Gelo e Fogo escrita por BurningWitch


Capítulo 1
Amanhecer




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Logo iria amanhecer. As folhas das árvores balançavam a medida que a brisa suave corria pela floresta, os animais emitiam sons de calmaria e vigilância. Estava tão calor nos últimos dias que o ar parecia ser sufocante, era como se a atmosfera estivesse pesada e quente. Geralt de Rivia, bruxo e caçador de recompensas, caminhava por entre as pedras com o objetivo de chegar a cidade antes do amanhecer, odiava sair pelas ruas com o brilho do sol, a claridade revelava muito sobre si - as cicatrizes, o traje antigo, as poções quase vazias, os olhos amarelos. Todas essas características foram atribuídas à ele ainda na juventude, sendo um dos únicos bruxos sobreviventes ao terrível treinamento dessa classe. Os experimentos deram à Geralt uma visão e audição aguçada, força sobrenatural, resistência física e mágica. Ele deixou de ser humano.
 

Após cerca de uma hora de caminhada, em que ele prendeu os longos cabelos brancos que estavam grudando em seu corpo pelo suor, pôde enfim avistar a cidade. Era só mais uma cidade que caiu em desgraça: as ruas eram tomadas de sujeira, bêbados e prostitutas. Até gostava de cidades assim, as pessoas nunca faziam perguntas sobre sua aparência, somente os mais inconsequentes. 
 

Assim, ele entrou na primeira taverna que encontrou, um buraco chamado "Yeriv", só gostaria de tomar uma cerveja e descansar antes de cair na estrada novamente. Estava na floresta há quase três semanas, caçando uma "Aracna Venenosa": espécie semelhante a uma aranha, veloz e de toxina mortal para humanos. Por isso foi contratado para o trabalho, suas mutações são resistentes a esse veneno, no qual está levando para ser objeto de estudo para um grupo de feiticeiros. E claro, para receber o pagamento que lhe garantirá comida, cerveja e mulheres para o próximo mês.
 

— Uma cerveja. — Disse o bruxo se prostrando no balcão, deixando sua mochila no banco ao lado
 

Não estava com fome pois caçou durante todo o período em que estava na floresta, comeu várias carnes e também encontrou água potável. Se cerveja desse em árvore provavelmente eu me mudaria para o centro de alguma floresta, pensou ele. A parte de não ter que lidar com pessoas com certeza encantava o caçador, e talvez ele fizesse isso um dia.
 

— Aqui está. — O homem barbudo com cheiro de urina bateu um copo fosco com uma cerveja escura e espumenta, estendendo a mão para receber.
 

Geralt entregou uma moeda e provou a bebida, fazendo uma cara feia instantaneamente. Aquilo tinha gosto de água suja e ervas estragadas. E provavelmente foi assim mesmo que ela foi feita.
 

O bar estava quieto, havia vários homens - e algumas mulheres - desmaiados no chão e nas mesas, cansados da farra da noite anterior. Assim que o bruxo percebeu que não teria uma bebida decente, ele considerou que dormir seria a melhor opção. Ele pegou um gargalo de água e virou instantaneamente, aliviado por estar tirando aquele gosto de merda da boca. Assim que recolheu suas coisas e se virou para ir embora, alguém gritou:
 

— O senhor não vai querer? — Um velho bêbado indagou, provavelmente vendo 4 bruxos ao invés de um.
 

Geralt olhou para o homem e deu as costas. O velho virou o copo de cerveja como se fosse a melhor bebida do planeta, vomitando no balcão em seguida. Do lado de fora da Yeriv, o bruxo conseguiu ouvir a confusão que foi formada.
 

O sol brilhava forte, forte demais para aquele horário. As pessoas estavam se arrastando no chão e pedindo água, alguns bebiam as águas dos cavalos e de poças no chão. Estava realmente muito calor. E agora não havia mais as sombras das árvores e a brisa da floresta, a estrada estava escaldante.
 

