1 semana depois...

P.O.V Do Edward

Mais um dia de terapia em grupo. Tem sido uma experiência boa. Não achei que daria certo. Não comigo. No primeiro dia foi difícil, ter que me abrir com um grupo de estranhos. Vítimas de abusos. Mas nenhum deles machucou alguém como eu. Sou o único no grupo que foi vítima e agressor... É por isso que decidi procurar ajuda. Para ter que lidar com os meus demônios.

— Violentei uma garota de 18 anos e ela engravidou... Meu irmão gêmeo assumiu a criança... É uma linda menininha... Quando aconteceu eu estava chapado, havia bebido e tinha usado cocaína... Lembro de alguns flashes, é perturbador e doloroso demais... Eu devia estar atrás das grades pelo crime que cometi... Só sinto arrependimento... Acho que nunca irei conseguir me redimir... - Desabafei com pesar.

Era um grupo misto.

Pensei que o clima foi pesar, que seria expulso dali.

No entanto, apenas recebi olhares.

Olhares de pena e compaixão.

— Obrigada por compartilhar sua história com o grupo, Edward. - A líder do grupo de apoio esbolçou um sorriso terno e um aceno sútil.

— Victoria, já se sente pronta para se abrir conosco, querida? - Emilia, a líder, perguntou para a novata.

A moça tinha entrado no grupo na semana anterior.

— Sim. - Era uma morena muito bonita, estava acanhada. - Sou Victoria Lancarter e tenho 22 anos, fui violentada no meu primeiro ano na faculdade por um veterano, ocorreu durante uma festa de fraternidade, ele me embebedou e se aproveitou de mim... - Ela olhava para baixo, fitando as unhas... - Lembro de acordar no dia seguinte com dores e com a calcinha suja de sêmen... - Estremeceu.

Silêncio... Ela não conseguiu falar mais nada.

— Obrigada por compartilhar sua história com todos nós. - Emilia olhou ao redor. - Mais alguém tem algo a dizer? Estamos aqui para nos libertar de coisas que nos abalam, falando um pouco sobre nossas dores. Sei que não há cura para cicatrizes internas, mas se falarmos sobre o que nos afligem, desabafando, compartilhando com alguém que passou por algo semelhante, assim reunimos forças para combater os nossos demônios. Cada um de nós sofreu abusos. Guardar essa dor em segredo só nos sufoca. Ficar em silêncio só nos mata por dentro. Eu passei 10 anos calada. E digo por experiência própria, você não está sozinho. Você não vai passar por tudo sozinho, somos um grupo e devemos nos apoiar. Por isso cada um de vocês está aqui. Lutando contra seus conflitos internos. Tentando se libertar dessas amarras. Estou aqui para ajudá-los. Lembrem-se disso! - Emilia finalizou.

Demos uma pausa.

O café e os bolinhos foram servidos.

— Edward, certo? - Timidamente Victoria se aproximou de mim.

— Sim. - Confirmei.

— Você foi muito corajoso... Agressores não costumam confessar... - Ela bebericou o café.

— Eu precisava desabafar... E foi bom. Não foi um ato de coragem... Sou um covarde, na verdade... - Admiti.

— Você disse que seu irmão assumiu sua filha... Você nunca quis assumir a menina? - Estava curiosa.

— Não posso negar. Tive essa vontade... Mas é melhor que ele seja o pai dela. E agora eles estão juntos... Minha cunhada é uma pessoa incrível. - Falei sobre Sam.

— Você disse que deveria ter sido preso. Você sente vontade de se entregar? - Indagou.

— Tenho um filho. É um bebê de 1 mês. A mulher que amo precisa de mim. - Respondi.

— Você tem dois filhos? - Ficou surpresa.

— É uma longa história... Você ficaria chocada com tudo. - Falei.

— Quando se sentir à vontade, eu gostaria de ouvir. - Victoria não estava com medo de mim.

— Está bem. - Gostei de conversar com ela.

