One-Shot Falling for You escrita por Camí Sander


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Então, essa história é baseada no primeiro combo que me foi dado e na lenda de Akai Ito. Uma lenda asiática que deu base à promessa de dedinho. Espero que goste!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804895/chapter/1

 

“Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se… Independentemente do tempo, lugar ou circunstância… O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.” — Antiga crença chinesa

 

Capítulo Único

Narração: Isabella

Edward era um garoto calmo. Uma alma que retornava a cada ciclo por não conseguir encontrar sua verdadeira alma gêmea. E eu, como serva obediente, ajudava a mantê-lo vivo e saudável até que se passassem anos suficientes para que falecesse de forma tranquila.

Apeguei-me àquela alma como se fosse meu melhor amigo.

Tantas vezes o vi sofrer por alguém que não era seu destino! Tantas vezes o livrei dos braços da morte quando, em depressão, ele tentava se matar!

E ali estava meu querido Edward, com sete anos, brincando alegremente no bosque com a menina de cabelos escuros e pele avermelhada. Eram tão bonitos juntos!

— Eddie, quando a gente crescer, você promete que vai casar comigo? — perguntou a menina balançando as pernas, enquanto descansavam sentados em um tronco caído.

Eu ri. Leah mal tinha completado 6 aniversários e a apressadinha já queria casar?

— Você é doida, Leelee? — reclamou meu protegido. — Meninas são tão chatas! Vocês ficam brincando de boneca e mamãe e papai o tempo todo! Eca!

— Isso não é verdade! Hoje a gente brincou de corda e bola, como você queria.

— Mas eu quase chorei até você concordar.

— Tá bom, seu chato! Então, se você me pegar, eu não vou mais brincar de casinha com você, mas se você desistir, a gente vai brincar de papai e mamãe amanhã o dia todo, lá na casa da árvore. — E correu, gritando. — O tronco é o fraio!

E, assim, correram pelo terreno irregular enquanto Sam, anjo protetor da garotinha, e eu espantávamos animais que poderiam machucá-los. Em certo momento, a mãe de Leah a chamou e as crianças deram a brincadeira por encerrada, com a menina por ganhadora.

Cuidei do meu pequeno desapontado enquanto ele caminhava em direção à própria casa, resmungando que as meninas eram chatas e sem coração, inclusive sua melhor amiga Leelee.

Os anos se passaram e fiz amizade com Sam. Conversávamos bastante sobre nossos humanos e planejávamos fazê-los se esbarrar em suas próximas vidas, é claro, se não encontrassem suas caras-metades.

Porque a vida acontecia assim: você poderia passar eras procurando pela ponta do seu fio vermelho, sofrer muito em cada nova encarnação, mas, quando encontrasse a pessoa certa, você viveria intensamente aquela vida e, ao morrer, iriam ambos para o paraíso, passar a eternidade juntos.

De acordo com outros anjos, eu conseguiria ver ambas as pontas quando meu protegido encontrasse sua cara-metade e, embora Leelee fosse uma garota maravilhosa, não era a escolhida pelo destino. Eu mesma não poderia retrucar sua afirmação, pois fui criada em conjunto à alma de Edward e éramos relativamente novos. Pouco mais de 700 anos.

Quando Edward completou 16 anos, pediu Leah em namoro. Fiquei feliz por aquela amizade que cresceu. Não eram companheiros de alma, mas aquela amizade e carinho compartilhados, embalados pela paixão adolescente, parecia perfeita.

Por isso, apavorei-me dois anos depois com os ataques de náuseas e desmaios da moça. O mais estranho era a tranquilidade que Sam tratava o assunto. Eu e Edward estávamos apavorados!

— Leelee, por favor, vamos no médico! Isso não pode ser normal!

— É só TPM, Cullen, não fica assim — banalizou ela.

No entanto, ela mentia.

Não vou negar, as vidas anteriores do meu protegido não foram celibatárias, o fio do destino não o impedia de ter relacionamentos. Ele foi feliz, casou-se, teve filhos e descendentes. Eu mesma me assegurei de empurrar alguma moça que, claramente, estava tão desesperada para amar quanto ele. Por isso, sabia que aquilo não era TPM, como ela afirmava.

— Os sintomas dela estão piores. Você não pode convencê-la a ir ao médico? — indaguei a Sam.

E foi o que ele fez.

Ficamos sem notícias de Leah e Sam por quase uma semana. Enquanto Edward preocupava-se por seu estado de saúde, eu me encarregava de lembrá-lo sobre estudar, comer e cuidar do próprio futuro.

Quando o casal decidiu se encontrar no bosque, fiquei exultante. Finalmente, saberíamos a verdade sobre a doença de Leah.

Estávamos os quatro ali, sentados em um banco de madeira — feito pelos pais das crianças para poder ficar de olho neles —, enquanto Leah procurava as palavras certas. Nervosas, nós duas balançávamos as pernas como um tique compartilhado. Assim que meu humano notou o desconforto da namorada, pousou a mão na coxa dela. Seus movimentos se interromperam como mágica, mas os meus não.

— Eu... eu estou com neoplasia maligna metastática.

— Que merda é essa?

— É um tipo de câncer na região cerebral — explicou olhando para o chão.

— Mas nós podemos tratar, não é? — perguntou Edward enquanto lágrimas deslizavam por seu rosto.

— Eu... eu... descobri em um estado muito avançado... e... vai ser pior se eu tratar.

Fuzilei Sam com os olhos. Ele não tinha conseguido cuidar de sua menina e agora meu garoto estava sofrendo!

— Mas... mas...

Então ela soltou a segunda bomba do dia:

— Escuta, Eddie, eu acho que devemos nos afastar. Porque não faz sentido prender você a uma relação fadada ao fim. Vai desgastar você e eu... somos amigos, não quero atrapalhar a sua vida.

— Caramba, Leah, crescemos juntos! Trocamos nosso primeiro beijo e eu disse que me casaria com você. Você não pode, simplesmente, jogar nossa história no lixo por causa de uma doença! Não é assim que funciona! Eu não vou te deixar. Quer você queira, quer não.

