Pássaro da Solidão escrita por Nikka fuza


Capítulo 5
Capítulo 04




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/804051/chapter/5

Senti minha respiração ficar cada vez mais descompassada ao me dar conta do que eu fizera. Tudo bem, eu aceitei a proposta do Sr Hathaway, e me sentia aliviada por saber que não seria obrigada a me casar com André, mas como eu contaria isso aos meus pais que já tem o compromisso como algo certo?

 

Meu pai ainda teria que dar a benção dele para que o noivado se concretizasse e se ele insistisse no Casamento com André?

 

— Nós vamos resolver tudo hoje, antes que a senhorita tenha que recusar qualquer proposta — O Sr Hathaway parece ter adivinhado o que passava em minha mente.

 

— Como faremos isso? Tenho certeza que assim que retornarmos para a sala, eles tentarão criar outra situação!

 

O Velho senhor pensou por um momento, traçando uma estratégia em sua mente, em questão de segundos ele decidiu como deveríamos agir.

 

— Senhora Hunter, venha comigo, eu pedirei que um criado leve a senhorita até a biblioteca, nós dois retornaremos para os outros e informaremos que a senhorita Mazur não se sente bem e deseja a companhia dos pais.

 

Isso, eu precisava apenas de um momento sozinha com meus pais para que pudesse explicar tudo o que estava acontecendo! 

 

Segui suas instruções acompanhando uma criada até a biblioteca localizada na área Oeste da propriedade. Eu nunca tinha estado naquele lado da casa e não deixava de me surpreender com sua imponência e luxo.

 

E em breve, eu serei a senhora desse lugar.

 

Aquele pensamento me apavorou por um momento. Eu nunca imaginei algo desse porte, como seria minha vida a partir de agora? 

 

A criada me deixou na biblioteca, eu andei em volta, observando cada detalhe daquele cômodo, eu tentava não pensar em tudo o que teria que explicar em alguns minutos, eu queria aproveitar meu tempo sozinha.

 

Antes do que eu imaginava, passos apressados soaram através do piso de mármore do corredor, e não demorou até que Oksana entrasse na biblioteca acompanhada dos meus pais e o marido.

 

Eu senti o sangue abandonar meu corpo enquanto pensava no que deveria dizer aos meus pais.

 

— Rose, o que aconteceu? A senhora Hunter nos garantiu que você não estava nada bem — minha mãe se aproximou alarmada.

 

Eu alternei o olhar entre meus pais, pensando em como começar a explicar o que precisava.

 

— O jovem Dragomir estava disposto a vir te ver, mas a senhora Hunter nos disse que você não estava composta o suficiente para recebê-lo — meu pai estreitou os olhos.

 

Oksana sussurrava algo para o marido, que prontamente respondeu no mesmo tom, decidindo não interferir.

 

A menção a André fez com que a ansiedade voltasse a tomar conta de mim, eu precisava dar um jeito na situação.

 

— Eu precisava falar com você dois, não podia mais esperar — eu respirei fundo, recebendo um olhar encorajador da minha amiga.

 

Meus pais trocaram um olhar confuso antes da minha mãe se aproximar.

 

— Filha, nós não estamos compreendendo…

 

— Hoje eu descobri que André Dragomir está falando para todos que vamos nos casar!

 

Eu suspirei, me sentando em uma poltrona tentando introduzir o assunto de uma maneira que fizesse algum sentido! 

 

Minha mãe me lançou um olhar condescendente como se tivesse compreendido qual era o problema.

 

— Minha querida, ele apenas ficou animado por conseguir uma esposa tão bonita quanto você — Meu pai garantiu.

 

— Seu pai tem razão, você deveria se sentir lisonjeada com o entusiasmo dele — Minha mãe se aproximou, segurando minha mão.

 

— Eu não recebi nenhum pedido de casamento! 

 

— E eu tenho certeza que ele faria o pedido hoje, se você não tivesse entrado em pânico, minha querida — meu pai procurou amenizar a situação.

