A Garota que Eu Conheci na Igreja escrita por Binishiusu Sensei


Capítulo 40
Desbravadores




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805065/chapter/40

Era o domingo de manhã da primeira semana do mês de agosto e por isso, Sara estava cumprindo o seu compromisso de participar da reunião do Clube de Desbravadores, que acontecia regularmente na sua igreja. Como o seu cronograma determinava, Sara tinha acordado às sete e meia da manhã, para estar lá às oito e vinte, com dez minutos de antecedência para a reunião do clube. Porém, apesar de estar seguindo a rotina de sempre, aquele não era um domingo normal. Sara estava ansiosa porque no dia anterior tinha feito a sua inscrição no vestibular da Unespar.  

No caminho para a igreja, quando estava indo pra reunião do clube, pensou - eu fiz o plano do vestibular em dezembro do ano passado. A Yumi está estudando pro THE do vestibular desde março com a professora nova dela, mas eu ainda não consegui pensar em uma forma de trazer ela aqui no dia da prova. É frustrante, porque todas as possibilidades que me vieram na cabeça são idiotas e não funcionam no mundo real. Claro, não tem como ela fugir do internato no domingo de manhã e vir pra cá de ônibus pra fazer a prova de tarde… Não sei como vamos resolver isso. Pelo menos eu ainda tenho até o dia três de outubro pra fazer a inscrição dela, então ainda temos três meses… Mas mesmo assim não tem garantia nenhuma de que vá funcionar. Na verdade, tudo indica que não vai e eu não estou sabendo lidar com isso. 

Seus pensamentos sobre isso ficaram menos contínuos e pessimistas quando finalmente chegou à igreja e foi recebida por outros dois desbravadores que estavam esperando do lado de fora, ao lado do portão que ainda estava fechado. A igreja que Sara frequentava era no centro de Araucária e ela tinha dois portões, um na parte da frente, que dava acesso ao local onde aconteciam os cultos, e outro na parte de trás, onde era a entrada pras salas de aula, o pátio e os banheiros. Sara comprimentou os dois desbravadores, que eram dois garotos com idade de ensino médio, e ficou esperando com eles até o horário da reunião. 

Pouco mais de vinte minutos depois, Gerson, o diretor do clube, chegou. Já fazia pouco mais de um ano que Sara participava do clube e era obrigada a conviver com Gerson todas as manhãs de domingo. Desde que Sara começou a conviver com ele, lhe pareceu que ele tinha ficado bem mais musculoso do que era antes, porém, sua calvície parecia ter acompanhado a evolução dos músculos e agora Gerson era praticamente obrigado a ter o cabelo raspado. Porém, ele parecia não se importar com a perda de cabelo, ou ao menos disfarçava isso bem.

O diretor do clube, como era de costume, havia chegado no fundo da igreja dirigindo sua moto. Ele estava com uma calça jeans, uma jaqueta de couro preto e o lenço laranja claro do clube amarrado no pescoço. Sara prestou atenção na sua aparência e um pensamento que já tinha tido antes voltou a sua mente - ele usa anabolizantes, ele não é forte assim só por causa da academia. A diferença na aparência dele é muito gritante pra um ano, não tem como… Talvez a calvície seja por causa da testosterona. É, ninguém vai conseguir me convencer de que esse não é o caso, só pode ser isso.

Gerson deu bom dia para todos os integrantes do clube que já estavam ali e simplesmente não mencionou o fato de que ele mesmo tinha se atrasado. Naquele momento, já estavam presentes mais doze pessoas. Dentre elas, duas eram garotas na faixa dos vinte, que participavam do clube desde criança e por isso, agora ajudavam a manter o clube funcionando. Como de costume, foi o diretor que abriu o portão da igreja e deu início a reunião. Eles começaram reunindo todos no pátio, organizando-os em filas de meninos e meninas para dar início ao juramento dos desbravadores. Feito o juramento, eles cantavam o hino dos desbravadores e terminavam aquele momento com uma oração, que naquele dia foi feita por uma das garotas que ajudavam o Gerson a administrar o clube. 

