Doce Criada escrita por BlackCat69


Capítulo 5
Capítulo: encontro




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Naruto só conseguiu adormecer, na metade da madrugada.

Não resistiu ao cansaço e a dor de cabeça.

Sua preocupação se esvaiu, e entrou em profunda inconsciência.

Despertou no horário de almoço, escutando uma conversa.

Primariamente, aguardou sua vista desembaraçar até distinguir o teto de seu quarto.

Secundariamente, devagar virou seu rosto, avistando perto da porta, as duas pessoas que conversavam.

Era o médico conhecido da família, Kabuto Dittman, não podia ser ninguém mais além dele, com aquela cabeleira branca presa em um rabo de cavalo comprido.

Naruto retornou a fechar as pálpebras, mantendo a atenção auditiva sobre a conversa.

— São dois galos pequenos na região posterior da cabeça, mas não são de tamanho preocupante, os brinquedos não pegaram em cheio.

Explicava o médico ao filho mais velho dos Uzumakis.

— Então não é nada grave?

— Aparentemente, não. Por enquanto, posso receitar um remédio para passar no inchaço. Caso a visão do Sr. Uzumaki comece a falhar nos próximos dias, informe-me de imediato.

Vendo a expressão preocupada surgir no jovem, o médico reforçou:

— Mas como eu disse, os galos são pequenos, então acho difícil de o Sr. Uzumaki chegar a perder a visão ou sofrer qualquer outra consequencia grave.

— Entendido, Dr. Dittman.  

— Já que estou aqui, posso aproveitar para ver como anda o progresso da Sra. Miina.

— Seria muito bom, agradeço, Dr. Dittman.

Kabuto se retirou dos aposentos.

Kawaki seria o próximo, todavia ao olhar para a cama, as pálpebras de Naruto jaziam abertas.

O rapaz fechou a porta, e repousou as costas contra ela, cruzando os braços.

Assistiu seu pai se esforçar para se pôr sentado na cama.

Naruto direcionou uma mão, ao próprio rosto.

Estava sem máscara, usava uma para cobrir a parte deformada da face.

— A Sra. Hollingshead não achou necessário avisar a gente porque ela acreditou que fosse um engano da Sra. Hyuuga. Nossa governanta não quis nos incomodar com o que achava se tratar de algo banal.

Kawaki revelou ao pai, a respeito da conversa tida com Shizune, pouco antes do nascer do dia.

O mais velho não tirava a vista de suas mãos repousadas sobre o colo.

— Ela não tem culpa alguma. — Naruto compreendia. — Eu pedirei desculpas a Sra. Hollingshead.

— Não somente a ela. — Kawaki frisou. — Entendes a situação delicada na qual estamos?

O pai fechou os olhos, com força.

O patrão ir escutar a criada atrás da porta, às escondidas? Um escândalo!

Mulheres jovens e descomprometidas, comumente, corriam perigo nas mãos de patrões descarados.

Em poucos casos, algum deles se apiedava quando engravidava alguma criada, a maioria trataria de expulsá-la.

O pior medo para uma criada seria trabalhar temendo passar por alguma situação como esta, pois mesmo se fosse forçada, a família dificilmente a aceitaria. 

A Sra. Hyuuga, naquele exato momento, deveria estar em choque, desesperada.

Naruto não poderia permitir que ela continuasse trabalhando em tormento mental, precisaria assegurá-la de que não era aquele tipo de patrão.

— Transmita o meu pedido de perdão par...

— Não. — Kawaki bateu o pé, firmemente, contra o chão. — O Senhor deve pedir pessoalmente, não permitirei que nenhum criado transmita uma mensagem sua para ela.

As mãos do pai espremeram a coberta, e ele assentiu duas vezes.

— Está bem... peça para meu mordomo me ajudar a me vestir, estarei no escritório, daqui a uma hora.

Kawaki assentiu, e ao abrir a porta, observou, por cima do ombro, a imagem abatida de seu pai.

— Francamente, desde que estamos morando nesta casa, nunca visitou o quarto de seus filhos, mas para escutar a criada...

Deixando a frase incompleta, o rapaz bateu a porta com força, indo embora, apressadamente, enraivecido.

Naruto se mantivera de cabeça baixa.

 

~NH~

 

 

Kabuto acompanhava a babá que carregava a pequena Uzumaki.

Os três se encontravam em um passeio aos arredores de uma das plantações de batata.

E o médico aprovava a comunicação entre as duas.

Embora a menina nada falasse, ela sacudia a cabeça e apontava, fazendo a perolada entender suas respostas.

— Fascinante, Sra. Hyuuga. — Dizia Kabuto. — Nota-se que a Sra. Miina está mais comunicativa gestualmente.

— Ela só era muito sozinha, Dr. Dittman. Precisava de uma companhia mais interativa. — Hinata esfregou seu nariz, no pequeno nariz de Miina.

As mãozinhas da pequena Uzumaki espremeram as bochechas da babá.

— Nesse ritmo, ela desenvolverá a fala como uma criança comum. Recomendarei algumas atividades que possa fazer com ela, que estimule esse desenvolvimento, Sra. Hyuuga.

