Moonlight escrita por lisa gautier


Capítulo 4
Acordos


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores, trago mais um capítulo para compensar o atraso do anterior. Para quem lê Immortality, estou trabalho em um capítulo *extenso* para também tirar o atraso.
Obrigada pelos diversos comentários maravilhosos! A empolgação de vocês é tudo de bom, juro!
Boa leitura.



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CAPÍTULO TRÊS: Acordos

— Onde você estava? 

Discreta como uma sombra, Rosalie Hale se revelou no final da trilha que levava à mansão. Cabelos presos no alto da cabeça, botas de combate e jeans largo. Segurava um alicate de pressão. Ela balançou a ferramenta, batendo-a na palma da outra mão. No fundo da garagem, em um radiozinho, tocava Blondie. One Way or Another.

— Credo, Rosalie. Você planeja me torturar? Arrancar minhas unhas? — Edward fez uma careta. 

— Como você é engraçadinho, Edward — ela não parecia humorada. — Responda minha pergunta. 

Edward suspirou: na mente da loira estava uma confusão de ansiedade. O desejo por sangue humano quando recém-criada. A falha de Emmett ao tirar a vida daquela dona de casa. Os Volturi. Alice reclamando de não prever o futuro da novata. O clã inteiro comprometido. Edward sendo escoltado para fora da cantina, tremendo em desejo. Bella Swan sangrando. 

— Caçando, eu estava caçando. Não, Rosalie, eu não estava caçando a menina. 

— Você não está no direito de se sentir ofendido. — ela disparou.

— Eu sei. 

Rosalie cruzou os braços. 

— Você está melhor? 

— Estou sim. Obrigado. 

Ela se virou, retornando ao capô aberto do M3 vermelho: inclinou-se para a frente, desconectando alguns cabos com agilidade. Observou a imagem, tentando ocupar a mente com os próprios hobbies invés de medos. A conversa não estava acabada, Edward soube. Ele entrou na garagem, sentando-se na bancada. Esticou a mão, ansioso para se livrar da música dos anos 80, mas foi recepcionado com hostilidade:

— Não ouse desligar esse rádio, Edward Cullen. — Rosalie rosnou baixo. 

Substituindo Debbie Harry, tocava Hit Me With Your Best Shot.

— Pat Benatar? Sério, Rosalie? — ele revirou os olhos.

— Nem todos são amargurados como você, Edward — ela continuava a encarar o interior do carro, analisando as conexões que tão bem conhecia. Havia uma espécie de desconforto mental, um espiral esquisito. 

— Emmett deixou você mole demais — ele reclamou.

— Você sonha! — ela debochou. 

Eles se comunicavam de uma maneira muito particular e única. Sempre fora daquele jeito. Desde que Edward conhecera aquela garota assustada e magoada com olhos vermelhos até os dias atuais; o silêncio, os olhares, preenchiam muito da comunicação. Oralmente, eles pulavam entre tópicos, gerando pequenas conversações. E Edward conhecia a mente de Rosalie. Ela não era de esconder suas opiniões e sim favorável a enxotar Edward de seus pensamentos. Naquele momento, ela tentava ocupar as ideias com problemas inexistentes no motor do veículo. 

— Emmett está melhor? 

— Sim. 

Houve silêncio. 

— Você está desconfiada. — ele anunciou.

Rosalie mexeu o canto da boca. 

— Não. 

— O que você tem, então?

Ela pousou as mãos sobre o metal.

— É uma sensação extremamente difícil de explicar. Eu não tenho talentos como você ou Alice, mas eu sinto que algo vai acontecer — eles se encararam, topázio enfrentando âmbar. — E tem a ver com essa nova aluna. 

[...]

Na outra manhã, Bella acordou atrasada.

A noite passada fora tão longa! Primeiro, o ritual na floresta (interrompido pelo charmoso vampiro Edward Cullen). Depois, desmontar o ritual. E rumar para casa. Deus, apenas no retorno ela notara como aprofundara na mata, encontrando o coração energético da natureza em uma campina muito distante. Era perto das 22h30min quando ela chegou em casa, encontrando um Charlie assustado: ele estava pronto para jogar a espingarda no ombro e procurá-la pelas redondezas. Ele exasperou um pouco, sentindo-se ansioso e culpado de não poder compreender o que se passava com a filha, mas logo suavizou um pouco. Charlie ainda lembrava de sua infância, quando Helen Swan o carregava pelos bosques, divertindo-o com passarinhos falantes enquanto conjurava algo. Bella, afinal, era uma mulher Swan e logo não era vulnerável — mas ele ainda era um pai. E exigiu que ela avisasse a próxima vez que saísse por aí, montando rituais e falando com espíritos. Eles jantaram na sala de estar, comendo pizza de queijo e assistindo ao que Bella acreditava ser o milésimo Velozes & Furiosos. Quando Bella foi deitar, passava da meia-noite.

