A Garota que Eu Conheci na Igreja escrita por Binishiusu Sensei


Capítulo 3
A Talentosa Filha do Senhor Yuji




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O dia aguardado tinha chegado, Sara estava ansiosa para chegar logo na igreja, mas seus pais sempre demoravam pra se arrumar e eles só chegavam faltando pouco tempo para o culto começar. Como ela não podia dizer que aquele era um especial e que ela queria chegar cedo, chegou faltando dois minutos para o culto começar. Ela deu uma rápida olhada na igreja e viu Yumi sentada na primeira fila.

Ela se sentou ao lado de Yumi e elas começaram a conversar.

— Oi, você tá bem, vai dar tudo certo?

— Vai dar certo, estou quase tendo colapso nervoso, mas vou conseguir mesmo assim, não vou desistir agora.

— Lembre-se, é só se concentrar no que você está fazendo e esquecer do mundo ao redor.

— Tá bom...

— Quando que você vai tocar?

— Daqui a um minuto, sou eu que vou tocar na primeira música.

— Ah, você já vai pra perto piano então?

— Sim, só tava esperando pra conversar com você antes de começar.

— Entendi, boa sorte, vai dar tudo certo, eu acredito em você!

  Yumi agradeceu, com as bochechas coradas, e se aproximou do piano. Ela estava com o coração acelerado e sentia vontade de fugir. Aquele um minuto antes da primeira música parecia eterno e ela estava com mil pensamentos passando pela sua cabeça. As pessoas já tinham reparado que Yumi estava sentada ao piano, isso chamou a atenção porque ela nunca tinha tocado e porque o piano ficava no lado direito do púlpito, então todos puderam ver que era Yumi a pianista do dia.

  Ela estava sentindo muita tensão, se ela olhasse pra trás antes de começar a tocar estava perdida e visse o rosto das pessoas, ela iria ter um ataque de timidez e não conseguiria tocar. Como estava ciente disso, olhou apenas para o piano e deu o máximo de si para ignorar a plateia. Mesmo assim, ela não pode se esquecer de duas pessoas que estavam lá, seu pai e Sara.

  Ela já tinha contido um pouco da sua timidez e nervosismo, mas conseguia ignorar a expectativa do pai e nem a de Sara sobre aquele momento. Agora, Yumi tinha pouquíssimo tempo para se concentrar, mas ela conseguiu entrar no "modo pianista" quando pensou "a expectativa do meu pai sobre mim é só porque ele queria se mostrar como um pai perfeito aqui na igreja, a de Sara é porque ela se importa comigo. Vou tocar a música porque é isso que eu gosto de fazer, mas vou conseguir porque a Sara acreditou em mim e me apoiou, não farei isso pelo meu pai ou pela família, vou conseguir pela Sara".

  O culto tinha começado e o grupo de louvor subiu para a plataforma para cantar um hino enquanto Yumi tocava, ela deveria começar a tocar a música enquanto eles estavam entrando. A música começou, Yumi tocou totalmente concentrada e não errou nada, mas a parte difícil ainda não tinha chegado.

  Quando a primeira música terminou, Sara já visivelmente eufórica de felicidade pela amiga, enquanto isso Yumi ainda não tinha saído do "modo pianista" e continuava totalmente focada. Ela tocou mais uma música acompanhando o grupo de louvor, em seguida tocou mais duas acompanhando o grupo e o restante da igreja, que cantava em uníssono um hino tradicional. Tudo tinha procedido bem, mas a parte problemática ainda não tinha chegado.

  As músicas terminaram e começou a ser exibido um vídeo no telão da igreja. Esse era um vídeo oficial da igreja da religião de Yumi e Sara, isso significa que ele também estava sendo exibido em todas as outras igrejas daquela denominação, no sábado de manhã. Ele tinha em torno de dez minutos de duração, era uma dramatização de uma história supostamente verídica, em que uma pessoa tinha sido abençoada por Deus. A lição do vídeo, nas entrelinhas, era que se o membro da igreja fosse fiel em devolver os dízimos e as ofertas para a igreja, ele seria abençoado por Deus como o personagem da história.

  No momento em que o vídeo terminou, se iniciou a cerimônia em que os diáconos passavam por todos os bancos da igreja, carregando salvas para coletar o dinheiro dos membros. Um desses diáconos era o pai de Sara. Ele estava com a expressão de alguém que está se sentido um santo, um intermediário entre o céu e a Terra. Sara sentia uma profunda vergonha alheia quando o via com aquela expressão caricata.

  Enquanto a coleta acontecia, o pianista da igreja deveria tocar uma música. Agora o momento complicado tinha chegado, o senhor Yuji tinha pedido para Yumi tocar a música mais difícil que ela conseguisse. Ele deu essa ordem pensando nesse momento do culto, em que apenas o pianista tocava, sem ninguém cantando. Assim, era nesse momento em que era possível reparar em qual pianista era melhor.

