Beverly Hills, L.A, às 18h:26min...

P.O.V Da Sam

Los Angeles é o paraíso na Terra, nos mudamos para cá quando eu ainda era criança. Minha mãe nasceu em Las Vegas e meu pai é de Seattle, foi lá que nasci e minha família se mudou para Beverly Hills quando os negócios da família se expandiram. Meu pai atualmente é dono de três gravadoras conceituadas, muitos artistas já trabalharam com ele. E minha mãe tem sua própria linha de lingeries, com o dinheiro do papai, ela investiu numa loja de moda íntima. O que já está fazendo bastante sucesso aqui em Beverly Hills, e claro, como sou a filha da dona, eu pego todas as peças exclusivas que desejo antes de serem lançadas.

Quando desci para pedir um lanche à Mercedes, a nossa cozinheira mais antiga, já que moramos numa mansão no melhor condomínio da cidade, e para mantermos a casa em ordem, é necessário uma equipe de 10 funcionários. Ouvi meus pais discutindo na sala de estar. Devia ser mais uma daquelas discussões sobre os gastos exagerados da mamãe.

Mas desta vez não era isso.

O assunto era sobre mim.

Parei no meio da escadaria quando ouvi meu nome ser mencionado. Papai parecia furioso, e de fato, ele estava mesmo muito nervoso.

— Ela é só uma menina, querido. - Minha mãe sempre me defendia.

— Ela já tem 20 anos, Pamella. Não é mais uma adolescente, muito menos criança! - Ele deixou bem claro.

Estava insatisfeito comigo desde o dia em que eu tranquei minha faculdade.

— Já é a terceira vez que a Sam bate o carro. E se alguém se machucasse? Você não acha que ela já não deveria ter mais responsabilidade? Ela trancou a faculdade e agora não faz nada da vida além de sair com os amigos arruaceiros e gastar dinheiro à toa. A fatura do cartão veio um absurdo esse mês. Só porque ela é minha filha, eu não vou ficar passando a mão na cabeça dela! Você também não deveria fazer isso, Pamella! A Sam só tem nos dado dor de cabeça. Você acha certo ela sair às sextas e chegar em casa só às segundas de pura ressaca? Além do mais, a nossa filha só anda com quem não presta! Os tais amigos são um bando de vagabundos que só sabem beber e fumar por aí. Se ela for presa por culpa desses marginais ou aparecer grávida chutada pelo pai do bebê, com que cara vamos olhar para os nossos vizinhos? - Meu pai estava realmente revoltado com a minha conduta.

— A Sam não é ingênua e nem desinformada, ela sabe se prevenir... Eu vou conversar com ela, John, tenha calma. A nossa filha vai mudar! - Minha mãe prometeu.

— O quê mais, papai? O quê mais tem a falar de mim? - Desci a escada rapidamente.

— Ah, você estava ouvindo? Espero que tenho ouvido tudo! - Ele me encarou.

— Sim, ouvi cada palavrinha. Até mesmo quando me chamou de vagabunda! - Eu estava me sentindo muito ofendida.

— Não te chamei de vagabunda, não exagere, eu apenas...

— Desculpa por não ser a filha perfeita, papaizinho. Mas você só tem a mim, pai! Sou a sua única herdeira! Ou você me atura ou você me ignora de vez! A vida é minha, os amigos são meus e se eu me meter em problemas, o problema também vai ser meu! Sou maior de idade, vacinada e eu...

— Olha como fala comigo, Samantha! Não me venha com seus deboches e ironias! Sua mãe te mimou demais, garota! Por isso você é desse jeito! - Apontou para mim.

Vi no seu olhar o desgosto que ele sentia.

— E como acha que vai consertar as coisas falando desse jeito comigo? Como se eu fosse uma marginal. Nós temos dinheiro. Dinheiro de sobra. E daí se eu gasto um pouco a mais às vezes? A gente não devia estar ostentando? Desfrutando do bom e do melhor? Temos condições para isso, pai! Ao invés de reclamar das faturas do meu cartão, por quê não me dá de presente férias para Maldivas? - Eu não estava brincando.

Ele nunca me deu viagens como presente. As da Disney não contam. Era obrigação dele me levar.

— Se merecesse, eu te daria. Mas acontece que você não merece. - Mamãe ouvia tudo sem se intrometer, por quê ela havia parado de me defender? - Semana passada você quase foi detida por desacato. E sabe Deus o que estava fazendo quando bateu o carro pela terceira vez. Você não tem juízo, Samantha! Acha que nosso dinheiro cai do céu? Eu ralei duro para ter o que temos hoje. Se nossa família tem uma boa condição de vida, é por puro esforço meu! Você é muito superficial. Só gasta com futilidade. Quer tudo de mãos beijadas. Quer as coisas por puro capricho! - Jogou na minha cara.

— Quer saber? Já cansei. Não sou obrigada a ficar aqui ouvindo todas essas baboseiras. Tô vazando. Hoje tem balada, vou curtir a noitada com minhas amigas. - Avisei.

Eu realmente não dava à mínima.

— Você não vai para lugar algum hoje. Vou pedir para a Lucy te ajudar com as malas. - Me informou.

— Como é? Vai mesmo me expulsar de casa? - Fiquei pasma.

— Não estou te expulsando. Você vai passar um tempo na casa dos seus tios em Kentucky. - Explicou.

Olhei para minha mãe, ela só observava calada.

— Onde fica Kentucky? Parece marca de molho de tomate. E desde quando temos parentes nesse lugar com nome esquisito? Não vou pra esse lugar nem amarrada. Não conheço essa cidade e nem esses tios aí que o senhor citou! - Ele não mandava em mim.

— São seus tios, nossos parentes distante. Na verdade, você vai para o interior de Kentucky, a fazenda deles fica em Roseville, é uma zona rural, você vai ajudar os seus tios, lá terá muito o que aprender. Vai saber dar valor às coisas. Serão apenas 3 meses, veja como um presente de férias de verão. Vai conhecer a natureza e os animais, seus tios cultivam legumes e cuidam da roça. Roseville é linda, sua mãe irá concordar comigo. Filha, você precisa respirar ar puro, aprender a ter responsabilidade e saber valorizar as pequenas coisas maravilhosas que a vida tem a nos oferecer! - Ele queria mesmo me dar uma lição?

— O senhor quer me punir me mandando para o fim do mundo? Mas isso é um tremendo absurdo! Pode cortar a minha mesada ou suspender o meu cartão, eu dou meu jeito. - Falei. - Mãe, a senhora vai mesmo concordar com isso? - Olhei para ela, implorando por ajuda.

— Filha, seu pai tem razão. Só queremos o seu bem. Vem, eu te ajudo com as malas. Serão como férias de verão, você vai gostar. - Ela estava brincando?

— SÓ PODEM ESTAR DE SACANAGEM COM A MINHA CARA! - Gritei indignada. - Vão todos se foder! - Exclamei exasperada.

Lhes dei as costas e subi a escadaria correndo.

Kentucky?

Meu pai enlouqueceu de vez.

Onde diabos fica esse lugarzinho?

Até parece que vou passar 3 meses nesse fim de mundo com gente pobre que nem conheço.