Até o último suspiro escrita por Nara Garcia


Capítulo 9
Capítulo 9 - Final


Notas iniciais do capítulo

Enfim chegamos ao último capítulo.
Obrigada por terem acompanhado até aqui e, principalmente, pela paciência com a minha demora nas postagens hahaha

Espero que tenham gostado!

Até mais, leitores! ❤



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Dizem que pessoas que vivenciam uma experiência de quase morte vêem sua vida toda passando diante de si. Eu nunca havia parado pra pensar em como seria na minha vez, apesar de estar num emprego em que corro risco de vida constantemente. Ainda assim, acho que nada do que eu imaginasse chegaria perto do que vivi. 

Depois que meus olhos se fecharam, eu não vi e nem mesmo revivi nenhum momento da minha vida. Tudo era uma completa escuridão, com um silêncio ensurdecedor. Não sei ao certo quanto tempo se passou, minha concepção de tempo estava conturbada. Apesar disso, lembro-me bem de pelo menos duas vezes ouvir a voz de Melissa me chamando. Era uma voz distante e quase inaudível, mas estou certa que era a dela! Depois, o silêncio voltou ao seu lugar de origem. 

Tudo está tão quieto, frio.. Será só isso? Um lugar vazio em minha mente, sem nenhuma lembrança feliz? O que acontecerá agora? 

••• 

— Ei, Mike, pode me cobrir por um minuto? - pediu Rebecca, a gentil recepcionista do hospital, ao seu colega que passava por ali. 

— Claro! Está tudo bem? 

— Sim, eu só preciso fazer uma ligação. É meio importante. - disse com um olhar de súplica enquanto se levantava. 

— Vai lá, demore o tempo que precisar. - disse Mike com um sorriso. 

— Valeu, Mike! Te devo uma. - Becca passou por Mike e foi em direção a porta, mas ele logo a chamou. 

— Bec, há algo que eu precise saber? 

— Oh, é claro. Uma paciente acabou de dar entrada. O nome dela é Stella Bonasera. 

— O que houve com ela? 

— Desmaiou no estacionamento. Melissa está com ela no pré-operatório. - explicou. - Se puder fazer a ficha dela... 

— Tudo bem. - com um pequeno aceno, Becca saiu do hospital. 

Mike sentou-se na cadeira giratória e pegou uma das cópias de fichas para pacientes que havia sobre o balcão. 

— Stella Bonasera.. - sussurrou enquanto escrevia seu nome na ficha. - Esse nome não me é estranho... 

— Com licença. - Mike ergueu a cabeça e esboçou um simpático sorriso ao homem que se aproximara. 

— Olá, como posso ajudá-lo? 

— Pode me informar onde está a Dra. Melissa? Estou procurando minha namorada e acho que elas estão juntas. 

— Sua namorada é paciente? 

— Sim... Quer dizer, não! No momento não. - o rapaz o encarou com um olhar confuso, mas logo o desfez. 

— Bom, a Dra. Melissa está com uma paciente no pré operatório. Se quiser aguardar... 

— Oh.. Sem problemas. 

— Ah propósito, qual é o seu nome? 

— Mac Taylor. - respondeu com um meio sorriso. 

— Mac Taylor? O detetive Mac Taylor? - perguntou Mike empolgado, fazendo Mac encará-lo com um olhar desconfiado. 

— Eu mesmo. 

— Oh, sou um grande fã do seu trabalho, senhor Taylor. - disse, estendendo a mão para cumprimentá-lo. 

— Por favor, me chame de Mac. - disse, apertando a mão do rapaz gentilmente. 

Antes que Mike dissesse qualquer outra palavra, uma correria entre os enfermeiros ali presentes começou, fazendo Mike esticar o pescoço para descobrir o porquê. 

— Essa é a pior parte.. - disse o rapaz com um suspiro, voltando a sua posição anterior. 

— O que está havendo? - indagou Mac observando a movimentação. 

— Pela movimentação houve uma parada cardíaca, provavelmente da paciente do pré operatório. - Mac suspirou, sentindo um frio percorrer sua espinha de repente. - Oh, quase ia me esquecendo.. Qual o nome da sua namorada? 