Assim, ele chegou ao estábulo em que deixou Plotka, sua égua. O responsável pelo lugar estava desmaiado ao lado, Geralt jogou uma moeda sobre o corpo inconsciente e recolheu o animal. Caminharam por uns minutos para fora da cidade até entrarem em um pequeno bosque de árvores frutíferas, o bruxo colheu duas maças para Plotka e uma para si. Por fim, se deitou na sombra da árvore e se permitiu descansar.
 

Em geral, não gostava de dormir. Era um dos raros momentos em que se sentia um pouco vulnerável. E os pesadelos eram tão reais, tão frequentes. Por isso, preferia dormir em intervalos, normalmente de 2 horas durante o dia e 2 horas à noite. Parecia ser o suficiente para repousar seu corpo para as horas seguintes, como escolheu fazer agora.
 

Em algum lugar da sua mente, ele está em uma cabana pequena, empoeirada. Há um silêncio mortal, não comum para uma morada no meio de uma floresta. Ele tenta alcançar a porta mas é surpreendido por uma mão tocando seu ombro. Instintivamente dá um sobressalto.
 

Assim que abre os olhos, percebe estar cercado. Há uma dúzia de figuras encapuzadas formando um círculo ao seu redor. Geralt aperta os dentes e puxa a faca de sua cintura.
 

— Não precisamos tomar ações desesperadas! — Um mago com um arranhão cicatrizado em um dos olhos surge, erguendo as mãos.
 

— Tsarikz — Geralt reconhece o mago e cospe no chão em sinal de desprezo — Eu já estava indo até você.
 

— Eu não quis atrapalhar seu sono — com um aceno de mão Tsarikz dispersa suas "sombras" — Mas, enquanto você estava ocupado na floresta, o resto do mundo estava em conflito.
 

— E quando deixou de estar?
 

Tsarikz era um mago antigo, obcecado pelo poder e um dos únicos realmente devotos da natureza, toda a sua magia tinha raízes naturais. E por extrair seu poder dessa forma, ele sempre estudou sobre ervas, animais e solos. Tornando seu poder tão extenso quanto a própria natureza.
 

— Aconteceu uma coisa, Lobo — O mago se ajoelhou — Você pode sentir no ar. Podemos sentir a magia na atmosfera, o caos nos cegando.
 

— Paciência para enigmas nunca foi meu forte.
 

O mago analisa suas feições, pensativo.
 

— Verdade. Então vou te mostrar.
 

Uma névoa preta toma conta dos olhos de Geralt, lançando-o para outro lugar, em espírito. Como se estivesse de um lugar muito alto, ele consegue ver Aretuza. A torre alta, implacável, que por muitos anos foi a fortaleza dos novos feiticeiros. Era como uma escola de magia, onde poderiam aprender a controlar seus dons ou desenvolve-los. 
 

Daquele lugar alto, ele vê uma grande explosão de fogo, as paredes do lugar voam longe, suas pedras caem no mar, o chão se racha e as estátuas se quebram. O fogo se alastra para o que sobrou da construção e incendeia as árvores ao redor. É possível ouvir diversos gritos e pessoas correndo para fora.
 

De volta ao seu corpo físico, Geralt pisca algumas vezes retomando sua visão.
 

— O que foi isso? — Como alguém destruiria Aretuza? Há magia até em suas paredes.
 

— Alguma coisa fugiu de Aretuza, uma feiticeira pelos boatos. Os Reis entrarão em guerra por sua cabeça. Seu poder é vasto, é como ter um dragão como aliado. O exército que a tiver, governará o mundo.
 

— Pelo o que parece, ela não aceitou colaborar. —  Geralt se levanta e revira sua bolsa a procura do veneno de Aracna. Assim que o encontra, o lança na mão do mago.
 

