O noivo de natal escrita por KayallaCullen, Miss Clarke


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos, a mais uma história da minha autoria.
Espero sinceramente que se divirtam com essa narrativa, esquecendo um pouco a nossa realidade de pandemia, mas tenho fé que em breve tudo passará e poderemos respirar mais aliviados depois de tudo.

Ps: No interior deste capitulo contém menções sobre racismo e preconceitos, se não se sentir confortável para lê-lo está tudo bem, é só pulá-lo e seguir em frente.

Sem mais delongas, fiquem com o começo de O noivo de natal.
Boa leitura a todos.



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Sorri olhando para meus alunos sentados em suas carteiras, concentrados em fazer os melhores desenhos sobre a história que havia acabado de lhes contar, chapeuzinho vermelho, escolhida pela sala para ser contada esse mês. Sempre realizava uma votação entre eles para saber qual seria a narrativa escolhida, iniciativa que deixava todos eufóricos por poderem darem sua opinião, me deixando feliz em ver que meus alunos se sentiam valorizados e respeitados com essa dinâmica.

Sempre que me questionavam sobre minha profissão e respondia que era professora do jardim de infância, as pessoas me olhavam sem acreditar ou como se duvidassem da minha sanidade mental, mas ignorava seus olhares e apenas sorria orgulhosa do que fazia. Amava lecionar e saber que ajudava algumas daquelas crianças, a descobrirem pela primeira vez o poder da leitura, era algo que não tinha preço o que me permitia ter mais amor pelo que fazia.

Mesmo que ser professora no nosso país não fosse uma profissão valorizada, não trocaria meu oficio por nada nesse mundo, pois sabia que o que fazia contribuía para transformar a próxima geração em indivíduos melhores.

—Tia Amanda? - Glória me chamou ansiosa acenando da sua cadeira, me levantei da minha mesa e caminhei em sua direção ajoelhando ao seu lado.

—O que foi, querida? - questionei curiosa olhando em seus olhos castanhos cor de chocolate e ela apontou para o seu desenho em cima da mesa.

—A senhora acha que preciso de mais azul? - ela questionou me apontando uma boneca no “estilo palito” com o que parecia ser um capuz azul em cima da sua cabeça.

—Não Glória, ela está linda, mas porque o capuz da sua chapeuzinho é azul? - questionei curiosa para a minha aluna de cinco anos que deu de ombros.

—Não gosto de vermelho, acho azul mais bonito por isso achei que a minha chapeuzinho podia ser azul e com all star combinando. - Glória disse animada me explicando seu desenho e sorri surpresa diante da sua criatividade, mesmo que só lecionasse a dois anos e meio nunca deixaria de me surpreender com a criatividade das crianças. - O que acha tia Amanda?

—Eu achei incrível, Glória, parabéns pela escolha. - disse orgulhosa dela que sorriu animada, antes de ouvir a voz da diretora Sônia me chamando na porta da minha sala.

Me despedi de Glória e avisei as crianças que me ausentaria por alguns instantes, antes de caminhar em direção a diretora que estava com a expressão séria, como se estivesse prestes a dizer algo que não queria.

—Está tudo bem, Sônia? Você parece preocupada. - questionei e ela respirou fundo, tomando coragem para me contar o que parecia ser uma notícia ruim.

Por favor, Deus, que ela não esteja aqui para me demitir.

 Tudo que não precisava agora era disso, ainda estava pagando minhas tão sonhadas férias no Caribe com a minha amiga, Sarah. Só mais algumas prestações para quitarmos nossa viagem, antes de embarcarmos e só voltarmos no final de janeiro do ano que vem, renovadas e relaxadas para mais um ano letivo.

—Não queria ter que lhe dá essa notícia, mas...- Sônia começou a dizer com pesar e gemi angustiada, me fazendo lamentar mentalmente por ter que dizer adeus a minha tão sonhada viagem que planejava a anos ao lado da minha melhor amiga.

—Por favor, não me diga que irá me demitir? - questionei aflita para ela que piscou surpresa, como se não esperasse por minha pergunta.

—Claro que não Amanda, você é uma professora incrível, as crianças a adoram assim como seus responsáveis e todos dessa escola. Tê-la como nossa professora, foi a melhor decisão que pude tomar e não se preocupe, pois pretendo mantê-la em nosso corpo docente por um bom tempo.

—Saber disso me deixa muito feliz, mas o que gostaria de me dizer? - questionei confusa e ela respiro fundo, me deixando aflita.

—É o seu avô, Amanda...- Sônia começou a me dizer e segurei a respiração apavorada com o que iria me dizer, pois meu avô paterno tinha problemas cardíacos e necessitava de um transplante, o que segundo os médicos na sua atual condição clinica poderia ser perigoso.