— Mike, obrigada por ter ficado. Espero não ter demorado. - disse Rebecca aproximando-se. Mac a cumprimentou com um leve sorriso. 

— Sem problemas! - respondeu Mike. 

— Olha, muito obrigado pela ajuda. Vou aguardá-las tomando um café na cantina. Dizem que é ótimo. - com um último sorriso, Mac afastou-se da recepção. 

— Quem é o bonitão? - perguntou Rebecca seguindo Mac com seu olhar. 

— Aquele é o detetive Mac Taylor, veio procurar a namorada. - respondeu com ênfase, arrancando uma risada de Rebecca. 

— Ei, eu não fiz nada. - disse. - Já fez a ficha da Stella? - quando Mike ouviu aquele nome novamente, seus olhaos esbugalharam-se. 

— Stella.. Stella Bonasera. 

— É, foi isso que eu disse. Por que ficou estranho de repente? - indagou Rebecca, encarando-no com a sobrancelha arqueada.

— Sabia que eu conhecia esse nome de algum lugar! - exclamou. - Ela e o Mac trabalham juntos. Já vi diversas vezes fotos deles juntos em entrevistas. Eles são parceiros! 

— Bom, você disse que ele veio atrás da namorada. Será que... 

— Mas que droga! 

••• 

Enquanto o belo detetive de olhos azuis fazia seu trajeto até a cantina, Stella lutava pela vida em uma sala à poucos metros de onde ele estava.  

— Vamos, Stella, reaja! - suplicava Melissa pressionando as mãos contra o peito de Stella repetidas vezes, numa tentativa incansável de reanima-la. 

Fields entrou na sala juntamente com um enfermeiro que trazia consigo o carrinho de reanimação. Logo ele se aproximou de Stella e a preparou. 

— Carregue em 200. - gritou. Fields esperou poucos segundos e gritou novamente, dessa vez para que todos se afastassem. Melissa retirou suas mãos de Stella rapidamente e se afastou, tentando ao máximo controlar suas emoções diante de tal situação. 

— Não está adiantando. - murmurou uma das enfermeiras encarando a linha reta no monitor. Enquanto isso, outra enfermeira aproximava-se de Stella para tentar reanima-la, assim como Melissa fizera antes. 

— Melissa, você precisa ligar para o Mac. - disse Fields. 

— Eu não vou sair do lado dela! - exclamou com firmeza. 

— Eu prometo que farei de tudo para trazê-la de volta, mas se algo acontecer.. Não é justo que ele não esteja aqui. - explicou. - Agora vá! 

Melissa sentiu seus olhos encherem-se d'água, e mesmo contrariada, acatou a ordem do doutor e saiu da sala. 

— Vamos Stella, você consegue! - sussurrou Fields. - Carregue em 300.. 

...Afasta! 

••• 

— Detetive Taylor! Detetive Taylor! - Mike corria apressadamente pelos corredores do enorme hospital, em busca de Mac. Ele gritou seu nome repetidas vezes até que o encontrou tomando seu café, assim como dissera que faria. - Mac! 

Mac, juntamente às outras poucas pessoas que estavam na cantina, olharam em direção a Mike, que tentava recuperar seu fôlego. 

— A sua namorada... É ela... Ela que está no pré operatório. 

— Calma aí, rapaz. - disse Mac levantando-se e caminhando até ele. - Do que está falando?! 

— Stella Bonasera está entre a vida e a morte. Você precisa vir comigo, agora! 

Mac não sabia exatamente o que guiou seus passos. Seus movimentos haviam saído totalmente de seu controle, como se estivesse paralisado. 

Eles correram o mais rápido que puderam, ultrapassando parte do hospital em apenas poucos segundos. Foi então há uma curta distância que eles esbarraram com Melissa. 

— Mac! Graças a Deus você está aqui. Eu ia te ligar agora. - disse ela afobada. 

— Eu cheguei na delegacia poucos minutos depois de Stella ter saído. Don me contou sobre o sangramento, então eu vim ficar com ela. - contou, sem disfarçar seu desespero. - O que aconteceu? Eu preciso vê-la! 