— Seria muito bom, Dr. Dittman.

Iruka a cavalgue chegou até eles, pedindo licença ao doutor, e avisando a Sra. Hyuuga que o patrão a aguardava no escritório.

As sobrancelhas de Kabuto se sobressaltaram, impressionado que o Sr. Uzumaki quisesse se encontrar pessoalmente com uma criada.

Já visitara a propriedade inúmeras vezes para constatar que o Sr. Uzumaki era bastante recluso.

 

~NH~

 

 

O escritório se avizinhava ao quarto do Sr. Uzumaki.

Quando Naruto se cansava de se manter recluso em seu quarto, mudava-se para um cômodo localizado no mesmo corredor.

Na companhia de Ayame, Kawaki aguardava na frente da porta do escritório.

A perolada apareceu no início do corredor, com Miina no colo.

Encontrava-se um pouco nervosa.

Ao cessar na frente de Kawaki e Ayame, o rapaz a pediu que lhe repassasse a criança.

A irmã dele se agarrou com toda a força no vestido de Hinata.

Preocupada, a azulada questionou:

— Ela não pode ficar comigo, Sr. Kawaki?

— Não, ordem de meu pai. — Com maior força, o rapaz arrancou a menina dos braços da babá. Sério, e sem ligar para o esperneio da criança, avisou: — A Sra. Wittenberg lhe fará companhia, Sra. Hyuuga.

Ele avançou pelo corredor, passando ao lado da perolada.

Dolorosa, Hinata pousara uma mão no peito, assistindo o rapaz se distanciar com a chorosa menina no colo.

Ayame suspirou pesarosa ao assistir a cena, a seguir, concentrou-se na perolada:

— Estás pronta, Sra. Hyuuga?

Após Kawaki sumir com Miina, Hinata respirou fundo e assentiu para a Sra. Wittenberg; e acrescentou em palavras:  

— Lamento por você subir as escadas, Sra. Wittenberg.

— Ainda não é um problema para mim.

Ayame falou, colocando uma mão em sua barriga que mal formava uma curva.

Volveu-se à porta, e fechou a mão, usando as costas dos dedos bateu contra a madeira.

Dois segundos depois, a voz de dentro do escritório permitiu:

— Entrem.

A voz deu um pouco de calafrio na Hyuuga, por se tratar de um timbre muito rouco.

A Sra. Wittenberg empurrou a porta, e foi a primeira a entrar.

Chegando a vez de Hinata, ela adentrou de cabeça baixa, visualizando a tapeçaria vermelho framboesa.

Elevando as feições, descobriu ser da mesma cor do grosso acortinado a cobrir o janelão situado atrás do conjunto de mesa e cadeira.

A atenção da Hyuuga foi desviada, assim que um sujeito saiu do cantinho do escritório.

Em lenteza, ele se locomoveu com sua bengala, até cessar atrás da mesa.

Ele repousou a bengala no móvel maior, e puxou a cadeira para trás, mas não se sentou.

Sua capa comprida e preta cobria-lhe quase tudo, mas Hinata percebeu que ele usava botas e calça curta.

Na mesa, ele espalmou as mãos enluvadas de preto, afastadas uma da outra.

E por meio da abertura da capa, Hinata reparou que ele usava colete marrom, sobre uma camisa cinzenta.

De todos os detalhes, o que mais chamou atenção da Hyuuga foi a meia máscara preta, ela cobria o lado direito da face, e se desviava dos cantos labiais, terminando no queixo.

A peça não tinha abertura para o olho, e cobria toda a orelha.

O lado descoberto do rosto exibia um olho muito azul, três risquinhos deitados em horizontal, sobre a bochecha.

Os beiços eram grossos e ressecados.

O único olho exposto exibia uma íris azulada, a cor dela e o loiro dos cabelos curtos e arrepiados mostravam de onde Menma III herdara algumas de suas características.  

Mesmo com tanta roupa, percebia Hinata o quanto aquele homem era magro.

Ayame não deixou de sentir uma leve emoção ao rever seu patrão, lamentou que ele estivesse com a aparência tão abatida.

E ela não se referia às deformidades escondidas, e sim, à magreza e as dores expressadas no lado visível na face.

Apenas o olhar dele transmitia imensa dolência.

 

Era um homem perseguido pelo luto.

 

— Sentem-se, por favor. — Mantendo-se de pé, Naruto pediu.

Duas cadeiras se dispunham do outro lado da mesa, frontalmente, a ele.

Ayame segurou a mão de Hinata, guiou-a para se acomodarem.

Depois delas, o loiro enfim sentou.

A babá percebeu que ele sentiu dor ao se sentar.

E um momento silencioso se estendeu, enquanto o homem buscava coragem para começar.

O coração dele disparava, como se estivesse correndo.

Apertava os joelhos.

Seu olho passeava sobre os poucos objetos da mesa, incapaz de fitar diretamente qualquer uma das criadas, especialmente, a babá.

