A Garota que Eu Conheci na Igreja escrita por Binishiusu Sensei


Capítulo 16
Minhas Férias Sem Você




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— Mesmo?! - Declarou Sara animada. - Ainda bem, nesses últimos dias fiquei com um receio enorme de não ter evoluindo - continuou, visivelmente aliviada, enquanto relaxava os ombros ao terminar a frase.

— Mesmo. Você não percebeu a própria evolução nos últimos dias por que você já assimilou as técnicas que eu ensinei. Por isso que não dá para perceber muita evolução nos seus últimos desenhos, porque eles já estão num nível sofisticado - disse Juliana, que estava de fato satisfeita com os desenhos de Sara.

— Como você já conseguiu assimilar tudo o que eu te passei, - continuou - é o momento ideal para aprender retrato realista. Só tem um porém, essa é a última aula que você vai ter daqui até fevereiro - Juliana finalizou a frase num tom bem menos animador do que antes.

— Aaah... Professora, eu não quero ficar sem aprender nada por todo esse tempo - respondeu Sara.

— Você não vai ficar sem aprender até fevereiro, você só vai diminuir o ritmo de estudos. Vai ser bom, com o tanto que você tem estudado é melhor descansar e aproveitar as férias - respondeu Juliana, tentando parecer mais otimista, numa tentativa pouco bem sucedida de consertar a frase desanimadora de antes.

— Professora, uma das coisas que eu quero fazer para aproveitar minhas férias é justamente aumentar o meu conhecimento sobre desenho realista. É meio o que sobrou para eu fazer... - Sara pensou em Yumi por um momento e continuou - O que a senhora me sugere fazer, para praticar retrato realista durante as férias? Mesmo sem vir aqui no curso - disse Sara, esperando por uma resposta mais animadora.

— Bom, já que é isso que você quer... - A professora parou de falar e buscou um livro grande que estava em sua mochila, na mesa ao lado delas. - Vou te emprestar esse livro. Não vou te dar nenhuma lição de casa como fiz antes, minha sugestão é que você leia o que tiver vontade e pratique se não estiver muito cansada. Qualquer coisa que você praticar eu vou considerar como suficiente para as férias - respondeu Juliana, agora num tom neutro.

— Obrigada, mais alguma sugestão? - perguntou Sara, levantando as sobrancelhas ao final da frase.

— Sim, você já conhece as proporções do rosto humano e tem um excelente domínio de técnica para representar natureza morta, basicamente o que você não sabe é como representar a pele. Então sugiro que você pratique desenhando o busto de estátuas gregas, antes de estudar o retrato realista propriamente dito. Desenhar bustos de estátuas é um treino comum, que pode funcionar como um "meio do caminho" entre o treino de natureza morta e retrato. Entende o que eu quero dizer? - indagou a professora.

— Entendo, faz sentido. Vou fazer isso nas férias e vou ler o livro. Muito obrigada professora. - respondeu Sara, que aproveitou o restante da aula para estudar o livro.

No restante daquela semana, Sara viveu o que era a sua rotina de férias. Dormia durante quase toda a manhã, acordando sempre por volta das dez. Comia algo leve no café e almoçava duas horas depois. Passava de quatro a cinco horas desenhando durante a tarde. Já durante a noite, aproveitava para assistir animes e ler mangás.

Apesar de gostar da própria rotina, Sara estava se sentindo sozinha. A única pessoa com quem gostaria de estar era Yumi e ela estava longe. Como não saia de casa durante a semana, não via ninguém além dos próprios pais, com quem quase não conversava. A exceção era quando ia para a igreja.

No primeiro sábado sem Yumi, Sara foi para a igreja e se sentou no mesmo banco em que costumava se sentar com ela. Quando a música começou, viu que a pianista seria a Jessica. Sara observou sua performance com muita atenção. - Realmente, a Yumi toca muito melhor. A Jessica parece um robô, parece que ela está digitando numa máquina de escrever. Vou precisar ouvir essa menina tocar até fevereiro. - Talvez Jessica nem tocasse tão mal, mas para Sara naquele momento, Yumi era a melhor pianista do mundo, enquanto Jessica era a pior.