— Vai... vai chegar um momento que... eu não vou... eu não vou mais te reconhecer.

— Foda-se! — gritou ele, então se ajoelhou na frente da moça e tomou-lhe as mãos. — Estamos juntos nessa, Leelee. Eu te amo. Você sabe disso. Eu te amo e, se for para te dar todo o apoio e toda a assistência que você precisa enquanto nega um tratamento, eu faço. Você sabe disso também! Brincávamos sempre de casinha e, quando você não queria fazer nada, me obrigava a fingir que você era doente, cega, paraplégica, só para que eu assumisse os afazeres da casa.

— Era porque sua mãe dava comidinha de verdade para a gente quando via você me ajudando a me mover pelo terreno. — Riu ela.

Edward sorriu, limpou as bochechas da namorada com os dedos e beijou sua testa.

Decidiram dormir juntos naquela noite, depois de horas ouvindo a voz de Edward cantar uma música melancólica, e foi quando confrontei o protetor de Leah.

— O que você fez até agora que não percebeu o estado de saúde da sua protegida?

— Nunca disse que não sabia o estado dela.

— Então você sabia que ela ia morrer?! — gritei indignada.

— Sinto muito, Isabella. Eu já conversei com meus superiores. Leah é uma alma de transição, não possui alma gêmea. Sua vida é para alegrar almas perdidas e trazer de volta os que desviaram dos caminhos dos Céus. Minha missão é ter certeza de que ela não saia dos seus propósitos.

— Que espécime de anjo você é? Vive por milênios para manter uma única alma na Terra? Ela nunca vai para o paraíso, é isso?

— O quê? Não! Enquanto Leah cumprir seu caminho, ela subirá com os eleitos. Isso está mais do que confirmado para mim. Sempre que a decisão de matá-la com narcóticos ou no meio do crime aparece, eu mesmo me encarrego de indagar os superiores. Além do mais, o que você fará quando seu protegido encontrar a outra ponta do fio vermelho? Ele não voltará mais à Terra e você, que foi criada para servi-lo, não terá mais propósito.

— Terei outra alma para cuidar, portanto, não ficarei sem propósitos.

— Você se apegou bastante a ele. Tem certeza de que conseguirá seguir em frente?

— Eu sou um anjo, no fim das contas. Não fui criada para me apegar.

— Todavia, parece bastante afetada por uma vida que não lhe cabe o destino.

Ignorei-o e chamei nossos superiores.

O Domínio* que se apresentou ouviu todas as minhas críticas, reclamações e explicações para minha convicção de que a morte de Leah não deveria ser tão cedo. Como um ser justo, ouviu os argumentos de Sam e analisou a situação.

— Sinto muito, Isabella, essa alma é marcada para trazer o caminho às almas perdidas. Se ela não cumprir seu propósito nessa vida, não alcançaremos as almas que esperamos.

— Mas Deus sempre encontra uma alternativa!

— Ele também é justo e não comete erros. Deixar Leah viva é um erro.

— Se meu humano não encontrar seu fio em uma década por causa da partida dessa moça, eu descerei para ajudá-lo.

— Como é? — espantou-se Sam. — Você está disposta a cair por ele?

Continuei a ignorar o anjo da guarda.

— Explique, por favor, ao nosso Senhor que compreendo minhas limitações, porém não concordo com o rumo de meu protegido. Se Edward não se recuperar dessa perda em uma década, estarei na lista de anjos caídos.

— Você está enlouquecendo?

— Estou disposta a sacrificar-me pela felicidade de um ser humano. Imagino que muitas religiões não achariam meu ato tão degradante.

— Muitas religiões não levam em conta a sua própria existência, Isabella. Sabe que Edward encontrará seu fio na hora certa.

— Essa alma já está pronta há muitas décadas e acredito que não se recuperará de uma decepção assim.

— Então, ele não está pronto — retrucou o Domínio. — Comunicarei aos meus superiores sobre sua decisão, Isabella. Apenas tome cuidado com o inimigo que a rodeia. Anjos caídos não possuem a mesma visão que anjos celestiais.

— Isso significa que não conseguirei ver a outra ponta do fio?

— Significa que anjos celestiais não foram feitos para a carga emocional que um ser humano possui e anjos que caem são muito mais afetados a ela. Nessa próxima década, pondere sobre sua decisão com cautela.

— Certamente, senhor. Se Edward encontrar a outra ponta de seu fio, não necessitarei descer.

— Se Isabella quer descer, por que não poderíamos analisar a opção de mandá-la como enviada para auxiliar no caminho de Edward? — questionou Sam. — Tantas vezes, na história, anjos desceram com a permissão divina para cumprir seus propósitos! Por que ela teria que desistir de sua Graça para cumprir o propósito de sua criação?

— A ordem não veio de Deus — respondeu antes de voltar aos céus.

— Você não precisa fazer isso por um humano. Não é um fardo seu e não é favorável à justiça divina. Arriscar tudo por quem não te conhece é algo que somente a tríplice celestial deveria fazer. Amor sacrificial é coisa humana, não celeste.

— Tudo já foi dito, Sam. Não importa. Se Edward não encontrar seu fio em 10 anos terrestres, eu o farei.

Dez anos se passaram.

Leah morreu seis meses depois de anunciar sua doença à Edward. Foi deprimente ver aquela menininha definhar dia a dia em uma cama de hospital. Meu protegido cogitou a ideia de casar com ela antes de interná-la, porém, a moça descartou a ideia.

— Você deve ser livre, Edward, não ficar preso a um passado infeliz. — Foram suas palavras.

Contudo, não adiantou. Após a morte da jovem, meu humano se rebelou contra as autoridades celestiais, com razão, e buscou alívio nas drogas lícitas. Atualmente, advogava em um escritório na cidade de Seattle — distante o bastante dos parentes em Forks, mas perto o suficiente do túmulo de sua Leelee na reserva em La Push — e morava em um apartamento confortável próximo ao trabalho. A vida amorosa inexistente o transformara em um rapaz implacável no tribunal.

