A Garota que Eu Conheci na Igreja escrita por Binishiusu Sensei


Capítulo 6
Ensino Médio




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Não entendo, eu acabei de ficar bastante alterada, eu costumo ser mais tranquila. Claro, eu não costumo abraçar… Na verdade eu nunca abraço, mas era a Yumi, minha melhor amiga. Um abraço é uma coisa simples, não tem motivo pra ficar alterada com isso. Nunca vi uma garota ficar nervosa porque ganhou um abraço da amiga, isso é algo comum.

Eu sei que é normal as pessoas ficarem nervosas quando estão perto de alguém que é muito bonito, minhas colegas ficam loucas perto dos garotos mais velhos, mas Yumi é uma garota… E é minha melhor amiga, eu acho ela bonita, mas eu já devia estar acostumada com a aparência dela. Estranho, eu costumo ser muito boa em analisar as outras pessoas, mas parece que não consigo me analisar, isso deveria ser mais fácil.

Não gosto disso, de não entender o que estou sentindo. Será que a Yumi percebeu que eu fiquei nervosa? Pelo que eu percebi ela estava só contente com o desenho, tanto que ela me abraçou e me deu beijo na bochecha. Bom, acho que ela não percebeu, então não vale a pena ficar pensando nisso, melhor ir assistir o culto com ela, quero ficar perto dela.

*** 

Depois desse dia, Sara nunca mais comentou sobre aquele desenho com Yumi, também nunca comentou ter se sentido estranha com abraço, decidiu esquecer aquilo. Poucas semanas depois daquele sábado, tanto Sara quanto Yumi entraram de férias, as duas tinham concluído o nono ano do fundamental dois e iriam começar o ensino médio.

Até esse momento da vida escolar elas estudavam em escolas diferentes. Enquanto Yumi tinha estudado a vida toda numa escola particular, Sara tinha apenas estudado em escolas públicas. Ela tinha feito o fundamental um na Escola Archelau de Almeida Torres, e o fundamental dois na Escola Municipal Irmã Elizabeth Werka, essa era a maior escola pública de fundamental dois em Araucária.

Por ter estudado apenas em escolas públicas, o caminho natural para Sara seria sair do Werka e ir estudar no Colégio Estadual Júlio Szymanski, que era o colégio para onde os alunos graduados no Werka geralmente iam. Não foi o que aconteceu, quando seus pais foram fazer a matrícula de Sara no ensino médio, matricularam-la no mesmo colégio onde Yumi estudava.

Era um colégio peculiar, ele era fundado e pago pela mesma denominação religiosa que Yumi e Sara eram parte. Sim, o colégio que as duas estudavam era “propriedade” da igreja que elas frequentavam. Isso significa que elas teriam no currículo escolar uma matéria chamada ensino religioso, onde era ensinado o mesmo que na escola sabatina. Quem ministrava essa matéria era um pastor daquela denominação religiosa, e a disciplina era obrigatória para todos os alunos do colégio.

A mensalidade do colégio era cara, mas o pai de Sara tinha conseguido uma bolsa pra ela, então seria possível pra família dela arcar com esse custo. Rodrigo estava feliz por ter a filha estudando no colégio da sua igreja, ele acreditava que isso traria mais status para ele dentro da igreja, não estava errado quanto a isso. Ele sabia que Yumi estudava ali também, então pra ele, se Yuji tinha dinheiro para colocar a filha ali, ele também tinha que ter.

Sara estava ciente dessa motivação que o pai dela tinha, mas não se importou. Não estava preocupada com o pai, ela estava ocupada sentindo felicidade porque iria se encontrar com Yumi todos os dias. Ela pensou bastante nisso durante as férias, pela primeira vez sentiu empolgação em ir para as escola.

As aulas começaram. Sara foi ao colégio andando de manhã. A aula começava às sete e quinze. Ela estava vestindo o uniforme completo, conforme pedia o código de ética do colégio, o uniforme era azul. Também estava com todos os livros didáticos na sua mochila. Chegou faltando dez minutos para a aula começar, então tudo estava indo conforme o planejado. Entrou no colégio e prestou atenção em todas as pessoas que viu. Logo encontrou sua sala, a única turma de primeiro ano de ensino médio que havia no colégio.