Sara não tinha nada contra aquele momento, mas também não tinha nada a favor. O padrão, era que ela não se sentisse muito envolvida com aquela “formalidade” que acontecia no começo da reunião. Na sequência, todos foram para uma das salas que estavam no fundo da igreja. Ninguém ali sabia, mas aquela era a sala onde havia acontecido a reunião em que ela tinha sido separada da Yumi. Agora, estavam ali para assistir a mais um módulo do curso bíblico que estavam fazendo há dois meses.

No que terminaram a aula, foram de volta para o pátio, dessa vez para fazer atividades práticas. Gerson usou aquele momento da reunião para eles praticarem ordem unida, marchando conforme os comandos dele e respeitando quando ele usava o apito. Sara gostava um pouco mais da ordem unida, ajudava ela a refrescar seus pensamentos. Não que atividades físicas praticadas por militares fossem divertidas para Sara, mas ela gostava de andar sozinha quando estava na rua, então pra ela, a ordem unida era uma espécie de caminhada um pouco mais dinâmica. 

Quando terminaram a ordem unida, tiveram uma espécie de intervalo, onde os desbravadores tinham tempo para conversar com seus superiores e tratar de assuntos sobre suas unidades e como estava o seu desenvolvimento para ganhar as especialidades de desbravador. As especialidades que os desbravadores faziam, depois de estudar e passar em algum tipo de prova, rendiam um broche na faixa do traje de gala que eles usavam. Alguns deles eram bem envolvidos em conseguir mais especialidades e evoluir ali dentro, assim como era no exército, mas a maioria não levava a proposta a sério. 

Assim que terminaram esse momento, Gerson colocou todos numa atividade para praticar habilidade de atar e desatar nós. Essa atividade Sara realmente não gostava. Não era por falta de coordenação motora para fazer nós, era porque simplesmente não gostava e achava perda de tempo, além de achar aquilo meio militar demais. Foi quando estava atando o terceiro nó daquele dia que pensou - talvez eu devesse repensar se realmente gosto de ordem unida ou se eu só gosto de andar mesmo… Bom, acho que não preciso repensar, a resposta pra isso é meio óbvia. Não sou e nunca foi uma pessoa do tipo que gosta de coisas militares. Mas gosto de quando estou andando na rua, preocupada com os meus próprios pensamentos. 

Sara continuou divagando em pensamentos até o fim da atividade que estavam fazendo. Quando aquilo terminou, ela se sentiu aliviada, porque além de poder voltar pra casa, teria o tempo da caminhada de volta para ficar sozinha e conversar consigo mesma nos próprios pensamentos. Foi então que a reunião se deu por encerrada e que o diretor do clube fez uma última oração, antes de se despedir dos desbravadores. No que isso aconteceu, Sara foi logo na direção do portão, porque obviamente ela não estava no clima para ficar socializando com o restante das outras pessoas. Ela estava quase saindo, quando ouviu a voz do Gerson dizendo:

— Sara, hoje é a sua vez de me ajudar a guardar as coisas das atividades de hoje e organizar o nosso almoxarifado.  

— Ah… - Começou Sara, tentando formular uma resposta, depois de ter sido pega desprevenida. - Eu tenho que voltar pra casa, tem coisas do colégio e do curso que eu preciso terminar ainda hoje… - Disse, enquanto fazia uma expressão facial de quem está implorando para não ser incomodado por algo inconveniente.

— Semana passada você já me disse isso e na semana anterior também - respondeu Gerson na mesma hora, sem pestanejar.

— É que… Eu tenho muitas coisas pra fazer, sabe? Os meus domingos são bem corridos - respondeu ela.

— Sara, seu pai te colocou no clube pra você participar de todas as atividades e uma das coisas que você precisa fazer aqui é ajudar a organizar as nossas coisas depois das atividades. Venha ajudar, semana que vem eu peço ajuda pra outra pessoa, mas hoje é a sua vez, entendeu? - Disse Gerson, num tom de voz que demonstrava que ele não iria parar de insistir.