 

A porta foi aberta, e Charles Hathaway entrou, se acomodando em um canto da sala, esperando o tempo certo para falar.

 

— Eu não poderia aceitar esse pedido mesmo se ele fizesse!— eu me levantei em um rompante, surpreendendo minha mãe.

 

Meus pais pareciam chocados com aquela revelação, e foi meu pai quem se recuperou primeiro.

 

— Rose, você sempre disse que não estava em busca de um casamento por amor. Essa é a oportunidade perfeita, você conhece nossa situação, sabe o que te aguarda se não se casar!

 

— Eu conheço nossa situação, mas amor não é um problema, e sim, seu caráter!

 

— Seu caráter? Você está falando de um rapaz de uma família respeitada que são nossos amigos há anos, Rosemarie! — meu pai ergueu a voz, me surpreendendo.

 

Eu dei um passo para longe dele, não me lembrava de já tê-lo visto tão furioso, mas mesmo temendo sua reação, não estava disposta a ceder.

 

— Querida, isso é por conta da situação da srtª Rinaldi? Ele percebeu que errou e se afastou dela, você não deve ser tão rígida.

 

— Não é questão de ser rígida, mamãe — eu devolvi.

 

— É questão de abalar uma amizade de anos e expor nossa família ao ridículo por não cumprir com a nossa palavra tudo por um capricho! — Meu pai rosnou.

 

 No canto da sala eu notei o quanto nossos anfitriões estavam desconfortaveis, mas não ousavam interferir.

 

— Ele a desonrou!

 

A expressão de choque nos rostos de meus pais era evidente, nenhum dos dois esperavam aquela informação, ainda mais sendo revelada de maneira tão ríspida. 

 

— O que? — Meu pai balbuciou.

 

— A srtª Rinaldi, eu a visitei hoje, e ela estava como a senhora ficou tantas vezes após as perdas, mamãe.

 

— Você deve estar enganada, querida

 

— Não está, eu mesma atendi a senhorita Rinaldi, ela me garantiu que o jovem Dragomir a seduziu. Ela perdeu a criança após saber por ele sobre o casamento com a Srtª Mazur — Oksana decidiu interferir.

 

Meu pai passou a mão pelo rosto, caminhando de um lado para o outro da biblioteca, claramente consternado com a descoberta, enquanto minha mãe parecia chocada demais para se manifestar.

 

— Eu não exijo amor para aceitar um pedido, mas eu devo ao menos respeitar o homem com quem me casar, eu sempre tive o senhor como meu modelo, papai, não aceitaria um cavalheiro menos honrado, então eu lhe peço que não me obrigue a aceitá-lo — eu respirei fundo.

 

Aquele pedido fez com que meu pai me lançasse um olhar ferido, ele suspirou antes de se aproximar de mim.

 

— Eu jamais faria tal coisa, minha querida, mas espero que você compreenda sua vulnerabilidade diante da recusa, se não houver nenhuma outra proposta…

 

— Eu me casarei com ela — Charles interrompeu, atraindo a atenção de todos.

 

— O que você disse? 

 

Meu pai encarou o amigo com uma expressão zangada e eu soube que não seria tão fácil lhe convencer. Na verdade, naquele momento temi que ele me obrigasse a me casar com o Dragomir, apenas para me manter longe do Hathaway.

 

— Eu já conversei com a srtª Mazur e ela me aceitou, então…

 

— Você enlouqueceu? ELA É MINHA FILHA! Você tem o triplo da idade dela! 

 

Meu pai gritou a plenos pulmões, impedindo qualquer que fosse a explicação do amigo.

 

— É exatamente por ela ser sua filha que eu decidi interferir, ABe. Minha herança não é alienada, ela herdará tudo.

 

— Ela não está à venda!

 

— Eu não estou tentando comprá-la, se você me deixar explicar…

 

Mas meu pai não parecia disposto a ouvir uma palavra a mais do homem, ele me segurou pelo braço, me levando em direção à porta.

 

— Nós vamos embora!

 

— Sr Mazur, ouça o que o Sr Hathaway tem a dizer — Oksana pediu.

