Confiança escrita por Liubovv


Capítulo 1
Reconhecimento




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Estavam cercados.

Sakura calculava pelo menos trinta nukenins ao redor do time Kakashi, entre homens e clones. Já estavam lutando há seis horas incessantemente, o selo byakugou ativado há pelo menos três, tempo suficiente para indicar que sua reserva de chakra estava bem comprometida.

Estavam esgotados.

Quanto mais lutavam, mais clones apareciam. Não havia, em sua mente, uma saída para aquela emboscada a não ser tentar recuar. Tentar, pois não sabia o estado em que seus amigos se encontrava. Formavam um círculo, um de costas para o outro, enquanto observavam seus oponentes se multiplicarem mais uma vez. Aquilo não estava nada bom. Virou a cabeça para observar seus companheiros: Naruto estava claramente cansado mas ainda tinha bastante chakra, não precisaria se preocupar com ele apesar de ter um olho inchado e seu nariz ainda estar com os tampões para estancar o sangramento. Conseguira, porcamente, é verdade, consertar rapidamente o nariz quebrado do loiro em meio à batalha, custando um pouco mais de seu chakra do que previra, mas não tinha importância contanto que o jovem pudesse voltar o mais rápido possível para a batalha. Por hora não precisaria se preocupar com ele. Kakashi, por outro lado, tinha um corte no supercílio direito que ainda sangrava bastante, nublando sua visão vez ou outra. Com o uso prolongado do sharingan, sabia que o sensei estava em seu limite. O mais velho respirava devagar, arfando de vez em quando. Rodeava o corpo com o braço direito enquanto sua mão fazia pressão na lateral esquerda, abaixo do peito. Provavelmente uma costela fraturada, pensou virando mais uma vez o rosto para o último membro do time. Apesar de cansado, o ar blasé não o abandonava. Sai não estava machucado graças ao seu pergaminho, que o possibilitava resguardar-se de um combate corpo-a-corpo.

Estavam frustrados.

Quanto mais o inimigo se multiplicava, mais seu cérebro tentava criar possibilidades de fuga. Um ninja é ensinado a não fugir de suas batalhas. Pensou enquanto fechava os olhos e lembrava das palavras de Iruka-sensei na academia. Mas um ninja precisa saber reconhecer o momento de se retirar de uma batalha. Ninjas não são suicidas.

— Precisamos recuar o mais rápido possível! – teve seus pensamentos interrompidos (e praticamente lidos) pela voz de Kakashi – Estamos num beco sem saída há mais tempo do que gostaria, só estamos ficando cada vez mais cansados e, pelo visto, eles não vão parar de se multiplicarem feito coelhos – o mais velho estava extremamente irritado com a situação já que seus oponentes não estavam oferecendo uma luta justa. Eram nukenins, afinal, não dava pra esperar algo digno deles. 

— Oe, Kakashi-sensei, não podemos recuar agora ‘ttebayo!! Mesmo eles devem ter um limite e – Foi interrompido pela mão erguida de Kakashi.

— Agora não é o momento para argumentar, Naruto. Recuar é uma necessidade de sobrevivência neste caso. Tenho certeza que Iruka não pulou este tópico quando dava aula pra vocês na academia – disse sério. Direcionou o olhar para os demais membros do time, buscando algum tipo de objeção mas deparou-se apenas com o aceno de ambos.

Estavam resignados.

 – Posso conjurar um pássaro para nos tirar daqui, aparentemente só conseguiremos sair pelo ar, uma vez que estamos rodeados de clones – Sai concluiu rapidamente, sem emoção, sendo observado de esgueira pelos três. Como que sincronizados, os demais membros do time assentiram e aguardaram o sinal de Sai.

— Muito bem, vou distraí-los enquanto você se organiza – disse Naruto já com os dedos cruzados em frente ao corpo.

— Kage Bunshin no Jutsu!!* - Logo vinte Narutos estavam indo em direção aos oponentes ao mesmo tempo que Sai puxava seu pergaminho e gritava:

— Chōjū-Giga!!**

Um grande pássaro mal-encarado surgiu ao lado do ninja, apenas aguardando suas instruções.

