No dia seguinte...

P.O.V Da Jade

Olhei para o Beck e segurei o riso, ele andava de uma maneira bem cômica pelo chalé, com as pernas entreabertas, passos lentos e desajeitados. Super incomodado com a calcinha forrada, ainda sem absorventes, o jeito era usar toalhinhas de rosto para não vazar, forrar com papel higiênico não era uma opção. Estávamos no meio do nada, eu teria que viajar por duas até encontrar uma loja na beira da estrada. E o Oliver realmente precisava de absorventes já que o meu fluxo era forte.

— Fica de costas, acho que vazou. - Vi de relance uma mancha vermelha na calça amarela de flanela que ele vestia, estava de camiseta e sem sutiã.

Alegava que meus sutiãs apertavam muito e com razão.

— Sério? - Ficou de costas já aflito.

— Que merda! - Exclamei confirmando.

— Vazou muito? - Sua voz saiu esganiçada.

— É melhor dar um pulo no banheiro e se limpar. - Aconselhei.

Ele correu choramingando e dando pulinhos exagerados, de certa forma tinha nojo. Eu nem poderia julgá-lo.

Mas era muito engraçado vê-lo naquela situação.

Logo ouvi seus gritos ainda mais escandalosos.

— JADELYN, TÁ SAINDO UMAS COISAS ESTRANHAS DA SUA VAGINA! - Berrou.

Tentei ignorar, mas ele estava mesmo muito apavorado.

— WEST, VEM AQUI VER ISSO! - Me chamou com a voz chorosa.

Fui socorrer o coitado que não parava de surtar.

Chegando no banheiro, vi ele encolhido num canto do box, pálido e com os olhos esbugalhados.

Sobre o piso amadeirado, estava as roupas largadas de qualquer jeito.

— O que tá rolando, Oliver? - Perguntei confusa.

— Olha a toalhinha, tem umas coisas estranhas, uns pedacinhos, saiu de dentro de mim... - Apontou um dedo trêmulo em direção da calcinha forrada jogada ali.

Fui ver, me abaixei juntando a peça íntima.

— Oh... - Vi os coágulos de sangue na toalhinha clara.

Eram bolinhas gelatinosas e bem escuras.

Claro que aquilo deixou ele de cabelo em pé.

Raramente surgiam nos meus períodos.

— Isso não é normal, né? Eu vou morrer? É o seu corpo me rejeitando! Oh, meu Deus! Vou morrer! - Começou a se desesperar.

Revirei os olhos.

— São apenas resquícios de Endrométrio. - Respondi com calma.

Beck me encarou completamente confuso.

— Endro... O quê? - Piscou atordoado.

— Endrométrio. - Repeti lentamente.

— É uma doença? É grave? Existe tratamento para isso? - Fez cara de choro, não parava de tremer.

— Infelizmente não. Você só têm 5 horas de vida. - Menti.

Maldade? Sim, muita.

Oliver começou a chorar, parecia uma garotinha perdida da mãe.

— Ei, é brincadeira! Credo, você leva à sério tudo que eu digo, affs! — Bati na minha testa.

— Mas são assustadoras e tão nojentas... - Choramingou esfregando os olhos.

Ainda estava preocupado com as bolinhas de sangue.

— Você não precisa ter medo, ok? É normal... O seu corpo está apenas eliminando... Ah, é complicado, você não vai entender. Tome banho, se troque que eu vou dar uma saída agora, preciso comprar os absorventes e umas coisinhas. - Avisei.

Não seria arriscado sair do chalé, eu só iria procurar uma lojinha de conveniência mais próxima na região.

— Promete que não vai demorar? - Me olhou suplicante.

— Prometo. - Fui pegar um casaco.

O dia estava nublado.

Saí do chalé deixando ele tomando banho sossegado.

P.O.V Do Beck

Fui para a varanda, sentei na velha cadeira de balanço e fiquei ali aguardando a West. Eu estava um pouco nauseado, meu corpo um pouco dolorido e as malditas cólicas só pioravam. Os seios estavam bem inchados e bastante doloridos, acabei cochilando ao me balançar na cadeira sentindo o ventinho e o ar revigorante.

Me assustei com um piado de coruja.

Se não fosse uma coruja, devia ter sido de alguma ave por perto empoleirada numa árvore por ali.

Sobressaltei em alerta, olhando para os lados, já havia anoitecido e eu estava ali na varanda no escuro porque as luzes estavam apagadas.

— Jade! - Lembrei que ela tinha saído.

E o pior que não havia retornado.

Fui para dentro do chalé aos tropeços, acendi as luzes e comecei a me preocupar quando chequei as horas.

19h da noite.

A West havia saído por volta das 10h da manhã.

Pânico me dominou.

Levei as mãos até à boca, meu coração batia forte e dolorosamente.

Algo tinha acontecido.

Com certeza alguma coisa bem ruim.

Milhares de coisas horríveis se passaram por minha cabeça.

Senti vontade de chorar.

Eu não deveria tê-la deixado sair sozinha. Jade nem conhecia a região.

Ouvi o barulho do motor do seu carro e a buzina familiar soar.

Corri para fora e me deparei com ela já estacionando.

— Graças a Deus... - Sussurrei aliviado.

[...]

P.O.V Da Jade

Tive alguns imprevistos, meu carro me deixou na mão, passei por um sufoco até uma alma boa parar e me socorrer na estrada. Não nego que também demorei para achar um comércio, e quando achei, era bem longe, e por azar, minha gasolina acabou e mais uma vez, o posto mais próximo na verdade estava bem distante da lojinha.

Consegui gasolina emprestada de umas garotas num Jipe que iam para a praia.

Se o Oliver não fosse atraente e charmoso, as moças nem iriam parar oferecendo ajuda, uma delas ainda salvou o número nos meus contatos.

E quem consertou o meu carro foi um senhor que parou enquanto eu estava desesperada na estrada.

E entre trancos e barrancos, acabei chegando de noite no chalé.

Assim que estacionei, vi o Oliver surgir correndo, ele parou por um instante me encarando e colocou a mão direita no peito, estava aliviado.

Com certeza a minha demora o assustou.

Quando desci do veículo para ir pegar as sacolas no porta-mala, ele veio em minha direção em disparada e me abraçou jogando todo o peso sobre mim... Por pouco não fomos ao chão.

Oliver não era tão fraco e de alguma forma eu não pesava tanto. Consegui sustentar nossos corpos.

— Deus do céu! Aonde estava? - Me apertou.

— Ei, calma! - Dei tapinhas em suas costas.

— Fiquei com tanto medo... Tanto medo. - Se afastou para poder me olhar.

— Estou bem, só...

— Achei que tinha acontecido algo... Que bom que está bem. Graças a Deus! - Fez carinho em meu rosto e me bombardeou de selinhos.

Sua boca deixou a minha e rumou para as minhas bochechas.

Queixo, testa, nariz... Me beijou por todo o rosto.

Fiquei imóvel, completamente sem reação...

— Você prometeu que chegaria cedo... Achei que nunca mais voltaria... - Estava choroso e emotivo.

Devia ser os hormônios aflorados.

— Desculpa, tive alguns imprevistos e... - Oliver me calou com beijo afoito.

Me abraçou beijando-me desesperado, a língua percorrendo a minha boca.

Suas mãos afagavam minhas costas.

Ninguém nunca havia me beijado daquela maneira.

Me segurou forte, ainda me beijando com tamanha intensidade.

Não tive outra escolha, apenas retribuí, passei os braços em volta do seu pescoço, acariciando a sua nuca.

Ficamos ali fora trocando carinhos e nos beijando até o fôlego nos faltar.