— Venha comigo! - Melissa, Mike e Mac correram até a sala onde Stella estava, parando logo na entrada. Ao chegarem, ambos depararam-se com uma cena aterrorizante. 

Todos na sala estavam em um completo silêncio. O único barulho vinha dos aparelhos. Foi então que Mac viu a linha reta no monitor, sentindo seu mundo desabar. 

— Eu sinto muito.. - disse Fields cabisbaixo. 

— Não.... - sussurrou Melissa aos prantos, sendo consolada pelo abraço de Mike. 

Mac continuou estático, na mesma posição. Aquilo não estava certo. Como poderia? Era Stella! Ele não iria desistir. Nunca. 

— Tente de novo. - disse ele. 

— Senhor Taylor, eu sinto muito, mas... 

— Tente de novo, agora! - gritou, sentindo algumas lágrimas rolarem pelo seu rosto. Fields olhou de relance para Melissa, que chorava copiosamente, e também para os enfermeiros que o encaravam sem nenhuma esperança. 

— Certo, vamos tentar novamente. Carreguem em 300! - um dos enfermeiros aproximou-se e seguiu a ordem de Fields, que logo os mandou se afastar. 

Todos olhavam para o monitor, que continuava em linha reta... 

— De novo! - gritou Fields. - Carreguem em 300.. Afasta! 

E novamente.. Nada. 

— De novo! - gritou ele. 

Mac levou sua mão à cabeça, andando de um lado para o outro desesperado. 

— De novo! 

E então, depois de diversas tentativas, a linha reta deu lugar aos sinais vitais. 

Naquele momento em que Mac bateu seus olhos no monitor, tudo à sua volta se silenciou. Era como se não houvesse mais ninguém ali na sala, apenas ele e Stella. Aos poucos ele se aproximou da cama, caminhando à passos receosos. Havia ainda aquele resquício de medo de que na verdade Stella se fora. Entretanto, quando ele viu o movimento de seu peito subindo e descendo calmamente, uma onda de calor passou pelo seu corpo, junto à um alívio inexplicável. 

Ela estava viva. Ela ficaria bem. 

Mac levou sua mão ao rosto de Stella e acariciou  levemente sentindo algumas lágrimas teimosas rolarem pelo seu rosto. Aos poucos, as vozes e o constante bipe da máquina voltaram a soar em seu ouvido, trazendo-o de volta a realidade. 

— Mac, podemos conversar um instante lá fora? - disse Fields, que estava ao seu lado. 

Mac virou-se um pouco para olhá-lo e assentiu com a cabeça, deixando um breve beijo na cabeça de Stella antes de segui-lo para fora. 

— Leve-a para tomar um ar. - disse o detetive à Mike, ao passar por ele na porta. Melissa permanecia imóvel, sem acreditar em tudo que havia visto. 

Mike simplesmente concordou com a cabeça, sem soltar Mel de seus braços. 

Do lado de fora, Fields dava início a difícil conversa que até então só aconteceria alguns dias depois.. 

— O quadro clínico de Stella piorou rapidamente desde a última vez em que ela esteve aqui. Eu ainda não sei como e o porquê disso ter acontecido, e creio que não teremos muito tempo para descobrir. - explicou. 

— O que quer dizer? - perguntou Mac cabisbaixo, observando Stella através da enorme janela. 

— Mac, serei direto com você. - disse Fields o encarando. - Stella está muito fraca. As chances da cirurgia ser bem sucedida nessas condições, diminuem consideravelmente. Porém, se esperarmos mais um dia sequer para a fazermos, pode ser que ela não sobreviva. 

— Está me dizendo que fazer essa cirurgia pode matá-la, assim como se não a fizer? - indagou com a voz embargada, correndo seus olhos até Fields. 

— Eu sinto muito. - disse. 

Mac respirou profundamente, voltando a observá-la pela janela. 

— Essa decisão é minha, não é? 

— Não há ninguém que ela confie mais do que em você. De alguma forma ela sabia que você tomaria a decisão certa quando o momento chegasse. 

