— Você é…

— E quem mais eu poderia ser?

— Akane...chan?

— Há quanto tempo… Yuuki-kun…

Em breves passos, ela então se aproximou e abraçou-lhe ternamente. Nesse singelo gesto, foi possível ele sentir a suave fragrância de seu perfume, além do toque suave de sua pele. Corou, um pouco envergonhado.

— Senti tanto sua falta…

— A-Akane-chan…

— E você? Sentiu minha falta também?

— Depois de tanto tempo esperando esse dia…

— Então estava esperando… Você lembra da nossa promessa?

— A-Ah… a promessa…

— Não me diga que não lembra?

— É-É claro que eu lembro…

— Então qual é a promessa?

— Nós… juramos nunca mais nos separarmos…

O garoto disse, desviando o olhar. No coração de Akane, uma felicidade a preenchia, seus olhos brilhavam ligeiramente.

— Então você realmente lembra… Parece que vou ter que guardar aquelas agulhas para outra ocasião.

— Você realmente iria me fazer engolir mil agulhas?!

— Se não estivesse disposto a fazer o Yubikiri, devia ter dito antes, não? Além do mais, se fosse eu a esquecer, você também cobraria.

— E aonde você arrumou esse tanto de agulhas?!

A menina riu, fazendo graça de Hisashi que a aquele ponto estava um pouco apavorado.

— Bobo. Você acha mesmo que eu sou capaz de cortar seu dedo fora e te fazer tomar mil agulhas? Não precisa levar aquilo ao pé da letra, sabia? Ninguém em sã consciência seria capaz disso. E também, eu não sou malvada a esse ponto.

Respirou aliviado. Da janela da classe do garoto, a alaranjada foi rápida em perceber que o menino não estava sozinho. Com isso, chamou a atenção de Emiko, ao qual também vislumbrou através do vidro.

— Quem será ela?

— Eu nunca vi ela aqui. Ela se transferiu?

— E ela não é da nossa sala, porque senão, a professora teria apresentado ela pra gente…

— Mas ainda assim…

— Ela parece alguém próxima… uma amiga de infância talvez?

Ikehara estava um misto de emoções. Ao mesmo tempo que sentia ciúmes, uma incerteza, um medo parecia preencher seu coração. No refeitório, o garoto teve de ficar na fila para poder comprar o que queria.

— Não trouxe seu bento?

— Eu costumo comprar aqui na cantina.

— Se quiser, eu posso compartilhar meu bento com você.

— Não precisa, não é muito caro.

— Mas ficar gastando na cantina ao invés de trazer de casa… Não me diga que fez isso durante esse tempo todo que ficamos separados?

Para a incredulidade da menina, ele afirmou com um aceno positivo.

— Meu pai separa um dinheiro para mim para que eu possa comprar na cantina. Mas esses dias ele tem dito que eu deveria procurar ser independente.

— E ele está mais do que certo. Deveria preparar seu bento e trazer para a escola. O dinheiro que ele investe com seus lanches poderia ser muito bem investido em algo para ajudar na qualidade de vida de vocês.

— Entendo… você tem razão.

— Vai lanchar por aqui mesmo, não é?

— Eu até lancharia na minha sala, mas acho que hoje vou lanchar por aqui mesmo.

— Fazendo uma exceção? Tudo bem se quiser lanchar com seus outros colegas, é meu primeiro dia aqui. Vamos ter muito mais oportunidades de lanchar juntos.

— Mas a gente…

— Está tudo bem, Yuuki-kun. Se sua preocupação é em colocar as coisas em dia comigo, teremos mais tempo para isso do que imagina. Então, eu já vou indo, ok? Até.

— Até…

O rapaz, mesmo na fila, não conseguiu tirar os olhos da moça que ia embora para sua sala. Havia de concordar o quão bela havia ficado após ter passado os anos. Sua figura esbelta, o meigo sorriso em seu rosto, e o mais chamativo, seu encantador olhar. Era impossível de acreditar que aquela garotinha da sua infância se tornara a linda jovem a qual se apresentou a sua frente. Porém, tudo aquilo era real, e dentro de si, cogitava uma possível paixão por aquela que marcara seu coração com seu retorno após dez anos de separação.

Shizue e Emiko novamente tentaram observar da janela para ver se conseguiam encontrar aquela menina novamente, porém, ela aparentava estar camuflada ao meio daquele pequeno povo, dificultando sua detecção.

Antes do soar do sinal, ele já estava em sua sala, e não demorou para que Shizue o abordasse em sua carteira.

— Ei, quem era aquela garota?

— Eh? Ah, você quer dizer a Akane…

— Akane… O que ela é sua?

— Ela é uma amiga minha, de infância…

— Entendo…

Ela então se aproximou de Ikehara, e sussurrou em seu ouvido.

— Não deixe que isso te desmotive. Pense que você tem a vantagem de estar na mesma sala que o Yuuki, o que te dá mais chance de fisgar ele.

A garota de cabelos roxos se ruborizou ao escutar o que a alaranjada lhe havia dito ao pé do ouvido. Tanto foi seu nervosismo que não soube responder. Brevemente o sinal tocou e todos arrumaram suas carteiras, enquanto o professor adentrava a sala.

…

No horário da saída, quando todos estavam a se levantar para ir, Ikehara tomou coragem e chamou a atenção do menino.

— Y-Yuuki-kun!

— O que foi, Emiko-san?

— Eu já te disse para dispensar os honoríficos! Poxa…

— Desculpa, Desculpa… Emiko.

— Então…Eh...Hã…

A garota ficou nervosa demais, a ponto de não saber mais o que iria dizer. No final, desistiu, o pedindo para deixar para lá, confundindo tanto ele quanto Nakajima.

— Ei, tudo bem se for assim?

— Não tem como eu pedir ele simplesmente pra vir comigo…

— Ir com você aonde?

— ...Em um restaurante familiar…

— Só peça, oras…

— Eu não consigo. Eu fico nervosa só de pensar.

— Ah céus…

Desacreditada de sua amiga, ela então se virou em direção ao menino.

— Yuuki, basicamente o que ela queria era te convidar pra vir com a gente em um restaurante familiar.

Emiko ficou apavorada enquanto tentava, inutilmente, impedir que sua colega derramasse os feijões.

— Por mim tudo bem. Não vejo problemas.

— Viu? Só tinha duas respostas, ou o Sim ou o Não. Não precisa ficar com medo de pedir essas coisas.

— Você sabe que eu não consigo fazer isso por conta própria, não é fácil para mim. E Yuuki-kun, me desculpa pelo incômodo.

— Não está incomodando, Emiko-sa… digo, Emiko.

Enquanto o garoto trocava seus sapatos nos armários, Akane estava prestes a falar com ele, quando as outras duas meninas se apresentaram a ele, a fazendo olhar torto para aquela cena.

— Yuuki-kun… quem são essas?