— Pe-peço perdão, Sra. Hyuuga. — Enfim, ele iniciou. — Por escutar atrás da porta, do quarto de minha filha. Não era minha intenção assustá-la.

O ar que saía pela boca dele tinha ritmo asmático, o que agoniou Hinata, mas ela soube manter esse incomodo oculto.

Ele prosseguiu:

— Eu encontrei o coelho de pano de minha filha, eu ia deixar ao lado da porta do quarto dela, mas escutei-a rindo. E como faz muito tempo que não fico perto dela... eu quis ouvi-la mais vezes. É gratificante escutar a risada dela, depois de tanto tempo muda.

Podia não ser toda a verdade, mas ao menos aquela parte, sim, era sincera.

Era um prazer imenso saber que Miina se provia de alegria.

Hinata apertou a saia do vestido, questionando-o:

— Senhor, por que não visita sua filha?

Naruto então elevou seu olho azul, e observou as feições delicadas da Hyuuga.

Um frio percorreu a espinha do loiro.

Foi muito diferente do que vê-la pela janela.

Pois quando a observou pela janela no primeiro dia que ela chegou, a criada jazia de costas.

Então era a primeira vez que fitava a face de Hinata.

Era sem dúvidas um rosto belo.

Um nariz fino e comprido; uma serenidade natural no olhar e um boca pequena, rosadinha, cuja região central lembrava um coraçãozinho.

— Perdão pela pergunta, Senhor.

Hinata abaixou a cabeça, achando que ele se incomodara.

Naruto também abaixou o olhar, e compartilhou algo que nem todos os criados sabiam:

— Ano passado, Miina me viu sem máscara, em um momento que eu estava irritado. Eu não gritava com ela, mas ainda sim, meus gritos colaboraram para traumatizá-la, deixando-a muda. Quando a percebi, era tarde demais. Não estou preparado para vê-la pessoalmente.

Ayame colocou a mão sobre os lábios, em lamentação.

— “E qual o motivo para o Senhor não visitar Menma III?”.

Hinata quase soltou a pergunta, todavia, manteve-a presa na mente.

Era prudente não abusar da situação, quem sabe outro dia ele compartilhasse, caso se sentisse à vontade.

E faria de tudo para ele se sentir à vontade com sua presença.

Quis dar o primeiro passo, verbalizando-o:

— Se-Senhor, esse medo, é algo que a Sra. Miina pode esquecer se proporcionar melhores lembranças a ela.

— Talvez, mas ainda não me sinto preparado.

— Nesse caso, se o Senhor quiser, posso ajudá-lo.

— Vou pensar. Por enquanto, contento-me com seu perdão.

— Tem todo, meu Senhor.

Ele alçou o olhar e encontrou o pequeno sorriso naquela boca delicada.

Uma pena que nenhum fio de cabelo saía do toucado da criada, bateu nele a curiosidade em saber como eram as madeixas a emoldurarem aquele rosto.

A cor deles podia ser a mesma das sobrancelhas finas e longas, mas as formas, ah, como ele gostaria muito de descobrir as formas.

Todavia, ficaria somente na sua imaginação, não arranjaria mais problemas.

O patrão permaneceu no escritório após a partida das duas damas, e aos poucos o alívio tomou-lhe.

Com tudo resolvido, as coisas voltariam ao normal.

 

 

~NH~

 

 

 

Kawaki levara a irmã para uma sala, onde se exibia um quadro emoldurado a ouro, a pintura exibia o rosto de uma linda mulher ruiva e cujos olhos mostravam de quem Miina havia herdado a cor dos seus.

— Você foi a que mais puxou a ela, Miina.

A menina observou o quadro e soltou um gemido prolongado e baixo, denunciando um futuro choro.

— Não gosta da nossa mãe?

Miina de repente gritou e então suas lágrimas retornaram a sair.  

Incomodado, Kawaki questionou:

— Você sabe que ela é nossa mãe, não sabe?

Sua pergunta só serviu para desesperar a menina que queria se vê livre de seus braços a qualquer custo.  

Kawaki se retirou daquele cômodo, enquanto a irmã afundou o rosto contra o peito dele, chorando baixinho.

 

Ela diminuiu o choro estando longe do quadro.

 

Hinata já sem a companhia de Ayame seguiu o eco do choro da menina, e ao avistar o filho do patrão, aliviou-se, sorrindo, apressou-se em alcançá-los.

— Eu estou aqui, Sra. Miina.

A menina logo recuou a cabeça do peito do irmão, e se contorceu toda, esticando os bracinhos para a babá.

Kawaki repassou a criança para a Sra. Hyuuga.

— Foi tudo resolvido com meu pai?

— Sim, Sr. Kawaki. — Hinata observou o estado da menina. — Posso me retirar com a Sra. Miina? Preciso limpar o rostinho dela, o nariz escorre muito.

— Pode sim.

A babá então levou a menina.

Miina descansou uma mãozinha e a testa no ombro da babá. 

Kawaki cruzou os braços, assistindo as duas se distanciarem.  

Incomodado, ele andou até a sala de antes, fechou a porta e depois partiu, sua cabeça fervia.

 


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