— Vamos, subam logo – ordenou Kakashi – não temos tanto tempo até que os clones se cansem de bater no Naruto e venham atrás de nós – Sakura e Sai foram os primeiros a subir, logo seguidos por Naruto e, por último, Kakashi.

O pássaro não esperou nem mais um segundo e levantou vôo, deixando uma nuvem de poeira para trás. Os clones, ao perceberem que a luta com os Kage Bunshin de Naruto era apenas uma cortina de fumaça para a fuga dos ninjas de Konoha, deixaram o “passatempo” de lado e seguiram o pássaro de tinta por terra.

— Precisamos ir um pouco mais pro alto, Sai, precisamos despistá-los. Vamos sobrevoar o rio, acredito que os clones não conseguirão nos seguir pela água – disse Sakura com urgência, colocando a mão em seu ombro para chamar-lhe a atenção – Não podemos nos dar ao luxo de que eles nos sigam no estado... – mas não conseguiu ao menos terminar sua frase pois uma luz intensa tomou conta de sua visão e os dedos, que ainda estavam depositados no ombro do colega, foram invadidos por uma sensação vibrante e adormecedora. Pequenos estalos foram ouvidos por seus ouvidos treinados seguidos de uma grande explosão e uma dormência foi espalhando-se por seu corpo até entorpecê-la. Um único segundo inconsciente foi capaz de derrubá-la do pássaro de nanquim de Sai.

— Saaaaakura-chaaaaan!!! – berrou Naruto desesperado vendo a colega em queda livre logo após aquela grande explosão em cima de Sai.

— Naruto!! Mantenha o foco!! – gritou Kakashi com urgência – Vamos voltar para buscá-la mas preciso que me ajude com Sai, ele está desacordado!! – O jovem loiro correu para auxiliar seu sensei à medida que o pássaro já fazia a volta indo de encontro a Sakura. Sentando-se nos próprios calcanhares, Naruto apoiou a cabeça de Sai em seus joelhos enquanto fitava Kakashi.

— Sensei, o Sai está muito machucado – comentou com pesar – o que faremos?

O pássaro já estava voando mais baixo, indo de encontro à médica ninja. Por sorte, ela havia caído em um rio profundo e calmo, o que minimizava um pouco os danos da queda. Quando já estavam baixo o suficiente, Kakashi debruçou-se na lateral da ave, próximo à asa esquerda e estendeu o braço, sentindo nas pontas dos dedos o respingo da água fria. Num movimento ágil, agarrou o braço da ninja e puxou-a em sua direção percebendo como o tecido do uniforme jounin da jovem estava ensopado. Com Sakura em seus braços, mesmo que apenas tempo suficiente para içar a jovem da água e deixá-la estabilizar-se em cima do pássaro de Sai, o jounin de elite conseguiu notar como o corpo da jovem tremia de frio. Não era de se admirar, estavam no final do outono, as temperaturas já estavam bem baixas.

— Como você está? – questionou o líder do grupo vendo a aluna esfregar os braços para tentar se aquecer minimamente, uma atitude inútil de seu ponto de vista uma vez que estavam voando numa velocidade considerável e o vento apenas ajudava a manter a temperatura baixa. Olhou sério para a médica, percebendo a pele de seu rosto mais pálida que o normal e seus lábios arroxeados.

— Estou bem, sensei – respondeu Sakura com um meio sorriso amarelo, sem conseguir esconder o tiritar do queixo – E o Sai? – perguntou urgente lembrando-se que o jovem fora atingido e já dirigindo-se para perto de Naruto.

— Está desacordado. Vamos para o abrigo mais próximo que encontrarmos, precisamos descansar e pensar no próximo movimento.