 

Lancei um olhar suplicante para minha mãe, que com um suspiro, caminhou até meu pai, colocando a mão em seu ombro.

 

— Meu querido Ibrahim, devemos ao menos ouvir o que o Sr Hathaway tem a dizer sobre o assunto.

 

Aquilo fez com que meu pai parasse por um momento, repensando sua decisão anterior.

 

Charles fez sinal para que todos se acomodarem nos assentos disponíveis na biblioteca, e foi o que fizeram. Muita coisa precisava ser definida antes que meu pai nos desse sua bênção.

 

Nós chegamos em casa no início da madrugada, Charles explicou para meu pai sobre sua doença e tudo o que tinha me falado. Depois de muita conversa, ficou decidido que no dia seguinte meus pais dariam a notícia sobre meu casamento para os Dragomirs, e eu passaria o próximo mês em casa, me expondo o mínimo possível até que chegasse o momento de concretizar a união e partir para Kent, onde eu poderia evitar os comentários negativos que os Dragomirs provavelmente fariam sobre mim.

 

Porém, antes de aceitar a minha reclusão pré nupcial, eu precisava resolver uma última pendência, e foi Oksana quem me acompanhou na manhã do dia seguinte.

 

— Você tem certeza sobre isso? — ela perguntou quando nossa carruagem chegou ao nosso destino. 

 

— Eu recebi ajuda para me livrar daquele patife, nada mais justo que ajudá-la também — eu assenti, desembarcando da carruagem.

 

— Não me oponho ao seu desejo, mas você não acha que agir nesse momento é uma atitude precipitada? — ela me seguiu.

 

— Não, eu não darei a ele a chance de voltar a se divertir e arruinar o pouco que resta da frágil reputação da srtª Rinaldi — eu garanti antes de bater a porta.

 

A senhora Spencer se surpreendeu com nossa presença logo pela manhã, mas aceitou a explicação da Srª Hunter sobre verificar o estado de saúde da pobre Srtª RInaldi, que ainda se recuperava do mal que lhe acometeu no dia anterior.

 

Com um pequeno aceno de cabeça, Oksana acompanhou a srª Spencer até a cozinha, para preparar um chá para Mia, me dando a chance de conversar com a jovem contando com um pouco de privacidade. 

 

Eu refiz o caminho que tinha decorado no dia anterior, batendo na porta do quarto de Mia Rinaldi, antes de entrar. Seu semblante foi tomado pelo mais puro sofrimento quando ela me viu, e eu odiei aquela expressão.

 

Eu não tinha culpa!

 

— O que a senhorita está fazendo aqui? — Ela balbuciou, se sentando na cama.

 

— Eu vim para…

 

— Por favor, não zombe de mim. minha dor já é grande o suficiente — Sua expressão era um misto de raiva e dor, que serviu apenas para acender um pouco a minha fúria.

 

Ela deveria me conhecer o suficiente para saber que eu jamais zombaria de alguém nas mesmas condições que ela, isso era um completo absurdo.

 

— Srtª Rinaldi, eu não estou aqui para zombar de você, muito pelo contrário, estou aqui para tratar de um assunto que é do seu total interesse!

 

Ela se calou, se limitando a me observar, esperando que eu concluísse meu raciocínio.

 

— Eu estou aqui para lhe contar que vou me casar…

 

— E ainda diz que não está aqui para zombar de mim? André me disse que vocês dois se casariam, a senhorita sabe bem disso — Ela começou a se levantar.

 

— Eu jamais me casaria com um patife como André Dragomir! Eu aceitei o pedido de Charles Hathaway!

 

Aquela frase fez com que a jovem arregalasse os olhos, desistindo de sua ideia inicial de levantar de seu leito.

 

— Charles Hathaway? ele não tem a idade do seu pai?

 

— Sim, eu preferi me casar com ele a aceitar a proposta de André dragomir, principalmente depois de saber sobre o seu terrível comportamento com a senhorita!

 

Mia Rinaldi parecia completamente sem fala diante da minha frase.

