Moonlight escrita por lisa gautier


Capítulo 3
Destino


Notas iniciais do capítulo

Olá! Caros leitores, acredito que eu tenha prometido atualizações semanais, mas (usarei minha discalculia como desculpa) me perdi no tempo e retorno aqui depois de 10 dias. Desculpe :/
Trago um capítulo recheados de novidades e desenrolares... Boa leitura!



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Capítulo Dois: DESTINO

Fome.

Fome era a única maneira que Edward sabia descrever a sensação que sentia. Fome, uma fome egoísta e desesperada. Fome do sangue quente e doce dos humanos. Não, não dos humanos. Daquela humana, uma humana. Bella Swan.

O vampiro zarpou da cantina escolar, os punhos cerrados e o corpo tremendo. Que ganância, que desejo avassalador o abalava! Se não fosse pela calmaria forçada de Jasper, se não fosse pelo guia moral forte dentro de seu peito, já teria pulado da mesa — da cadeira direto para a veia principal do pescoço, finalmente, encontrando o júbilo que tanto ansiava. Não, não podia. Andou pelos corredores, sentindo-se febril: ainda sentia o veneno acumulando como saliva, a gengiva coçando por uma prova da carne. Não

Como podia se comportar daquela maneira depois de tantos anos? 

Sentou-se na poltrona carona do carro enquanto o irmão adotivo ligava o motor. A saída antecipada havia sido desculpada pela enfermeira, que temia que o garoto estava “doente” demais para permanecer entre os outros alunos… Os poderes de Jasper, com certeza, tiveram grande poder em tal diagnóstico.

A velocidade extrema do carro passou despercebida por Edward. 

O corpo no carro, a mente na morena novata.

Em minutos, sua consciência correra por incontáveis cenários.

Imaginou-se dando vazão a todos os instintos que guiavam a existência vampírica. As presas sobressaídas, livres de qualquer contenção: a boca aberta, cravando os dentes… Argh. Beberia devagar, considerou depois, apreciaria com calma… Aquilo seria a sensação de uma vida inteira… Aquela raridade de sangue não poderia ser engolida aos engasgos. Lentamente. Rápido. Deveria ser ágil, ele se corrigira. O pânico se instalaria no salão de almoço. Na floresta, ele a atrairia até a floresta. Talvez controlasse a gula, manteria a fachada por mais algumas horas e depois se debruçaria sobre o corpo adormecido da menina. Era um bom rastreador, ainda mais em uma situação tão atípica… Se deixaria guiar, encontraria a casa dela e, quando tivesse dormindo, mataria aquela fome. Ela não teria tempo de reagir enquanto estivesse no mundo dos sonhos, nem sentiria que ele matava mais que os próprios desejos… NÃO

Edward grunhiu, escondendo o rosto entre as mãos. 

Jasper olhou-o de soslaio, a mente firme: afastaria Edward da menina, continuaria usando seus poderes emocionais e não permitiria que o irmão caísse em tentação. Tamanha ironia, Edward travou a mandíbula, que estivesse sendo salvo pelo mais descontrolado da família. 

— O que está acontecendo? — Esme Cullen estava na porta da casa antes do carro estacionar. As mãos entrelaçadas e o rosto franzido em uma preocupação materna.

Edward desceu, esquisito, dopado em desejo e culpa. 

— A nova aluna — respondeu Jasper enquanto mandava outra onda de sossego. — O cheiro dela… Edward quase perdeu o controle. 

Esme correu para o encontro de Edward, abraçando-o e guiando-o para dentro de casa. Havia um caos de pensamentos, uma ansiedade generalizada, vozes sussurradas se sobrepondo. Demorou cerca de 4 minutos para Edward discernir que Emmett, que viajara por alguns para resolver os negócios da família no Tennessee, estava de volta. Ele não falava, não oralmente: mentalmente, gritava. Um tipo de memória pesada, cheia de constrangimento, rodopiava pela cabeça dele. Ah

Emmett memorava daquele dia fatídico, quando encontrara o cerne de sua fraqueza. Uma mulher comum, presa em seus costumeiros trabalhos, pendurando lençóis no quintal. Nada extraordinária, se não fosse o aroma intoxicante do seu sangue. Ele não resistira, não tivera a força o suficiente para se afastar. Correra ao encontro daquela vida, grudando-se ao pescoço até que a fonte estivesse seca. O sabor…

— Emmett! — Jasper ralhou.