Quando a prostituta saiu do motel, deixando-o fumar o quinto cigarro em duas horas, decidi que estava no momento de interferir.

Não houve impedimento, nem mesmo um alerta. No instante seguinte à minha decisão, eu me encontrava fraca e sangrando, caída na frente do carro dele, na garagem do estabelecimento.

— Puta merda! — exclamou a voz grave e rouca de Edward, enquanto se aproximava. — Moça? Você está bem? Consegue me ouvir?

Gemi de dor, fechando os olhos com força, e ele apressou-se a me amparar.

— Calma, moça, vai ficar tudo bem. Vou levá-la ao hospital para tratarmos esses ferimentos. Qual é o seu nome?

— Isa... Be...Bella — murmurei.

— Bella — repetiu separando o cabelo castanho de meu rosto. — Consegue andar, Bella?

— Eu não... eu não sei. Minhas... minhas costas... doem... muito.

— Imagino — comentou em um suspiro. — Porra, nem sei como te levantar sem piorar a situação! O desgraçado que fez isso em você já foi embora? Vou chamar a ambulância e a polícia. Só vamos deixar você sentada e... — Desmaiei.

Não entendia o que estava acontecendo. Claro, nunca vi um anjo cair, mas as histórias contadas jamais relataram que anjos caídos podiam dormir, desmaiar ou se ferir. Sabia que esses rebeldes eram contra a autoridade divina e que estavam suscetíveis a arder no Tártaro do submundo, caso fossem pegos.

Despertei no quarto de hóspedes do meu protegido, deitada de bruços, enquanto ele conversava com alguém ao longe, e logo senti meu corpo parar de responder aos comandos. Meus olhos se fecharam e os músculos amoleceram.

— Ela vai ficar bem, Eddie.

— Tem certeza, Rose? Ela estava muito machucada lá... não sei como não sangrou até a morte! Porra, eu via as costelas dela e os pulmões se mexendo pelos cortes!

— Edward, ela estava apenas com a pele rasgada e sulcos nos músculos posteriores. Você está exagerando, como sempre.

— Caralho, Rosalie, eu sei o que vi, porra! — esbravejou ele.

Rosalie. Eu conhecia aquele nome. Era a esposa médica de um dos colegas advogados do meu humano. A moça era muito bonita, me recordava. Os cabelos longos e loiros pareciam cascatas de luz celestial descendo pelo corpo esculpido com carinho. Os olhos castanhos-esverdeados refletiam o amor que ela sentia pelo marido e pela profissão. Como obra divina, sempre a admirei.

— Você vai acordar a moça, seu idiota! E ela precisa de repouso.

— Tentei levá-la para a porra de um hospital, mas você não deixou!

— Ela não precisa de um hospital, mas isso não significa que não precisa repousar! Você viu como ela estava. Se for mesmo uma prostituta, levou a maior surra da vida dela e você sabe que o trabalho delas não é dos mais fáceis.

— Foder não é difícil, Rose.

— Foder estranhos, de vez em quando, talvez não seja, desgraçado, mas fazer isso todas as noites, às vezes durante o dia, e várias pessoas a cada dia, não é o ideal para a vida saudável de uma mulher. Agora, pelo amor de Deus, vamos sair desse quarto e deixá-la descansar direito.

Ainda com os olhos fechados, senti algo repousar em meus ombros e uma leve carícia em minha fronte. Imaginei que fosse Rosalie, pois houve movimento no criado-mudo e copos tilintando antes da voz macia dela instruindo como me medicar quando eu acordasse.

Embora gostasse muito de Rose, não sentia meu corpo para despertar.

— Você não vai se aproximar da minha humana, sua aberração — sussurrou o anjo dela.

Ah, então era por isso que não podia me mover! Quis avisar que não faria nada com a moça, mas não consegui encontrar a conexão divina para o outro ser. Talvez esse fosse o maior problema de anjos caídos: não ter mais parte com os céus e não poder conversar mentalmente com os seres.

Assim que a presença de luz partiu com Rosalie, abri os olhos.

 

Dias se passaram e, com eles, minha rasa explicação para ser encontrada sangrando em uma garagem de motel. Porque meu namorado não aceitou minha decisão de me manter pura e me espancou até achar que eu não viveria. Ou foi isso que Edward acreditou.

Acabei por encontrar uma senhorinha que precisava de uma doméstica no mesmo edifício que o rapaz e passei a morar com ela.

Angela estava em sua última encarnação e falava disso com tanta tranquilidade que parecia entender o destino. Ela me acolheu como uma filha e prometeu ajudar-me com tudo o que eu necessitava. Inclusive documentos. Sentiria sua falta quando o anjo da morte viesse recolher sua alma.

Depois de passar aqueles dias na casa de Edward, imaginava-se que construiríamos uma relação de carinho, no entanto, não aconteceu. Assim que ajudou-me com moradia (apresentando-me Angela), o homem simplesmente virou as costas para mim. Senti sua ausência como facas em meu peito e chorei a noite inteira, sem entender o que havia de errado comigo.

Por meses, e com a ajuda de Angela, tentei encontrar a outra ponta do fio vermelho de Edward baseada em características que eu imaginava perfeitas para meu protegido. Por meses também, vi o rapaz trôpego da bebida entrando no prédio, seguido de um cheiro horrível de cigarro. Sofri todas as vezes. Sem um anjo da guarda, ele estava se perdendo ainda mais e era por isso que precisava tanto de sua alma gêmea. A felicidade e o amor fariam aquela doce criança reviver em seu interior.

— Fale com ele, minha filha — instruiu Angela.

Sorri para ela, ainda desencorajada. Edward era inacessível!

Minha sorte chegou na semana seguinte.

Eu voltava do mercado com as compras nos braços e o balconista não estava disponível para me ajudar, então coloquei algumas sacolas no chão enquanto esperava o elevador. Foi então que uma mão grande apossou-se de metade das sacolas e os olhos verdes dele pousaram em mim. Senti um frio incômodo na boca do estômago, mas sorri em resposta.

