, baixou o olhar, depois disse: “Sabe, o Soluço uma vez estava vendo um desenho de herói e ele queria mudar porque era muito violento, mas como o Soluço tem uma veia artística eu decidi conhecer alguns de seus gostos.”.

A norueguesa voltou-se à prima com o rosto fechado, sem entender do que ela estava falando.

— Eu fiquei horrorizada a início por causa de toda a violência que tinha no desenho, eu não esperava por aquilo, mas o último episódio me pegou de surpresa. Um pai superpoderoso estava batendo no filho porque ele queria dominar a Terra e o filho dele era contra isso. Em um momento ele gritou com o filho dizendo que aquilo não fazia sentido já que ele iria viver o suficiente para ver a Terra virar poeira, e no fim perguntou “O que vai sobrar pra você daqui a quinhentos anos” ?! – à essa altura a escandinava estava franzindo o cenho – E o filho dele respondeu “Você pai, eu ainda vou ter você”.

Anna arregalou os olhos ao notar as lágrimas que estavam presas nos globos oculares da prima, o rosto dela estava empático, de repente a germânica lhe agarrou a mão, e a ruiva entendeu, que sua prima sempre estaria lá pra ela, independente do que acontecesse.

A norueguesa avançou sobre ela e a abraçou com força. Rapunzel retribuiu o abraço e lhe beijou a bochecha macia.

— Você está bem? – perguntou Merida chegando até Anna que estava sentada sobre a mesa marrom de madeira, observando com serenidade a chama de uma vela derretendo, a cacheada possuía o mesmo olhar empático e preocupado.

— Estou! – respondeu ela sorrindo e baixando a cabeça – Eu agradeci você por me ajudar a tirar da água? – perguntou franzindo o cenho.

— Aconteceu tanta coisa ontem que eu nem me lembro, isso não importa – falou sentando-se ao lado dela.

— Bem, de qualquer jeito, obrigada!

— Não tem de quê! – respondeu – Elsa me falou que ela ainda está assustada.

— Bem, pelo menos agora ela tem o Jack – falou observando-os, os dois platinados seguiam juntos, se divertindo, desta vez a face da norueguesa estava mais amena.

A escocesa os observou junto à ruiva de cabelos lisos.

— Vai demorar pra você superar não vai?

Ela baixou os olhos azuis, sorrindo com ironia.

— Já pensou que pode estar sendo egoísta?

A escandinava ergueu os olhos, surpresa, por um segundo sua face inocente ficou insultada, mas isso não durou muito.

— Eu não sei viver assim – disse com seriedade – Não sei como continuar, a vida que eu vivia não serve mais – Merida esmoreceu a face rígida, começando a se compadecer da escandinava – Eu sei que a nossa vida nunca mais será como foi um dia. Eu sempre ficava com ela quando criança, e agora eu me vejo mais sozinha do que jamais estive – falou recordando-se de sua desilusão amorosa ao mesmo tempo que observava Elsa com Jack – Eu não sei como lidar com isso, mas acho que Deus está me dizendo que embora eu não saiba como agir, eu devo seguir em frente, e fazer o que é melhor. Se isso é o melhor, então... – Anna teve dificuldade de dizer as últimas palavras, seu rosto se contorceu como se tivesse brigando para mante-las de trás dos dentes, mas conseguiu dizer – Que seja. Tomei uma decisão.

Baixou a cabeça, triste.

A cacheada a observou com a face alva serena, os olhos azuis calmos e acolhedores.

A esquerda mão rosada da escandinava estava deitada sobre a madeira, de repente um calor ligeiro surgiu de surpresa nas costas da mesma, fazendo sua dona erguer a face e arregalar os brilhantes olhos azuis.

Deparou com uma escocesa cheia de ternura, olhando-a com um pequeno sorriso formado em seu rosto. Aquilo significava aprovação. Anna havia conquistado o respeito de Merida. A norueguesa sorriu de volta.

