My Amazing Spider-Man escrita por LisRou


Capítulo 4
Entrevista


Notas iniciais do capítulo

O capítulo tá babaaaadoooo! No final dele me contam o que acharam, porque o primeiro encontro finalmente aconteceu! ♡



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POV. Michelle Jones

 

Se esta fosse uma história contada pelo cinema hollywoodiano, certamente eu teria conseguido o emprego, onde ganharia muito mais do que havia imaginado, e talvez, no momento em que estivesse saindo do prédio, colidiria com o homem mais adorável do mundo, que ficaria caidinho por mim. Eu acabaria me tornando uma excelente profissional, imprescindível para a empresa, e seria promovida. O filme terminaria em algum lugar paradisíaco, tipo ilhas Maurício, eu estaria deitada na espreguiçadeira, me bronzeando e bebericando champanhe sem nem conferir o preço no cardápio, enquanto o amor da minha vida massageava meus pés.

Mas, sabe como é... Esta é a minha história. E as coisas sairiam um tiquinho diferentes...

Cheguei ao prédio no centro da cidade e subi até o quinto andar, onde a o Clarim Diário novaiorquino funcionava. Fui a última a chegar, é claro. O lugar parecia saído de uma daquelas revistas de design rústicos de interiores, com muita madeira, vidraças do chão ao teto e poltronas de couro impecavelmente marrons, e funcionários andando por todos os lados, uns tropeçando ou tombando nos outros. Dava para ver Nova York inteira das vidraças daqui. As pessoas em busca da mesma vaga que eu, sentadas nos estofados, homens e mulheres entre vinte e trinta anos, com boa postura, corpos exuberantes e bem-vestidos, com certeza eram fluentes em doze idiomas, faziam dietas malucas e tinham aparência de eficientes, enquanto eu estava suada, descabelada, com meu britânico cheio de hiatos e todo o espanhol que havia aprendido com as músicas do sr. Iglesias, tocadas no último volume na velha vitrola da dona Lila.

— Oi. — Sorri nervosa para a secretária de cara pouco amistosa. — Eu vim para...

— Preencha o formulário com letra legível. — Sem erguer os olhos da tela do computador, ela me estendeu uma folha. — Depois me devolva e aguarde.

— Boa tarde para você também. — Fiz uma careta. Não pude evitar.

A vaca me lançou um olhar gelado, mas voltou a encarar sua tela ao mesmo tempo que voltei para o estofado. Segui a instrução, caprichando a letra na tentativa de ganhar alguns pontos. Após entregar o documento para a secretária emburrada, fui me sentar em uma das poltronas. Meu vizinho de assento, um sujeito em um terno muito bem passado, sacou um tablet da bolsa a tiracolo e entrou no site da empresa.

Ah, isso! Grande ideia. Conhecer a empresa certamente contaria alguns pontos a favor. Por isso peguei o celular e abri a página do Google, esperando que ele fizesse sua magia. Só que é
preciso ter uma coisinha de nada chamada crédito para que a magia aconteça, e meu pacote de dados havia expirado fazia duas semanas.

Ok, ok, ok. Nova estratégia. Eu não precisava do Google. Eu estava dentro da empresa! Aquela sala devia conter tudo o que era necessário saber.

Clarim Diário, lia-se em letras pretas na parede clara. Eles... noticiavam coisas, é claro. E deviam ser todas as coisas segundo a opinião do chefe, já que um diário significava exatamente isso. Ou talvez fosse apenas uma nomenclatura qualquer, sem significado. Parecia provável, ponderei.

Decidido isso, segui para o próximo tópico: a secretária e com certeza jornalista de cara emburrada. Tudo nela gritava competência, do cabelo chanel com franja curta ao terno cinza ajustado ao corpo à perfeição. Mesmo parecendo ter o humor de um cacto, ela conseguiu aquele emprego. Eu não podia fazer nada quanto a minha aparência — acho que jamais teria aquele ar sofisticado —, mas podia treinar aquele olhar desinteressado e entediado. As modelos faziam carão, né? O que eu tinha a perder? Qualquer coisa seria melhor que o desespero que eu devia exibir naquele instante.

Tentei imitar o ar blasé da moça, mas acabei desistindo, pois o plec-plec-plec do arcondicionado me desconcentrava. E a gritaria dos funcionários do lado de fora daquela sala também. Talvez os barulhos irritantes fossem a razão do mau humor da moça.

As horas foram passando, e fui ficando cada vez mais nervosa. Perto da uma hora, a jornalista avisou que tinha acontecido um imprevisto e a entrevista seria no período da tarde. Ela saiu para almoçar pouco depois, o Clarim ficou mais silencioso, mas, como nenhum dos candidatos se moveu, fiquei ali também.