 

— Eu tenho uma proposta para você, a senhorita foi desonrada, ele se aproveitou de sua falta de conexão e suas vulnerabilidade familiar…

 

Ela fechou os olhos, contendo um soluço que chegou aos seus lábios enquanto tentava segurar as próprias lágrimas.

 

— Eu fui tão tola, pensava que ele me amava!

 

Eu procurei me manter firme, apesar de me comover com sua história.

 

— Eu conversei com meu pai, e ele está disposto a agir em favor da senhorita, obrigando André a se casar e reparar a sua Honra — eu respirei fundo.

 

Aquela notícia a pegou de surpresa, ela não parecia considerar chance alguma de resgatar o que lhe fora perdido.

 

— Ele me odiará.

 

— Sim, e a senhorita deve imaginar como será tratada por aquele homem durante a sua vida.

 

Mia abaixou a cabeça, pensando em tudo o que eu havia acabado de lhe falar.

 

— Eu acho que não tenho opções…

 

— Sim, você tem!

 

Eu não pretendia permitir que ela se casasse com aquele porco e passasse a vida sendo maltratada, mas também não poderia lhe obrigar a aceitar meu plano, o que me restava era lhe oferecer uma saída e torcer para que ela tomasse a decisão acertada.

 

— Qual opção me resta, Srtª Mazur?

 

— Em um mês eu deixarei de ser Rosemarie Mazur e passarei a ser Rosemarie Hathaway, senhora de Northwich Hall e Goldfield Park — eu tentei não demonstrar o quanto aqueles títulos me intimidavam — Eu precisarei de uma dama de companhia e estou disposta a guardar seu segredo se você aceitar partir comigo para Kent.

 

Aquela proposta a deixou sem fala por um momento, ela parecia ponderar suas escolhas, antes de finalmente voltar a se manifestar.

 

— O que a senhorita deseja que eu faça?

 

Eu respondi com um pequeno sorriso, e após a instruir a se vestir e preparar uma pequena mala, eu fui de encontro a srª Spencer e a srª Hunter que estavam conversando na sala de estar.

 

As duas se calaram ao me ver, dedicando sua atenção a mim.

 

— Ahh minha querida srtª Mazur, já terminou com a pobre mia? 

 

— Como foi, Rose? — Oksana quis saber.

 

— Ela aceitou.

 

Aquela pequena interação chamou a atenção da velha mulher, que logo quis saber do que estávamos falando.

 

— Aceitou o que?

 

Oksana e eu trocamos um rápido olhar antes de respondê-la.

 

— Srª Spencer, ontem a noite eu fui pedida em casamento.

 

— Ahh minha querida, essa é uma notícia maravilhosa. O jovem sr Dragomir deve estar muito feliz.

 

Ótimo, mais uma vez aquela história. Como eles podem espalhar essa notícia para todos antes de sequer pedir minha mão?

 

— Sr Dragomir? — Oksana franziu o cenho e eu decidi seguir sua deixa.

 

— Por que o Sr Dragomir ficaria feliz?

 

Eu não poderia sair como a mulher infame que promete a mão a um rapaz e se casa com outro.

 

— Como assim, minha querida? Ontem mesmo a senhora Dragomir estava contando sobre a união de vocês.

 

— União? Impossível. Ontem mesmo as duas famílias jantaram em Northwich Hall e não soubemos sobre união alguma — Oksana me ajudou.

 

— Srª Spencer, eu lhe garanto que André Dragomir nunca me fez pedido algum! Eu sempre pensei que ele me tivesse como uma irmã mais nova, já que cresci com a Vasilisa — eu enfatizei para a mulher que parecia cada vez mais perdida.

 

Eu esperava que aquilo ajudasse a me eximir de qualquer culpa que tentassem colocar em mim, quanto mais pessoas soubessem daquela história, melhor.

 

— Santo Deus, essa história é uma confusão. Mas então, com quem a senhorita se casará?

 

— O senhor Hathaway pediu minha mão ontem.

 

— Rosemarie, você se tornará a senhora de Northwich Hall?