— Anna – disse uma Elsa ruborizada e sorridente para a irmã caçula que conversava serenamente com a prima e a amiga da Escócia.

— Sim Elsa? – perguntou com verniz de inocência.

— Vem comigo! – falou puxando a mais nova pelo braço.

A ruiva obedeceu, alegando que para as amigas que já voltava. Assim caminharam até Soluço que assistia a um filme de herói ambientado na época do Natal.

— Soluço! – chamou a mais velha ao lado da irmã.

— Hã?! – respondeu ele distraído, concentrado na televisão – O que foi? Algum problema – deixou o aparelho no mudo quando as viu.

— Gostaríamos de agradecer você por tudo o que fez por nós ontem a noite – respondeu a platinada.

Anna a olhou sem entender. O garoto também.

— Desculpa, eu acho que perdi alguma coisa, foi o Jack quem salvou sua vida Elsa, e foi a Merida quem te tirou da água Anna.

— Sim, mas você deu seu casaco pra Anna para protege-la do frio, e me consolou quando a Esmeralda me largou quando foi atrás do Jack. Além de ajudar a Rapunzel.

— Isso não foi nada! Eu gostaria de ter feito mais por vocês.

— Está sendo modesto! – respondeu Anna – Você já fez o suficiente, e somos gratas a você por tudo!

Ele riu baixando a cabeça, olhando o gato negro deitado aos seus pés, que retribuiu o olhar.

— De nada! Se eu puder ajudar vocês em algo mais, é só me dizer!

Elas deram uma risadinha.

— Tome cuidado Jack, um dia cobraremos essa oferta.

— Eu vou cobrar um favor em troca, não se preocupe! – respondeu sorrindo.

Assim, as duas irmãs se afastaram de braços unidos. Para a alegria de Anna.

Os dias passaram, e não podiam ter sido mais maravilhosos. Os quatro levaram de novo Elsa e Anna à Praça de São Miguel, onde desta vez, tudo correu bem, brincaram de guerra de bola de neve, passearam.

Jack ensinou Elsa à patinar no gelo. O casal platinado ficou o tempo inteiro de mãos dadas, e repetidas vezes a escandinava caiu sobre o russo, sempre se desculpando quando acontecia porque se lembrava das costelas feridas, mas ele não ligava.

Soluço e Merida precisaram ensinar Rapunzel, já que essa também era a primeira vez que ela patinava. Cada um segurava uma das mãos delicadas de dedos finos da loira. Muitas vezes ela caia, levando também os amigos ao chão. Os demais patinadores tinham que tomar cuidado com eles.

Elsa fez questão de bancar todos os patins.

A única a andar com graça e liberdade era Anna, que agora apreciava sua independência, livre de preocupações e compromissos. Patinava como uma bailarina. Jack chegou a competir com ela para demonstrar todas as suas capacidades no gelo, mas suas feridas lhe deixavam em desvantagem, por isso combinaram de competir algum dia no futuro, um dia em que Jack estivesse totalmente recuperado de suas feridas.

As irmãs escandinavas se juntaram aos demais na tradição de costurar cachecóis, e o eslavo lutou contra o tempo para costurar outro acessório de inverno, para dar de presente à Elsa, que ficou lisonjeada, e por pura gratidão, houvera costurado outro para presentear de volta, mas acabaram por se tornar cachecóis gêmeos, que se completavam, um possuía o cheiro do outro, quase uma aliança de compromisso.

Anna acabou passando mais tempo com Elsa do que esperava, e para sua surpresa, a mais velha estava realmente feliz ao passar um tempo com a caçula, chegaram a construir um boneco de neve juntas na frente da casa, que chamaram de Olaf.

Certo dia branco de neve, Anna virou o rosto para Jack de longe e o agradeceu.

Todas as noites eles festejavam e dormiam tarde, comendo porcaria e falando bobagens, até que finalmente, chegou o dia das duas irmãs partirem para a Noruega.