Mac balançou a cabeça de maneira quase que imperceptível, apenas para mostrar que havia entendido. 

— O meu dia só começa de fato depois que a vejo, sabia? - disse Mac após alguns segundos em silêncio. - Ou depois que ouço sua voz. É assim há 16 anos, doutor. Por todos os dias há mais de uma década é como se fôssemos só nos dois. Eu por ela, e ela por mim. Sempre foi assim.. - Mac desviou seu olhar do vidro para encarar Fields brevemente. - Eu não posso perdê-la. 

Fields abaixou a cabeça, sem dizer uma única palavra. 

— Faça a cirurgia. - completou Mac. 

Fields assentiu e, com um suspiro, afastou-se do detetive. Ao vê-lo partir, Mac adentrou à sala e aproximou-se de Stella, pondo sua mão sobre a dela. 

— Você vai ficar bem. Eu sei que vai! - sussurrou. - Lembra quando eu disse que não poderia fazer esse trabalho sem você? Bem, não era exatamente só do trabalho que eu estava falando... - divagou. - Eu não posso continuar sem você, Stell. Eu não consigo.. E não quero. 

Ao sentir uma lágrima rolar em sua bochecha, Mac fechou seus olhos por um tempo permitindo que sua mente vagasse pela lembrança que surgira em sua memória... 

••• 

— E então, o que será hoje? - perguntou Mac sem tirar seus olhos da estrada. 

— Quais são as opções? - retrucou Stella enquanto observava distraidamente a paisagem do lado de fora. 

Ambos estavam voltando de uma cena em uma cidade um pouco afastada. Já eram 18h quando finalmente chegaram em Nova York. 

— O que você quiser. Hoje é seu dia de escolher. - respondeu com um sorriso de canto, olhando de relance para a grega. 

— Podemos pedir alguma coisa no meu apartamento. - disse simplesmente, sem deixar de olhar pela janela. Mac, percebendo sua indiferença, encarou-na confuso. 

— Você está bem? 

— Sim. Por que? - perguntou, finalmente o olhando. 

—Você parece distante. No que está pensando? 

— Nada.. - sussurrou, voltando a encarar a paisagem. - Acho que só estou meio cansada. O dia hoje foi puxado.. 

Mac continuou desconfiado, mas preferiu não insistir. 

— É, não foi um caso fácil. Mas estou feliz que o resolvemos juntos. - disse, esboçando um leve sorriso. - Além do mais, hoje eu teria uma reunião com Sinclair, então me livrei. 

— Você é tão sortudo. - debochou. - Sabe que não pode fugir dele por muito tempo, né? - disse ela o encarando com uma sobrancelha arqueada. 

— Eu sei. Mas se conseguir só por essa semana, já será o suficiente. - respondeu com um sorriso. 

— Boa sorte.. - murmurou ela recostando a cabeça no banco. Mac a olhou de relance, decidindo insistir mais uma vez. 

— Stell, sei que há algo te preocupando. Eu te conheço. - disse ele. - Se não quiser falar, não tem problema. Só quero que saiba que estou aqui se quiser conversar. 

Stella se manteve em silêncio por alguns longos segundos, pensando se deveria ou não falar sobre o que a incomodava. 

— Eu ouvi você falando hoje no telefone com Don sobre a coisa toda de Chicago. Eu sabia que você tinha gostado de ir lá quando surgiu aquele caso. Apesar das circunstâncias, deve ter sido meio.. Nostálgico, talvez?! - divagou ela, virando a cabeça para olhá-lo. 

— Fazia tempo em que eu não ia para Chicago, então.. É, foi meio nostálgico sim. - respondeu calmamente. - Eu devo parte do que eu sou ao que aprendi enquanto vivia lá. Apesar de tudo, foram bons tempos, sabe? - Stella simplesmente assentiu. - Mas por que isso estava te incomodando? - perguntou ele confuso. 

— É só que.. - suspirou. - Eu vi o brilho nos seus olhos enquanto você falava sobre Chicago. Era um brilho diferente, que eu não via há muito tempo. Me fez pensar que, talvez.. 