 

— E de Goldfield Park — Oksana completou.

 

— Sim, e agora que entra a Mia.

 

— A Mia?

 

— Eu precisarei de uma dama de companhia, a convidei para a posição e ela aceitou. Em um mês partiremos para Kent.

 

A mulher continuou me encarando boquiaberta, sem saber como reagir aquela notícia.

 

— Minha querida, essa é uma oportunidade maravilhosa para a senhorita Rinaldi.

 

— Eu conheci o Sr Hunter quando era apenas uma dama de companhia — Oksana comentou.

 

— Eu pedi que ela me ajudasse em todas as questões do casamento, então ela deverá se hospedar na Mazur House a partir de hoje, e…

 

— Isso não é um problema, eu mesma a ajudarei com as malas!

 

A velha senhora declarou com entusiasmo para minha completa satisfação, indo ajudar sua protegida em seguida.

 

Já passava da hora do almoço quando nós retornamos para Mazur House, eu indiquei que Meredith acompanhasse Mia até o quarto de hóspedes enquanto eu procurava meus pais para avisar o que havia sido decidido.

 

— E como Rhea reagiu? — Ouvi a voz da srª Kirova ao me aproximar da sala particular da minha mãe.

 

— Os Dragomirs acreditam que foram traídos — Alberta respondeu.

 

Eu parei de caminhar, me limitando a ouvir a conversa entre minha mãe e as amigas.

 

— Nós já tínhamos conversado sobre um possível casamento entre os dois, mas o rapaz nunca se aproximava dela, então ela sempre pensou que ele não tinha interesse. Quando surgiu uma proposta, ela aceitou. Rose não tinha como saber que ele planejava se casar com ela, sendo que ele nunca fez o pedido — minha mãe afirmou.

 

Ótimo, a Srª Petrov com certeza espalhará essa versão, sei que em breve estarei longe daqui, mas não quero que meus pais sofram por meus atos.

 

— Ela fez bem em aceitar, se casará muito bem — Alberta aprovou minha escolha.

 

— Eu vi tantas vezes o jovem Dragomir com a Srtª Rinaldi, que pensei que ele lhe pediria em casamento — a srª Kirova declarou.

 

— Rosemarie me disse a mesma coisa alguns dias atrás, mas então, ele se afastou da jovem e passou a contar a todos sobre o casamento dos dois, isso sem fazer o pedido. Ouso dizer que…

 

Não precisei ouvir mais, sabia que minha mãe conseguiria reverter qualquer dano permanente na reputação de nossa família. O fato do Sr Hathaway ter agido antes que qualquer pedido fosse feito contribuiu muito para essa questão. 

 

Eu fiz companhia para Mia em seu quarto pelo resto do dia, compartilhando com ela tudo o que eu deveria resolver antes do casamento, e discutindo as opções de cores e tecidos para meu vestido de noiva

 

Já estava próximo a hora do jantar quando uma nota vinda de Dragonfly Park alvoroçou a todos, meu pai tinha visitado os Dragomirs mais cedo para dar-lhes a notícia que não foi bem recebida.

 

— Vamos, minha querida, leia de uma vez — minha mãe pediu, aguardando ansiosa ao lado de Meredith para conhecer o conteúdo escrito ali.

 

— Se tiver alguma ofensa direcionada a você, quero que me avise imediatamente — meu pai pediu enquanto eu desdobrava o papel.

 

— É da Vasilisa — eu avisei antes de correr os olhos pelas palavras escritas ali.

 

"Todas as minhas notas eu inicio com "minha querida Rose", mas não sei se posso utilizar tal termo nas atuais circunstâncias. Na noite passada toda nossa família deixou Northwich Hall consternada por seu mal estar, eu planejava te visitar logo pela manhã para ter mais notícias sobre sua saúde, meu irmão se sentia miserável por não ter sido capaz de auxiliá-la da maneira adequada, tendo em vistas suas expectativas para o futuro.

Expectativas que foram frustradas hoje pela manhã de maneira infame e ardilosa.