Havia apenas uma turma do primeiro ano do ensino médio porque esse era o primeiro ano que o colégio tinha se tornado um colégio. Até o ano anterior, era uma escola, com ciclo educacional disponível era até o nono ano do ensino fundamental. Sara e Yumi entraram no ensino médio exatamente no mesmo ano em que ele foi disponibilizado.

Sara entrou na sala e imediatamente foi procurar por Yumi, que era ainda mais pontual do que ela. Olhou pela sala e viu um rosto conhecido, era Jéssica, uma outra garota da igreja que tocava piano, mas que não era tão boa quanto Yumi. Procurou mais um pouco e viu a amiga. Ela acenou e foi se sentar perto dela. Oi, ainda bem que deu certo, eu pensei que iria pro Szymanski. 

— Oi, que bom que finalmente deu certo de estudarmos juntas, assim vamos poder conversar mais - disse Yumi sorrindo de forma simpática.

— Sim, com certeza… Você também vai voltar pra casa andando? Ou seu pai ainda não deixou?

— Agora ele vai deixar. Minha mãe convenceu ele, já está passou da hora dele deixar eu andar na rua em paz, ele tava me fazendo parecer uma menininha de onze anos - Yumi disse isso rindo, mas era uma risada nervosa.

— É, nunca entendi essa super proteção dele. Meu pai já não gostava de me levar pra escola quando eu era criança, desde o sexto ano ele já me fazia andar, até quando chovia. 

— Verdade, você sempre reclama quando chove e o seu pai não vai te buscar. 

— Ele é assim, que raiva - disse Sara num tom descontraído. 

— Você viu que a Jéssica tá aqui? - perguntou Yumi baixinho.

— Sim, o que é que tem?

— Ela fica olhando pra mim, como se estivesse brava. 

— É porque você toca melhor do que ela… Ela é invejosa.

— Credo, tem certeza?

— Sim, essa é a minha percepção dela. É melhor evitarmos conversar com ela, minha intuição acha ela pouco confiável.

— Tá bom, se você acha…

Elas continuaram a conversa até a aula começar. Mesmo tendo vontade de continuar, as duas ficaram em silêncio durante a aula. Yumi era muito estudiosa, seu pai exigia isso dela, então Sara não queria ser uma “má influência” para  a amiga e atrapalhar sua atenção nas aulas. Elas assistiram às aulas com muita atenção, conversaram na hora do intervalo e voltaram para casa juntas. Elas se separaram numa parte do caminho, a casa de Sara ficava mais ou menos um quilômetro de distância da casa de Yumi, mas podiam conversar um pouco na volta para casa.

O primeiro dia no ensino médio tinha sido agradável, assim como o restante da primeira semana. Nas semanas seguintes, os conteúdos já estavam sendo estudados normalmente, as aulas tranquilas de boas vindas já tinham passado. Sara tinha o hábito de desenhar durante as aulas, mas precisou renunciar desse hábito quando não estava assistindo às aulas de Arte. Ela descobriu ser impossível entender física, química ou matemática enquanto desenhava, então como ela não queria tirar notas baixas estando perto de Yumi, decidiu realmente se concentrar nas aulas.

O colégio era financiado por uma denominação religiosa, por isso ele tinha outras unidades que eram parte dessa mesma rede educacional. Apesar de ser um “colégio de igreja”, o ensino tinha bastante qualidade, eles tinham livros didáticos exclusivos e a média deles era sete. Isso já era mais exigente do que a escola pública que Sara estudava, e ela estava se dedicando, queria ser uma boa aluna igual Yumi.

Quando o primeiro bimestre acabou, o esforço se mostrou recompensador, a nota mais baixa de Sara tinha sido um oito, em física. A nota mais baixa de Yumi tinha sido um nove e meio, em química. Até aqui tudo estava indo bem para Sara, ela gostaria de ter tirado notas um pouco mais altas, mas já podia ser considerada uma das melhores alunas da turma. As únicas que tinham tido um desempenho melhor do que ela, tinham sido Yumi e Jéssica. As notas de Yumi foram as melhores da turma, Jéssica estava logo atrás, depois vinha Sara e o restante da turma. As piores notas eram as dos garotos que sentavam no fundo da sala. Um dia Yumi disse para Sara que achava eles um bando de bocós.

Um mês depois, quando já estavam na metade do segundo bimestre e se aproximando das férias do meio do ano, Sara e Yumi estavam voltando para casa numa quarta-feira, quando Yumi disse:

— Sara, você pode vir na minha casa hoje depois do almoço? - disse Yumi um pouco tímida.

