the (forever) list escrita por Morgan


Capítulo 1
U: you left me no choice but to stay here forever


Notas iniciais do capítulo

oiee! aqui estou com a minha última contribuição para o pride NEM ACREDITO, vou chorar de verdade que esse mês incrível tá acabando!! então, pela última vez, preciso dizer mt obrigado a noora, prongs, violet rood e red hood por terem feito esse projeto ser maravilhoso do início ao fim pela segunda vez, vocês são TUDO!!! e um agradecimento isolado a red por ter feito a capa mais linda do mundo, exatamente como eu queria, mesmo que nem eu soubesse disso ainda ♥

obrigada de novo a Trice por ter betado essa e todas as outras fics desse mês. amiga, você me salvou um milhão de vocês ♥ e também a Lady Anna por ter lido antes de todo mundo e chorado, o que me fez acreditar que talvez outra pessoa pudesse chorar também hahahah. enfim, me despeço no fim! um beijo para Jones, pó de flu e Martell que vão postar hoje também ♥ boa leitura!

MÚSICA (Sleeping At Last - Saturn): https://www.youtube.com/watch?v=dzNvk80XY9s - eu sei que o título do capítulo é de uma música da taylor, mas se eu puder recomendar algo para vocês, seria que ler com Saturn deixa tudo melhor ♥



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Sirius Black sempre soube que estava destinado a ficar com Remus Lupin. Não acreditava em destino, signos, fios vermelhos ou qualquer lenda boba que James gostava de contar para justificar o seu amor por Lily. Não era nada desse tipo. Ele sabia que eles eram para ser justamente por não ter explicação, e Sirius sempre acreditou que as melhores coisas de sua vida vinham sem explicação alguma.

Nunca entendeu o porquê de James Potter, o garoto engraçado, rico e popular, escolheu-o, dentre todos os alunos da sexta série, para ser o seu melhor amigo, mas foi o que aconteceu. Nunca entendeu como o inteligente e comportado Remus foi convertido para o grupo que Peter havia apelidado de “Marotos”, mas ele tinha.

Sirius nunca entendeu o porquê de seus pais serem do jeito que eram, porém, quando sua mãe desferiu aquele tapa no rosto de Regulus, apenas porque o irmão mais novo havia o defendido, Sirius soube que as coisas mudariam, como sempre aconteciam para ele. E, quando juntou as suas coisas e levou Regulus consigo, tinha certeza que era a coisa certa a se fazer.

Seus pais não foram atrás deles e Regulus estava muito mais feliz morando com a sua prima Andrômeda e o seu marido, Ted Tonks. Sirius, por sua vez, foi para o único lugar que sempre soube que teria espaço para ele: a casa de James.

Não precisou de muito tempo para o Black entender que, mesmo que não houvesse explicação, ainda havia sido a melhor coisa que ele já havia feito por si mesmo. Era por isso que Sirius nunca questionou as coisas que aconteciam a sua volta, pois entendia que havia um motivo. Era assim que vivia a sua vida e não gostava de ter as suas ideologias questionadas. Era a sua maneira de pensar que sempre o manteve firme e feliz. Foi o seu jeito diferente que conquistou o seu melhor amigo também.

Sirius sempre foi apaixonado por Remus, e não duvidaria se este tivesse sido o motivo que o fez convencer James a fazer amizade com o Lupin quando tinham 11 anos. Nem sempre foi recíproco e isso havia se tornado uma piada entre os seus amigos. Qualquer um que os conhecesse desde a adolescência, também conheceu a fase de Black sendo repetidamente rejeitado pelo Lupin, que não queria se envolver com ninguém, muito menos com Sirius Black, o seu melhor amigo irresponsável.

As coisas não eram fáceis para Remus e levou algum tempo para que os outros descobrissem isso. Seus pais morreram cedo e ele viveu com uma tia até os 17 anos, quando ela alugou um alojamento para ele perto da escola e o deixou lá. Sirius foi o primeiro a notar que havia algo de errado. Remus, que por muito tempo só se importava com o quão boas suas notas seriam para que pudesse entrar na faculdade com uma bolsa integral, havia arranjado um emprego e parecia cada vez mais cansado, abatido, triste e magro. Peter dizia que Remus provavelmente só queria comprar alguma coisa e o emprego novo o estava cansando, mas Sirius não acreditava nisso. Ele estava diferente e, se tinha alguém que Sirius conhecia, era Remus.

Sirius pensou em conversar com James, contudo mudou de ideia na mesma hora. Amava James com todo o seu coração, ele era o seu irmão, exatamente como Regulus, mas James era... bem, James tinha pais. James era o tipo de cara que estava sempre feliz e cuja as preocupações se resumiam a tentar conquistar Lily Evans, então a melhor coisa seria ir sozinho. E foi o que ele fez.