— Eu esteja cogitando me mudar para lá? - indagou ele a olhando. 

— Bom, sim.. E claramente eu te apoiaria se você tomasse essa decisão. - disse, tentando soar indiferente. - Eu só quero que você seja feliz, mesmo que seja há 790 milhas de distância.. Ou algo assim. - completou, a fim de não parecer desesperada o suficiente para ter pesquisado. 

Mac, por sua vez, soltou uma leve gargalhada. 

— Eu devo estar soando patética! - exclamou ela claramente arrependida por ter falado, mas sem deixar de sorrir. 

— Não, você com certeza não está. - negou imediatamente. - Você tem razão. Eu me senti bem em relembrar as coisas que vivi em Chicago. E sim, eu já cogitei voltar a morar lá, mas isso em algum momento do passado, não por agora. Eu estou feliz onde estou, com tudo que construí e.. Tem você. 

— O que tem eu? - perguntou ela o olhando. 

— Depois de todos esses anos, nossa relação mudou, e... Bom, - divagou, fazendo-a sorrir. - Nós dois somos uma família, certo? - indagou, olhando-a de relance rapidamente. - Você é importante pra mim.. Realmente não está nos meus planos refazer minha vida longe de você!  

••• 

Já fazia mais de uma hora que Mac havia deixado a sala onde Stella estava, e meia hora que a mesma havia entrado em cirurgia. Ele estava sentado em uma das poltronas da recepção, e apesar da expressão tranquila, o desespero dentro de si por notícias era imenso, mesmo sabendo que provavelmente demoraria para tê-las. A noção de que estava um poço de nervosismo só veio depois que percebeu o olhar constante de uma criança sobre si, talvez porque estivesse batendo um dos pés contra o chão há, pelo menos, 15 minutos. 

Mac então respirou fundo e pegou seu celular, buscando qualquer coisa que o distraísse. Foi só então que percebeu o recado que Stella havia deixado antes de tudo acontecer. 

O homem com cabelos escuros e um olhar perdido no rosto, sentiu seu coração acelerar e seus olhos lacrimejarem enquanto escutava a voz daquela que ele tanto amava. 

— Mac! Vim o mais rápido que pude. - disse Don esbaraforado aproximando-se de Mac, que rapidamente retirou seu celular do ouvido e o guardou, secando seus olhos logo em seguida. 

— Que bom que está aqui.. - respondeu ele com a voz rouca, levantando-se para abraçá-lo. 

— Como ela está?! 

— Ela entrou em cirurgia há pouco tempo. O médico disse que se ela não operasse... - Mac parou de falar, desviando seu olhar tristonho para o chão. 

Don sentiu seu corpo estremecer com a possibilidade de perdê-la, mas tentou ao máximo se manter forte por Mac. Ele então pôs um leve sorriso nos lábios e levou sua mão até o ombro de Mac, apertando a fim de passar algum conforto para ele. 

— Ela vai ficar bem! Eu sei que vai.. 

Mac tentou esboçar, por menor que fosse, um sorriso genuíno. Ele queria mostrar de alguma forma que acreditava nas palavras de Don. Mas o pequeno sorriso deu lugar à uma lágrima solitária que escorrera por sua bochecha. Áquela altura, seca-las era a menor de suas preocupações. 

— E o pessoal? - perguntou Mac. 

— Eu liguei para o Danny antes de chegar aqui. Ele disse que todos já estão vindo. - respondeu. - Ela terá toda a sua família por perto. 

Mac simplesmente acenou com a cabeça, prestes a se sentar novamente. Porém, ao ver Melissa vindo em sua direção, permaneceu parado. 

— Oi, Flack.. 

— Oi Mel.. - Don a puxou para um forte abraço, repetindo as mesmas palavras que dissera a Mac anteriormente. 

— Obrigada. - agradeceu ela com um sorriso fraco. - Fields me retirou do caso. 

— Sinto muito por isso. - murmurou Mac. 

— Tudo bem. Na verdade eu achei que ele me tiraria logo no início, por conhecê-la. Acho que ele confiava que eu não misturaria as coisas, sabe? 