— Angela disse que já está muito melhor, mas não acredito que deva carregar tanto peso, venha, deixe-me ser seu cavalheiro antes de voltar a ser o cavaleiro das trevas.

— Ah, minhas costas não doem tanto. O pior é me lembrar de tudo o que perdi entrando naquele motel.

Ele sorriu enquanto carregava minhas compras para dentro do elevador.

— Então, eu, como seu salvador, estou te proibindo de lembrar o que aconteceu naquele motel — comentou apertando o botão do meu andar. — Eu mesmo, já me esqueci por completo, inclusive, nem sei que você é! — Riu piscando.

Ri de sua brincadeira e acenei com a cabeça.

— Eu me chamo Isabella, mas pode me chamar de Bella. Moro com sua vizinha, Angela, e tenho 26 anos.

Assim que saímos da caixa metálica, Edward continuou a falar.

— De onde você é, Isabella?

— Forks — respondi sem pensar.

O cenho do rapaz se franziu.

— Nunca te vi por lá. Tem certeza?

— Ah, sim, eu morava bem no limite da cidade e estudava em casa. — Tentei me corrigir. Ser um anjo caído me permitia mentir com bastante facilidade, mesmo que eu não gostasse.

— Você está pensando naquilo de novo — acusou-me. — Pare, agora mesmo!

Mordi o lábio inferior e abri a porta.

— Obrigada pela ajuda, senhor Cullen. Retribuirei muito em breve, tenha certeza.

— Vai carregar sacolas para mim? — brincou colocando o que carregava em cima da mesa.

— Não. Encontrarei sua alma gêmea e pagarei minha dívida com você.

Ele suspirou, alcançou meu rosto com a mão e afagou-me a bochecha.

— Você é muito linda, Isabella, mas não vamos entrar nessa loucura de “alma gêmea”, tudo bem? Minha companheira se chamava Leah e morreu anos atrás. Desde então, não há esperanças para mim. Você não poderia me ajudar, nem se quisesse muito, mas, obrigado pela boa-vontade e buscaremos outra forma de me pagar.

— Não fale assim! Sei que está triste pela morte de Leah, mas já se passaram anos!

— Leah era minha alma gêmea. Não tem como superar, Isabella. Sinto muito.

— Está errado. Leah nunca foi sua alma gêmea.

O homem arqueou a sobrancelha e cruzou os braços no peito forte.

— Como você saberia?

Sorri presunçosa e apontei para sua mão, onde pendia o brilhante filete vermelho.

— Se estivesse correto, eu não conseguiria ver seu fio.

A cabeça masculina voltou-se para seus braços e procurou freneticamente por algo fora do normal.

Ser anjo caído era muito divertido, percebi. Eu poderia pregar peças em meu humano e as comidas eram bastante gostosas. Incrível como os céus não tiraram esse prazer de nosso ser! Na verdade, depois que caí, senti muitas coisas “comuns” para seres humanos, assim como o Domínio havia me alertado.

— Meu fio? Que fio? — indagou por fim.

— O fio vermelho do seu mindinho que liga você à sua alma gêmea. Eu ainda consigo vê-lo, portanto, está errado sobre Leah.

— O que você é? Um demônio? Que porra de fio é esse e por que ainda estamos falando sobre minha Leah?

Mordi o lábio inferior e sentei-me no sofá, balançando a perna de nervosismo.

— Algo assim. Não importa. O que importa mesmo é que você possui uma alma gêmea e eu posso encontrá-la. Topa uma parceria, cavaleiro das trevas?

Estendi-lhe a mão, mas o rapaz não a segurou. Postou-se na minha frente.

— Não. Agora me explica essa história de “fio vermelho” direito.

Bufei.

— Certo. — Recostei-me no sofá e indiquei para que ele fizesse o mesmo. — O fio vermelho do destino é como se fosse um elástico inquebrável. Quando a criança nasce, o Destino amarra esse fio no mindinho dela para que seja possível encontrar sua alma gêmea. Esse elástico pode esticar, enrolar, criar nó, mas jamais se parte. Esse é o jeito que os soberanos encontraram para saber quando uma alma deve ser recolhida.

— Alma? Recolhida? Que merda você está falando?

— As almas são feitas para o amor. Você passa anos, séculos, tentando encontrar sua verdadeira razão de viver até que está pronto para se encontrar e viver com ela pela eternidade no paraíso. Nesse meio tempo, várias histórias são contadas. Paixões, decisões, famílias... A alma cresce, amadurece, vive muitas aventuras. É claro, tem almas que encontram suas metades mais rápido.

— E você consegue ver esse fio o tempo todo, de todo mundo?

— Não é sempre, nem de todos. Tem vezes que consigo e tem vezes que não. É confuso. Vem, o importante é que vamos encontrar sua metade e você não ficará mais tão sozinho.

Ele resmungou antes de soltar um "faça o que você quiser" e arrancar um grande sorriso do meu rosto. Depois que minhas asas foram arrancadas, senti-me perdida em meus propósitos, portanto, o consentimento de Edward fazia com que meu sacrifício não parecesse em vão. Ainda mais quando ele parecia tão perdido e se denominava Cavaleiro das Trevas.

Fingindo ser humana, descobri um lado completamente novo do meu protegido. Imagino que era por isso que os anjos caídos eram tão marginalizados. Edward deixara de ser alguém frágil para se tornar um rapaz atraente. Havia nele aquela aura divina que me era negada e, se não tomasse cuidado, eu cairia em tentação com facilidade.

— Tudo bem, como faremos isso? — perguntou ele.

Peguei caderno e caneta ali perto e voltei a me sentar.

— Vamos listar seus pontos mais fortes, os fracos, o que procura em uma mulher e o que precisa.

— E você não acha que eu procuro o que preciso?

— Ninguém faz isso.

— Ok, senhorita Sabe-Tudo. Vamos começar pelos meus pontos fracos. Só um: Indisponível para relacionamentos.

— O quê?!

Ele não respondeu. Apenas continuou com sua loucura inicial.

— Pontos fortes: Alto, cabelo loiro, olhos verdes, forte e cheiroso.

