Me Dê Uma Chance escrita por Mayara Silva


Capítulo 14
Carpe Diem


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULOS FINAIS, GENTE ♡

Obrigada mesmo por terem acompanhado essa historinha u3u Ela tem continuação, hein?? Vou dar mais detalhes no último capítulo.

Boa leitura ♡



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Michael acordou chorando.

 

Eram 10:30h quando sentou-se no sofá em que estava e escondeu o rosto nas mãos. Chorou silenciosamente. Morten não estava consigo, já havia se levantado e estava pronto para mais um dia. Retornou à sala com um sanduíche de geleia em mãos que havia feito há pouco tempo, quando notou como o seu amigo estava abatido. Foi em sua direção.

 

— Ei, ei! O que foi?

 

Colocou o sanduíche na mesa de centro da sala, sem se importar com os modos de higiene, e foi ao encontro do rapaz.

 

— Teve um pesadelo, né? Eu tenho certeza que foi isso! Fica assim não, baby boy…

 

Levou a mão ao seu rosto, e foi só nesse momento que Michael percebeu o rapaz ali. Olhou em seus olhos, viu como ele parecia ingênuo e preocupado, era como se estivesse mesmo lidando com dois Mortens diferentes.

 

— Morten…

 

— Você tá com fome? Quer que eu te faça um sanduíche de geleia?

 

Michael suspirou, ainda abatido, mas tentando acalmar a si próprio.

 

— E-eu… nós… podemos fazer juntos?

 

— Claro! Vem, lava esse rosto e me encontra na cozinha…

 

Morten o ajudou a se levantar e o acompanhou até a porta do banheiro. Michael seguiu para fazer a sua higiene enquanto o rapaz o esperava na cozinha e já colocava os ingredientes na mesa. Michael lavou o rosto, escovou os dentes, tomou um banho quente e rápido. Fez o melhor que deu para amenizar aquela cara de choro, conseguiu depois de alguns minutos na luta. Quando saiu do banheiro, já parcialmente vestido, passou direto para o quarto, evitando a cozinha. O peso do seu sonho ainda apertava o seu coração, mas lembrava-se que havia dito a Morten que o levaria a Londres e cumpriria isso, mesmo que estivesse despedaçado por dentro.

 

Escreveu um fax e mandou para John Branca. Pediu-lhe para pôr a viagem em sua agenda, perguntou qual a data livre mais próxima possível, e ainda solicitou que comprasse as duas passagens ou reservasse um avião particular. Custou a mandar a mensagem, mas criou coragem e assim o fez. Morten contava com isso.

 

— Baby boy? Não vai me deixar esperando, né? Minha agenda é muito apertada pra ter que aturar o seu estrelismo, ouviu?

 

Brincou o rapaz, lá da cozinha, Michael não conseguiu conter uma risada discreta. Quando terminou de mandar o fax, vestiu um casaco e foi ao seu encontro. Mesmo dentro de casa, estava fazendo um frio típico de início de inverno.

 

— Estou aqui.

 

— Ótimo! Agora veja e aprenda como se faz um sanduíche de geleia de chef. Ah, e preste bem atenção, porque os passos são muito complexos! Requer uma habilidade que, cá entre nós, pupilos como você talvez não possuam.

 

Franziu o cenho, com um ar penoso e de deboche. Michael gargalhou e fez um movimento negativo com a cabeça, enquanto cruzava os braços.

 

— Você só sabe falar… vamos lá, chefe Harket! Eu quero ver esse sanduíche de ouro…

 

Morten riu baixinho e assentiu. Pegou alguns pães integrais já fatiados, uma faca lisa e simplesmente passou a geleia. Levou o pão recheado à altura do olhar e fingiu estar medindo a quantidade correta de condimento, o que fez Michael rir discretamente.

 

— E se polvilhar chocolate em pó nisso, será que fica legal?

 

— Oh boy, você vai inventar? Eu que não vou provar isso…

 

Ele mordeu os lábios, travesso, faria isso mesmo. Correu até os armários e buscou mais coisas doces.