Enquanto Kakashi dava ordens à ave, que já voava mais baixo procurando um esconderijo, Sakura analisava os ferimentos de Sai, que ainda estava desacordado. A médica mantinha suas mãos no tronco do amigo, emanando chakra para entender a gravidade dos danos causados pelo golpe sofrido. Naruto continuava estranhamente calado, prestando atenção aos movimentos da jovem enquanto apoiava a cabeça do amigo em suas pernas e observava a dedicação de Sakura. Sabia que sua amiga era muito poderosa, afinal, havia aprendido com a melhor médica do mundo ninja, além de já ter sido tratado por ela inúmeras vezes, mas sempre ficava maravilhado com o quanto ela tinha se desenvolvido, sem depender de fatores externos como um grande clã ou uma Kyuubi, como ele mesmo. Orgulhava-se muito dela e agradecia por poder considerar-se seu amigo.   

— Droga... – Sakura murmurava irritada consigo mesma – Se continuar assim ele não vai aguentar... – fechou os olhos aumentando a intensidade do chakra em suas mãos – Kakashi-sensei!! – chamou-o com os olhos ainda fechados, percebendo que tinha a atenção do mais velho para si – Quanto tempo até pousarmos?

— Dois minutos. Já consigo ver a caverna para onde estamos indo – respondeu Kakashi rapidamente e voltando ao silêncio, aguardando a jovem continuar.

— Preciso que vocês prestem bem atenção ao que vou dizer. Eu tenho, no máximo, cinco minutos antes que meu chakra praticamente esgote – explicou, um quê de urgência era perceptível em sua voz – estou fazendo pequenos reparos nos órgãos do Sai mas ele ainda tem muitos pontos de hemorragia e precisa de atendimento médico contínuo. Naruto, como você é o único que ainda tem uma boa reserva de chakra, assim que pousarmos eu quero que leve-o imediatamente para o hospital de Konoha e só saia de lá quando ele estiver sendo cuidado pela Tsunade-shishou. Se precisar, dê um show naquele hospital mas garanta que será ela a cuidar do Sai, ou ele não sobreviverá. Nós já trabalhamos em um caso parecido então ela sabe que tipo de remendo estou fazendo no tecido dos órgãos – Naruto assentiu sério.  

Sakura ainda estava com os olhos fechados e suas mãos continuavam a emitir chakra intensamente. Assim que ela terminou de falar, o pássaro pousou na frente de uma caverna e o jutsu se desfez, deixando-os sozinhos.  No chão, ajoelhada ao lado de Sai, Sakura aumentava ainda mais a intensidade do chakra que emanava para o corpo do garoto enquanto respirava com dificuldade. Não muito tempo depois a luz verde de suas mãos começava a oscilar, indicando que a médica estava em seu limite.

— Sensei, vou apagar em um minuto. Preciso de sua ajuda para não morrer de frio – disse ofegante enquanto olhava diretamente em seus olhos – Consegui me manter aquecida até agora por causa do tratamento em Sai mas, uma vez que até minha reserva de chakra se for, não conseguirei manter a temperatura corporal. Preciso que me mantenha viva!

Kakashi apenas assentiu, observando que os tremores já voltavam a dominar o corpo da kunoichi. Num piscar de olhos a luz verde cessou da mão da médica e seu corpo amoleceu, sendo amparado pelo líder do grupo.

Naruto prontamente colocou o corpo de Sai em seus ombros, deu uma última olhada para Sakura nos braços de Kakashi e disse sério encarando o mais velho:

— Sensei, em nossa primeira missão você disse que nos protegeria com sua própria vida. Estou contando com isso, ‘ttebayo! – E correu em direção à Konoha sem olhar para trás, sua preocupação em chegar a tempo de salvar Sai gritando em sua mente.

— Não se preocupe, Naruto, eu lembro bem o que prometi há nove anos – afirmou Kakashi com Sakura desacordada ainda em seus braços observando seu aluno sumir no meio das árvores.

 

 

 

 

 

 

*Clones das Sombras

**Arte Ninja: Pergaminho das Super Bestas


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura.
Comentários, críticas e sugestões são sempre bem-vindos :)



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