Srtª Mazur, a senhorita sabia sobre as pretensões do meu irmão, e mesmo assim, escolheu ignorar todos os sinais e esmagar o seu coração de maneira cruel. Nós duas poderíamos ter nos tornado irmãs, mas você decidiu trocar isso pelo maior valor oferecido.

Eu gostaria de dizer o quanto estou feliz por seu casamento e que te desejo felicitações, mas eu não seria verdadeira.

Não posso terminar esse breve desabafo sem enfatizar o quanto estou decepcionada com suas atitudes egoístas que ignoraram anos de amizade, expondo minha família ao mais absoluto escárnio de nossa sociedade.

 

Vasilisa Dragomir."

 

Eu terminei de ler a carta, sentindo meu coração se apertar ao absorver toda a mágoa contida naquelas palavras, eu esperava que Lissa, dentre tantas pessoas compreendesse minha decisão, mas é claro que isso não aconteceu.

 

— Querida, o que diz? — Minha mãe quis saber.

 

— Que eu humilhei a família dela e que está decepcionada comigo — decidi resumir antes de amassar aquele pedaço de papel.

 

Por um momento eu cogitei a ideia de tentar me justificar através de outra nota, mas desisti da ideia. Uma amiga de verdade deveria pelo menos ouvir a minha versão antes de me julgar como egoísta.

 

— É natural, ela está chateada por conta do irmão, mas eu lhe garanto que isso irá passar. — minha mãe me consolou.

 

— Eu vou me retirar, não estou com fome — eu murmurei antes de ir para meu quarto.

 

Eu não podia acreditar no quanto minha vida tinha mudado de uma hora para outra, e não sabia o que esperar do futuro. o que seria de mim quando me mudasse para Kent, para longe de tudo o que eu conhecia? 

 

Eu tive uma boa educação e me esforcei ao máximo para aprender todas as coisas que uma jovem de boa família deve saber, mas isso seria o suficiente para a sociedade em kent? Eu conseguiria novos amigos? Ou todos me julgariam como Vasilisa fez?

 

Todos aqueles pensamentos rondavam minha mente enquanto eu permanecia acordada, já na manhã seguinte, eu estava disposta a esquecer de uma vez meus temores e cuidar de tudo o que precisava para meu casamento. Eu terminava de lavar meu rosto quando uma batida soou na porta, eu fui até lá, encontrando Mia já vestida, me esperando com um sorriso no rosto.

 

Para mim, era impressionante sua força, eu podia ver em seu semblante o quanto ela estava sofrendo, mas ela se esforçava e ainda assim, sorria.

 

— Bom dia, Srtª Mazur. a senhorita precisa de algo? 

 

— Mia, você não deveria estar em repouso?

 

— Eu estou me sentindo muito melhor hoje, então pensei que poderia me acostumar à sua rotina — ela suspirou.

 

Eu a analisei por um segundo antes de indicar com a cabeça para que ela entrasse no quarto.

 

— Se esse é o caso, vamos começar com você me chamando de Rose.

 

— Certo, Rose — ela parece ter estranhado aquela situação, olhando em volta ao entrar em meu quarto.

 

Seus aposentos na escola da senhora Spencer eram bastante simples, se ela está estranhando a Mazur House, nem quero ver sua reação quando conhecer Northwich Hall.

 

Mia me ajudou a me vestir e pentear os cabelos, os escovando com esmero antes de prendê-los em um coque simples. Nós descemos juntas para o desjejum, quando uma comoção vinda do hall de entrada chamou nossa atenção.

 

— Não me importo com suas ordens, eu exijo ver a senhorita Mazur — Nós congelamos ao ouvir a voz de André Dragomir.

 

Mia parecia prestes a desmaiar, seu rosto estava pálido e ela mal conseguia emitir som algum.

 

— O que ele faz aqui? — ela balbuciou, parecendo prestes a correr de volta para seu quarto.

 

Eu não esperava que ele tivesse tamanha audácia, quando sequer teve a coragem de me pedir em casamento de maneira adequada, mas eu colocaria um fim nisso.