As emoções de Edward intensificaram-se, moldando-se conforme sua mente se fragmentava, unindo-se às memórias de Emmett. O vampiro de cabelos negros ofegou, envergonhado. Ele se levantou, pronto para se afastar, mas Esme interferiu:

— Por favor, fique. Talvez precisemos de você — Edward via nela a necessidade de força bruta, para caso ele perdesse a luta. 

— Controle seus pensamentos. — Edward resmungou.

[...]

Começava a anoitecer quando Bella saiu de casa.

Casaco abotoado, camisola cerimonial e uma bolsa de couro cheia de ingredientes. Ainda estava se habituando àqueles poderes, descobrindo mais de suas afinidades e talentos naturais, e seguia as ordens do grimório particular da vovó Swan. Não era um ritual de proteção muito extenso, na verdade, seria bastante simples. As rezas variavam, ela observou, e talvez exigisse mais devoção que o comum.

Baixinho, a garota bufou.

Queria estar em casa, com o aquecedor ligado e ouvindo os ronronados de Peyote. Começaria a arrumar o quarto, livrando-se dos adesivos e exibindo aquele pôster lindo de Rumours, do Fleetwood Mac. Se irritaria montando a estante de livros. Pesquisaria na internet o preço de uma vitrola usada. Trocaria as cortinas de bebê pelas cortinas creme que Renée comprara. Não seria nada extravagante, nenhuma experiência insanamente divertida, mas seria… Comum. Ela ansiava por um pouco de normalidade, por uma rotina que não exigisse encantamentos preventivos.

Mas era um sonho à toa, gastava energia a troco de nada.

Era óbvio que ela seria um ímã para criaturas sobrenaturais. Era o rumo natural, a organização cósmica: onde houvesse vampiros, haveria lobos ou lobisomens. Onde houvesse um lobisomem, haveria uma vidente. Onde houvesse uma vidente, haveria uma necromântica. Era uma atração em cadeia, ela sabia.  

Era a primeira vez que ela performaria um ritual longe do calor sufocante do Arizona. Instintivamente, Bella entrou pela floresta. A natureza reconhecia aqueles que privilegiava e conduzia. Logo, pararia no coração energético das matas e, então, poderia seguir com as etapas.

Ah, como sentia falta da vovó! 

Aquele grimório era maravilhoso, mais completo que qualquer enciclopédia, mas soava um tanto vazio sem a presença da matriarca da família Swan. Ela tivera poderes também, lindos poderes; quando Bella brincava no chão, ela fazia flores nascerem do concreto. Ela adorava levitar coisas, mecanizar objetos: enquanto tricotava, deixava uma panela no fogão, mexendo-se e temperando-se sozinha. Charlie Swan fora criado no doce caos do sobrenatural, sabendo um pouco sobre os talentos da mãe e nada além disso. Ele era um homem e aqueles poderes eram destinados apenas às mulheres. Renée, sendo uma mulher simples, jamais pudera ajudar Bella. 

Sem outra mulher para ensiná-la, a jornada era solitária. 

Bruxaria era um negócio familiar, a base de costumes passados de geração em geração. Entre tão poucas da espécie, era essencial manter as tradições vivas. Havia a Delta, o conclave místico, mas tal apenas se revelava aos 19 anos, concedendo direitos e leis às jovens mágicas. Em alguns casos, a Delta era convocada antes do tempo padrão: vovó Swan contava dos pulsos firmes das feiticeiras milenares, dos perigos de relações inter-espécies. Bruxas, em sua natureza, eram o elo mais fraco da cadeia: o poder fluía apenas em mulheres e sempre se perdia quando unidos a genes de lobisomens ou vampiros.

