Singularidade escrita por Ogum
Morfeu sorriu como um psicopata em direção a Lisa, aquele não era o tipo de sorriso que uma criança daria e sua tia sorriu de volta na mesma intensidade. Ambos se intenderam
Diana de canto suspirou inquieta, sabia no que aquilo poderia dar.
— De novo! - Gritou Morfeu.
Aquela era uma oportunidade ótima para começar a entender quais eram os princípios e limitações que a magia daquele mundo possuía.
Lisa então deixou a criança no chão e alongou seus braços, começou a se mover com uma regente de orquestra enquanto brinquedos e livros flutuavam pela sala como se estivessem a seu comando. Fazia movimentos, mudava a velocidade dos objetos e passava uns por cima dos outros. Depois de poucos minutos de exibição empilhou separadamente os livros e colocou os brinquedos enfileirados.
— Gostou do que a tia fez? A sua mãe também faz. - Sorriu
— Não faço. - Retrucou Diana. - Não esse truquezinho barato.
"Então eu sou filho de bruxa e não tava sabendo? Essa mulher é esperta, deve estar escondendo por alguma razão. Mas achei ótimo que essa tia fofoqueira apareceu. Agora é hora de jogar todo meu chame e conseguir tirar uma porrada de informação. Quem sabe eu descubro que porra aconteceu pra parar aqui."
— Faz mamãe. - Disse Morfeu. A cara de cachorro que caiu da mudança era completamente a prova de negação.
— Filho acho que você não entendeu. A mamãe não faz isso, eu faço melhor.
"Essa mulher tá bem confiante viu, vai ter que segurar a bronca."
Diana se aproximou e murmurou palavras em outro idioma, Morfeu então sentiu uma força suave o tirando do chão, não era como ser puxado mas sim acolhido. Flutuou para mais de um metro do chão como em gravidade zero, sua mãe o acompanhou também flutuando e o deixando na altura de seu rosto. Sua olhos mudaram de cor, sai do preto âmbar e se tornando cada vez mais roxos como uma nebulosa profunda. Todo o ambiente aos poucos foi moldado e se parecia cada vez mais como uma imersão completa no cosmo, paredes, teto, chão, tudo havia desaparecido e dado lugar a uma infinitude de estrelas distantes.
Subitamente tudo retornou ao normal e Morfeu caiu levemente nos braços de sua mãe.
— Chega por hoje. - Disse em tom suave - Eu preciso de um tempo com sua tia.
Nem pensou em retrucar, já havia falado bastante para uma criança daquela idade e decidiu por não emitir mais nenhum som. Em estado de transe profundo com a maravilha que havia presenciado decidiu apenas refletir sobre o acontecido enquanto fingia se interessar por cavalos e cavaleiros de madeira.
Uma coisa o intrigava, seria aquela uma habilidade hereditária? Ou exclusiva de gênero? Se Lisa possuía a capacidade de mover objetos porquê a necessidade de pessoas carregando as caixas? Talvez aquilo fosse um segredo e elas fizessem parte de um culto secreto de bruxas. Ele faria de tudo para descobrir.
Esperou que ambas ficassem ocupadas na sala do lado e se arrastou sorrateiramente para a porta, encostou seus ouvidos e se concentrou para escutar.
— Não importa quem venha pedir, a resposta vai ser não. - Afirmou Diana
— Não é sobre sua vontade. Nós precisamos de você. - retrucou Lisa
"Nós quem?"
— Já faz mais de um ano que você saiu e o império não encontrou outro sensorial a altura. Estamos com dificuldades de acompanhar a movimentação ao redor das fronteiras.
— Os generais que se virem. Eu sou mãe agora e tenho responsabilidades. Já não basta ter que revisar relatórios ridículos de exploração e vigilância que não fazem o básico das normas que eu ditei.
"Então é isso, minha mãe é militar."
— Eu tô cansada Lisa, cansada! Eu dei minha vida nessa merda, sujei a mão de sangue e a única coisa que ganhei nesse tempo foi o Fe. Ele não merece crescer nisso.
— Se você não fizer nada a respeito pode ser pior pra ele.
— Não pense que eu tô enferrujada e não pense também que qualquer um pode tocar nele. Eu dei conta de quinhentos, posso cuidar de mil.
— Por que não mostrou pra ele antes? Uma hora a conta do que nós fazemos vai chegar e ele precisa entender como isso funciona.
— Fizemos Lisa, fizemos. Fale por você. Meu filho é novo demais pra pensar sobre magia. Ele mal consegue abrir uma porta.
"Ela sabia sobre a porta, maldita."
— E nós não sabemos se ele vai virar mago. Tem um milhão de questões envolvendo isso e não se tem relatos de muitas crianças que conseguir antes dos dez.
— Você conseguiu.
— Eu não sou parâmetro.
— Seu filho talvez também não seja. De toda forma eu trouxe livros de magia ilustrados para crianças, também trouxe sua coleção do quartel.
— Eu queria aquilo longe de mim.
"Vamos juntar algumas coisas: Um - Minha mãe é militar. Dois - Sensorial, talvez isso esteja relacionado a ilusão que ela projetou. Três - Ela largou o exército pra cuidar de mim, achei fofo. Quatro - Ela é escritora."
A conversa parou por um momento e Morfeu sentiu o apoio da porta sumir. Caiu contra o chão e ao se levantar viu sua mãe o encerando. Havia sido pego ouvindo a fofoca alheia.
— Você é bem curioso ein. - Disse enquanto sorria.
— Igual a mãe. Você fazia isso com o papai também. - disse Lisa
— Era diferente.
— Era a mesma coisa.
Diana levou Morfeu até o quarto e o colocou contra seu segundo nêmesis: o aterrorizante berço de bebê. E ali ele ficaria preso durante as próximas horas.
Lisa se despediu ao anoitecer e prometeu voltar em breve, havia adora o sobrinho e gostaria de passar mais tempo com ele. Para a sorte de Morfeu ela havia deixado presentes inestimáveis e pelas próximas semanas aquilo era tudo que ele precisava.
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