Sara seguiu as semanas que se passaram nesse ritmo. Em seus estudos de desenho, seguiu a sugestão da professora, começou desenhando bustos de estátuas. Fez isso na primeira e na segunda semana das férias. Quando essas semanas se passaram, ela fez uma análise crítica dos próprios desenhos - ficaram bons, realmente ficaram bons. Demorei um pouco para conseguir fazer bem a textura da pedra, mas consegui aprender. A professora Juliana tinha razão, acho que agora é a hora de estudar o livro pra valer.

Ok, isso vai dar bastante trabalho. Não é exagero dizer que vai demorar no mínimo as férias inteiras para dominar tudo isso daqui - pensou Sara, enquanto folheava o livro mais uma vez. - Certo, vou começar dividindo os conteúdos, não adianta eu querer incorporar todas essas técnicas de uma vez. Não tem jeito, vou precisar praticar elas separadamente, uma por uma. Só então vai valer a pena tentar desenhar um retrato realista.

Sara começou com a parte teórica, gastou alguns dias apenas para ler e entender o que o livro dizia sobre desenho acadêmico. - Foi chato estudar desenho sem quase não desenhar, mas eu consegui entender os pontos principais, vamos seguir.

Depois, estudou as proporções do rosto humano. Mesmo já conhecendo, achou válido revisar. Partindo disso, estudou a estrutura óssea do crânio e do rosto. - Uau, isso foi mais maçante do que o conteúdo anterior... Ok, próximo.

Conhecendo as proporções do rosto e a estrutura óssea, estudou então a musculatura do rosto e as expressões faciais. - Esse também foi maçante. Mas agora já estou quase chegando na pele, vou conseguir.

Até aqui, Sara já tinha reproduzido vários desenhos esquemáticos do livro, simplesmente para fins de treino. Ainda não tinha conseguido decorar tudo o que tinha estudado, mas sentia que devagar estava aprendendo. O conteúdo seguinte foi sobre como introduzir uma sombra bidimensional no desenho. Dessa vez, ela precisou praticar a técnica, não apenas copiar o que estava no livro. - Ótimo, finalmente está ficando interessante. Essas técnicas de sombra vão servir para os meus outros desenhos também.

O conteúdo seguinte foi maçante de novo, era sobre a física da luz. Mesmo assim, Sara achou utilidade no que estava estudando. Na sequência, treinou a modelagem do desenho, o que seria o suporte para a seguinte etapa, a que ela estava mais ansiosa, a textura. - Finalmente, tudo isso era para eu conseguir aprender isso, uma textura que tornasse o desenho mais realista. Esse vai ser o ponto diferencial para eu desenhar bem a pele.

Essa era a etapa que Sara mais queria praticar. Nela, precisou desenhar com perfeição o cabelo, os pelos, os poros, as rugas e todos os outros detalhes difíceis de se representar no rosto humano. Sara estudou um volume gigantesco de conteúdos, terminando de ler o livro na metade de janeiro. Depois de estudar tudo isso, ela decidiu revisar tudo e treinar várias vezes para conseguir assimilar as técnicas.

***

Todos os que precisam estar ali reunidos compareceram. Dentre eles, o senhor Yuji e o senhor Rodrigo. Era a última semana de janeiro, estavam numa sala um tanto pequena, que ficava no fundo da igreja. Todas as vinte pessoas estavam sentadas em cadeiras, formando um círculo dentro da sala. O pastor estava posicionado no centro da parede, que ficava de frente para a porta, o lugar habitual em que ele ficava durante as comissões da igreja nos últimos 3 anos. Foi ele quem falou primeiro.

— Olá queridos irmãos. Como todos sabem, estamos aqui reunidos hoje para a comissão anual de nomeações para os cargos da igreja. Todos vocês foram voluntários para participar da votação que escolherá quem ocupará cada cargo ao longo deste ano - disse o pastor Alexandre, imbuído de toda a formalidade que era capaz de expressar numa frase.