Vampiros.

Bella bufou pela segunda vez. 

Aquele maldito tarô incompleto, aquilo fora má sorte pura!

Vampiros em Forks. 

Vampiros no Ensino Médio. 

Segundo os diários da vovó, vampiros de olhos topázio se alimentavam de sangue animal. Aquilo explicava o autocontrole deles em sala de aula, pensara Bella, a força para ficar em uma escola diariamente e não pintar as paredes de vermelho. Era algo… Bom. Um alívio. Não havia denúncias de homicídios ou desaparecimentos nos últimos 7 meses…

Mas segurança nunca era demais. 

Vampiros deveriam ser criaturas fascinantes, mas Bella não apostaria a jugular nisso.

[...]

Edward, lutando contra sua própria natureza, escolheu o auto-controle.

Isolou-se por alguns instantes, tentando evitar o burburinho mental que se instalava na residência Cullen, e após algumas horas de reflexão, decidiu caçar. Não poderia conviver consigo mesmo se virasse um assassino. Antes um assassino de assassinos, agora um homicida que arrancava vidas inocentes? Não. Ele não viveria daquela maneira.

Ainda tentava ser uma criatura racional. 

Encontrou, na floresta, um consolo. 

Afogou-se no sangue cálido e salobo, lidando com a noção que aquele cervo jamais se compararia ao sabor daquilo que causava sua fraqueza. Eles eram um clã, afinal, lembrou-se Edward, caçando um esquilo. O quão estúpido se sentia, enchendo a barriga de sangue no desespero de apagar a própria memória. Clã. Uma família. O que ele fazia ia muito além de consequências particulares. O erro de um poderia custar a existência de outros seis. 

Ele se debruçou sobre o que deveria ser a quinta presa. Estava cheio, enjoado, e ainda sim, faminto. Sofria de um descontrole emocional, desejando o que não suportaria. Socou uma árvore, vomitou um pouco de sangue, gritou sozinho. Tentou caçar de novo, observando os leões da montanha. Cheirava bem, o sangue dos carnívoros. Mas não como ela. 

Ele se movia entre as árvores, sinuoso. 

Um jogo de poder onde os papéis são invertidos. 

O pobre leão, perdido em sua curta existência, não sabia distinguir a criatura diante de si. Não era humano, não era animal. Era feroz, com as presas escorrendo veneno, mas não estava vivo. E nem morto. Ele não tinha consciência para discernir o que viria pela frente, agindo pelos instintos que a natureza lhe dera: chiou, rugiu, cravou as unhas na terra, estranhando o que enxergava. E não teve tempo de reagir: logo, debatia-se no chão, tendo a carne rasgada. Sangue, finalmente, um pouco satisfatório. Edward arqueou a cabeça, respirando com alívio. 

E, como um puxão de realidade, ele foi relembrado de sua natureza fria:

estava.

Aquele cheiro, doce como mel. 

Ambrosia dos vampiros.

Edward se contorceu. 

A boca ainda escumando do leão da montanha. 

Lá estava ela. 

Meio quilômetro de distância. 

E, como um ímã, saltou na direção dela. Sem pensar, totalmente tomado daquele desejo insano. Sentia a gengiva, novamente, pedindo por libertação. O corpo compulsava na tentação. 

Ela estava tão próxima, tão próxima. Garota tola, ele conseguiu pensar, que diabos estaria fazendo em uma floresta? Era o destino, era o desejo maior. Ela estava condenada. 

E ele estava cego. 

Era um frenesi e não havia moralidade que o impedisse. Naquele momento, sofreu uma amnésia; esquecia de tudo que considerara anteriormente. 

A fome lhe consumia, o fogo escalando as paredes de sua garganta. 

Alguns passos de distância, encontraria Bella. 

Sangue borbulhando, doce como mel.

Edward mal capturava os movimentos do próprio corpo enquanto se aproximava do som suave. Um farfalhar, um estalar delicado. Uma aura atrativa, muito além da carne. Edward achegava, como um boneco atrapalhado, tropeçando em direção ao que seria seu futuro. 

