2012

Um trovão ecoou do lado de fora, apesar da noite não ser chuvosa.

Por fora da janela, a rua parecia escura. E fria. Bem mais do que deveria ser numa cidade tipicamente quente no meio do ano.

Existia uma aura de mistério no ar, isso era um fato.

Pelo menos era isso que Molly pensava, olhando pela janela do seu quarto da forma mais silenciosa possível.

Com a mínima mudança na respiração de uma de suas seis filhas, era quase como se o coração dela parasse também. E só retornava ao normal quando ela percebia que elas não haviam acordado.

Era uma mulher de quarenta e poucos anos normal, usando roupas totalmente normais e vivendo uma vida normal.

Quer dizer, na medida do possível.

Então por que ela não conseguia fingir essa normalidade direito?

Estava cansada.

Ouviu um barulho no andar de baixo da casa, parecendo uma batida.

De forma delicada, pegou a faca que havia escondido debaixo do acolchoado da cadeira, perto da escrivaninha.

E de forma mais silenciosa ainda, abriu a porta do seu quarto, já segurando a faca firmemente pelo punhal:

—Eu sei que está aí! Apareça, se for corajoso de verdade!

Molly deu alguns passos à frente quando não ouviu uma resposta.

—Eu não tenho medo de você!- Estava quase gritando, mas pareceu ter acabado de se lembrar das suas filhas quando tampou a boca, assustada.

Colocou a mão por baixo da gola, puxando seu colar de borboleta prateado. O que seu marido, o primeiro, a havia presenteado a tantos anos atrás.

Apertou seus dedos ao redor das asas da joia, esperando que se houvesse alguma magia de proteção que se lembrasse como invocar, que aparecesse por meio de sinal divino.

Ouviu a porta do seu quarto se entreabrir e depois e fechar suavemente pelo vento.

Tomada por determinação, largou o colar no peito e voltou a estender a faca, andando lentamente em frente. Mais uma porrada se ouviu na porta, dessa vez forte o suficiente pra assustá-la.

Molly respirou fundo.

Mais dois passos para a frente, hesitantes e nervosos.

Passou segundos parada, em silêncio. Fechou os olhos. Sentiu seu coração parar quando ouviu a porta, finalmente, se abrir.

Ouviu os passos na sua sala e depois na sua escada, mas não se moveu. Se manteve totalmente firme, com sua expressão mais plena possível.

Se aqueles fossem seus últimos segundos de vida, que fossem valer á pena.

Morreria em paz consigo mesma.