— E muito bonito.

Ele sorriu de lado e piscou.

— Procuro uma mulher como a Leah e preciso dela com urgência.

Mordi o lábio. Seria mais difícil do que eu imaginava. Fitei a mão com o fio brilhante e suspirei.

— Edward, já se passaram dez anos.

— Sim, mas Leah era a garota certa para mim. Você não pode trazê-la de volta?

Sorri.

— Eu não tenho poderes especiais, senhor Cavaleiro.

— Você vê a porra de uma linha vermelha no meu dedo e diz que não tem “poderes”? Ok, Isabella, acabamos por aqui. Aconselho você a procurar um hospital psiquiátrico e um oftalmologista. Talvez, você esteja alucinando... ou tem algum tipo de astigmatismo. Agora, esse cavaleiro aqui precisa voltar para as trevas de um bom e velho uísque. Tenha uma boa tarde. — E fez seu caminho porta afora.

Sua rejeição doeu mais do que eu imaginava. Era como se não estivesse rejeitando somente a ajuda, mas toda a minha proteção e sacrifício.

Minutos depois, o interfone tocou.

— Você está pensando naquele dia. E eu já te proibi — rosnou assim que atendi.

— Proibida de lembrar, com medo de esquecer. Ah, sim, estou em uma situação limite. Obrigada, cavaleiro das trevas.

Seu riso baixo causou calafrios em meu estômago.

— Não tenha medo de esquecer, pequeno demônio branco.

— Do que você me chamou?

Ele riu outra vez.

— Venha até minha casa depois de guardar suas compras. Traga seu caderno. Prometo que não serei seu cavaleiro das trevas dessa vez. Até mais tarde, Isabella. — E desligou.

Passamos a tarde juntos, conversando e decidindo qual seria a mulher ideal para meu antigo protegido. A cada característica que ele falava como “procura”, eu anotava algo na coluna de “precisa”. Ao fim, tínhamos mais de 30 características para a mulher ideal e eu passei a buscar aquelas à sua volta.

Quando vi que nenhuma das mulheres em seu círculo social poderia ser a outra ponta do fio de Edward, descartei todas as qualidades de “procura” dele. O rapaz precisava de uma mulher alegre, sem medo de dizer o que pensava, que soubesse se cuidar e cuidar da saúde dele, que soubesse cozinhar e gostasse de clássicos tanto quanto de cultura pop. Ele precisava de alguém sensível para poder chorar algumas vezes, mas que não focasse apenas na tristeza da vida. Precisava de alguém com um anjo paciente que quisesse assumir a guarda que deixei de lado. Alguém que me passasse a ideia de que se sacrificaria pela segurança e felicidade do meu cavaleiro das trevas.

— Alguém exatamente como você — assumiu Angela.

— O quê? Não!

Mas ela tinha razão. Em meu interior, eu queria ser a garota ideal para Edward. Ansiava pelos prazeres que o corpo de meu antigo protegido podia me proporcionar. Ansiava por toda aquela alegria carnal que me era negada como anjo celestial. Eu estava sedenta por sentir seus braços ao redor de meu corpo outra vez e ouvir mais de sua voz. Queria provar o gosto de sua boca e deitar em seu peito para descansar ao som das batidas do seu coração.

Contudo, todas as vezes que olhava para aqueles orbes verdes infelizes e o fio brilhante em sua mão, lembrava de meu sacrifício e as razões para ter feito aquilo.

Felizmente, minha busca me aproximou de meu humano que, embora tivesse adotado o título de Cavaleiro das Trevas e continuava a viver sob os prazeres da carne, voltou ao estado de pré-queda... além dos sorrisos que dispensava para mim.

Certa tarde, encontrei-me com ele em uma cafeteria próxima ao seu escritório e desabafei sobre meus fracassos enquanto era embalada por sua risada. Quando escondi meu rosto entre os braços cruzados em cima da mesa, senti a mão do rapaz em minha coxa e virei a face para indagá-lo com o olhar.

— Muito frustrada? Sua perna estava quase batendo no tampo da mesa — explicou retirando a mão dali. — Não entendo por que você quer tanto encontrar a minha outra metade quando devia estar procurando pela sua própria. Estou bem assim, Bella. Ninguém para me incomodar com a toalha em cima da cama, ou para perguntar onde passei a noite, nem para pedir pão na volta para casa. Sou bem-sucedido na minha carreira e tenho uma boa vida sexual. Não há nada que não tenho ou não posso conseguir por mim mesmo.

— Exceto o vazio em sua alma que tenta preencher com bebidas, cigarros e mulheres — suspirei e voltei a ficar ereta para encará-lo nos olhos. — Você me chamou de demônio outro dia e esteve quase certo. Eu posso ser considerada um demônio. Eu tinha uma missão simples e fui egoísta o suficiente para largar tudo com a desculpa de fazer um bem maior. Tudo o que consegui foi causar mais dor e sofrimento. Quero recompensá-lo por aquilo que não evitei, por aquilo que causei com meu egoísmo.

— Você é um anjo, Isabella — sussurrou intenso. — Estou feliz que queira melhorar um comportamento ruim meu, seu próprio cavaleiro das trevas, mas não vale a pena correr atrás de alguém que não existe. Essa coisa de alma gêmea que você tanto busca, esse tal destino infalível, isso não existe. Existem pessoas, como eu e você, lutando para encontrar algo pelo qual acordar todos os dias. Algo para o qual anseiam por voltar mais cedo para casa. Algo onírico, ilusório. Visivelmente, você colocou meus vícios como falta de algo em minha vida, mas nada me falta. Entendo que Leah se foi e sei que não poderia fazer nada sobre. Talvez, se formos pela sua linha de raciocínio, ela precisava ter ido para eu estar naquele motel e te conhecer. Isabella, é um prazer ter conhecido essa alma tão bondosa que é você.

Soltei um riso infeliz.

— Já fui um anjo. É por isso que vejo o fio vermelho. Mas fui egoísta e quis interferir no destino, portanto, não sou tão bondosa quanto você acredita.