Assim que Sônia terminou de me contar que meu avô havia passado mal novamente e estava no hospital, implorei que me autorizasse ir até o local para saber como ele estava, muito gentilmente ela não só permitiu que fosse como tirasse o dia de folga.

Emocionada, agradeci entrando na minha sala em seguida, me despedindo das crianças e explicando superficialmente o motivo da minha ausência, antes de sair correndo da escola fazendo parada para o primeiro o primeiro taxi que passava na rua.

Assim que desci do carro após pagar o motorista, corri em direção a recepção encontrando minha mãe ali.

—Graças a Deus, você conseguiu chegar filha. - minha mãe disse amorosa caminhando em minha direção, me abraçando com carinho enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas imaginando o pior.

—Por favor, mamãe, não me diga que o vovô...- pedi com a voz embargada e ela me afastou de leve, para que pudesse olhar nos olhos.

—Não, querida, seu avô está vivo, mas o médico nos informou que a situação dele é delicada e que devemos evitar qualquer tipo de aborrecimento, pois seu coração pode não aguentar. - mamãe disse suave acariciando minhas costas de leve, tentado me acalmar mas não havia carinho que pudesse tranquilizar meu coração aflito.

Não conseguia imaginar um mundo sem o meu avô.

Ele sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida, foi por causa de todo amor que demonstrava ao me contar suas aventuras como professor, que escolhi a mesma profissão pra mim.

Era injusto demais para um homem que sempre teve tanto amor para dar, estar doente da sua maior qualidade, o coração.

—Filha, respire fundo e tente se acalmar, enquanto seu avô viver temos que manter a esperança. Seu pai está falando com os médicos, parece que eles irão realizar novos exames para saber se há alguma chance de realizar o transplante no João até o final do mês.

—Mas mãe, os médicos não descartaram o transplante antes?

—Sim, mas eles decidiram reavaliar o caso, agora só precisamos pedir a Deus que tudo dê certo no fim. - mamãe disse e concordei, enquanto ficávamos na recepção à espera de noticiais.

Logo meus irmãos mais velhos apareceram na recepção aflitos por notícias, mas desde que havia chegado não sabíamos nada sobre o estado do meu avô o que nos deixava desesperados, especialmente minha mãe. Para ela, vovô era uma espécie de pai, pois desde que começou a namorar meu pai meus avôs maternos fizeram de tudo para acabar com o romance deles.

 Quando viram que não conseguiriam acabar com o relacionamento dos dois, decidiram renegar minha mãe, pois desejavam um pretendente diferente para a filha, mas no fundo ela sabia que aquilo era apenas uma desculpa, mamãe tinha plena consciência que eles jamais aceitariam que um homem negro fizesse parte de sua família. Uma atitude que até hoje me deixa horrorizada, só de pensar que tal ideia pudesse ter se passado pela cabeça deles.

Só soubemos dessa história, quando tinha treze anos e esbarrei sem querer em uma senhora no meio do corredor do shopping, estava distraída demais olhando uma vitrine da nova livraria de mãos dadas com mamãe, enquanto buscávamos um presente de dia dos pais para o meu pai.

Assim que olhei para a elegante senhora em minha frente, sorri surpresa e comentei em voz alta a semelhança dos seus olhos verdes com os meus, uma característica física que só eu possuía na minha família, mas fiquei confusa assim que percebi o quanto minha mãe estava pálida, como se tivesse visto um fantasma e a senhora olhava para nós de cima, como se não devêssemos estar ali. Sem dizer uma palavra, mamãe me levou para longe daquela mulher misteriosa sem explicar o porque do seu comportamento estranho.

Depois desse fato, meus pais nos contaram tudo que aconteceu antes de nascermos, sobre nossa família materna ter nos renegado, desde então para mim e meus irmãos mais velhos, só tínhamos um avô e ele se chamava João Nunes.

Mesmo depois de tantos anos, ainda considero intolerável saber que existiam pessoas preconceituosas no mundo que se achavam melhores do que as outras, por causa do seu tom de pele. Todos éramos iguais, sem qualquer distinção. Porque se posso sangrar você também pode, assim como para todos os outros sentimentos. mas no fim o mundo só será melhor, quando todos compreenderem isso e pararem de discriminar os outros por sua cor, sexo, religião ou orientação sexual.

—E então, pai? Como o vovô está? - Pedro, meu irmão mais velho, questionou assim que meu pai se aproximou me fazendo parar de pensar no passado.

—Acho melhor nos sentarmos, pois será uma longa conversa. - meu pai disse sério e concordamos, antes de nos sentarmos nas cadeiras da recepção.