Ensaiou modos de fazer Remus se abrir para ele, porém, nada disso foi preciso, pois, quando Remus deixou a lanchonete que trabalhava às 23h naquele dia e se deparou com Sirius encostado no poste o esperando, ele chorou. Chorou de soluçar, como nenhum dos dois jamais havia visto. Sirius o levou para casa e ouviu tudo que ele tinha a dizer sobre o que aconteceu. O Black ficou furioso, como alguém poderia fazer aquilo com um adolescente? Remus agia como se tivesse que carregar o mundo nos ombros todos os dias quando mal tinha dinheiro para fazer as suas três refeições. Sirius quis que ele fosse para casa dos Potter, mas aquele era Remus e, por isso, recusou.

Contudo, isso não foi capaz de fazer com que Sirius não o ajudasse de outras formas. Depois daquele dia passou a visitar o amigo todos os dias. Podia não fazer muito, podia até não ser muito – como sua mãe diria –, mas poderia se certificar de que Remus Lupin estava alimentado.

Ele não fez aquilo para que Remus o desse uma chance, e ambos sabiam disso. Sirius gostava de Remus, no entanto, amava o seu melhor amigo antes de qualquer outra coisa. Foi apenas no primeiro ano da faculdade, após uma prova horrível de Literatura, que eles se beijaram pela primeira vez.

— Não acredito que fui tão mal em uma prova que estudei tanto.

— Isso acontece, Moony. Você pode recuperar na próxima.

— Não posso nada.

— Você parece uma criança às vezes, Rem.

Remus ergueu os seus olhos castanhos em direção a Sirius, fazendo-o sorrir. Os olhos castanhos dele sempre foram a sua coisa favorita. As pessoas gostavam de comentar sobre os olhos verdes de Lily ou, até mesmo, sobre os olhos acinzentados de Sirius, mas, na opinião dele, não havia nada mais bonito que o olhar brilhante e amendoado de Remus.

— Você não deveria dizer essas coisas.

— Por quê?

— Porque se eu sou uma criança, você pode ser preso por gostar de mim.

Sirius piscou. Era realmente difícil pegá-lo desprevenido, mas, quando acontecia, era sempre pelo mesmo motivo – que acontecia de estar bem na sua frente. E, então, antes mesmo que o garoto pudesse elaborar alguma pergunta, Remus colocou os seus livros de lado, apoiou-se nos próprios braços e se aproximou. O fato de seus rostos nunca terem estado tão perto um do outro era tudo que Sirius conseguia pensar. Remus o olhava com atenção, esperando alguma reação adversa e, quando não veio, ele terminou a distância entre eles, selando os seus lábios devagar e com calma. Nenhum dos dois aprofundou o beijo, não foi como nos filmes, não foi nem sequer como Sirius imaginou que seria o seu primeiro beijo com Remus e, ainda assim, conseguiu ser melhor, pois havia sido dado por ele. Era o beijo do homem que amava e isso era a melhor coisa do mundo, mesmo que fosse apenas um selar de lábios.

Depois desse dia, outros beijos vieram. Beijos lentos, beijos rápidos, beijos apaixonados, com paixão, com desejo, com sorrisos e com amor. Todos eles Sirius deu a Remus.

Sua adolescência podia não ter sido boa, mas sua juventude com certeza o era. Estudou com os seus melhores amigos a vida toda, tinha o namorado perfeito, o seu irmão estava saudável e raramente ouviam sobre os seus pais. Tudo isso sempre fez Sirius acreditar nas coisas que aconteciam sem explicação.

Até Remus ficar doente.

A doença de Remus não tinha explicação e não importava o que dissessem, nunca teria. Não para Sirius.

Lupin adoeceu quatro anos depois que se formaram. Descobriram quando Lily os obrigou a fazer um check-up completo. Ela havia ficado totalmente indignada quando descobriu que nenhum deles se lembrava a última vez que tinham feito algum tipo de exame.

O médico viu uma alteração nos exames de sangue de Remus e o fez fazer mais alguns. Se não fosse isso, talvez tivessem descoberto tudo muito depois e teriam tido menos tempo, e isso era algo que Sirius jamais conseguiria lidar. A perspectiva de perder Remus o levou ao chão, assim como fez com todos os outros. Peter sumiu por dias e Lily chorava por qualquer coisa, mesmo tentando fingir que não. E Sirius... bem, Sirius queria ter fugido com Peter, mas tudo que podia fazer era beber escondido no próprio quarto.

Fez isso por um bom tempo até James intervir.

— O que pensa que está fazendo?

— O que foi? Você quer um copo? – Sirius estendeu a garrafa de whisky que segurava.

— Ah, sim, eu adoraria – James sorriu, pegando a garrafa da mão do amigo. Sirius estava prestes a voltar para o seu buraco de autopiedade quando sentiu o líquido âmbar molhar o seu pé.