Elsa estava com um grande casaco branco que lhe cobria até os joelhos finos, uma calça de jeans folgada e um par de botas combinando com o resto das vestes, os macios cabelos soltos atrás dela, às costas algumas malas, usava no pescoço o cachecol branco e azul de Jack.

Perto dela estava Anna com um casaco preto, uma calça marrom e um par de botas da mesma cor que o casaco, da mesma forma que a irmã, haviam grandes malas atrás dela.

À frente delas estavam a prima e os novos amigos. Todos agasalhados, prontos para acompanha-las até o aeroporto.

Merida usava um grande casaco vermelho, Jack um azul, Soluço um verde, Rapunzel um violeta. Todos de calças jeans escuras e usando botas da mesma cor que os casacos. Jack usava o cachecol branco e azul de Elsa.

De repente, Jack aproximou-se da norueguesa platinada, sorrindo.

— Eu vou ligar pra você Elsa – falou sorrindo – É bom atender.

Ela baixou o rosto, o rosto alvo avermelhando-se e sorrindo.

— Você é mesmo um galanteador não é?! – falou tocando-o nos ombros agasalhados.

— Você é a primeira moça por quem me apaixono, quero que seja a única.

— Mesmo assim, aposto que já deve ter beijado muitas outras garotas.

— Não, tenho guardado meus lábios para você!

Todos ao redor viraram o rosto, constrangidos, certamente não era a melhor circunstância para se despedirem daquela maneira.

— Eu também nunca beijei ninguém – ela disse olhando os lábios de Jack, que na hora ruborizou, compreendendo a insinuação.

— Eu... Vou esperar por você – prometeu.

— Como vou saber que você não vai beijar outra garota antes de mim?

— Não vou.

— Mas ainda assim, por via das dúvidas – respondeu e avançou.

Todos na hora arregalaram os olhos e abriram a boca, Rapunzel sorrindo ao ver aquilo.

Jack ruborizou e arregalou os olhos azuis ao sentir os lábios imaculados de sua amada tocarem os seus. A mais velha também estava com a face vermelha.

Durou apenas alguns longos instantes. Sem perceber, o russo agarrou-lhe a cintura magra e agasalhada enquanto sua amada lhe abraçava o pescoço, ambos fechando os olhos.

Por mais testemunhado e escandaloso que fosse o acontecimento, estava silencioso ali, tudo que se ouviu no final foi o som dos lábios molhados se separando.

A escandinava olhou o amado com os olhos alegres e brilhantes, a face ainda vermelha, jamais esperava de si mesma fazer algo parecido, mas agora tinha feito se sentia plena e realizada.

Jack seguiu de olhos fechados e com o rosto vermelho. Assim que os abriu, como um bobo, começou a sorrir, cobriu a cabeça com o capuz azul do casaco, cobriu a face totalmente vermelha com as mãos alvas e baixou a cabeça, tal qual uma menininha e cambaleou para trás.

Os amigos o olhavam sorrindo, jamais o viram tão alterado, acompanharam-no com os olhos, cambaleante, até que de repente, seu pé escorregou e ele caiu de costas sobre a mesa de vidro.

Para todos os clima do momento fora quebrado, e todos chamaram pelo nome do platinado, correndo até ele.

Mas o russo seguia deitado de costas sobre os cacos de vidro, ainda de capuz na cabeça, cobrindo o rosto vermelho e um sorriso transparecendo de sua face.

Todos se olharam, confortados.

— Será que isso vai acontecer toda vez que você beijar ele? – perguntou Merida, sorridente.

Todos a olharam sorrindo, debochando.

— Você está bem? – perguntou Soluço, oferecendo a mão, ajudando-o a se levantar.

— Estou – respondeu com o rosto aos poucos voltando ao normal.

— Você não se machucou? De novo? – perguntou Rapunzel, ao mesmo tempo que Elsa corria até ele.

— Não – respondeu ele – A roupa é bem grossa, e me protegeu.

— Mas e a sua mesa? – perguntou Merida? – Seu avô não vai ficar zangado?