Logo meu pai nos contou que vovô iria passar por uma bateria de exames, para que os médicos pudessem saber como se encontrava o estado do seu coração, além de nos recomendar que fizéssemos o possível para não estressá-lo, pois poderíamos piorar seu estado já delicado. Por isso prometemos que faríamos de tudo para não aborrecê-lo, deixando-o confortável e feliz para que pudesse ficar mais tempo ao nosso lado, não importasse quanto seria. Depois das observações do meu pai e com a autorização do médico, pudemos visitar meu avô mesmo que fosse um de cada vez.

—Minha estrelinha...- meu avô disse fraco tirando a máscara de oxigênio do rosto e sorrindo, assim que entrei no quarto em que ele estava.

—Não se esforce, vovô. - disse preocupada deixando minha bolsa em cima da cadeira que havia ali, antes de me sentar ao seu lado e ele segurar sua mão.

—Sei que meu tempo está contado, estrelinha, e estou bem com isso. Já vivi muito e não tenho arrependimentos. Minha única preocupação em partir agora será deixar minha netinha querida, sozinha. - meu avô disse com pesar e o olhei nervosa por suas palavras.

—Não diga isso, vovô, o senhor vai ficar bem e não precisa se preocupar comigo. A única pessoa com quem deve se preocupar agora é consigo. Além do mais, não estou sozinha, tenho meus pais, meus irmãos e a Sarah, estou cercada de pessoas que me amam assim como o senhor. - disse suave tentando acalmá-lo e meu avô suspirou balançando a cabeça.

—Sei disso, meu amor, mas nenhum deles pode dar o amor e atenção que merece...Não acredito que irei morrer sem realizar o meu desejo de ver a minha neta se casar...- ele disse com pesar e me lembrei do que meu pai havia nos dito horas atrás na recepção do hospital, sobre evitarmos aborrecimentos para meu avô.

—Não precisa se preocupar com isso agora, vovô, apenas tente descansar um pouco. - pedi tentando fazê-lo esquecer por hora essa ideia de casamento.

—Não posso, estrelinha. Todas as vezes que passo mal e venho para o hospital, temo ser o meu fim e fico apreensivo de não cumprir a promessa que fiz a sua avó, de partir quando nossa neta caçula tivesse encontrado o homem certo...- vovô começou a dizer sem folego e coloquei a máscara de oxigênio novamente em seu rosto, vendo-o puxar o ar de forma desesperada me fazendo segurar o choro por presenciar seu sofrimento sem poder fazer nada.

Foi quando essa ideia maluca passou por minha mente, me fazendo pensar que isso poderia ajuda-lo a se sentir melhor e quando estivesse recuperado lhe contaria toda a verdade. Seria apenas uma mentirinha do bem, para que meu avô pudesse se recuperar melhor do mal-estar que havia lhe trazido para o hospital.

—O senhor precisa se recuperar vovô, afinal achei que quisesse conhecer meu noivo. - menti descaradamente para o meu avô doente, fazendo seus olhos se iluminarem diante do meu comunicado.

—Noivo?! Então, você ficou noiva querida? Porque não nos contou nada, minha estrelinha? Essa notícia deveria ser celebrada. - Vovô disse com um sorriso no rosto, me deixando surpresa diante da sua melhora ao ouvir sobre meu noivo inexistente.

—Bom, é porque...Porque ficamos noivos a pouco tempo. Além do mais, estava mais preocupada com a sua saúde do que em uma festa de comemoração...E meu noivo entendeu isso. - desconversei tentando desviar do assunto e meu avô balançou a cabeça concordando.

—Entendo, mas assim que sair daqui quero conhecer seu noivo...Como ele se chama mesmo, estrelinha? -vovô questionou curioso e abri a boca pensando em um nome qualquer que diria a ele, mas fui salva pela enfermeira que entrou no quarto anunciando que minha visita havia acabado, me fazendo agradecer por ter sido salva naquele momento.

Assim que sai do quarto comecei a pensar em como havia tido coragem de mentir para o meu avô doente?! Quando ele descobrisse toda a verdade, era bem capaz de passar mal novamente ou quem sabe até...Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos da minha mente.

Se dependesse de mim, faria de tudo para que ele nunca soubesse de nada, nem que tivesse que arrumar um noivo falso.

Só não sabia onde poderia encontraria alguém disposto a fingir ser meu noivo por um tempo, evitando assim que meu avô morresse de decepção ao saber da minha mentirinha do bem.


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Notas finais do capítulo

Só para deixar claro a todos, Racismo e Preconceito ainda são crimes, ponto final.

E ai, o que acharam do inicio de O noivo de natal?
Ansioso para o capitulo de amanhã?
Deixem seus comentários.
Beijos e até amanhã.



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