Quando relanceei o relógio de novo, já eram quase quatro horas e nada da pessoa que nos entrevistaria aparecer. Irrequieta, fui pegar um copo de água no bebedouro próximo à secretária. A moça ergueu o rosto entediado para mim por apenas um segundo antes de voltar a encarar sua tela.

Humm...

E se todo esse atraso fosse um teste?, desconfiei, colocando o copo sob a bica e girando o botão. E se o responsável pela entrevista, ou tal dono complicado do Clarim, estivesse nos vendo naquele instante, nos avaliando? Aquilo era um Jornal, né? Um Diário... Era tão maluco assim imaginar que se interessariam em saber como cada candidato se comportava diante da tensão?

Olhei para o teto e, no cantinho... Rá! Eu sabia! Sabia que tinha uma câmera.

Tá legal. Eu só precisava manter a calma. Estava indo bem até agora. Podia facilmente resolver o tremor nas mãos enfiando-as nos bolsos da calça.

E, é claro, foi nesse ponto que minha falta de sorte resolveu fazer uma aparição inesquecível. Como o copo estava quase cheio, tornei a girar o botão do bebedouro, só que a água continuou fluindo até começar a transbordar. Virei o botão mais uma vez e ele... ah, meu Deus...

...simplesmente saiu na minha mão!

Merda!

A água jorrava em um fluxo incessante, escorrendo agora pela parede. Tratei de colocar um copo novo sob a bica enquanto forçava o botão de volta ao lugar. Consegui encaixá-lo no pino, mas ele não desligou o fluxo de água quando o girei outra vez. Estava quebrado.

Ah, por quê? Por que eu tinha que ir tomar água? Por que não podia ter ficado na poltrona inofensiva? Por que eu tinha que querer fazer algo tão potencialmente desastroso como beber
água?

Dei algumas batidas na máquina, mas essa foi a pior ideia que já tive — e, bom, eu já tive muitas ideias ruins. O bebedouro embutido na parede não era tão novo assim, gemeu feito uma atriz pornô e então tombou de lado. Soltei um suspiro ao notar que ao menos a água parara de vazar. Mas o alívio durou pouco. Só até uma língua transparente começar a escorrer pela parede, o cano chiando como uma panela de pressão. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o encanamento estourou. Só tive tempo de saltar para trás e me abaixar. Infelizmente, a secretária não teve tanta sorte — sim, a ironia não me escapou — e o jato de água que vinha da parede a acertou em cheio na cara.

— O que você fez? — Ela pulou da cadeira. Então o mais puro horror lhe atravessou o rosto ao ver a água inundando sua mesa. — Meu Deus, o computador! — Curvou-se para a máquina. Um de última geração que devia valer mais que a pensão.

— Não toque nisso! — disse o sr. Tablet. — Você pode ser eletrocutada!

— Mas vai acabar pifando! — Ela ergueu uma pasta como escudo, tentando impedir o fluxo.

— Onde fica a caixa de disjuntores? — ele quis saber.

Os outros candidatos... bom... eles me contemplavam como se uma cabeça com chifres incandescentes tivesse brotado no meu ombro.

— O botão estava solto — murmurei. — Não queria encaixar...

— Pelo amor de Deus, alguém fecha essa merda. Tá molhando toda a papelada! — A secretária veio para cima de mim.

Se eu não estivesse tão nervosa, teria visto o registro bem ao lado de onde antes ficava o bebedouro. A mão longa e perfeitamente manicurada da moça girou a alavanca, o jato diminuiu, se tornou uma bica e, por fim, cessou.

— Ele vai arrancar a minha cabeça — gemeu, passando a mão no cabelo ensopado. — E depois jogar futebol com ela.

— Quem? — especulei.

Ela me fuzilou com os olhos. Pensei em avisar que um dos cílios postiços havia desgrudado e agora parecia que uma aranha morta se aninhava no canto da pálpebra, mas ela aparentava estar furiosa, de modo que mordi a língua.

— Quem você acha, garota? O JJ!

— Eu só queria um pouco de água — falei, com a voz miúda. — Desculpa. Acho que... — O quê? O que mais eu poderia fazer além do que já havia feito? — Acho que é melhor eu ir embora.

— Com certeza é melhor!

Arrastei meu orgulho agora morto até o elevador, ouvindo os gritos enfurecidos da secretária e o sr. Tablet tentando apaziguá-la. Ele ficaria com a vaga, por sinal. Não a de modelo, mas a da assistência lá que a Gayle me contou.

Assim que parei diante do elevador, as portas se abriram sem que eu tivesse apertado o botão ou alguém tivesse descido. Por falar em sinais... Frustrada, humilhada e muito molhada, deixei o prédio no centro da cidade e perambulei por algumas ruas, me amaldiçoando por me sentir tão miserável. Eu já sabia que a vida leva suas expectativas pelo ralo. Literalmente, no meu caso.