— Ah, então você foi expulsa do céu, anjo? — brincou tentando amenizar o clima. — Então é por isso que vive tentando regular minhas saídas e bebidas?

Cruzei os braços e franzi o cenho.

— Eu não estou tentando regular nada! Você que não está criando hábitos saudáveis!

Ele riu alto, chamando atenção das pessoas nas outras mesas.

— Você é incrível, Isabella!

Senti meu rosto esquentar de maneira descomunal e desviei os olhos quando a risada masculina voltou a aparecer.

O que era aquele aperto no coração? Por que minhas bochechas pareciam pegar fogo? Por que, de repente, eu queria alcançar aquele rosto e calar suas risadas com minha boca? Eu não devia estar sentindo isso pelo meu humano! Eu era um anjo, porra!

OH, NÃO!

NÃO! NÃO! NÃO! NÃO!

Eu falei palavrão!

Oh, Senhor! Eu sou um anjo! Eu sou um anjo que fala palavrão!

Eu não devia falar palavrão! Não devia falar palavrão! Não devia fa...

— Bella? — interrompeu-me a voz preocupada de Edward enquanto sua mão pousava em meu ombro. — Aconteceu alguma coisa?

Tirei as mãos do rosto, que nem percebi ter coberto, e fitei-o de canto antes de negar com a cabeça. Ele sorriu de lado e tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, colocando-a atrás de minha orelha e acariciando meu maxilar no processo de volta.

— Não ficou brava comigo, ficou? Me desculpe, não fiz por mal. É que você ficou tão fofa emburrada que não aguentei.

— Tudo bem — resmunguei desviando o olhar. — Não foi você. Foi algo que pensei.

— Pensou naquele dia outra vez? Já mandei você parar de pensar nisso.

— Eu tenho medo de esquecer.

— Por quê?

— Naquela noite, eu me agarrei a um propósito. Se eu esquecer meu propósito, coisas horríveis acontecerão.

— Bella, nada vai acontecer. O máximo que pode acontecer é você parar de procurar por esse fio imaginário em nossos dedos. — Para exemplificar, pegou minha mão e enlaçou seu mindinho ao meu. — Assim, você será mais feliz e eu ficarei feliz por você.

Abracei-o por impulso e a voz do Domínio, há muito perdida, voltou em minha mente. Anjos celestiais não foram feitos para a carga emocional que um ser humano possui. Meu peito ardeu ao lembrar que sempre senti algo parecido. Não tão forte, não tão intenso. Talvez a minha carga emocional era mesmo aquela que Sam acusava-me com frequência. Eu estava apegada ao meu protegido. Anjos que caem são muito mais afetados a ela, disse o Domínio. E, outra vez, ele estava correto. Sentia-me obcecada pela vontade de fazer Edward feliz. Precisava daquele sorriso como ar para respirar. Ainda assim, queria muito roubar toda aquela aura divina de seu corpo. Queria tê-lo para mim e sugar a Graça que lhe era concedida a cada erro. Queria tocá-lo o tempo inteiro e ouvi-lo cantar outra vez.

— Eu te amo, Edward — sussurrei. — Eu só quero que você seja feliz porque te amo.

— Acalme-se, Bella — entoou ele. — Você está nervosa, dizendo coisas sem sentido desde mais cedo. Fique calma. Tudo vai se ajeitar.

Mas não se ajeitou.

Semanas se passaram e aquele sentimento de perda a cada novo encontro que, sim, eu arranjava para ele, só aumentava. Era como se ficar com Edward fosse a coisa mais egoísta da minha existência, e eu queria tanto que acabava arruinando seus contatos.

Angela sabia de minha história. Sabia que eu havia caído para encontrar o amor de meu protegido e sabia que eu não aceitava a ideia de ser comparada a um anjo caído qualquer porque tinha um propósito nobre. Sequer usava meus poderes para não chamar atenção dos anjos celestiais que cumpriam as ordens dos Céus de eliminar qualquer ameaça aos humanos.

— Não sei o que fazer, Angela! — choraminguei em um final de semana. — Edward foi para Forks passar o final de ano com a família e tenho certeza de que sente-se deprimido por Leah. Eu já tentei tanto! Tanto! Estou até blasfemando em pensamentos! E eu sou um anjo! Não devia sequer pensar em palavrões! Oh, Deus! O que eu faço!?

— Bella, você ainda age como um anjo celeste, mas você não é! Está aqui, lamentando por um amor que, certamente, você sente, enquanto sabe que ele sorri quando você está por perto. Você diz que busca pelo fio vermelho do destino dele... por que não começa a procurar pelo seu próprio destino?

Solucei sentada em minha cama.

— Eu já conheço meu destino, Angela. Sou um anjo caído. Anjos caídos são perigosos e desprezíveis. Eu vou para o tártaro assim que o anjo de Rosalie me encontrar.

— Você é tão absurda, Bella! — Ela riu e levantou-se. — Já volto. Enquanto isso, mande uma mensagem para Edward, desejando-lhe Boas Festas por mim, sim?

Assenti e procurei pelo aparelho celular que havia ganhado no mês anterior como “presente de aniversário”, de Angela.

Recebi uma resposta engraçada dele quando minha patroa voltou com uma caixinha de presente e um novelo de lã vermelha e brilhante.

— Aqui está um presente de Natal que você só pode abrir na manhã do dia 25, estamos entendidas? — falou colocando a caixa ao meu lado na cama. — E esse aqui é o fio do destino que você tanto procura — brincou pegando a ponta do novelo. — Vou amarrar essa pontinha em seu dedo e cortar na altura do pulso. Então vamos queimar essa ponta para não se desfazer e você vai pegar o meu carro e dirigir até Forks. Você vai olhar para o homem da sua vida e dizer que o ama. Vai pegar essa ponta aqui e amarrar na ponta dele.

— Isso... isso é... Isso é loucura, Angela! — Eu ri. — Não posso amarrar um fio de lã, feito por mãos humanas, em um fio celestial! É impossível!

Ela sorriu.

— Então vamos deixar um pouquinho maior e você vai amarrar no dedo dele.