— Está maluco, Prongs?! Isso é caro! – Exclamou, levantando-se do chão, onde estivera a maior parte do tempo na última semana.

— Sabe o que é caro? A vida dele! Que porra você pensa que está fazendo, Sirius? Remus está fazendo uma bateria de exames no hospital, e você está... Está o quê? Se afundando como se o doente fosse você? Está maluco?

— Você não sabe o que está falando.

James suspirou, jogando a garrafa agora vazia em cima da cama de Sirius. Seu rosto estava vermelho e ele estava sem óculos. Sirius nunca o vira tão bravo antes.

— Estamos todos tristes, tudo bem? Mas ele é seu namorado, Sirius. Ele espera o seu apoio. Não o meu, não o de Lily, Peter ou Marlene, o seu!

— Ele não me ligou nem uma vez.

— E daí?! – Gritou James, totalmente desconcertado, fazendo Sirius arregalar os olhos. – Ele é o Moony! Ele não liga, ele não pede ajuda, mas ele recebe, especialmente de você! Sempre foi assim!

Sirius desabou na cama, escondendo o rosto nas mãos e James logo se juntou a ele.

— Desculpe gritar com você – pediu. – Só não sabia mais o que fazer. Você não gosta dele?

— Você sabe que eu o amo mais que tudo, James.

— Então fique com ele, Sirius. Ele precisa de você agora muito mais do que você acha que precisa dele.

James tinha razão, era claro. Sirius nunca foi bom em lidar com as próprias emoções. Nunca foi bom em pensar que poderia perder alguém, muito menos alguém como Remus. Então ele foi ao hospital, conversou com Remus e com os médicos, descobrindo que o câncer cerebral em estágio três do namorado era a coisa mais surpreendente do mundo para eles, que nunca encontraram um paciente com uma doença avançada daquele modo que nunca sentira nada. Sirius não achou surpreendente.

Descobriu da pior forma que algumas coisas que não tinham explicação nem sempre o ajudavam. Na verdade, esta última estava quase o destruindo. Por vários meses, o humor de Sirius não poderia ter nenhuma outra definição a não ser “péssimo”. Ele se esforçava quando estava com Remus, mas, quando estavam longe, ele não tinha porque fingir que a vida era melhor do que era de verdade. Remus sempre ia ao hospital, porém Sirius não achava que os médicos pareciam otimistas. Todo o seu mundo estava desmoronando bem na sua frente.

Quando a quimioterapia de Remus começou, Sirius acompanhou cada uma delas. Seu coração parecia diminuir cada vez que chegavam ao hospital e Remus cumprimentava cada uma das enfermeiras, sorria para as crianças e acenava para os médicos ocupados. Todos gostavam dele e de como ele chegava mais cedo pelo menos duas vezes por semana para ler para as crianças na ala infantil. Foi, provavelmente, no dia em que o médico recomendou que Remus cortasse o cabelo que as coisas pareceram reais demais para os dois.

Sirius e Remus não conversavam abertamente sobre a possibilidade do pior. Ela parecia ser grande demais para conseguir ser colocada para fora, contudo, naquele dia, quando voltaram para o pequeno apartamento que Remus agora dividia com o namorado, o silêncio se tornou insuportável.

— Acho que eu deveria ir em um salão.

Sirius se abaixou em frente ao namorado.

— Podemos fazer isso juntos, Moony. Eu corto o seu e você o meu, que tal?

Era algo que Sirius achou que deveria fazer e, se fosse honesto, queria, sim, fazer. Remus nunca precisaria estar sozinho. No entanto, o Black não esperava que uma única frase despertasse uma onda de choro que Sirius só havia visto em Remus naquela noite fria quando o esperou em frente ao seu trabalho anos atrás. Puxou Remus para um abraço e deitaram-se no sofá. Naquele dia, não atenderam ninguém, nem mesmo Peter e James que bateram na porta quando o sol já estava se pondo. Não responderam nenhuma mensagem, nem as de Regulus perguntando como o irmão e o cunhado estavam.

Aquele dia foi deles. Sirius deixou que o namorado chorasse o quanto desejasse enquanto falava sobre os seus medos, as suas inseguranças, a dor que sentia e o quanto não queria, de jeito nenhum, que Sirius cortasse o seu cabelo também, pois queria que os seus dedos passeassem pelos fios negros do namorado o quanto pudessem. Sirius não derramou uma lágrima sequer, mesmo sentindo vontade. Sua prioridade era Remus e sempre seria. Sentia que o Lupin tinha mais para falar, mas não o pressionou. Ao invés disso, fez carinho até que ele adormecesse. Remus estava tão magro que abraçá-lo fez Sirius sentir um peso no peito.