— Tá bom, eu vou ajudar - respondeu Sara, que logo foi até o diretor do clube e o ajudou a guardar todas as cordas que os membros do clube tinham usado para a atividade. 

Enquanto isso, os outros membros do clube não demoraram para sair da igreja. Alguns já estavam à espera da carona dos pais, enquanto o restante já ia de volta pra casa sem estarem acompanhados por adultos. Depois de recolher as cordas e colocá-las numa caixa de plástico, Sara e Gerson recolheram as cadeiras que todos ali tinham utilizado e as guardam na sala onde as tinham pegado. Feito isso, levaram a caixa com cordas até o almoxarifado, que estava bagunçado e empoeirado.

— Então agora a gente faz o que? - perguntou Sara, olhando descontente para a bagunça. - Aliás, como que o almoxarifado ficou desse jeito se toda semana você traz alguém pra te ajudar a limpar.

Gerson não respondeu de imediato. Num primeiro momento ele apenas olhou para Sara com uma expressão que ela não conseguiu ler o significado. Ele manteve o contato visual com Sara por mais alguns segundos, até que finalmente desviou o olhar para o lado e respondeu:

— O pessoal dos outros ministérios da igreja também usa o nosso espaço para as coisas deles… Acho que mexeram aqui pra pegar as mesas que eles usaram na santa ceia de ontem.

— Entendi… - disse Sara, sem saber o que pensar daquele momento que tinha sido particularmente esquisito. - O senhor quer que eu comece por onde?

— Só coloque as coisas no seu devido lugar na estante. Eles deixaram tudo virado, mas as coisas estavam organizadas antes, então é só você olhar onde vai cada coisa e guardar de um jeito decente - respondeu ele, refazendo o contato visual com Sara.

— Tá bom então, vou terminar isso rápido - disse Sara, que não estava afim de ficar demorando ali, com aquele homem que ela não percebia como uma pessoa confiável desde que começou a frequentar o clube.

— Eu vou ver se os outros já saíram da igreja e daí vou fechar o portão, não quero que fique entrando gente estranha aqui na igreja…. Ah, e eu já vou voltar com algumas coisas pra ajudar com a limpeza. Organiza tudo, porque depois a gente vai passar um paninho e varrer o chão, eu preciso desse espaço limpo - disse Gerson, dessa vez sem manter contato visual com Sara e saindo do almoxarifado logo na sequência. 

O almoxarifado ficava no final do corredor com as salinhas da igreja. Ele ficava afastado do pátio, dos banheiros e da sala onde ficavam guardados os materiais de limpeza. Sara estava ali sozinha e um tanto isolada, mas pode ouvir quando Gerson deu tchau para os últimos desbravadores que saíram da igreja, antes dele fechar o portão. Ela trabalhou com agilidade para colocar tudo no lugar, mas mesmo assim demorou quase vinte minutos para organizar tudo. Passado esse tempo, Gerson voltou com alguns panos, uma vassoura e um galão de desinfetante.

— Desculpa a demora, eu precisei resolver umas coisas e mandar algumas mensagens… Você termina de limpar a sala pra mim, ok? - disse Gerson, entregando o material de limpeza pra Sara.

— Ah, tá bom… Vou terminar isso logo. Todos já foram embora? - Perguntou Sara, que agora não estava muito contente de estar ali apenas com o Gerson.

— Sim, todos já foram embora, o pai da Letícia buscou ela faz minutos e o Marcos, que tinha ficado conversando com ela, já foi andando pro ponto de ônibus lá de cima - respondeu Gerson, parecendo um tanto agitado.

— Entendi, só sou eu aqui… Vou limpar o almoxarifado rapidinho, quando eu terminar eu posso ir, certo? - Disse Sara, para garantir que o Gerson não iria inventar mais nenhuma tarefa que a fizesse passar mais tempo ali.