E encontrara:

Um longo círculo de sal grosso perdia-se pelas folhas secas, isolando o coração da floresta ao redor de uma fogueira pequena e flamejante. Edward acompanhou com os olhos, tomado de interesse, observando diversos frascos vazios derrubados no chão e uma Bella concentrada ajoelhada diante do fogo. Ela sussurrava tão baixo, quase inaudível, recitando em uma linguagem desconhecida para Edward. 

Uma oração, considerou o vampiro. 

Ela movia os lábios lentamente e sem parar, de olhos fechados. Ergueu-se, de repente, em um movimento elegante e tirou o casaco preto, revelando um vestido branco de ombros caídos. Indiferente ao frio, Bella continuou e agora retirava os sapatos, ficando descalça na terra úmida. A reza parou e em uma série de movimentos delicados, de devoção, ela moveu-se ao redor da fogueira crepitante. Os braços ondulando, as pernas dobrando-se, o corpo balançando-se em uma espécie de transe. Música não era necessária para que aquela dança continuasse e outras orações fossem entoadas. 

Edward tocou no próprio pescoço, sentindo uma estranheza subir. A fome, a ansiedade de matar, evaporava enquanto aquela estranha humana seguia uma coreografia espiritual. Ele se inclinou, tentando ouvir algum pensamento ou entender uma palavra daquela língua. Nada

Incrédulo, Edward continuou sua investigação silenciosa. 

Conhecera muitos adolescentes místicos, apaixonados pela ideia do sobrenatural, pelo poder que vinha da Terra, mas aquilo era diferente. Carlisle, há muitos anos, contara sobre elas. Uma espécie muito rara, perdida no sangue humano. Belezas indescritíveis e de poderes desconhecidos, desde escatomancia até necromancia. Aquelas damas, discretas entre os homens, ainda tinham contato com o que chamavam de Véu. Edward semicerrou os olhos quando a fogueira respondeu em uma chama alta e ardente, tornando-se azulada. Ali estava ali, aquela figura que ele só conhecera através das lendas, através das histórias sobre o pai de Carlisle. 

Uma bruxa.

Como se os pensamentos de Edward fossem gritos desesperados, a dança terminou de maneira abrupta e Bella virou-se, o rosto franzido ao olhar ao seu redor. O coração, acelerado pelos cânticos e dança, disparou mais ainda. Ela sabia que ele estava ali. 

Edward virou-se. 

Era uma sensação estranha, ele sentia em seu peito, como se tivesse cometido um erro terrível. A literatura sobre bruxas era tão diminuta, mas ele soube, soube na alma, que havia errado. Não temia, não tinha medo algum, mas entendia que cruzara algum limite ainda muito borrado. Flexionou os joelhos, pronto para correr e debateu-se quando espatifou, batendo contra uma parede invisível. Levantou-se, esquisitamente tonto. O que estava acontecendo?

O vampiro franziu o cenho. 

Forçou contra a fúria invisível, empurrando com os ombros, braços e rosnando alto. 

Como se tivesse sido puxado pelo capuz, desapareceu por um instante antes de pousar brutalmente próximo a fogueira. Edward piscou, sentindo como se sua alma pesasse uma tonelada. Um misto de emoções tomou-lhe o peito, ofegante. 

Bella ajoelhou-se ao lado de Edward, olhando-o com a curiosidade de um gato. 

— O que você estava fazendo? — perguntou simplesmente. 

Edward crispou os lábios e tentou se sentar. 

Continuou imóvel, como se tivesse amarrado no chão. 

— O que você está fazendo? — ele retorquiu, movendo-se com toda sua força. 

Nada aconteceu.

— Um ritual de proteção — Bella escorou os cotovelos nas próprias coxas. Parecia distraída, um tanto indiferente ao vampiro feroz que se contorcia na ânsia por liberdade. — Acho que funcionou. — ela sorriu de canto. 

