Ruas de Los Angeles, Califórnia - 03:57 hrs

Primavera de 1991.

Michael e Louise estavam em sua limusine branca, rumo à casa da cantora. Tomaram um champanhe suave e trocaram alguns beijos, nada muito atípico. Os lábios vermelhos da mulher pintaram discretamente o seu pescoço, e ele se sentiu no dever de retribuir com ainda mais paixão, arrancando um suspiro gostoso dela.

Todavia, ela sabia que não conseguiria nada mais além daquilo. Aquele encontro, desde seu início até agora, já havia provado isso. Michael era tímido, muito tímido, e talvez apenas alguns beijos quentes fosse o seu limite, ela ainda não sabia muito, embora já o conhecesse de outros carnavais.

Suas “descobertas” teriam que ficar para outro dia, a limusine estacionou nos territórios de sua mansão. Um de seus funcionários chegou para recepcioná-la, e Michael se despediu ainda dentro do carro.

— Será que você já dormiu com alguma garota…?

Ela provocou, estampando um sorriso malicioso no rosto. Eles já tinham uma certa intimidade e Michael levou na esportiva, riu em seguida.

— Você ainda duvida? Mas se quer mesmo saber, vai ter que me conquistar, senhorita. Suponho que não seja muito difícil para a Madonna.

Ela riu.

— Bye bye, Michael. Nos vemos por aí…

Se despediram e, logo após, o moreno seguiu para sua residência em Los Olivos.

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Rancho Neverland, Califórnia - 05:44 hrs

Àquela altura, muita coisa em sua vida tinha acontecido.

Assim que chegou, subiu as escadas silenciosas para chegar ao quarto, queria tomar um banho quente e dormir, estava esgotado e cheio de dores. Retirou a roupa pesada e passou horas no chuveiro, deixando que a água passeasse pelo seu corpo.

Agora, Michael tinha 32 anos. Ainda doce, ainda jovial, seu lado profissional estava em constante evolução, mas pessoalmente jamais deixou de ser o rapaz tímido e carinhoso de sua mocidade. Saiu do banheiro ainda nu, trocou-se, pôs seu pijama vermelho favorito, iria tentar dormir um pouco.

Quando jogou-se na cama, sentiu algo incomodar sua cabeça. Debaixo de um dos travesseiros, encontrou um caderno de capa cinza.

Suspirou, lembrava-se que estava o folheando naquela manhã. Aquele caderno não foi o primeiro de sua aventura surreal, mas lhe trazia memórias da mesma forma, memórias boas e dolorosas. Indagava-se muitas vezes se tudo o que passou não havia sido um delírio, evitava perguntar à própria família para não acabar obtendo a confirmação que tanto temia.

Passou discretamente o polegar pelos arames em preto. Folheou mais uma vez, contemplando seus rascunhos antigos, em seguida se jogou na cama, levou o caderno ao peito e o abraçou. Virou o rosto e esticou o braço para ligar o pequeno rádio de decoração vitoriana, feito de madeira e ouro, que repousava na mesa de cabeceira ao lado. Sabia que não iria dormir nem tão cedo, não conseguia, música seria uma boa distração para esse momento.

E foi passando de canal em canal, que uma voz específica lhe despertou lembranças profundas.

— “Ei motorista, para onde nós estamos indo?

Eu juro que meus nervos estão à flor da pele.

Tenha esperança que um milagre possa acontecer

Pois a vida está no modo como morremos.”

Michael sentiu sua respiração descompassar. Rapidamente se levantou e, sem pensar muito, apenas aumentou o som, precisava ouvir aquilo com mais atenção.

A música prosseguiu, até que, no fim, o radialista passou as informações sobre os autores. 

— E essa é a banda a-ha diretamente de Oslo, Noruega! Eles estarão nos próximos dias em Manhattan, na cidade de Nova Iorque, para alguns shows em comemoração ao álbum Scoundrel Days! Os ingressos estão disponíveis nos pontos oficiais...

O locutor prosseguiu, porém, quando obteve as informações importantes, sua voz embargou na mente do cantor. Aquele vocalista… aquela voz que disciplinarmente intercalava entre densa e suave, as palavras que foram proferidas… A única coisa que vinha à mente de Michael era o momento no restaurante de seu antigo condomínio, quando o seu amigo externou seus sentimentos em uma canção que ele jamais esqueceria. Tinha certeza em seu coração, mas sabia que precisava confirmar suas suspeitas.

— Eu espero que você tenha deixado o cabelo crescer…

Sussurrou, o sorriso esperançoso já estampava timidamente o seu rosto. Ele iria para Nova Iorque.