Belezas da Natureza escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Eu sou uma mulher simples com hobbies simples: eu termino um jogo, eu faço fanfic t-t
Se você não conhece o jogo e quer ler mesmo assim, duas coisas para não ficar perdido: (1) a lore do jogo é com insetos, então "ferrão" é simplesmente uma espada para os personagens, e (2) "Fantasma de Hallownest" é como a Hornet chama o protagonista do jogo, mas não é literal, ele não tá morto não.
Boa leitura ♥



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Protegida pelas sombras muito acima do que as lâmpadas da estrada conseguiam iluminar, Hornet observou o pequeno Cavaleiro caminhar até o Lago Azul carregando uma flor delicada. Ainda oculta, viu quando ele a depositou diante de um Ferrão fincado no chão, uma arma grande demais para que pertencesse a ele, então presumiu que fosse de algum conhecido seu.

Aquele gesto era, no mínimo, intrigante, vindo de alguém deveria ser desprovido de sentimento.

Na verdade, muitas coisas sobre o pequeno Cavaleiro a intrigavam. De certa forma, ele era um fantasma do passado e uma sombra do futuro. No presente, era um lutador. Não um guerreiro, não um soldado, apenas um lutador. Ainda assim, a pequena criatura, que nada hesitava em derrubar inimigos muito maiores do que ele, atravessou cautelosamente todo aquele reino arruinado, protegendo a flor em sua posse com um esmero e delicadeza incompatíveis com sua natureza, evitando perigos que pudessem macular suas pétalas frágeis, perigos que antes ele já enfrentara sem nem pensar.

Hornet se perguntava o que o teria desviado tanto de sua criação. Talvez aquele fantasma fosse um espécime falho.

Ele ainda estava na frente do ferrão sem dono. Hornet aproximou-se apenas o bastante para que pudesse ver o que ele fazia, sem abandonar seu posto no alto. O tempo a deixara mais confortável com sua imparável missão de vigilância. Surpreendeu-se ao perceber que o pequeno Cavaleiro estava apenas sentado ao lado do memorial improvisado com a flor, encarando o lago como se buscasse uma companhia perdida, como se aguardasse que alguém emergisse daquelas águas cristalinas. Ele está apenas esperando, ela percebeu. Foi quando soube que ele não sabia mais o que fazer.

— Fantasma de Hallownest. O que lhe trouxe aqui? – Hornet não resistiu em perguntar. Mesmo que suas lâminas já tivessem se cruzado antes, uma contra a outra, o olhar vazio do Cavaleiro seguiu a direção de sua voz, o rosto impassível não demonstrou agressividade, medo ou mesmo surpresa. Nunca demonstrava. Era tolice perguntar algo para ele, que sempre respondia com o silêncio. Sem voz para expressar sofrimento. Então tentou disfarçar sua curiosidade com uma orientação: – As verdades que busca permanecem enterradas muito, muito abaixo deste lugar.

Mesmo sem resposta, Hornet viu algo naquele olhar. Ele era parte feito do Vazio, mas a outra parte era algo que tinham em comum. Talvez fosse apenas ela tentando enxergar algo tangível na alma do outro, mas Hornet conhecia intimamente a perda e o luto. Qualquer um que tivesse permanecido após a queda de Hallownest reconheceria esses sentimentos como velhos companheiros. Mas devia ser a primeira vez que ele passava por algo do tipo.

Mesmo que suas lâminas já tivessem se cruzado antes e mesmo que ainda fossem se cruzar novamente, o fantasma voltou a olhar o lago e fez um mínimo movimento no chão ao seu lado indicando que não se incomodaria caso ela o acompanhasse. Hornet não sabia disso, mas alguém que já não estava mais ali havia ensinado ao pequeno Cavaleiro que certas belezas da natureza são melhor apreciadas com alguma companhia. Ela não tinha o dever de ajudá-lo, mas tinha passado pelo luto mais vezes do que gostaria e teria aceitado ajuda de qualquer um em cada uma dessas vezes. Mas ainda que conhecesse essa dor, não sabia se havia algo que pudesse dizer ao fantasma para confortá-lo. Então aceitou o idioma que ele conhecia: o silêncio. Sentou-se ao lado dele diante do lago, e a cena melancólica apenas lhe trouxe a certeza de uma suspeita muito antiga.

O plano do Rei Pálido era fadado ao fracasso. Enquanto houver com quem compartilhar a jornada, não é possível alguém permanecer vazio por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