— Que nada! Você não tem noção de quantas coisas a minha irmã já quebrou aqui! A gente conhece um cara que conserta todas as coisas que tem nas casas do meu avô, até as paredes se a gente pedir. Ele limpa tudo e ainda deixa a casa como se nada tivesse acontecido. Aliás, vou mandar uma mensagem pra ele agora mesmo! – falou pegando o celular.

Enquanto digitava, Jack notou que Elsa o olhava, e sua beleza e graciosidade o fizeram corar de novo, para a alegria de Elsa. De repente, Soluço e Merida seguraram-no pelos braços.

— Pra evitar de você desmaiar de novo – disse a ruiva.

O eslavo fez careta.

Logo depois, eles foram até o aeroporto. A platinada fez questão de pagar pelo táxi. Lá, enquanto esperavam o avião, conversavam e brincavam. Quando chamaram pelos passageiros do voo de Elsa, as irmãs abraçaram a todos, Jack novamente beijou Elsa, sem cair desta vez.

Os quatro viram as duas irmãs partindo, acenando de longe, ficaram até ver o avião decolar.

No avião, as duas se arrumavam, a mais velha não parava de sorrir. Lançou um olhar alegre para a irmã, que ficou surpresa e sorriu de volta, ficando alegre. Assim, as duas conversaram sem parar durante o voo.

Anna adormeceu antes de Elsa, assim, quando recostou-se para dormir, pensando em Jack, colocou fones de ouvidos e começou a ouvir música.

Olhos que me deixam mais baixa

Des yeux qui font baisser les miens

Uma risada que se perde em sua boca

Un rire qui se perd sur sa bouche

Aqui está o retrato sem retoque

Voilà le portrait sans retouches

Do homem a quem pertenço

De l'homme auquel j'appartiens

Quando ele me pega em seus braços

Quand il me prend dans ses bras

Ele sussurra para mim

Il me parle tout bas

Eu vejo a vida em cor de rosa

Je vois la vie en rose

Ele me diz palavras de amor

Il me dit des mots d'amour

Palavras do dia a dia

Des mots de tous les jours

E isso mexe comigo

Et ça me fait quelque chose

Ele entrou no meu coração

Il est entré dans mon cœur

Um pouco de felicidade

Une part de bonheur

Que eu sei o motivo

Dont je connais la cause

É ele por mim, eu por ele na vida

C'est lui pour moi, moi pour lui dans la vie

Ele me disse, jurou pelo resto da vida

Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

E assim que eu o vejo

Et dès que je l'aperçois

Então eu sinto dentro de mim

Alors je sens en moi

Meu coração batendo

Mon cœur qui bat

Noites de amor sem fim

Des nuits d'amour à plus finir

Uma grande felicidade que toma o seu lugar

Un grand bonheur qui prend sa place

Problema, tristeza desaparece

Des ennuis, des chagrins s'effacent

Feliz, feliz por morrer

Heureux, heureux à en mourir

Quando ele me pega em seus braços

Quand il me prend dans ses bras

Ele sussurra para mim

Il me parle tout bas

Eu vejo a vida em cor de rosa

Je vois la vie en rose

Ele me diz palavras de amor

Il me dit des mots d'amour

Palavras do dia a dia

Des mots de tous les jours

E isso mexe comigo

Et ça me fait quelque chose

Ele entrou no meu coração

Il est entré dans mon cœur

Um pouco de felicidade

Une part de bonheur

Que eu sei o motivo

Dont je connais la cause

É você por mim, eu por você na vida

C'est toi pour moi, moi pour toi dans la vie

Ele me disse, jurou pelo resto da vida

Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

É assim que eu o vejo

Et dès que je t'aperçois

Então eu sinto dentro de mim

Alors je sens dans moi

Meu coração batendo

Mon cœur qui bat

La la, la la, la la

La la, la la, la la

La la, la la, ah la

La la, la la, ah la

La la la la

La la la la

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Nome das músicas.
God rest ye Merry Gentlemen - Pentatonix
La vie en rose - Edith Piaf



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