Edward jogou a cabeça para trás. 

Já fora submetido a diferentes poderes, como a falta de sentidos de Alec, as dores excruciantes de Jane e os choques de Kate Denali, mas jamais se sentira tão vulnerável. A força vinha de uma fonte desconhecida, assustadoramente nova para o vampiro centenário.

Me solte. — ele mandou em um chiado.

— Ainda não — Bella mexeu a cabeça em uma negação. — Precisamos conversar.

Edward suspirou.

— Como está a sua sede? — Bella se levantou, caminhando até a uma bolsinha de couro. 

Edward piscou com dificuldade.

— O que? 

— Sua sede — Bella pescou uma garrafa do fundo da bolsa, abrindo com um estalo. Edward sentiu o cheiro e ouviu as bolhas: refrigerante de laranja. Ela estava oferecendo uma bebida? — Quer dizer — Bella lambeu os lábios cheios de açúcar. — Sua fome por sangue.

Edward ficou em silêncio por um instante, considerando as diversas implicações daquela conversa. Pensou uma sua família, seu clã, e lembrou-se dos reis vampíricos, os Volturi. Nenhum crime havia sido cometido, ele não havia se revelado… Mas uma ansiedade lambeu o corpo de Edward, novamente tomado por uma culpa. O que mais Carlisle saberia sobre bruxas? 

— Sob controle. — disse ele, seco.

Bella assentiu. 

— O ritual funcionou perfeitamente, então — Bella fechou o refrigerante. Pegou o casaco do chão, sacudindo-o da terra antes de vesti-lo. — Eu quero soltá-lo, entenda, mas eu preciso da sua honestidade. 

— O que? — Edward virou o rosto, fitando-a enquanto ela se aproximava novamente.

— Eu entendo que o meu sangue lhe atraiu — ela disse. — E, por mais bizarro que seja, eu entendo, porquê você é um vampiro, afinal… Eu não sou muito cuidadosa, eu vou admitir. Você não deveria ter visto esse ritual e eu devia ter sido mais diligente… Mas eu não quero morrer cedo e preciso saber a verdade.

Edward soltou um grunhido, tomado de constrangimento. 

Jamais imaginara discutir seus desejos mais sombrios com uma garota de 18 anos… Principalmente, com a menina que seria a vítima. 

— Você vai me matar?

— Não.

— Seja verdadeiro.

— É verdade! 

— Como eu vou saber? 

— O que? 

— Se você não está mentindo.

— Eu não vou te matar, por Deus.

— Você ia.

Ele não acreditava na conversa que estava tendo.

— Por que você veio até aqui? — ela inquiriu, calçando um par de All Star. 

Edward engoliu um pouco de veneno. Ela era esperta.

— Certo — Bella passou as mãos pela lapela do casaco. — Você ia me matar.

Ele não a olhou.

— O ritual controla apenas o seu apetite, você sabe — ela continuou. — Mas não está no controle do seu caráter. 

— O que? — um vinco surgiu entre as sobrancelhas de Edward. 

O que o que? — Bella bebericou do refrigerante outra vez. 

— Você está sugerindo que eu mataria pelo simples prazer de tirar uma vida? 

Bella mexeu de ombros.

— Eu não sei, eu não convivo com vampiros — ela disse. — Você não parece cruel. 

— Eu não sou.

Agora.

Edward fechou os olhos. 

Sua noite não poderia ficar mais absurda, poderia?

— Como você soube? — indagou ele. — Que eu estava atraído pelo seu sangue. 

Bella respirava profundamente, ainda recuperando o fôlego da dança. 

— Eu apenas sabia. 

Edward abriu os olhos: o céu estava estrelado.

— Ninguém apenas sabe — retrucou ele. 

— Você está envergonhado por querer me matar? — provocou ela em um tom falso de piedade. 

Responda.

— Não.

Bella movimentou-se, exasperada, juntando a bolsa. 