— Porém, antes de começarmos, gostaria de fazer uma breve fala sobre outro assunto. Estou começando o meu quarto ano de ministério aqui nesta igreja. Como sabem, o normal é que eu receba um chamado para pastorear outra igreja no ano que vem. Sendo assim, essa provavelmente será a última comissão de nomeações que eu irei conduzir com vocês. Por isso, quero começar agradecendo vocês pelo excelente trabalho prestado à igreja nos últimos três anos em que estive aqui - continuou o pastor Alexandre, agora, soando um pouco mais gentil do que formal.

— Bom... Feita essa fala, irei fazer uma oração antes de começarmos a comissão. De joelhos!? - Declarou o pastor, que saiu de sua cadeira e se ajoelhou no chão.

Depois dessa declaração, todos seguiram o exemplo do pastor e se ajoelharam. Yuji foi o mais ligeiro em seguir o pastor. Feita a oração, começaram a comissão. Votaram vários cargos naquele dia, quando já estavam há duas horas reunidos, começou a eleição para escolher os anciões daquele ano. Dentre os voluntários, estavam Yuji e Rodrigo. Havia cinco vagas para o cargo.

— Então... - Começou o pastor - Com o Yuji eleito por mais esse ano, já temos quatro anciões. Rodrigo, você está se voluntariando mais uma vez... Você já foi ancião alguma outra vez?

— Nunca fui ancião pastor... Apenas fui diácono, mas gostaria de me voluntariar mesmo assim para este cargo. Frequento essa igreja desde quando eu era criança. Cresci aqui, por isso, meu desejo é usar minha experiência como membro para servir a igreja - disse Rodrigo, de um forma pomposa e educada, que representava a antítese de como ele falava com a esposa e a filha.

— Se me permite dizer mais uma coisa... - continuou - Digo isso com toda a humildade, mas há outras pessoas aqui que não estão nesta igreja a tanto tempo quanto eu, e mesmo assim já ocuparam o cargo de ancião - disse Rodrigo, que involuntariamente olhou para Yuji , antes de rapidamente olhar de volta para o pastor.

— Essa... é uma observação válida - disse o pastor. - Quem for favorável a Rodrigo, por favor levante a mão.

Quase todas as pessoas presentes levantaram a mão. Yuji, para não votar diferente da maioria, levantou a mão também, quando percebeu que Rodrigo seria eleito.

— Parabéns Rodrigo, nesse ano você será um ancião da igreja.

— Agradeço pela confiança de todos - respondeu Rodrigo.

Finalmente me reconheceram. Finalmente notaram que eu sou a melhor pessoa para esse cargo. Sou o mais cristão aqui, depois do pastor é claro. Foi um absurdo eles terem eleito o Yuji antes de mim... Mas não importa, ele só conseguiu o cargo por causa da boa impressão que a filha causou, depois de tocar piano daquela vez - pensou Rodrigo, antes do pastor se pronunciar mais uma vez.

— Agora, o último cargo que iremos votar hoje será o de primeiro ancião. Vamos escolher um dentre os anciãos já eleitos.

Todos votaram mais uma vez. Rodrigo ficou com menos votos dentre todos os cinco. Yuji foi quem conseguiu o cargo, agora a única pessoa com mais autoridade do que ele ali, era o pastor Alexandre.

— Farei o meu melhor para honrar a confiança que os irmãos depositaram em mim - disse Yuji, contendo um sorriso de satisfação, enquanto um de seus apoiadores começou um pequena onda de aplausos, conforme Yuji tinha combinado com ele para caso fosse eleito - parabéns Yuji, sem dúvida você é a melhor pessoa para essa tarefa importante - disse ele.

Metido, safado, sem vergonha, falso e interesseiro! Você só me atrapalha desde de o dia em que chegou aqui Yuji. Aaahh... Essa vai ser a última vez que você me deixa pra trás, ano que vem o seu cargo vai ser meu - pensou Rodrigo, sentido um profundo desgosto e uma inveja fulminante por Yuji. Enquanto isso, sorria como se estivesse feliz e aplaudia junto com os outros.