— O quê? — Gargalhei. — Você está ficando louca, não está?

Ela deu de ombros, rindo junto, enquanto amarrava o barbante em meu mindinho.

— Estamos tentando resolver uma questão aqui! Mas, já que não quer amarrar o fio no dedo dele, então vá lá e diga o que sente.

— Não, obrigada! Edward disse que logo volta — mencionei chacoalhando o celular na frente de seu rosto enrugado. — E não sei dirigir.

— Está bem, então. Posso deixar essa caixa com você ou quer que eu esconda até o Natal? — indagou apontando para o objeto.

Dei de ombros e a senhorinha pegou meu presente de volta, garantindo que não confiava na curiosidade dos jovens de hoje.

Dias se passaram e, no final de semana anterior ao Natal, fui obrigada a buscar as roupas de grife de dona Angela do outro lado da cidade. Estava voltando quando senti que me observavam. Não sabia dizer quem e tive medo de que fossem seres celestiais. Tentei despistar, mas a sensação não me abandonou, até que me vi em uma rua estreita e suja ao lado de um bar decadente, sendo encarada por anjos raivosos.

— Pensa que vai sair dessa, aberração? — indagou o arcanjo desembainhando a espada. — Nada escapa aos olhos dos Céus.

— Não, por favor! — implorei dando passos para trás. Minhas pernas estavam bambas e a voz falha. — Eu ainda não... eu não fiz o que vim fazer.

Outros dois soldados gargalharam.

— Ela acha que cair é uma missão a ser cumprida!

— Que anjo tolo!

— Por favor! Por favor, não... não...!

A porta lateral do bar foi aberta e, de lá, saíram mais seis anjos e alguns rapazes. Enquanto os homens riam e conversavam entre si, seus anjos vieram dar apoio aos amigos de luta. Foi então que caí de joelhos no chão e chorei desesperada.

Senti o primeiro golpe no braço esquerdo e o segundo nas costas onde ficavam minhas asas. Gritei de dor e caí para frente. O terceiro golpe, foi muito próximo do anterior e os dois seguintes queimaram meus pés.

— Bella?! — chamou alguém.

Mais um golpe, dessa vez, vindo debaixo e acertando minha barriga.

— Bella! — gritou o homem outra vez.

Tentei pedir ajuda, mas assim que levantei o rosto, senti a força da espada em minha bochecha. Chorando, encolhi-me ao máximo contra o asfalto aguardando o golpe seguinte. Um golpe que veio com o peso de um corpo ao meu lado.

— Bella! — sussurrou o homem, soprando o hálito de nicotina na minha entrada de ar. — Bella, sou eu, Edward. Bella!

Edward!

NÃO!

Edward estava correndo perigo!

Oh, não! Porra, porra, porra!

— Foge, Edward! Sai daqui! — gritei empurrando-o para longe. — Sai antes que eles te machuquem!

— Eles? — repetiu. — Eles quem?

— Sai, Edward! SAI! — E outro golpe foi desferido no lado oposto.

— Vem comigo — pediu o humano, tentando me fazer levantar. — Vem, Bella, ninguém vai te machucar. Eu prometo.

Sua voz me passava calma e segurança e, mesmo com aqueles seres raivosos ao nosso redor, senti-me protegida. Ele envolvia um braço ao meu redor e me apertava contra seu corpo enquanto se apoiava na mão livre para nos erguer.

Deixei-me ser içada por ele, mas acabei caindo novamente por causa dos músculos fraturados pelos anjos. Edward agiu rápido: segurou-me antes que batesse os joelhos no chão e pegou-me no colo. Escondi meu rosto em seu pescoço com medo de olhar ao redor e fazer com que meus inimigos nos atacassem outra vez.

Ele me levou para casa, uma vez que não via hematomas em meu corpo — o que fazia muito sentido, uma vez que as armas celestes maltratavam os espíritos não a carne. Uma mensagem para Angela bastou para avisá-la que eu não poderia voltar hoje.

— Você me assustou lá no bar — comentou ele enquanto me depositava na cama. — Que destino mais cruel esse seu! Eu sempre acabo te encontrando em situações horríveis!

— Obrigada, Edward — sussurrei olhando em seus olhos e acariciando sua face. — Você me salvou. Você me salvou de verdade.

A grande mão masculina cobriu a minha e ele sorriu de lado.

— Não poderia ser diferente.

E se inclinou para beijar minha testa. Fechei os olhos para sentir a carícia, no entanto, sua boca pressionou a minha e meu coração disparou. Não reagi, então ele se separou poucos milímetros; apenas para olhar em meus olhos.

— Onde está o seu beijo egoísta, meu demônio branco? — murmurou. — Eu farei minha parte, se você fizer a sua e abrir o seu coração.

Lágrimas escorreram por meus olhos.

— Edward...

O homem se afastou por completo, ficando de pé ao lado da cama e acariciando meu cabelo. Seus olhos muito verdes pareciam sorrir ao ver-me ali.

— Me perdoa, Isabella. Sei que está frágil e não devia ter me aproveitado de você... Ah, sonhei tanto com esse momento! Ter você em minha cama... ah! — Sorriu e balançou a cabeça. — Devo ir preparar a banheira para o seu banho, mas não quero deixá-la sozinha.

— Eu vou ficar bem — garanti sem ter tanta certeza.

Ele beijou minha testa e partiu em direção ao banheiro.

Assim que ergui a mão, vi o brilho estranho que a acompanhou. Puxei-a até a altura dos olhos e fitei maravilhada o fio vermelho brilhante balançar de um lado para o outro. Era muito parecido com o que Angela tinha colocado em mim no Dia de Ação de Graças, mas esse parecia tão real e divino!

O rapaz me encontrou chorando de alegria enquanto brincava com a mão de um lado para o outro.

— Bella? — chamou com o cenho franzido e os braços cruzados. — Você está bem?