— Claro que sim, - respondeu Sara alegre - vai ser a primeira vez que eu te visito, a gente só se vê na escola e na igreja.

— Tá bom, obrigada…

— Mas, o que você quer fazer? É pra estudarmos juntas? O seu cronograma de estudos é bem rígido, não quero te atrapalhar.

— Isso, é para estudarmos. Mas a gente consegue um tempinho para conversar também. 

— Ok então, eu vou pra sua casa depois do almoço, seus pai vão estar trabalhando né?

— Isso, eles só vão voltar depois das seis. 

— Tá bom então, combinado.

Sara foi para a casa de Yumi como tinham combinado. Levou sua mochila e apareceu no portão da casa da amiga por volta das duas e meia da tarde. Quando chegou perguntou se tinha demorado muito, Yumi disse que não, e então a recebeu. Tudo parecia muito limpo e organizado na casa de Yumi, Sara reparou nisso assim que entrou.

Yumi a chamou para estudar no seu quarto. O quarto de Yumi não era muito grande, mas também era limpo e organizado. Nem a cama e nem o armário eram muito grandes. Yumi também tinha uma escrivaninha e tinha um piano digital ao lado dela. Elas se sentaram no chão, que era razoavelmente confortável por causa do carpete e começaram a jornada de estudos.

Estudaram por mais de duas horas. Conseguiram concluir várias tarefas de casa e ficaram confortáveis enquanto conversavam, estava tudo normal. Quando já eram quase cinco e meia, Sara declarou que já teria que ir para casa, só iria ficar ali mais um pouco, ela ainda queria ficar mais pouco com Yumi. Continuaram a conversa, mas então, de súbito, como se precisasse fazer algo importante, Yumi ficou em silêncio, pensando. Sara perguntou:

— O que foi? Tá tudo certo?

— Sim, é que… Você já vai sair, e eu quero muito fazer uma coisa agora… Eu preciso fazer. - Yumi disse isso com mais timidez do que o normal, e estava ficando com as bochechas vermelhas gradualmente.

— Tá bom - respondeu Sara achando aquilo esquisito - você quer ajuda? O que você precisa fazer?

— Eu… Ah… - Yumi travou por um momento, agora ela já estava bem vermelha, e continuou - Eu vou fazer uma coisa agora, uma coisa em você, tá bom? - ela tremeu a voz no final da frase.

— Como assim? - perguntou Sara.

— Eu não consigo falar, tô com vergonha, só por favor… Confia em mim e não fica brava. E não fala pra ninguém que eu fiz isso. Pode ser? Você confia em mim  mesmo sem eu contar o que vou fazer, né?

— Confio, seja lá o que for, não vou falar pra ninguém - Sara estava achando estranho, mas confiava totalmente em Yumi.

— Obrigada -  respondeu Yumi, parecendo estar um pouco aliviada.

As duas estavam sentadas no carpete, os livros e cadernos estavam entre as duas. Yumi saiu de onde estava e se sentou ao lado de Sara. Ela não disse mais nenhuma palavra, estava vermelha e começando a ficar ofegante. Ela olhou para Sara nos olhos, desviou o olhar, olhou mais uma vez e se aproximou do rosto dela.

Agora era Sara quem estava ficando nervosa. Yumi estava muito perto, Sara olhou para o rosto da amiga e pensou - tão linda -. Foi quando ela sentiu aquele mesmo sentimento de euforia de quando Yumi a tinha abraçado. Sara analisou Yumi, não entendeu o que a amiga estava fazendo, porque de acordo com a linguagem corporal dela, era como se ela estivesse prestes a beijá-la - não pode ser isso - pensou ela, quando Yumi tocou o seu rosto com a ponta dos dedos.

Sara sentiu os dedos de Yumi afagarem o seu rosto. Ela sentiu que tinha ficado com as bochechas quentes, e seu coração estava muito acelerado, era quase como se ele estivesse doendo. Depois disso, a mão de Yumi correu para a nuca de Sara. Ela não conseguia pensar em nada naquele momento, ela sentiu uma expectativa gigantesca que precisava ser sanada nos próximos segundos. Ela olhou para Yumi e pensou mais uma vez - ela é linda. Foi quando ela viu o último movimento da amiga. Yumi se aproximou, agarrando-a pela nuca, e a beijou. 


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