— Sim, quando você terminar aqui está liberada. Ah, só preciso resolver mais uma coisa… Já volto pra ver o resultado do seu serviço - disse ele, saindo de imediato da sala. 

Não estou gostando disso - pensou Sara, assim que Gerson saiu de perto dela. - Esse lugar tava completamente bagunçado. Ele não está tão sujo… Mas estava bem bagunçado e não me parece que outra pessoa arrumou isso na semana passada. Ele falou da santa ceia, mas nada do que tem aqui é usado pra santa ceia. Estranho… Melhor terminar isso rápido, não quero ficar aqui por mais tempo e eu não confio nesse homem. 

Nos minutos que se seguiram, Sara varreu o chão, tirou o pó das coisas na prateleira com o pano, mesmo com qualidade da limpeza ficando questionável e por último molhou o pano com desinfetante, o colocou na vassoura e passou pelo chão para melhorar o cheiro do lugar e simular um aspecto de limpeza. Quando terminou de fazer isso, Gerson já estava esperando do lado de fora do almoxarifado para ver se a limpeza tinha ficado boa. 

— Parece que está bom - disse ele, enquanto entrava no almoxarifado. - O chão está bem limpo e as prateleiras estão organizadas.

— Sim, fiz tudo certinho, agora posso ir? - Disse Sara, tentando não tornar aquela conversa mais longa do que precisava ser.

— Deixa eu terminar de ver tudo o que eu preciso ver antes… - Respondeu Gerson, fazendo outra vez aquela expressão que Sara não tinha sido capaz de entender o significado.

— Tá… Como você pode ver, está tudo limpo e arrumado - respondeu Sara, colocando ênfase no final da frase.

— É, do jeitinho que eu gosto - respondeu ele, dessa vez olhando para Sara de cima a baixo.  

Nesse momento, o sinal de alerta na mente de Sara tocou e ela percebeu que era necessário sair daquele cubículo, sentiu que não estava segura e ficou genuinamente preocupada.

— Diretor, com licença, eu estou indo pra casa - disse Sara, que foi andando até direção da porta, sem olhar para o Gerson. 

Ele estava entre ela e a porta, então Sara foi passar do seu lado para poder sair. No que ela chegou perto o suficiente, ele a segurou pelo braço e a impediu de continuar.

— Sara, você não vai sair ainda - disse Gerson, num tom cortante e olhando para Sara com uma expressão que a fez sentir medo.

— Me solta… Agora! - Respondeu Sara, que agora estava com o coração disparando e com a respiração acelerada.

— Ainda não - disse ele de novo, agora mais baixo do que antes e olhando para Sara de cima a baixo mais uma vez.

Então, diante do perigo iminente, Sara usou toda a força que seu corpo era capaz de produzir para se lançar em direção à porta e sair correndo dali. Ela conseguiu sair alguns centímetros do lugar, antes de ser puxada pelo Gerson para dentro da sala. O homem, que era muito alto que ela, e que também era forte e pesado, fez com que todo o esforço dela parecesse insignificante. Porém, Sara sabia que precisava sair dali e continuou tentando escapar do homem que agora a estava segurando com os dois braços.

Ela se debateu, tentou pular, chutar, mas sua força era insignificante para o Gerson, que nem parecia estar se esforçando para contê-la. Por fim, quando estava nos últimos esforços, com lágrimas escorrendo dos olhos, tentou gritar, mas sua voz não saiu. Tentou mais uma vez, mas não foi capaz de produzir som. Estava apavorada, lutando para escapar e sair correndo dali, mas seu corpo não tinha força e sua voz não saia. O desespero de Sara aumentou e ela continuou a se debater, mas dessa vez ganhou um tapa no rosto como resposta de Gerson.

