Color Anulus escrita por Macs


Capítulo 2
Capítulo 2




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Andrei andou alguns metros até perceber que estava descalço. Descalço em um chão coberto de gelo. O estranho é que não sentia nada. Estava em uma geleira, com seu casaco rasgado e sem calçados, e não sentia nenhum frio. O cientista sente suas mãos formigando e tira as luvas. Elas estão sujas de sangue, mas sem ferimentos. Não é o seu sangue!

Preocupado, o cientista russo se agacha no chão para tocar seus pés. Depois se desespera; seus dedos estão rígidos e gélidos, com uma coloração negra. Estão congelados. Teria de amputa-los, se tivesse sorte.

Andrei se agacha e começa a chorar. Não sabe onde está, nem como chegou ali; está sozinho, a quilômetros de qualquer coisa, sem água ou comida, sem agasalho e sem seus malditos sapatos. Quando estava pensando em desistir de viver, um flash vem a sua mente. Ele vê uma grande caverna, de gelo puro. A caverna não ficava muito longe dali. Sim! Ele só tinha que seguir por mais 50 metros a sudoeste, e encontraria a caverna.

Passada a euforia da lembrança, um súbito sentimento de terror tomou conta de sua consciência ao saber que já estivera naquela caverna. Estava ali, nessa região inóspita por causa dela, tinha certeza. Andou rumo ao sudoeste e acabou por encontrar uma trilha com várias pegadas iam para aquela direção. Uma trilha para a caverna. “Mas por que eu estou aqui, nessa maldita geleira?” Andrei se perguntou.

A última coisa que lembrava antes de acordar naquele lugar desconhecido era dos anéis coloridos no céu. Soltou uma estridente gargalhada ao lembrar de seus pensamentos sobre as luzes serem uma pitoresca aurora boreal. Andrei começou a achar que o fenômeno era responsável por tudo de estranho que aconteceu em seguida. “Que luzes eram aquelas? Seria esse um novo fenômeno, nunca antes visto pela espécie humana, capaz de controlar seres humanos? Ou eu apenas fui drogado, e me jogaram aqui nessa pocilga?” Minutos depois seus questionamentos já não importavam mais. O frio que agora sentia dissipou qualquer dúvida da mente de Andrei. Tudo o que ele queria agora era se abrigar. Seguiu correndo, ou melhor, mancando rumo ao único abrigo que existia nas redondezas.

Avistou a caverna de longe, em meio a neve. Ela era exatamente como se lembrava, embora não tivesse vivido o momento de sua chegada (não seu eu consciente). Quando chegou na entrada da caverna, gastou alguns segundos admirando a construção: uma formidável entrada oval de 5 metros, formada pura e simplesmente por gelo, e nada mais. Aquilo não era obra da natureza ou do homem, a mente de Andrei alertava, mas era tarde demais. Ele entrou na caverna.

Quando entrou na construção, se admirou ainda mais. As paredes, tal como a entrada eram feitas de gelo puro, perfeitamente posicionadas e que davam ao recém-chegado a impressão de estar entrando na toca do um hobbit. Seria esse o segredo final? Hobbits moravam ali, embaixo do deserto gelado da Antártida? Ou seriam esquimós os que viviam ali? Jamais ouvira falar de esquimós no continente, e duvidava que eles tivessem esse grau de sofisticação com suas construções.

Andrei não demorou muito na “sala de recepção” da caverna e seguiu por um estreito corredor que levava para baixo. Outra surpresa do local era a temperatura: estava quente. Jamais sentira tamanho calor desde que chegara no continente. Andrei sentia correntes de calor vindo de baixo do chão. “Que lugar é esse?” pensou.

Quando chegou no fim do corredor, entrou em uma sala maior, parecida com a “sala de espera”, com paredes de gelo esculpidas. Andrei tapou o nariz assim que entrou na sala; o lugar estava empesteado com o terrível cheiro de carniça, como se tivesse havido um massacre ali. Pela impressão de Andrei, ali estava mais quente que no corredor. Verificou outro corredor no lado oposto da sala e seguiu até lá. Não estava conseguindo suportar o cheiro de carniça.

Ao atravessar a sala, percebeu que as paredes de gelo estavam ornamentadas com pictogramas ilegíveis. Viu também rachaduras e riscos sobre as paredes. Imediatamente lhe veio à mente a ideia de que um de seus colegas cientistas poderia estar ali. O espanto foi superior ao bom senso e ele gritou:

— Olá! Tem alguém aí?

O eco de sua voz dentro da caverna só o fez perceber o quanto a construção era grande. Algo em sua mente o avisava para sair dali imediatamente, mesmo que o resultado fosse morrer congelado lá fora. Mas algo o impelia a continuar; talvez a curiosidade pelo desconhecido, talvez Andrei simplesmente quisesse se aquecer mais. Seja como for, o cientista prosseguiu para o outro corredor. Sem que percebesse, o senso de autopreservação de Andrei foi diminuindo enquanto ele seguia.

O cheiro de carniça e o calor foram ficando cada vez mais fortes à medida que descia. O cientista andou até encontrar uma interseção com vários outros corredores. Seguiu pelo corredor da direita em uma atitude impulsiva. No fim desse corredor encontrou outra sala, maior que as outras e com um chão de gelo espelhado. Lá fazia um calor tão intenso. Examinou o local e verificou pictogramas nas paredes e no teto. Viu também gigantescas marcas de garras, e percebeu.

Foi nesse momento que Andrei sentiu um tremor embaixo do chão. Olhou para baixo e viu uma gigantesca barbatana se movendo em sua direção e gritou. Só conseguiu fazer isso antes da grande barbatana quebrar o gelo espelhado, fazendo-o cair na água gelada. O cientista se debateu desesperadamente enquanto era puxado para o fundo do oceano pelo monstro marinho. Depois disso, nunca mais se ouviu falar de Andrei Asimov.


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