  Yumi começou, ela estava concentrada como nunca, estava tocando um hino, mas a forma como ela estava tocando o hino não era a mesma que ela tocaria se estivesse acompanhando pessoas cantando. Ela estava executando uma partitura do hino escrita especialmente para o pianista tocar sozinho, era um arranjo exclusivo para piano, muito mais difícil do que os outros que ela tinha tocado até esse momento do culto.

  Ela estava indo bem, a música estava se desenvolvendo e ficando mais rápida. A quantidade de notas que tocava num único segundo tinha aumentado e agora estava ficando realmente difícil tocar a música. Apesar da dificuldade, Yumi mantinha a mesma expressão facial, ela estava igualmente concentrada e não parecia abalada com a dificuldade do que estava tocando, como se aquilo fosse fácil.

  Como Yuji tinha previsto, a igreja toda estava prestando atenção em Yumi e todos pareciam impressionados. Já que quase todos os quase todos os membros da igreja eram leigos em música, a impressão que eles tinham era de que Yumi estava tocando como uma pianista de música clássica.

  A música já estava quase acabando, e a dificuldade técnica para tocar era impressionante para uma aluna de piano que praticava há apenas dois anos, Yumi estava tendo um desempenho realmente acima da média. Quando ela terminou, todos estavam boquiabertos.

  Sara estava radiante, ela sabia que Yumi era boa, mas como era a primeira vez que tinha assistido a amiga tocar estava muito impactada. Nesse momento, quando olhou para a amiga, teve certeza de uma coisa: Yumi era uma artista. Mesmo a música não sendo tangível, como desenhos, ela era uma linguagem para se expressar. Sara sentia que Yumi estava expressando todas as suas emoções durante aquela música, e por isso acreditava que a amiga tinha feito arte. Ela sentiu muito orgulho de Yumi por causa disso.

  Os diáconos terminaram de recolher o dinheiro pouco tempo depois da música acabar. Yumi, com seu dever cumprido, saiu de perto do piano e voltou para a direção de Sara, ela estava sorrindo e estava com as bochechas avermelhadas. Quando ela estava quase chegando perto da amiga foi interrompida, seu pai a tinha parado e a abraçado na frente de todos, aparentando ser um pai que estava muito orgulhoso pela filha. Nesse momento, ele disse no ouvido de Yumi "agora venha sentar perto de mim e da sua mãe, não se esqueça de sorrir". Ela deu um último olhar para Sara, olhou de volta para o pai, fez um sorriso forçado e o acompanhou.

  Sara analisou muito rápido a linguagem corporal de Yumi e do senhor Yuji, entendeu na hora o que estava acontecendo e sentiu nojo. Aquele era um muito especial para Yumi, mas seu pai simplesmente não se importava com os sentimentos da filha, só se preocupava em aparecer bem para as pessoas.

  Elas não se sentaram juntas depois que o sermão começou e Yumi não tocou a música do final do culto, outra pessoa já estava agendada para tocar essa música, por isso ficou nítido para todos os que estavam presentes, que Yumi era uma pianista melhor do que aquela outra pessoa, uma adolescente chamada Jéssica.

  Quando o culto acabou e todos estavam saindo para a escola sabatina, muitas pessoas pararam no caminho para parabenizar Yumi, e acabavam parabenizando também o senhor Yuji, por ter uma filha tão talentosa. Ele foi cortês com todos os que conversavam com ele, e enquanto cumprimentava as pessoas pensava que a sua jogada de marketing interno tinha funcionado melhor do que o previsto.

  No início da escola sabatina Yumi conseguiu se afastar do pai, foi quando Sara pode conversar com ela, falou baixo apesar de estar empolgada:

— Yumi, parabéns, foi tudo perfeito, você estava linda, parecia uma concertista, você é uma artista!

As bochechas ficaram mais vermelhas do que o normal.

— Muito obrigada Sara, isso significa muito mesmo pra mim!

— Não precisa me agradecer, você sabe que é tudo verdade...

— Eu só consegui porque você me apoiou, vou te agradecer sim.

  Elas foram interrompidas quando uma pessoa desejou parabéns para Yumi enquanto passava por elas. Depois, foram pra escola sabatina e ficaram juntas até a hora de ir pra casa.

— Tchau Yumi, parabéns mais uma vez, você merece.

— Tchau Sara, até o próximo sábado.

  As duas se separaram e cada uma foi até sua família para voltar pra casa. Sara viu o seu pai cumprimentando o senhor Yuji e o parabenizando pela filha talentosa, isso quando estavam no estacionamento da igreja, ele estava sorridente e simpático, igual Yuji. Quando a conversa dos dois acabou, Sara, seu pai e sua mãe entraram no carro e foram para casa.

  Quando já estavam virando a esquina da rua onde moravam, Sara reparou que a expressão sorridente no rosto do pai tinha sido trocada pela expressão de alguém que foi ofendido ou insultado. Com base nisso, ela já podia prever que no momento em que entrassem em casa seu pai iria sair do modo "diácono da igreja" e que de alguma forma ela e a mãe iriam ser maltratadas. Eles chegaram em casa e foram para a cozinha almoçar, e Sara tinha certeza de que essa seria uma refeição desagradável.


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