— E é por isso que estou aqui — Tsarikz faz o veneno sumir e se aproxima de Geralt, que ergue uma sobrancelha — Você consegue captura-la. O Rei está oferecendo 5 mil moedas por ela! 
 

O bruxo recebia cerca de 100 à 200 moedas por trabalho, dependendo do seu nível de dificuldade. 5 mil moedas é mais do que recebia em um ano.
 

— O que adianta receber 5 mil moedas se não viver o bastante para usa-las? Uma feiticeira de fogo que derrubou metade de Aretuza não é coisa boa, eu me dou melhor com trabalhos como este. 
 

— Algumas feiticeiras estão atrás dela, é como uma corrida ao prêmio. Esse valor irá subir em breve. 
 

— Por que está tão interessado? — Geralt cruza os braços.
 

— Porque podemos fazer um acordo. Não é somente dinheiro que o Rei oferece. Também há um favor real, onde a pessoa favorecida poderá solicitar qualquer título ou propriedade como recompensa. Eu quero a Torre Lytra de volta.
 

Tsarikz é um dos magos antigos que governavam a Torre Lytra, uma das primeiras construções feitas inteiramente para conter magia. Depois da grande Guerra, o governo tomou a torre e a mantém como um dos postos de segurança mais importantes do reino. Mas, ele nunca abandonou a ideia de tê-la novamente.
 

— E você veio até mim porque...
 

— Porque você é a melhor chance que temos! Já te vi matar mais de um monstro ao mesmo tempo, já te dei prazo de uma semana e você retornou em dois dias! — O mago lança um saquinho de moedas referente ao pagamento do trabalho mais recente — Isso não é nada, comparado ao que você poderá ter. Eu consigo rastrear a feiticeira, te dou um elixir para conter seus poderes, é dinheiro fácil.
 

— Não existe dinheiro fácil — O bruxo guarda as moedas — E aquilo que eu vi... É muito poder.
 

— E imagina esse poder nas mãos erradas! Quantos reinos do continente querem uma nova guerra contra Nilfgaard? 
 

Nilfgaard é o reino mais poderoso do continente, com um exército rígido e riquezas incontáveis. Seu novo imperador, Emhyr var Emreis, tomou o poder usando suas táticas de guerra e crueldade excepcionalmente incurável. Seu maior objetivo parece ser o poder, e com ele governar todos os reinos do continente, unificando-os em um só. 
 

— Emhyr governando tudo parece uma boa ideia para você? —  Geralt indaga 
 

— Não é o ideal, mas há pessoas piores no continente, e você sabe disso.
 

O bruxo pensa por alguns segundos. De fato, é um valor que nunca teve em mãos. De fato, se a feiticeira decide se aliar a outros e reivindicar Nilfgaard, milhares de inocentes irão morrer. De fato, matar ela seria a decisão mais consciente, impedindo qualquer governante de ter mais poder do que pode controlar.
 

— Onde ela está agora? 
 

Tsarikz sorri.
 

— Sabia que iria tomar a decisão correta — O mago move as mãos com delicadeza, um círculo dourado se abre entre os dois homens, relevando uma silhueta feminina com uma capa vermelha correndo, de costas para eles, o calor deixa a imagem desfocada — Ela está no deserto de Korath.
 

O deserto de Korath, também conhecido por "frigideira" e "forno dos deuses", é uma extensão de terra tão grande e tão quente que nunca pôde ser explorada. A extensão de suas terras é desconhecida, pois nenhum grupo voltou de lá.
 

— Impossível sobreviver nesse lugar por mais de um dia, ela já está morta. — Geralt designa, ele já esteve no deserto antes, não encontrou nenhuma forma de vida e no terceiro dia ele já estava alucinando pelo calor
 

— Ela está viva, de alguma forma. O calor é uma extensão do seu poder, desde que fugiu, todo o mundo parece estar em chamas. A magia dela vem do Sol.
 

— Já viu algo assim antes?
 

O mago respira fundo.
 

— Nunca.


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