Como se a gravidade estivesse se contorcendo em alguma falha, Edward sentiu o corpo flutuar levemente antes de estourar contra o chão: estava livre. Ele ficou em pé em um segundo, restaurando seus sentidos. A garota estava próxima a fogueira, cochichando como se falasse com um ente querido. O azul se dispersou, dando espaço ao laranja habitual do fogo. Bella encarou Edward: parecia furiosa. 

Ele não teve muito tempo de reação, logo a menina se aproximava em um andar estressado. Apressada, o rosto retorcido em irritação. Parou alguns passos dele, retraindo a si mesma. Ela mordeu a boca. 

O que se passava naquela mente? Ele desejava tanto saber.

— Eu preciso da sua discrição. — pediu ela, então. — Um vampiro viver entre humanos, eu imagino, deve ser um esforço imenso. Ninguém na Escola parece ter noção do que vocês são. E eles não podem saber de mim, também. Você não deveria ter visto o final do ritual, Edward. Você não deveria, mas você viu. E agora precisamos conter os danos. 

Era a primeira vez que ela falava o nome dele. 

— Conter danos? — ele balbuciou. 

Bella assentiu.

— Você vai apagar minha memória? — Edward perguntou, sentindo-se uma criança em idade pré-escolar.

Era tão… estranho… Desconhecer o sobrenatural, aprender, novamente, sobre o mundo em que vivia há tantos anos. 

Bella gargalhou.

— Apagar sua memória? — ela parecia admirada pela ideia. — Talvez eu te transforme em um sapo.

Como

Ela riu mais alto.

— Caramba, você é inocente! — ela deu um tapinha no ar. 

Ele estava embasbacado. 

— É muito mais simples — Bella deu 3 passos, cortando a distância entre eles. Ela tinha um perfume adorável, notou Edward; um aroma agradável e simples, feminino… Era como se o sangue estivesse nulo na existência dela. Ele quis sorrir, pois nunca se sentira tão confortável perto de… Uma humana? Uma meia-humana? Ele não sabia bem como descrever, mas ela estava viva. E não havia sofrimento físico em estar próximo dela. Não mais. — Vamos fazer um pacto. 

Bella puxou punhal cigano curto, contendo uma pedra escura. 

Edward ergueu uma sobrancelha. 

— Eu não tenho sangue nas veias. — ele disse. — Eu não sei que espécie de pacto é esse, mas eu também não acho que é seguro mexer com sangue agora. Mesmo que você tenha feito um ritual… 

— Não seja bobo — ela mandou. — Bruxas não fazem pactos de sangue. Quantos anos você tem? Não aprendeu nada ainda? — e, sem aviso prévio, puxou a mão de Edward. Ela tinha a pele quente e macia, diferente do mármore que ele possuía: ele tentou puxar de volta, mas outra vez, era escravo de uma força invisível. 

— Duas pessoas não precisam concordar em pacto? O que você está fazendo? — segurando o pulso de Edward com firmeza, ela deslizou a lâmina da adaga. Desenhava padrões invisíveis, nunca ferindo a pele, e entoava algum cântico baixo. Ele franziu a testa. — Inferno, eu não consigo ler a sua mente! Você pode falar algo?!

Bella pausou.

— Você lê mentes? 

Ele ficou em silêncio, punido pelo próprio descuido.

— Vamos fazer o seguinte — Bella guardou o punhal e, sem constrangimento, passou a mão pelo punho de Edward, como se apagasse o que antes fazia. Ele se arrepiou da cabeça aos pés. — Sem mágica, apenas um acordo. 

Jesus — ele resmungou, retraindo o pulso.

Edward colocou as duas mãos nos bolsos da calça. 

— Isso — Bella gesticulou, mostrando o redor. — Não aconteceu, certo? Nós nunca nos vimos aqui. Não houve ritual, não houve discussão, nada. Nunca nos vimos fora da escola. 

Edward concordou. 

— E você é… Humana

— Sim — ela anuiu. — Assim como você. 

— Claro. 




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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam desse encontro na floresta? Preciso dizer que eu adorei escrever eles nesse caos ahahaha
Lisa X



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