Singularidade escrita por Ogum


Capítulo 3
Imersão




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Morfeu sorriu como um psicopata em direção a Lisa, aquele não era o tipo de sorriso que uma criança daria e sua tia sorriu de volta na mesma intensidade. Ambos se intenderam
Diana de canto suspirou inquieta, sabia no que aquilo poderia dar.

— De novo! - Gritou Morfeu.

Aquela era uma oportunidade ótima para começar a entender quais eram os princípios e limitações que a magia daquele mundo possuía.

Lisa então deixou a criança no chão e alongou seus braços, começou a se mover com uma regente de orquestra enquanto brinquedos e livros flutuavam pela sala como se estivessem a seu comando. Fazia movimentos, mudava a velocidade dos objetos e passava uns por cima dos outros. Depois de poucos minutos de exibição empilhou separadamente os livros e colocou os brinquedos enfileirados.

— Gostou do que a tia fez? A sua mãe também faz. - Sorriu
— Não faço. - Retrucou Diana. - Não esse truquezinho barato.

"Então eu sou filho de bruxa e não tava sabendo? Essa mulher é esperta, deve estar escondendo por alguma razão. Mas achei ótimo que essa tia fofoqueira apareceu. Agora é hora de jogar todo meu chame e conseguir tirar uma porrada de informação. Quem sabe eu descubro que porra aconteceu pra parar aqui."

— Faz mamãe. - Disse Morfeu. A cara de cachorro que caiu da mudança era completamente a prova de negação.

— Filho acho que você não entendeu. A mamãe não faz isso, eu faço melhor.

"Essa mulher tá bem confiante viu, vai ter que segurar a bronca."

Diana se aproximou e murmurou palavras em outro idioma, Morfeu então sentiu uma força suave o tirando do chão, não era como ser puxado mas sim acolhido. Flutuou para mais de um metro do chão como em gravidade zero, sua mãe o acompanhou também flutuando e o deixando na altura de seu rosto. Sua olhos mudaram de cor, sai do preto âmbar e se tornando cada vez mais roxos como uma nebulosa profunda. Todo o ambiente aos poucos foi moldado e se parecia cada vez mais como uma imersão completa no cosmo, paredes, teto, chão, tudo havia desaparecido e dado lugar a uma infinitude de estrelas distantes.

Subitamente tudo retornou ao normal e Morfeu caiu levemente nos braços de sua mãe.

— Chega por hoje. - Disse em tom suave - Eu preciso de um tempo com sua tia.

Nem pensou em retrucar, já havia falado bastante para uma criança daquela idade e decidiu por não emitir mais nenhum som. Em estado de transe profundo com a maravilha que havia presenciado decidiu apenas refletir sobre o acontecido enquanto fingia se interessar por cavalos e cavaleiros de madeira.

Uma coisa o intrigava, seria aquela uma habilidade hereditária? Ou exclusiva de gênero? Se Lisa possuía a capacidade de mover objetos porquê a necessidade de pessoas carregando as caixas? Talvez aquilo fosse um segredo e elas fizessem parte de um culto secreto de bruxas. Ele faria de tudo para descobrir.

Esperou que ambas ficassem ocupadas na sala do lado e se arrastou sorrateiramente para a porta, encostou seus ouvidos e se concentrou para escutar.

— Não importa quem venha pedir, a resposta vai ser não. - Afirmou Diana

— Não é sobre sua vontade. Nós precisamos de você. - retrucou Lisa

"Nós quem?"

— Já faz mais de um ano que você saiu e o império não encontrou outro sensorial a altura. Estamos com dificuldades de acompanhar a movimentação ao redor das fronteiras.

— Os generais que se virem. Eu sou mãe agora e tenho responsabilidades. Já não basta ter que revisar relatórios ridículos de exploração e vigilância que não fazem o básico das normas que eu ditei.

"Então é isso, minha mãe é militar."

— Eu tô cansada Lisa, cansada! Eu dei minha vida nessa merda, sujei a mão de sangue e a única coisa que ganhei nesse tempo foi o Fe. Ele não merece crescer nisso.

— Se você não fizer nada a respeito pode ser pior pra ele.

— Não pense que eu tô enferrujada e não pense também que qualquer um pode tocar nele. Eu dei conta de quinhentos, posso cuidar de mil.

— Por que não mostrou pra ele antes? Uma hora a conta do que nós fazemos vai chegar e ele precisa entender como isso funciona.

— Fizemos Lisa, fizemos. Fale por você. Meu filho é novo demais pra pensar sobre magia. Ele mal consegue abrir uma porta.

"Ela sabia sobre a porta, maldita."

— E nós não sabemos se ele vai virar mago. Tem um milhão de questões envolvendo isso e não se tem relatos de muitas crianças que conseguir antes dos dez.

— Você conseguiu.

— Eu não sou parâmetro.

— Seu filho talvez também não seja. De toda forma eu trouxe livros de magia ilustrados para crianças, também trouxe sua coleção do quartel.

— Eu queria aquilo longe de mim.

"Vamos juntar algumas coisas: Um - Minha mãe é militar. Dois - Sensorial, talvez isso esteja relacionado a ilusão que ela projetou. Três - Ela largou o exército pra cuidar de mim, achei fofo. Quatro - Ela é escritora."

A conversa parou por um momento e Morfeu sentiu o apoio da porta sumir. Caiu contra o chão e ao se levantar viu sua mãe o encerando. Havia sido pego ouvindo a fofoca alheia.

— Você é bem curioso ein. - Disse enquanto sorria.

— Igual a mãe. Você fazia isso com o papai também. - disse Lisa

— Era diferente.

— Era a mesma coisa.

Diana levou Morfeu até o quarto e o colocou contra seu segundo nêmesis: o aterrorizante berço de bebê. E ali ele ficaria preso durante as próximas horas.

Lisa se despediu ao anoitecer e prometeu voltar em breve, havia adora o sobrinho e gostaria de passar mais tempo com ele. Para a sorte de Morfeu ela havia deixado presentes inestimáveis e pelas próximas semanas aquilo era tudo que ele precisava.


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