Enquanto todos lhe davam parabéns, Yuji pensava - ainda bem que a Yumi virou pianista, eu ganhei muito mais prestígio e influência na comissão depois da primeira apresentação dela. Ficou claro que eu tenho dinheiro para colocar ela para estudar e eles perceberam que eu sou um pai modelo, acreditaram na minha integridade... Já estou com quase o mesmo prestígio que tinha em São Paulo, antes daquela... Situação. Mas não importa, o talento da Yumi foi muito útil para marcar minha posição aqui, continue assim filha.

***

Era o sábado da primeira semana de fevereiro. Sara tinha passado as últimas três semanas praticando as técnicas que tinha visto no livro. Estava ansiosa e animada, mas não era por causa do desenho. Estava animada porque naquela segunda-feira as aulas iriam voltar, então era possível que ela visse Yumi já naquele sábado.

No momento em que entrou na igreja, Sara se afastou de seus pais e foi procurar por Yumi, no banco onde elas sentavam. Seu coração acelerou e ela não pôde conter o próprio sorriso, Yumi tinha voltado. Andou depressa até ela, que sorriu quando a viu. Ela estava sentada e Sara estava de pé na frente dela, quando disse:

— Por favor, vamos lá fora rapidinho, antes do culto começar - disse Sara, contendo um risinho.

— Vamos sim - respondeu Yumi, fazendo aquele olhar meigo de que Sara estava sentindo tanta saudade.

Elas não deram as mãos, apenas foram andando lado a lado, em completo silêncio. Saíram do espaço da igreja onde aconteciam os cultos, e foram para a parte dos fundos, onde ficavam as salas utilizadas para a escola sabatina e as comissões. Foram para perto da sala onde menos pessoas circulavam. Estavam sozinhas, no mesmo lugar onde Sara tinha presenteado Yumi com o desenho.

Sara, antes de dizer qualquer coisa, trouxe Yumi para si num abraço apertado.

— Eu estava com muita saudade de você, que bom que você voltou. Nunca mais quero ficar tanto tempo longe de você - disse Sara, com uma voz aliviada.

— Também estava com muita saudade de você. Ah... porque minha mãe tinha que inventar essa viagem?! Não importa, agora eu só quero ficar com você - disse Yumi, deitando a sua cabeça no ombro de Sara, enquanto ainda estavam abraçadas.

Elas ficaram abraçadas por um momento, até que Yumi se distanciou de Sara e olhou ao redor. Continuavam sozinhas. Nenhuma das duas disse nenhuma palavra, quando Yumi olhou para Sara nos olhos, não houve necessidade de dizer nada. Elas se beijaram, com delicadeza e calma.

Sara sentiu a parte de trás da sua cabeça formigar e sentiu como se tivesse borboletas no estômago. Aquele era um beijo calmo, mas ela estava se sentindo hipersensível depois de passar quase três meses longe de sua namorada. Terminaram aquele beijo sem serem vistas e sem arriscar um segundo.

Ainda estavam abraçadas, quando Sara pensou - eu só tenho um metro e cinquenta de altura, mas a Yumi é ainda mais baixinha do que eu... Não sei o porquê, mas adoro isso quando estamos abraçadas, sinto que eu posso proteger ela do mundo. É muito fofo ela ser tão baixinha, é uma das coisas que eu gosto nela. É... parece que estou melosa hoje, definitivamente ficar longe dela não me faz bem - pensou Sara, antes delas seguirem de volta para a igreja.

Enquanto ainda estavam andando, Sara olhou para Yumi e pensou - ela cortou o cabelo na viagem, esqueci de elogiá-la antes de nos beijarmos... Ficou muito bom. Antes, o comprimento era até a cintura, era repartido ao meio e jogado para trás. Agora, o comprimento está até a metade das costas e ela colocou uma franja. Combinou com o rosto dela... Hum... É, ficou perfeito no rosto dela. Acho que é isso, vou pedir pra ela - pensou Sara, que então declarou:

— Yumi, queria te pedir uma coisa... Você aceita ser a modelo do meu primeiro retrato realista?


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