— Edward! — exclamei com a voz embargada. — Eu tenho um destino! Eu tenho... eu tenho uma alma gêmea! Edward! Eu tenho uma alma! Uma alma de verdade! Isso... isso... como isso é possível? Eu... eu... eu sou um anjo caído, eu não possuo alma. Como... como posso ter uma alma gêmea? Como posso ter um destino?

O rapaz gargalhou, me ajudou a ir para o banheiro e procurou garantir que eu conseguia me equilibrar e me despir sozinha. Beijou o topo da minha cabeça várias vezes durante o processo e falou que iria até o apartamento de Angela buscar uma roupa para mim.

A semana passou correndo. Só não foi melhor porque eu ainda sentia todos os golpes celestiais que recebi daqueles que um dia já considerei companheiros. Eu não os culpava. Se, naquela época, eu visse anjos lutando contra algum anjo caído, também teria ajudado.

No dia seguinte ao que apanhei, meu fio sumiu e eu me apavorei, no entanto, meu humano foi aquele que me lembrou sobre não conseguir ver o fio o tempo todo. Como exemplo, ergueu as próprias mãos e perguntou se eu via a linha vermelha em algum de seus dedos.

— Está vendo? — Beijou minha cabeça depois que neguei. — Não se preocupe, seu destino e sua alma estão seguras. Você só é como todo mundo que precisa viver para alcançar. Inclusive, vamos agora falar com sua patroa e pedir que ela libere você na quarta porque quero te levar para Forks.

— Não precisa, Edward. Eu posso ficar aqui nas festas.

Mas os planos dele não eram me levar para meus familiares. Ele me levou para conhecer sua família. Esme era um amor, Carlisle recebeu-me com muita consideração, Emmett, seu amigo advogado, e Rosalie me cumprimentaram com cortesia. Seus anjos não ficaram tão felizes, mas aqueles que me acompanharam como cuidadora de Edward, sorriam imensamente em me ver ali.

Então me levou para o quarto na casa dos pais e pediu-me em namoro. Estranhei sua postura ao mesmo tempo que meu coração pulava de alegria.

— Edward, não. Você não pode se amarrar a mim... o seu fio... a sua alma gêmea está por aí, em algum lugar, te esperando.

Seu rosto contraiu-se.

— Você não está apaixonada por mim? Se for o caso, tudo bem. Tenho 28 anos, eu aguento uma rejeição, Isabella, não precisa criar alguma história infantil para isso.

Ri sem humor algum.

— Acredito que eu, desde anjo, já sou perdidamente apaixonada por você, mas é sério. Seu fio está muito mais brilhante do que jamais antes e eu preciso encontrá-la. Não posso ser egoísta a ponto de deixar a sua felicidade de lado quando isso foi o motivo pelo qual desci.

— Você vem procurando alguém para mim. Alguém que nunca chegaria aos seus pés. E você estava certa. Leah não era minha alma gêmea. Era minha melhor amiga, confidente e a única capaz de criar um caminho que me levasse a te encontrar. Leelee foi o anjo que te trouxe para mim. porque você, Isabella, é aquela pela qual procura. Você é a mulher bonita, gentil, alegre e divertida que sabe quando escutar minhas reclamações e sabe brigar pela minha saúde. Você é a morena de pele celestial que possui olhos castanhos capazes de me derreter. Você é aquela que me deixa feliz só por saber que vive. Você é a alma que preciso. Por favor, diz que vai ficar com esse cavaleiro das trevas.

O rapaz não esperou por outra renúncia, tirou do armário uma pequena caixa e entregou-me. Era a caixa com o presente de Angela.

— Falei para sua patroa que iria te pedir em namoro e ela disse para entregar isso, se você viesse com a loucura de dizer não, então, abra.

Um livro. Um pequeno livro de conto infantil e alguns recortes de jornal, além do barbante brilhoso que colocou em meu dedo outro dia. Edward interessou-se pelo novelo de lã vermelha e eu peguei o livro.

— Akai Ito — li e olhei o rapaz. — É a lenda asiática sobre o fio vermelho do destino.

— Leia para mim — pediu sorrindo.

— Eu já contei como funciona, Edward — reclamei e bufei. — Ok. Era uma noite de luar comum. Um jovem caminhava desencantado com a vida quando seu anjo da guarda decidiu interferir... espera, o quê? Isso não é Akai Ito!

— Continue, Isabella!

— Ele perdeu seus poderes e suas asas, caindo diante do rapaz assustado e infeliz. O homem a levou para casa, cuidou dela como se fosse preciosa. Sua preocupação retirou toda a carga maligna que poderia cair sobre aquele que seria apenas mais um demônio branco. Ele a transformou em humana e deixou aflorar o que o destino em pessoa escolheu para ser seu par pela eternidade. Porque aquele anjo, tão humano, nasceu para ser a alma gêmea de uma alma não tão jovem, mas precisou passar por provações e mostrar ser digna de tal honra. Aquele anjo já nascera para ser mulher do homem que protegeu por mais de 700 anos.

— Era ele. Era o destino — comentou Edward sorrindo. — Era Angela, na verdade. Ela era o destino. E ela me trouxe você. Eu te amo, meu anjo.

Assim, depois de quase um milênio, vi as duas pontas do fio de meu humano e meu coração se encheu de uma felicidade tão plena que não me importei se iria para o tártaro quando os céus achassem necessário. Apenas decidi viver aquela vida com meu humano. Meu protegido, meu protetor. Meu Edward.

Fim!

 

 

 

 

Legenda:

*Domínio: Classe de anjos que mantém o mundo em ordem adequada. São conhecidos por entregar a justiça divina em situações injustas, mostrando misericórdia para com os seres humanos e ajudando anjos de fileiras mais baixas a se organizarem e realizarem seus trabalhos com eficiência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí?! Já conhecia essa lenda? Sabia que os anjos possuem hierarquia e tudo o mais? Não? O que achou dessa loucura toda? Gostou da Bella como anjo? Do Edward como um cavalheiro (porque, ele se chamava cavaleiro das trevas, mas a gente conhece a peça, né?)??

Me conta aqui embaixo! Por favor, por favor! Eu respondo todos os comentários! ;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "One-Shot Falling for You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.