 

— Hum… creme de avelã, gummy bears…

 

— Você vai ter dor de barriga, tô avisando…

 

— Vou nada, eu sou de papel, fique tranquilo.

 

Retornou com algumas embalagens, em seguida as colocou na mesa. Michael ficou o observando brincar com as misturas, enquanto outros assuntos vinham à sua mente.

 

— Morten… eu… eu já pedi pra o meu assessor ver o lance da viagem à Londres, okay?

 

O rapaz sorriu e aquiesceu, parecia genuinamente feliz.

 

— Obrigado. Man, estou ansioso... Eu não sei por que motivo, mas quando eu penso nessa viagem, eu sinto um calafrio. Você entende?

 

Michael suspirou e mordeu os lábios, não queria estragar toda aquela animação, não podia lhe contar o que aquelas afirmações causavam em seu coração quando as ouvia. Apenas assentiu educadamente.

 

— Eu fiquei um pouco assim quando viajei pela primeira vez. É normal. Eu vou estar contigo, você não vai ficar nervoso.

 

— Eu sei, baby boy… só… Ah, com que roupa você vai?

 

Michael deu ombros.

 

— Não sei… depende da época. Se formos agora, perto do fim do ano, então irei bem agasalhado.

 

Morten assentiu.

 

— Eu quero ir com aquela roupa que você comprou. Foi pra mim? Porque não parece muito com as roupas de mauricinho que você usa.

 

Michael ia retrucar o deboche, mas acabou se lembrando do conjunto que havia comprado para o rapaz. Seus olhos brilharam imediatamente.

 

— Você provou? O que achou?

 

— Eu gostei, ficou na medida! Eu me olhei no espelho e… o que você acha se eu deixar o cabelo crescer?

 

Comentou, enquanto preparava o seu sanduíche incrementado e fazia um simples para Michael, que não queria arriscar. O moreno se aproximou para morder um pedaço, a fome estava começando a aparecer.

 

— Hum… eu acho que você só vai saber se vai ficar bom, deixando crescer. Se não gostar, é só cortar.

 

— É, mas até lá, foi uma vida inteira…

 

— Exagerado. Você, às vezes, é pior do que eu…

 

Eles gargalharam. Morten o encarou em seguida.

 

— Tá aí! Você ficaria bem de cabelo grande.

 

— Você acha...?

 

Michael fez um olhar incrédulo, mas Morten não parecia estar mentindo. Mordeu um pedaço daquele sanduíche esquisito e aquiesceu.

 

— É sério! Se não gostar, é só cortar, ué…

 

Brincou, debochando da frase do amigo, em seguida riu e foi acompanhado por ele.

 

— Idiota…

 

De repente, a campainha tocou. Michael não estava esperando visita, aquilo definitivamente o pegou desprevenido.

 

— Se lembra do que combinamos, não é? Se esconde!

 

Morten assentiu e correu para o quarto de Michael, que era o mais próximo. Por lá, fechou a porta e buscou as chaves de seu próprio quarto, nunca ficava com elas, sabia que o cantor as guardaria bem melhor.

Enquanto isso, o moreno deu um último retoque na própria roupa e foi atender à porta. Quando a abriu, deparou-se com John Branca, seguido de mais um homem até então desconhecido, vestido com roupas formais, óculos e barba escura. Ele sorriu em cortesia.

 

— Ei, John!

 

— Bom dia, Michael. Eu espero não estar atrapalhando, hum? Precisamos acertar algumas coisas sobre o seu curta-metragem.

 

— Ah, o do ano que vem? Entrem, fiquem à vontade…

 

Os homens assentiram e adentraram o lugar. Se acomodaram em cada canto do sofá, Michael ficou na poltrona.

 

— Desculpe aparecer assim, sem aviso, perto da hora do almoço, mas eu estou muito empolgado para ver sua reação!

 

Michael sorriu, a empolgação do homem acabou por contagiá-lo e não era algo muito difícil de fazer.