— Você está aqui por ela, Mel. Isso é o mais importante. - afirmou Flack a olhando. 

— Eu sei.. - sussurrou, desviando seu olhar para o chão. - Eu estou tentando me manter firme por ela. 

Don alternou seu olhar entre os amigos, e ao perceber o clima que ficara, tentou distraí-los com uma das coisas que mais amavam: café. 

— Ei, que tal se tomarmos um café na cantina, hein? A cirurgia deve demorar, então provavelmente não teremos notícias por agora. - quando Mac fez menção em protestar, Don o interrompeu. - Quando Stella acordar e souber que você não comeu nada, ela acabará com nós dois. Sabe disso, né? 

Mac não conteve o pequeno sorriso. Aquela era a mais pura verdade. 

— Tudo bem. Vamos. 

Algumas horas depois... 

A pequena de cabelos claros entrou pela enorme porta de vidro do hospital, acompanhada por seus pais. Ao ver Mac de pé recostado no balcão da recepção, ela correu com seus braços abertos até ele. 

— Tio Mac! - ao ouvir seu nome, Mac abriu o maior de seus sorrisos e se agachou para abraçá-la. 

— Oi, minha princesa! Como você está? 

— Bem. - respondeu Lucy saindo de seu abraço. - Meus pais me levaram pra tomar sorvete antes de virmos pra cá. Eu queria trazer um pra tia Stella, mas disseram que ela ainda não pode tomar.. - disse tristonha. 

— Ei, não fique assim. Daqui a pouco ela estará melhor e vocês poderão tomar quantos sorvetes quiserem, ok? 

Lucy sorriu levemente, assentindo com a cabeça. 

Ao se levantar, Mac acenou para Danny e Lindsay que se juntavam ao resto da equipe. Todos estavam apreensivos, ansiosos pela chegada de notícias. Foi então que Mac viu Fields caminhando em direção à eles, e logo chamou a atenção de seus amigos. 

— Olá a todos. Sou o Doutor Fields, o médico responsável pelo caso de Stella. - disse ele ao se aproximar. - Imagino que sejam os amigos, certo?! 

— Sim, doutor. - disse Hawkes em resposta. - Ela faz parte da família. 

— Como ela está, doutor? - indagou Mac de imediato, um pouco impaciente. 

— Stella está fora de perigo. Vocês já podem respirar um pouco. - toda a equipe suspirou de alívio, incluindo a pequena e sorridente Lucy, que de prontidão correu até seus pais para um abraço apertado. 

Já Mac, apesar de aliviado com a notícia, sentiu um aperto no peito como se algo ainda estivesse por vir. 

— Tem um "mas", não tem? - perguntou ele receoso. 

Fields olhou de relance para Melissa que também estava próxima a equipe. A mesma encarava-o com um olhar distante, porém sua expressão mostrava o quão desesperada estava por notícias de Stella. Assim como Mac, havia algo a mais e ela sabia disso. 

— Stella se mostrou uma paciente mais forte do que eu imaginava durante a cirurgia. Nós retiramos todo o meningioma com sucesso. Entretanto, houve uma complicação no momento em que íamos fechá-la e Stella teve novamente uma parada cardíaca. 

— O que isso significa? - indagou Lindsay com a voz embargada. 

— Significa que Stella pode acordar com alguma sequela, não é? - disse Melissa, fazendo Fields olhá-la tristemente. 

— Sequela? Que sequela? - perguntou Sid receoso. 

— A mais provável é que Stella tenha uma perda de memória significativa. Ela pode se esquecer de eventos recentes, como também pode se esquecer de rostos, nomes, pessoas.. - explicou. - Mas só saberemos com precisão quando ela acordar. 

— Há alguma chance dela acordar sem qualquer sequela? - indagou Hawkes. Todos então olharam para o doutor com expectativa, porém ela logo se esvaiu com a resposta dada por ele. 

— Eu sinto muito, mas não.. - e então, um intenso e desconfortável silêncio instalou-se ali. 