Ficou desorientada por um segundo, porque a força daquele tapa era muito maior do que a dos tapas que ela já tinha recebido do seu pai. Depois de proferir o tapa, Gerson soltou o braço de Sara por um breve momento, que ela tentou aproveitar para fugir. Infelizmente, não foi rápida o bastante, e depois de mais uma tentativa frustrada de sair correndo, ela foi atirada contra a prateleira. Ela sentiu dor com o impacto, mas parte dele foi absorvido com as barracas que estavam onde ela tinha se batido. Então no mesmo momento, Gerson a segurou pelos dois braços e ficou olhando pra ela, com a mesma expressão de antes.

— Me solta, agora! - Disse Sara, numa tentativa frustrada de fazer daquilo um grito. - Alguém me ajuda! - Disse mais uma vez, com a voz rouca que tinha decidido não sair.

— Não tem ninguém aqui, Sara. Somos só você e eu e você vai fazer o que eu mandar - disse ele, agora com um outro tipo de olhar. 

Sara, apesar de desesperada, não pode deixar de analisar a expressão facial que estava vendo, era um hábito de anos que ela não tinha como desligar. Nisso, percebeu - esse olhar é o de alguém que quer me consumir. Ela está me enxergando igual um viciado olha pra uma dose de droga… Ele quer me consumir, igual uma coisa. Ele quer me usar pra sentir prazer, como se eu não fosse uma pessoa. Eu não quero isso, não quero que ele toque no meu corpo, ele não pode! Ele não tem esse direito, isso é errado, eu não quero deixar! Deus, por favor, eu não consigo fugir daqui, por me ajuda, não deixa ele fazer isso comigo, por favor…

Os pensamentos misturados com orações foram interrompidos quando Sara sentiu a mão esquerda de Gerson começar a puxar sua calça jeans para baixo. Mais uma vez ela tentou se debater, mas não tinha força pra escapar. Outra vez tentou gritar, mas tudo o que saiu foi uma voz rouca, misturada com choro.

— Alguém, por favor, me ajuda! - Disse Sara, chorando e soluçando, na esperança de receber ajuda. - Por favor, não faz isso, por favor me deixa em paz.

Gerson não parou e, em vez disso, terminou de puxar a calça de Sara para baixo do joelho. Nesse momento, ela não conseguiu mais reagir e ficou apenas chorando, na certeza de que estava prestes a viver algo horrível, sem que ninguém pudesse ajudá-la. Então, Gerson colocou a mão na cintura de Sara e segurou a lateral da sua calcinha, antes de dizer no seu ouvido:

— Você nunca vai contar isso pra ninguém, você me entendeu? Se você contar pra alguém eu acabo com a sua vida! Eu vou atrás de você e da pessoa pra quem você contar, não tem nada que você possa fazer agora e nem depois. Para de chorar, fica quieta e pare de resistir, por que vai ser pior você fizer isso - disse Gerson, num tom de voz gélido, de alguém que não sente pena de alguém que está prestes a sofrer muito.

Ao ouvir isso, Sara percebeu - não tem mais nada que eu possa fazer, esse homem vai me estuprar. 

Então, o homem fez o movimento com a mão para puxar a calcinha de Sara e ouviu-se do lado de fora uma voz gritando - Gerson, solta a Sara agora! - Tanto ele quanto a Sara dirigiram o olhar imediatamente para a porta e viram quem tinha acabado de gritar. Assim, que reconheceu a pessoa que tinha chegado, Sara olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas e disse quase que num sussurro - Yuzu, obrigada. 

Yuzu era apenas um pouco mais alta que Yumi, porém, ela também era minúscula perto do homenzarrão que era o Gerson. Entretanto, por ser a mãe da namorada de Sara, era dela que Yumi tinha herdado o olhar mais cortante que uma bela mulher asiática podia ter. Sim, Yuzu era uma mulher baixinha, magra e frágil, mas o seu olhar era capaz de impor mais autoridade e respeito do que todos os músculos de Gerson.

— Você não vai mais encostar um dedo nessa garota - disse Yuzu, mantendo o olhar fulminante.

— Yuzu, fica na sua, você não tem nada com isso, isso não é da sua conta - respondeu Gerson, num de voz que era quase um urro.