Voltamos para a roda do grupo. Emilia tinha muitos conselhos para todos nós.

[...]

P.O.V Do Freddie

— Que cara é essa? Acho que está aprontando alguma! - Sam me olhou desconfiada.

— Caramba! Você me conhece tão bem. - Comecei a rir.

— O que é? Me conta logo! - Sempre muito curiosa.

— É surpresa! - Cruzei os braços.

— Ai não. - Fez biquinho.

— Angela vai tomar conta da Alice. Iremos sair hoje à noite. - Era só o que eu podia adiantar.

Seus olhos azulados cresceram e brilharam.

Ela tentou arrancar algo a mais, no entanto, me mantive firme com a boca fechada...

Anoiteceu e Sam estava quase arrancando os cabelos, ansiosa e mega curiosa.

Eu me arrumei todo, fiquei a aguardando na sala.

— Você não disse para onde vamos... Nem me deu uma dica. Espero estar apresentável. - Apareceu me deixando de boca aberta.

O vestido preto com decote discreto envolvia seu corpo cheio de curvas. Ele ia até a metade das coxas, com tecido leve e rendado, todo rodado e bem acinturado. Ela estava com os cachos soltos e cheio de volume, caíam por seus ombros.

Seus olhos estavam ainda mais azuis como duas Safiras brilhando e sua boca vermelha como uma cereja bem madura.

Linda demais... Me tirava o fôlego.

— Perfeita. - Me aproximei ainda todo abobalhado. - Coloque um casaco, amor. - Mesmo usando saltos ela continuava mais baixa que eu.

Saímos de casa deixando a nossa filha com a babá.

[...]

Levei minha namorada para jantar no IL Bistro, era um restaurante refinado, eu queria que nossa noite fosse perfeita.

Sam merecia tudo do bom e do melhor.

— Estamos comemorando algo e eu não sei? - Perguntou quando puxei a cadeira.

Nossos casacos estavam no guarda-volume.

— Talvez. - Fiz todo o lance de mistério.

Eu poderia estar até me precipitando... Mas fazer o quê?

Fizemos nossos pedidos, ela aceitou beber comigo tomando apenas uma taça de vinho tinto e nada mais.

Quanto mais o tempo passava, mas eu ficava nervoso.

O jantar era apenas para descontrair.

Pedimos frutos-do-mar, Sam simplesmente amava camarão e mexilhões.

O jantar foi tranquilo e agradável.

Mas ali naquele lugar ainda não era o momento certo...

Eu o faria quando chegasse a hora.

[...]

P.O.V Da Sam

Freddie estava todo nervoso, nem conseguia disfarçar. Saímos do restaurante, onde tivemos um jantar bem romântico e ele me levou para o Space Needle.

Chegando lá no topo, percebi que o observatório tinha sido reservado.

Tudo enfeitado com velas aromáticas e pétalas de rosas vermelhas.

Havia uma mesa posta com taças e um balde cheio de gelo contendo uma garrafa de Champagne.

Quando ficamos sozinhos ali em cima, Freddie me pegou pela mão. Ele me conduziu para ver a incrível vista de Seattle iluminada.

— O que é tudo isso? - Perguntei abismada.

— Olhe para cima, meu anjo! - Apontou para o céu estrelado.

Foi então que vi a explosão no céu... Fogos de artifício sendo soltos.

Até me assustei apertando a sua mão... Cores pipocaram e o clarão de luzes explodiu.

Amarelo. Vermelho. Azul. Roxo.

E de repente algo se formou no céu lindo e iluminado:

Casa comigo?

Meu coração falhou uma batida.

Freddie soltou minha mão e se ajoelhou diante de mim tirando uma caixinha de dentro do bolso do blazer.

— Me daria a honra de ser minha esposa? - Fez o pedido.

Olhei para as alianças de noivado.

Meu coração estava quase saindo pela boca.

Eu realmente não aguardava aquele pedido.