 

— Por favor, me conte!

 

Branca sorriu e encarou o terceiro homem ali.

 

— Esse é Landis, John Landis.

 

Michael o encarou com um semblante incrédulo, em seguida desviou o olhar para o senhor Landis.

 

— Não acredito… “Um Lobisomem Americano em Londres”??

 

Landis riu, ainda um pouco acanhado.

 

— Eu mesmo! Prazer em conhecê-lo, senhor Jackson.

 

— Ah, por favor, sem formalidades. Pode me chamar de Michael! Eu adoro o seu trabalho! Eu estava comentando com o Branca sobre esse filme, eu gosto dos efeitos práticos, queria que estivessem de alguma forma no clipe.

 

— É aí onde quero chegar, Michael. O senhor Landis vai fazer parte da equipe, poderemos discutir sobre esses detalhes depois das férias de fim de ano, o que acha?

 

Michael aquiesceu, completamente empolgado, porém, foi o homem comentar sobre férias que ele acabou se lembrando da viagem.

 

— Eu adorei a ideia, você sabe… John, falando em férias, você viu o fax que eu mandei?

 

— Ah, sim… minha secretária me ligou e me falou sobre isso, mas eu estava na estrada, não pude lê-lo. Quer me contar agora?

 

Michael suspirou discretamente, não estava a fim de falar sobre essas coisas na frente do John Landis, mas não teve tempo de tomar uma decisão, os homens acabaram por ouvir um barulho inegável ecoar do quarto do cantor, um barulho de objetos indo ao chão. Ele suou frio.

 

— Er… o que foi isso?

 

— E-eu… eu vou ver! Acho que deixei a janela aberta… Já volto!

 

Levantou-se rapidamente e seguiu em direção ao próprio quarto. Branca já tinha bastante intimidade com o cantor e sabia perfeitamente quando ele estava aprontando, pensou em segui-lo, mas seria falta de educação deixar o seu convidado os esperando.

 

— Landis, me acompanha? Só quero me certificar de que está tudo bem.

 

Enquanto isso, Morten estava desesperado. Procurou a bendita chave em todo canto e não a encontrou. Foi até o caderno como sua segunda opção de esconderijo, mas, ao tentar enfiar sua mão na folha, foi rejeitado por ela. Sentiu uma dor aguda e jogou o objeto longe, o que acabou derrubando algumas coisas.

 

— Droga!

 

— Morten?!

 

Michael tentou falar o mais baixo possível. Morten quase deu um pulo de susto, mas conseguiu se conter bem. Ele suspirou.

 

— Onde tá a chave do meu quarto?!

 

— Michael?

 

Branca estava atravessando o corredor e sua voz pôde ser ouvida de longe. Assustado, Michael se trancou com o amigo em seu quarto e foi até os seus pertences, lhe mostrando onde guardava a chave.

 

— Se esconde no closet ou embaixo da cama. Quando eu voltar pra a sala com eles, vai pro seu quarto, okay?

 

— Okay, okay…

 

Dado o plano, retornou para a luta. Destrancou-se e, quando estava voltando para a sala, deparou-se com os dois homens.

 

— Aquela cozinha está uma bagunça. Onde está sua empregada? Não me diga que tentou fazer o almoço sozinho…

 

Michael deu uma risada acanhada, um pouco deslocado, porém tentou manter o controle da situação.

 

— Foi isso mesmo, hoje tá uma desordem. Bom… mas não fique mostrando a minha bagunça pra o senhor Landis, John! Com que cara eu vou ficar?

 

Brincou, e sorriu ao perceber que havia dado certo. Os dois homens riram, meio desnorteados, e Branca aquiesceu.

 

— Tem razão, eu não vim pra essas coisas. Vamos voltar ao assunto?

 

— Claro! Vamos…

 

E, assim, seguiram. Michael escolheu não lhe contar sobre a viagem agora, o faria por telefone. Foram até a sala e continuaram a dialogar sobre o seu próximo trabalho.