— A Sara é importante pra minha filha e a Yumi é a pessoa mais importante do mundo pra mim, então você está errado, o bem-estar dela é da minha conta, então impedir que você encoste nela é algo pessoal pra mim. Gerson, eu já disse, você não encostar mais nenhum dedo na Sara! - Disse Yuzu outra vez, mantendo o mesmo olhar firme de antes.

— Vai sobrar pra você, caso você continue aqui - respondeu Gerson, da forma mais ameaçadora que podia.

— Não vai, Gerson - disse Yuzu com tranquilidade.

— O que você acha que vai fazer, Yuzu? Hã? Ninguém vai acreditar em você, você é adulta e sabe como a vida funciona - disse Gerson, agora soando sarcástico e cínico.

— Eu sei bem como a vida funciona… - respondeu Yuzu, ainda com a voz tranquila, mas sem desviar o olhar.

— Ótimo, então você sabe que ninguém vai acreditar no que você viu, eu posso só dizer que a menina tentou me seduzir e eles vão acreditar. Falo que ela tentou me agarrar e que você chegou na hora e me viu numa situação em que eu fui “mal interpretado”. É assim que as pessoas são, Yuzu. Eles vão acreditar em mim, não em você. Se você falar alguma coisa, vão ficar pra sempre falando que a Sara é uma piranha sem vergonha  - respondeu Gerson, agora em tom de deboche.

— Eu sei disso, Gerson… E eu não quero que pensem mal da Sara… Então você não acha que seria péssimo pra você, se hoje eu chegasse em casa e "confessasse” pro meu marido que nós dois temos dormido juntos desde que eu me mudei pra cá? Não acho que a comissão de nomeações iria renovar o seu cargo de diretor do clube, se eles soubessem do seu “caso” com a esposa do primeiro ancião - respondeu Yuzu, dessa vez com a voz de alguém que está tomando uma atitude fria e calculista.

— Que porra é essa de caso com você, Yuzu? A gente nunca dormiu junto e você é velha! Se você contar essa mentira pro seu marido todos vão ficar sabendo e vão te achar uma puta - disse Gerson, que agora não estava entendendo nada.

— Você sabe como as pessoas são, elas adoram ouvir histórias de pessoas casadas que traíram seus parceiros com alguém que todos conheciam. Alguns até vão dizer que “tinham percebido indícios” ou coisas do tipo. Você tem razão, vão me achar uma puta, mas vai ser impossível convencer as pessoas de que você não dormiu comigo e por causa disso, você vai perder seu cargo aqui na igreja e todos da região vão saber da grande fofoca, de que o diretor do clube de desbravadores dormiu com a esposa do primeiro ancião. Gerson, você é igual o Yuji, tudo o que interessa pra você é ficar fazendo joguinhos na igreja. A política na igreja é importante pra você, mas não é pra mim. Eu não ligo com o que as pessoas pensam de mim, mas eu me importo com a Sara. Se você continuar com isso, eu acabo com a sua imagem dentro da igreja, mesmo que isso custe a minha imagem também - disse Yuzu, demonstrando com aquele olhar cortante que ela estava falando mais do que sério.

— Você é uma puta mesmo - disse Gerson, olhando para Yuzu com ódio, enquanto saia do almoxarifado, andando a passos largos.

No que o homem saiu, Yuzu foi até Sara, a ajudou a vestir de volta sua roupa, a abraçou e disse:

— Tá tudo bem Sara, eu vou cuidar de você.

 

///

 

Olá pessoal, obg por terem lido o cap. 40. Demorei muito pra postar pq minha vida estava meio bagunçada, tanto no lado pessoal quanto no estudantil... Mas saibam q eu continuo comprometido em escrever pra vcs. Espero q esse tenha sido um bom cap. para retornar do hiato. A partir de agora, vou me dedicar para a escrita do cap. 41, então até o próximo cap. gente, bjs ♥

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garota que Eu Conheci na Igreja" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.