 

— Mia, você quer mesmo ser a minha dama de companhia?— Eu a segurei por ambos os braços, olhando em seus olhos.

 

— Sim, srtª Mazur.

 

— Rose — Eu a corrigi — Então eu quero que você mantenha sua cabeça erguida o tempo todo, se você não for capaz de manter a voz firme, fique em silêncio, você compreendeu?

 

Ela balançou a cabeça em entendimento, parecendo incerta sobre minhas instruções.

 

— Você me seguirá depois de um minuto, entendeu?

 

Novamente ela balançou a cabeça. Eu a analisei por um momento antes de me dar por convencida e ir em direção à discussão que se tornava cada vez mais exaltada.

 

— Senhor, se o senhor não se retirar nesse momento, eu…

 

— Está tudo bem, Stewart, eu posso cuidar disso — eu atraí a atenção dos dois homens.

 

— Srtª Mazur, o seu pai me deu ordens expressas…

 

— Não se preocupe, diga que eu quis receber o senhor Dragomir.

 

Eu pedi com um sorriso, sentindo o olhar rancoroso do outro rapaz sobre mim o tempo inteiro. Ele aguardou que o criado se afastasse, antes de se dirigir a mim com toda a sua fúria.

 

— O que significa isso, Rosemarie? você me deve uma explicação!

 

— Explicação? Eu não lhe devo explicação alguma, senhor Dragomir. E por favor, me chame de Srtª Mazur! 

 

Aquilo parece ter enfurecido ainda mais o rapaz, que se aproximou de mim, erguendo ainda mais a voz. Eu0 me mantive imovel, com o rosto erguido para olhar em seus olhos, não permitindo que sua postura agressiva me intimidasse.

 

— Não me deve explicação? Nós íamos nos casar?

 

— Íamos? Porque eu jamais recebi pedido algum da sua parte, o senhor nunca demonstrou interesse sequer em dançar comigo em uma festa, e de repente decide espalhar para todos que vamos nos casar? 

 

Onde está a Mia? Ela já deveria ter entrado!

 

— Isso porque o meu pai...

 

— Não me importo com o que seu pai disse, o senhor nunca teve a decência de me fazer o pedido, então não tem direito algum de vir me cobrar qualquer explicação!

 

— Isso é ridículo, e você sabe!

 

— A sua atitude inadequada? Sim, eu concordo. Mas não se martirize, mesmo que você tivesse de fato pedido a minha mão, não existiria nada que pudesse me tornar meramente inclinada a aceitá-lo. Tenho todos os motivos do mundo para pensar mal do senhor, e preferiria viver a vida como uma solteirona do que passar o resto dos meus dias ao lado de um homem de caráter tão duvidoso! - ergui a voz, deixando minha exasperação tomar conta de mim. 

 

Sua expressão se alterou ao se fixar em um ponto atrás de mim, removendo a fúria de seu rosto, e eu soube imediatamente que a Srta Rinaldi havia feito sua entrada.

 

— O que ela faz aqui?

 

— Creio que o senhor conhece a senhorita Rinaldi, ela é a minha mais nova dama de companhia.

 

O rapaz estava cada vez mais pálido, alternando o olhar entre nós dois, foi quando passos começaram a soar através do corredor.

 

— Eu e a senhorita Rinaldi estamos nos conhecendo melhor e eu descobri que ela é uma garota extremamente doce, certo, Mia? — eu lancei um breve olhar para minha mais nova amiga, que se limitou a acenar em concordância.

 

— Que gritaria é essa? — A voz do meu pai se fez presente no cômodo.

 

— Eu preciso ir — André balbuciou, não hesitando a sair pela porta, nos deixando ali sozinhas antes que meu pai tivesse a chance de vê-lo.

 

— O que aconteceu? Aquele patife…

 

— Deixe-o, papai. Ele não me incomodará mais — eu garanti.

 

E eu estava certa sobre meu pensamento, André Dragomir não voltaria a me incomodar enquanto eu estivesse em Wilmslow.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pássaro da Solidão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.