Lindsay permitiu que as lágrimas presas em sua garganta rolassem quase que descontroladamente. Danny a abraçava de lado enquanto segurava Lucy em seus braços. A pequena tinha uma expressão chorosa no rosto, assim como o resto da equipe. 

— O mais importante é que ela está bem. Lidaremos com o resto juntos, quando for o momento. - sussurrou Adam, conseguindo arrancar um sorriso fraco de alguns. 

— Podemos vê-la? - perguntou Don. 

— Normalmente eu pediria que esperassem mais algumas horas, porém abrirei uma excessão. Só peço que fiquem da janela e entre um de cada vez, ok? - toda equipe então assentiu imediatamente, felizes com a oportunidade de vê-la. - Ela está no final do corredor. Já encontro vocês. 

Sheldon, Sid, Adam, Don, Mel, Danny, Lindsay e a pequena Lucy seguiram para o fim do corredor, deixando apenas Mac e Fields para trás. 

— Você a salvou. - a voz rouca de Mac soou baixinho, e ele logo completou. - Obrigado, doutor. 

Fields o olhou brevemente, dando um simples aceno com a cabeça. 

— Sinto muito por vocês terem que passar por tudo isso. - disse. - E sinto também pela possibilidade dela.. Não se lembrar.. 

Mac correu seus olhos até Fields, que mantinha uma expressão cabisbaixa em seu rosto. Era nítido o quanto ele se sentia mal por toda aquela situação. 

— Nos últimos dias, em cada momento em que nos despedíamos, eu olhava para Stella temendo que aquela fosse a última vez em que eu a veria. Eu senti tanto medo. Medo quando ela me contou sobre a doença. Medo quando a vi desacordada. Medo quando ela imaginou mesmo que por um segundo a possibilidade de não sobreviver. - contou ele enquanto observava seus amigos ao fim do corredor, com pequenos e singelos sorrisos nos rostos por verem Stella bem. - Eu sei que quando ela acordar pode não se lembrar de mim, e é claro que pensar nisso dói. Mas, doutor, pela primeira vez em dias eu não estou com medo. - disse, finalmente o olhando. - A mulher que eu amo, a dona daquele sorriso lindo de todas as manhãs está viva. No momento nada mais importa. E se ela não se lembrar, eu continuarei sendo aquela pessoa por quem ela se apaixonou. E juntos nós criaremos novas lembranças.. 

••• 

Stella ainda dormia serenamente quando Mac entrou no quarto e sentou-se na cadeira ao lado de sua cama. Ele pôs sua mão sobre a dela e passou a admira-la, como se há muito tempo não a visse. 

— Em todos esses anos de amizade, eu nunca te disse o quão linda você é. Na verdade, acho que eu não te disse muitas coisas, não é? - lamentou. - Eu não sei se você vai se lembrar de mim quando abrir os olhos, mas independente disso, só quero que saiba que eu te amo muito.. - disse com a voz embargada. - Você sempre foi e sempre será a melhor parte da minha história. 

Mac aproximou seus lábios da mão de Stella, beijando-a carinhosamente. Foi naquele momento que, para a sua surpresa, ela correspondeu ao seu toque. 

— Eu também amo você. - sussurrou com a voz fraca, esforçando-se para manter seus olhos abertos o suficiente para vê-lo. 

— Você lembrou! - exclamou contente. 

— Eu jamais me esquecerei de você, detetive. - disse com um leve sorriso. 

Mac levantou-se de onde estava e sentou-se ao lado de Stella na cama, pondo uma mão em seu rosto. 

— Me perdoe por não ter estado aqui com você quando precisou. 

— Você está aqui agora, e pra mim nada mais importa. - os lábios do detetive foram de encontro com os da grega, num beijo calmo e apaixonado. 

— Pronta para começar a escrever o próximo capítulo dessa história? - perguntou Mac com um sorriso encantador. 

Enquanto ela o olhava nos olhos, seu sorriso que aos poucos aumentava mostrava que finalmente a felicidade havia chegado para ficar, e que eles teriam todo o tempo do mundo para desfrutá-la, assim como ele dissera. 

— Desde que seja com você. 

The end. 


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