Como eu teria forças para contar a Gayle o que havia acontecido? A mamãe?

Um daqueles carros importados encostou no meio-fio conforme eu caminhava pela calçada. O motorista, num terno negro e alinhado, desceu e entrou na floricultura. O ricaço provavelmente ia comprar flores para a namorada/mulher/amante. Porque existem pessoas que têm a vida assim, calma, perfumada e florida. O mais próximo que cheguei de ganhar flores foi ainda no colégio, quando um cara tentou me convencer a transar com ele no depósito de vassouras. E não tenho certeza se um punhado de talos de arruda conta como buquê.

Como ainda olhava para a floricultura, não vi o sujeito que empurrava um carrinho de entregas vindo na minha direção até ele estar em cima de mim.

— Ei, cuidado aí! — ele gritou, se equilibrando para as caixas de cerveja não tombarem do carrinho, ao mesmo tempo em que eu pulava para o lado. Meu pé enroscou em um buraco da calçada e, como nadava dentro da sapatilha, escorregou e eu me desequilibrei, indo para a rua. Uma buzina alta e estridente soou perto demais. Eu me virei a tempo de ver um motoqueiro um segundo antes de ser atingida por ele.

Ok, não fui atingida. Mas o susto foi tão grande que me derrubou. Fiquei ali, deitada no asfalto quente, fitando o céu azul, sentindo o cheiro de cimento, terra e borracha.

Bom, Gayle. E não é que alguma coisa aconteceu comigo?, pensei, sarcástica.

Não demorou para que eu fosse cercada por uma multidão de rostos, alguns um tanto decepcionados depois de uma breve avaliada. Isso era bom, certo? Significava que ninguém morreria naquele dia, não é?

Um par de pés se plantou ao lado da minha cabeça. Olhei para cima... e continuei olhando, olhando, olhando... Sério, eu nunca tinha visto alguém tão alto quanto aquele cara. Ele parecia ser um pouco mais alto que eu, e isso era difícil pra cacete! E me decepcionei um pouco por não conseguir ver sua cara, pois o sol brilhava bem atrás de sua cabeça, como se fosse um halo de fogo. Só consegui ver ao que me parecia um capacete na cabeça.

— Meu Deus, você está bem? — ele quis saber, soando ansioso e preocupado. Bom, essa era uma pergunta muito subjetiva. Sobretudo porque meu coração descompassado zumbia nos ouvidos, e talvez por isso eu tive a impressão de que conhecia aquela voz.

Com movimentos deliberadamente lentos, o sujeito grandalhão se agachou, e suas mãos retiram o capacete. Seu rosto pairou diante do meu, enfim saindo das sombras. A primeira coisa que notei foi o queixo bem desenhado e duro, depois a boca um tanto austera e cheia, subi para o nariz reto, os malares salientes, o cabelo brilhando em todos os tons de marrom. E, por fim, cheguei aos olhos.

Meu coração já acelerado alçou voo, martelando contra as costelas até me deixar sem ar. Porque eu sabia que aqueles olhos castanhos, alegres e impetuosos às vezes ficavam tão tristes quanto um sussurro apaixonado por causa de uma lembrança. E que, apesar do ar rígido da boca, quando ela se esticava, duas covinhas apareciam em cada uma de suas laterais para enfatizar o semblante extrovertido. Eu reconheceria aquele rosto em qualquer lugar do mundo, até dormindo, dopada ou depois de ser atropelada. Como poderia ser diferente? Ele aparecera em meus sonhos no último ano inteiro. Era o rosto do meu salvador.

Do meu herói mascarado, fruto da minha imaginação.

Peter 3, suspirou meu coração.

E ele estava ali, bem na minha frente.

 

 


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Notas finais do capítulo

*Glossário:

O Clarim Diário (Daily Bugle em inglês) é um jornal fictício sediada em Nova Iorque. É um dos mais importantes jornais do Universo Marvel e apareceu pela primeira vez em Fantastic Four #2. Esta empresa surgiu em 1897 e seu atual editor-chefe é J. Jonah Jameson. Nesta empresa trabalha ou trabalhou centenas de pessoas como o fotógrafo freelancer Peter Parker e em toda a "era JJ" o Clarim é notado por ser "anti-super-heróis mascarados". Além disso, Mary Jane Watson foi uma das protagonistas do jornal, sendo responsável por diversas matérias importantes que alavancaram a popularidade da empresa.


E o Peter Garfield apareceu!!!

Fiquem a vontade para comentar, minha gente... Quero saber se estão gostando tanto quanto eu! ♡

Até o próximo capítulo!



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