Charlie crispou a boca quando viu a garota descendo as escadas em um átimo, tropeçando no último degrau e logo recuperando equilíbrio: Peyote vinha logo atrás, a cauda levantada. 

— Hmm… Você está atrasada? — ele era péssimo com horários escolares. 

Bella, descabelada e usando um blusão de lã, passou apressada, indo direto para reabastecer os pratinhos do gato: Charlie observou enquanto o pequeno xerife laranja andava para os lados, impaciente. 

— Tecnicamente, não — respondeu Bella, olhando para o relógio pendurado na cozinha. — Eu ainda tenho 15 minutos para chegar na escola. 

— Tome um café, criança — resmungou Charlie. — Ontem eu comprei cereal, aqueles coloridos que você gostava quando era criança. Não se preocupe, eu te dou uma carona. 

Bella sorriu de canto.

— Certeza?

— Claro! 

Rapidamente, Bella comeu um pouco daquele cereal açucarado enquanto assistia Peyote devorar um prato patê de fígado. Charlie ia conversando amenidades, atualizando-a sobre os avanços da cidade: havia um café novo na esquina principal, um lugar divertido para passar tempo com os amigos (que ela faria muitos ainda, acrescentou ele). Ele comentou do semáforo histórico que estava sendo renovado e do abrigo de animais que estava precisando de voluntários. No carro, enquanto montava uma trança embutida, Bella comentou sobre seu primeiro dia de aula e que estava ansiosa para arrumar o quarto logo. 

— Sobre isso… — Charlie olhou-a de soslaio enquanto virava uma esquina. — Acho que temos compromisso hoje à noite. Quer dizer, se você aceitar — ele pigarreou. — Não quero forçar você a nada. 

Bella anuiu.

— O que é? 

— Jantar na casa dos Clearwater — respondeu. — Quer dizer… Nós, os rapazes, sempre nos reunimos lá nas noites de jogo. Eu sei que futebol americano não é a sua praia, mas talvez você quisesse ver seus amigos de infância.

Bella amarrou as pontas da trança com um elástico fino e rosa. 

Ela se lembrava das visitas de verão à Forks. Da umidade constante, o ar abafado. Charlie tentando cozinhar algo além de macarrão instantâneo. E Sue Clearwater sempre aparecendo com uma caçarola salgada e dois filhos grudados na cintura. O menor, um garotinho empolgado chamado Seth. E a mais velha, uma menina de pele castanha e olhos pretos. Ela era linda e feroz. Sempre subia nas árvores mais altas, encontrando entretenimento naquela cidadezinha pacata. E Bella amava aquela companhia. Ela adorava passar as tardes com Leah. E, depois, quando estavam maiores, conversavam manhãs inteiras sobre garotos enquanto folheavam revistas. Mas, por alguma infelicidade do destino, elas sempre perdiam o contato entre os verões. Era uma visita animadora, que repetia-se anualmente e sem interlúdios. 

E faziam 3 anos desde que Bella passara o verão em Forks. 

— Jacob vai estar lá também — a voz de Charlie trouxe Bella de volta à realidade.

Bella franziu o cenho.

— Jacob Black? — ecoou.

Ela memorava dele também: dentes tortos, fazendo tortas de lama.

— Uhum. — Charlie parou na faixa de pedestres, permitindo que uma mulher passasse troteando. — Ele é um ótimo garoto, sabe. Bom em mecânica, indo para a escola da Reserva.

Claro.

— Talvez você queira ir por ele, não sei — Charlie balançou os ombros.

Bella piscou.

— Pai, você está tentando armar um encontro? 

— Não!

— O que?

— Claro que não!

— Sério, pai — Bella mexeu a cabeça em negação.

— Olha, ele tem falado de você há semanas — Charlie murmurou. — Pensei que vocês fossem bons amigos, sei lá. Ele parecia muito animado. 

— Bem, eu não falo com ele há anos. 

— Anos?

— Sim. 

— Caramba! Desculpe, Bells — eles já estavam próximos da escola, distantes por uma quadra. — Falei com boa intenção… Não quero pressionar nada. Eu nem sei se você gosta de garotos, sendo honesto. 

Bella riu baixo. 

— Você quer saber? Isso é uma pergunta? 

— Acho que sim. 

Ela riu de novo.