 

x ----- x

 

Dezembro. Semana de natal.

 

Michael não costumava comemorar esse feriado, era contra os seus preceitos como testemunha de Jeová, mas gostava da época, no fim das contas seus parentes se reuniam e era um ambiente familiar agradável.

Com natal ou não, a neve caía da mesma forma para todos.

 

Conversou com Branca, conversou com Morten. No fim, decidiu que não iria viajar agora, queria ficar com sua família nesse fim de ano. Viajariam em janeiro, antes de começar os preparativos para o seu curta-metragem. Michael ainda alcançaria o dia de conhecer sua equipe de dançarinos e atores antes de partir.

 

Pouco antes de viajar para a casa dos pais, Michael desfrutou da neve em sua área de lazer aberta. Viu Morten ao longe, agasalhado, deixando a neve enrubescer sua pele clara enquanto tentava comer algum daqueles flocos. Ele riu ao ver a cena e se aproximou.

 

— Mas não é possível que até os flocos você quer devorar?

 

Brincou. Morten riu em seguida e virou-se para contemplá-lo. Michael, como sempre, destacava-se das outras pessoas. Vestia-se como um cavalheiro, um príncipe, mesmo quando não queria tirar fotos. Ele estava, aos poucos, descobrindo sua identidade visual.

 

— Sabe que a Ray tem razão? Você fica muito bem de vermelho.

 

Michael sorriu e sentou-se ao lado dele, na neve.

 

— Gosto de vermelho. Já você, fica muito bem de azul.

 

— É mesmo? Então eu devo estar horrível nessa roupa branca.

 

Eles gargalharam e Michael negou com um balançar de cabeça.

 

— Não está não. Acho que… você fica bem em qualquer cor, mas eu gosto do azul em você.

 

Morten sorriu, voltou a encarar a neve logo após. Michael viu o seu semblante mudar.

 

— Tem certeza que vai ficar bem aqui, sozinho?

 

— Vou, eu vou sobreviver.

 

— Você podia ir comigo, você sabe que seria bem-vindo.

 

Morten negou.

 

— Eu não sei… acho que gosto quando a gente fica a sós. Sua família é bem grande, é diferente da realidade daqui.

 

O moreno aquiesceu.

 

— Tudo bem, então. Vê se não põe fogo na casa, hein?

 

Morten gargalhou e assentiu.

 

— Pode deixar, “mestre”! Ah, esqueci de te mostrar. Olha só o que eu achei!

 

Disse o rapaz, empolgado. Michael logo lhe deu o dobro de atenção, mas se arrependeu quando o viu aninhar um bocado de neve e lançar em seu rosto.

 

— Declaro guerra ao império dos Jacksons! Ave, república Harket!

 

Michael gargalhou e se levantou, um tanto desengonçado. Levou outra bolada de neve na cara, demorou para se recompor, porém o fez o mais rápido que pôde, inclinou-se para formar outra bola de neve e, por fim, lançou no rapaz.

 

— Isso é golpe baixo! Trapaceiro, trapaceiro!!

 

— Ave, república!

 

Morten lançou novamente, mas Michael desviou com maestria. Aquela brincadeira perdurou por incontáveis horas, aos poucos aquele fim de tarde deixou a neve azulada com o véu da noite. As gargalhadas dos rapazes ainda podiam ser ouvidas, Morten sempre tinha uma maneira de distrair Michael com as suas palhaçadas, e Michael seria eternamente grato por tê-lo em sua vida.

 

Em breve, tornaria a sentir como é viver com o peso do próprio nome sem sua companhia.

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

Estavam a sós.

Morten parou de caminhar e olhou para aqueles prédios do outro lado da rua. Ainda com as mãos nos bolsos, os fitou em silêncio, suspirou e assim ficou. Michael o observava.

— Você quer ir ali…?

Indagou, mas não obteve uma resposta imediata. Após um tempo encarando aquele lugar, Morten virou-se em direção ao moreno.

— Eu já vou agora… mas eu… acho que não vou voltar.



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