2003

Era aproximadamente meia-noite. 00:00 de 10 de julho.

Um casal estava com o carro estacionado no meio do nada. Uma estrada totalmente vazia e escura.

—Eu avisei que isso era uma péssima ideia.- O homem disse, meio em sussurros.

—Sim, eu ouvi das últimas dez vezes.- A mulher estava atrás do volante. Parecia ter no máximo quarenta anos.

—Estamos esperando pessoas desconhecidas no meio do nada.- Ele retrucou.

—É o mais perto que eu consigo chegar do mundo mágico sem ser presa ou morta.- Ela retrucou.

O rapaz revirou os olhos.

—Sabe, é por isso que a gente não tá mais jun…

A mulher fez um sinal de silêncio:

—Tem alguém vindo.

O vento pareceu ser mais forte, seu impacto contra as folhas das árvores criando um forte barulho. A mulher fungou o ar, como se isso ajudasse em alguma coisa.

O homem estendeu o braço, ligando os faróis do carro velho.

Os dois quase deram um salto quando, num piscar de olhos, um grupo de pessoas estavam na frente do carro.

Respirando fundo, a mulher encarou o homem. Ele engoliu em seco, se estendendo pra trás do carro enquanto ela saía do automóvel.

—Então, você voltou.- Uma mulher mais velha, de cabelos grisalhos e uma roupa bege antiga, se aproximou. Seus olhos já eram pequenos pela idade, mas claramente eram escuros.

—Eu não chamaria se não precisasse de ajuda.- A mulher retrucou.

—Sabemos disso.- A mulher deu um sorrisinho.- Denzell.

Um homem bem mais novo se aproximou. Tinha os cabelos castanhos escuros e os olhos dourados. Sua pele morena era toda marcada por cicatrizes e desenhos.

—Posso ver?- Ele questionou.

O segundo homem saiu do carro, dessa vez com algo envolvido num cobertor em mãos.

Ele passou o bebê automaticamente pros braços de Denzell.

Denzell tirou o cobertor de uma parte, revelando o rosto de um recém nascido. A pele era extremamente branca, os olhos bem azuis. Alguns fios azul escuro nasciam da cabeça lisa. 

Estava adormecido.

—Tem um nome?- Denzell perguntou.

—Eu não…- A mulher hesitou- Não pensei em nada.

—Jackson.- O homem disse de repente.

A mulher o olhou de forma repreensiva:

—Não podemos dar um nome a ele. Não é do nosso cuidado.

—Jackson será.- Denzell respondeu com um sorriso, e entregou para a velha ao seu lado.- Alphabetta cuidará muito bem dele até ele ser de idade.

—Se tem alguém que confio para cuidar dele, são vocês.- A mulher concordou- E novamente, obrigada. Por tudo.

Com poucas palavras trocadas, o casal entrou no carro e foi-se embora.

—Marcella.- Denzell chamou a velha- Garanta que ele tenha uma educação tão boa quanto ao meu filho. Não suportaria nada menos.

—Claro, senhor.- Marcella concordou. O bebê soltou um leve grunhido, parecendo ter acabado de acordar.

Denzell pegou uma fruta das mãos de um dos homens que estava atrás de si, enfiando seus dedos na polpa até que saísse com uma tinta avermelhada.

Ele fez um círculo no rosto do bebê com os dedos coloridos. O neném pareceu se acalmar automaticamente, os encarando com olhos brilhantes e azuis.

Marcella sorriu:

—Bem vindo à Alphabetta, lobisomem Jackson Herbert.