— Eu não tenho problemas, aliás — Charlie manobrou o carro, parando-o na frente do prédio da secretaria. Alguns olhos curiosos cresceram, espiando a viatura do chefe Swan. — Não sou esse tipo de pessoa. Gay, bi… Como falam mesmo? Eu vi na TV há um tempo… Ah, sim! Cis ou trans, seja lá. Eu sou tranquilo

— Isso é muito gentil, obrigada — Bella parecia divertida. — Mas o que você acha de… Lobisomens? 

— Lobisomens?

— Sim — ela concordou. — Filhos da Lua, uivando à meia-noite.

Não

Bella gargalhou.

— Não. Perigoso demais. Não estou tranquilo. 

Bella ainda sorria enquanto pegava a mochila e abria a porta:

— Você não está namorando um lobisomem, certo? — Charlie perguntou em um cochicho.

— Não! — ela quis segurar a risada, mas não aguentou. Atrasada para a aula, mas rindo com o pai? A manhã tinha se tornado boa rapidamente. — Aliás, que horas é o jantar?

Você vai? — o bigode escuro de Charlie estendeu-se em um belo sorriso.

— Claro que sim. Especialmente, depois dessa conversa encantadora. 

— Você vai adorar. É às 19h. Sue sempre prepara peixe frito, é muito bom. 

— Aposto que é — Bella já estava em pé, do lado de fora. — Você quer que eu prepare algo? Uma sobremesa para levar?

— Não se preocupe, eu vou comprar uma torta.

— Comprar? Sério?

— É de uma padaria artesanal, algo assim. É chique — ele disse. 

— Chique?

— Uhum.

— Ok. — Bella riu uma última vez. 

[...]

Edward não conseguia parar de olhar para ela. 

Era constrangedor, absurdo e sem sentido. Mas ele não conseguia desviar os olhos. 

Não havia fome. 

Da noite para o dia, a atração carnívora havia cedido. Não havia desejo pelo sangue que pulsava por baixo daquela pele pálida. No lugar do desespero assassino, Edward, de surpresa, deparava-se com uma curiosidade imensa. Aquela garota era… Diferente. Não apenas pelos talentos que carregava, não apenas pela mente silenciosa que exibia… Havia algo além. Algo que estava longe da superfície e ele queria alcançar e escrutinar, estudar. Fitá-la, a distância, parecia a melhor metodologia, considerando-se o encontro na floresta.  

— Nada — Alice jogou as mãos para o alto. Edward piscou com força; ele não era o único sofrendo com uma incógnita. — Nada. Essa garota simplesmente não existe. É como se ela não fosse real. É uma alucinação coletiva! 

— Talvez seja um erro na Matrix — Emmett sugeriu entre uma risada rouca.

Edward cravou os cotovelos na mesa, apoiando a cabeça. Ele tinha sido… Fiel. Verdadeiro ao que prometera à Bella Swan: na mansão Cullen, não havia uma pobre alma que soubesse da caça interrompida, do desvio de moral do vampiro e de toda a bruxaria extra. Os atos de Edward, comumente acompanhados pelas visões de Alice, não foram revelados, de nenhuma maneira, à vidente. Ele queria falar, ansiava para contar à irmã adotiva que acreditava ter uma explicação para toda essa confusão silenciosa. Bella não era humana, não totalmente e ele tinha quase certeza que aquilo interferia nas habilidades deles. Era algum feitiço ou um escudo natural, era algo além dos poderes vampíricos. 

Ele manteve-se quieto.

Eles tinham um acordo, formal pelos costumes humanos de confiança mútua. E algo, maior que o caráter de Edward, retinha-o no silêncio. Era uma espécie de compromisso que, secretamente, ele gostava de obedecer. 

O comportamento mudo do rapaz, contudo, não tinha passado despercebido. Após Rosalie, ele foi investigado por todos os membros da família. Diferentes preocupações surgiam, questionamentos eram pronunciados. Esme e Carlisle extremamente fraternais, Jasper tentando compreender os sentimentos de Edward e Alice bombardeando-o com perguntas. Ela começava a cismar, ele ouviu nas profundezas da consciência dela. Ela ainda não sabia como montar as peças, o que acusar, mas não perdia um instante de consideração. 

Ele prendeu o ar e soltou. 

E olhou-a novamente.

Bella estava sentada à mesa com os amigos. “Amigos”. Todos aqueles garotos idiotas, pensou Edward. Ela ria e dividia histórias sobre o Arizona, saciando a curiosidade dos adolescentes. Ela tinha um gato, ele escutou a conversa. Peyote. O celular da garota passava de mão em mão na rodinha enquanto todos espiavam a mesma foto do pet: no reflexo das mentes, Edward viu a imagem de um felino gorducho e cheio de pose. Ele detestava gatos. Detestava. Mas ela era linda. E ele apreciou enquanto ela mastigava um pedaço de maçã. Ela continuava usando aquele anel de quartzo e prata, a fitinha vermelha no pulso e, novidade, um colar com um pêndulo fechado. Edward semicerrou os olhos, perguntando-se se aqueles símbolos teriam algum significado especial. Se tudo que envolvia Bella estava tomado de mágica e superstição. 

E naquela contemplação descarada, o período do almoço passou. Bella comeu salada e frutas enquanto se divertia com os colegas e Edward ficou hipnotizado, preso demais naquela cena para fingir que estava interessado em almoçar. Ele ignorou o burburinho que vinha dos irmãos, feliz em se sentir enfeitiçado. 

— Como está sua sede? — Jasper perguntou enquanto eles saíam pelos corredores.

— Em controle. — Edward respondeu rápido. 

Noite passada, ele tinha inventado uma mentira esfarrapada (tudo para manter os pontos com Bella). Afirmou acreditar que fora um escorregão momentâneo, uma fraqueza particular, e que após devorar meia floresta, estava bem. Sentia-se em controle agora, pois reafirmara seus valores e comera mais do que devia. Não porque ele tinha sido alvo de um ritual de controle. Não. Ele era forte e sóbrio. 

Edward seguiu para a aula de Biologia. 

E, para seu total agrado, encontrou Bella conversando com o professor. A conversa foi rápida e logo Bella procurava seu lugar na sala, sendo interrompida por Mike Newton e alguma piadinha boba que ele queria fazer. Ela assentiu, forçando uma risada, e assumiu seu lugar ao lado de Edward. 

Edward entreabriu os lábios. 

Sentia-se fora do eu habitual, sendo vítima de uma interesse e empolgação inexplicáveis. Não compreendia o que sentia, o porquê de tantas emoções sem aviso prévio, mas sentia-se, verdadeiramente, com 17 anos. Droga.

Bella sentou, calma, e puxou o livro da matéria e uma caneta. Ao lado, pousou um caderninho de capa verde. E, contrariando os milhares de cenários que a mente ansiosa de Edward considerou, virou-se e falou com a voz baixa e cortante:

— Encarar não é nada educado. 

E tornou de volta ao livro, abrindo-o com a curiosidade de quem descobria o material novo. 

Edward ficou atônito; a pele do rosto formigou, como se ele quisesse ruborizar. 

— É, isso mesmo — Bella continuou virando as páginas, sibilando. — Qualquer idiota notaria. Se você quer resolver algo comigo, é só me procurar. 

Ele havia sido pego em flagrante.

E, como o criminoso que era, estava desprovido de argumentos.

— Bem — ele limpou a garganta. — Não acho que tenhamos algo para resolver. 

Bella enrugou a testa. 

— Certeza?

— Sim.

— Ótimo. 

Mas ela não estava satisfeita.

E muito menos ele.

— Por que tantos olhos, afinal? 

Edward mordeu o interior da boca.

— Desculpe se eu encarei. Estamos em uma situação excepcional.

— Sim.

— É a primeira vez que conheço alguém como você.

Bella não se importou em olhá-lo de volta e moveu-se, pescando uma caixinha da mochila. Com a alegria de uma criança que abre os presentes na manhã de Natal, Edward acompanhou enquanto a jovem equilibrava óculos de grau em cima do nariz. Hastes pretas, levemente arredondado. 

— Você precisa de óculos? — ele segurou um sorriso.

Era tolo achar que bruxas não teriam problemas oculares?

— Essas letrinhas são miúdas demais — ela resmungou dando um tapinha no ar. Sendo o que Edward viu como um “finalmente”, ela voltou a encontrar os olhos nos dele. — É a primeira vez que eu vejo alguém como você também, mas encarar continua sendo inconveniente.

Ele anuiu.

— Acredito que você tenha razão. 

O professor começava a escrever no quadro. 

— Sinceramente — disse Bella. — Eu não tenho problemas em conversar com você. Também tenho perguntas. 

Edward sorriu de canto. 

E, outra vez, a atenção de Bella foi para a aula. 






 


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Notas finais do capítulo

Como acredito que não nos veremos até 2022, quero desejar um bom réveillon a todos! Se cuidem, sim? Mantenhamos a saúde para um ano mais esperançoso e próspero! Obrigada por todo o carinho e paciência que demonstraram comigo durante 2021. ♥
Lisa x



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