— Você vai acordar cheio de dores... – sussurrou Sirius para ninguém em especial, desvencilhando-se do namorado e caminhando até o quarto. Sabia que a cama estava bagunçada, pois havia sido o último a levantar, então a arrumaria como Remus gostava.

Puxou os cobertores e os travesseiros para que pudesse arrumar a colcha da cama quando um papel dobrado caiu aos seus pés. Sirius franziu o cenho, largando o tecido que segurava e desdobrando a folha amassada.

LISTA DO REMUS

— Passar uma tarde com Lily na biblioteca do centro (FEITO)

— Tomar sorvete com Peter (FEITO)

— Conversar com James

— Tirar fotos com os meus amigos na praia

— Dar presentes para o Sr. e a Sra. Potter (FEITO)

— Ligar para Regulus (FEITO)

— Andar de mãos dadas com Sirius à beira-mar

— Andar de moto com Sirius

— Fazer uma tatuagem

— Terminar o meu livro e participar de uma sessão de autógrafos

Sirius sentiu as suas pernas falharem e logo sentou-se na cama bagunçada. O papel remexia-se em seus dedos trêmulos. Para sempre, Sirius marcaria a sua vida como antes e depois de ler a lista de Remus.

Existem alguns momentos na vida onde você não pode mais fingir não saber o que acontece ao seu redor. Para Remus, fora o momento em que o médico dissera que uma cirurgia não era recomendada e que tentariam a quimioterapia mesmo com o estado avançado do tumor, e negou quando Remus perguntou se as chances de cura poderiam ser altas. Para Sirius, fora perceber que o amor de sua vida estava se despedindo. Nada nunca doeu tanto e nunca doeria. Ele sabia. Sirius tirou o celular do bolso, tirou uma foto da lista e terminou de arrumar a cama, colocando-a exatamente onde pensava estar.

Não sabia como Remus se sentiria caso soubesse que ele havia lido, então não contaria. Faria tudo do seu jeito, sem alarde, mas faria. Cumpriria toda a lista de Remus, essa e qualquer outra que o namorado pudesse criar. E começaria com a praia.

*

— Por que você está tão arrumado? Vai sair? – Remus estava deitado no sofá com algum romance que Sirius definitivamente não conhecia.

— Nós vamos – falou. – Vamos à praia.

— Praia? De onde você tirou isso?

— James contou que o pai dele está pensando em vender a casa em Bournemouth – mentiu Sirius. – Pode ser a nossa última vez lá.

Remus assentiu devagar, levantando-se. A última quimioterapia havia sido há uma semana e ele ainda parecia cansado e fraco, mas ainda assim, sorriu.

— Então temos que ir. Não estou preparado para me despedir.

Quando saíram de casa, James, Lily e Peter já estavam os esperando, encostados no carro da ruiva – o único que havia passado por uma revisão recentemente.

— Ei, Moony! – James correu para abraçar o amigo como se não o visse há semanas. Remus retribuiu enquanto Sirius jogava as malas que havia feito no porta-malas do carro.

— Preparado para um fim de semana incrível, Rem?

— Estou preparado para qualquer coisa que não seja ficar preso em casa ou em um hospital.

— Então vamos?

Remus estava com um sorriso no rosto tão bonito que Sirius apenas sabia estar fazendo a coisa certa. Nada que provocasse aquele sorriso na pessoa mais importante de sua vida poderia ser errado. Mesmo que ele ficasse um pouco assustado com a ideia de Remus em sua moto estando tão frágil. Pensando nisso, Sirius disfarçadamente se aproximou de James, pedindo que não ficassem longe, pois o Lupin poderia ir para o carro no momento em que se sentisse mal.

Rezava para que não fosse preciso. Riscaria três itens da lista de Remus em só um fim de semana.

— Lily já havia me pedido para fazer isso – James deu dois tapinhas no ombro do amigo. – Cuidado na estrada. Nos vemos em duas horas.

A viagem até Bournemouth foi tranquila. Remus se segurou tão forte no namorado que até marcou a sua jaqueta. Sirius não ligou, pois, quando chegaram na casa de praia da família Potter, Remus parecia mais radiante do que já havia estado em muito tempo. Principalmente quando correu para dentro da casa, percebendo que Marlene, Dorcas, Benjy e Mary também estavam lá.

Sirius deixou que Remus aproveitasse o máximo que podia. Sabia que não via nenhum deles há muito tempo. Marlene e Dorcas moravam em Manchester agora, Benjy viajava demais e Mary aproveitou as férias para sair da Holanda e voltar para casa. Sirius passou a noite toda se perguntando como seguiria a lista de Remus sem tornar tudo muito óbvio, por isso nem sequer percebeu quando o namorado começou a se aproximar devagar, entrelaçando as suas mãos e o puxando para o lado de fora.

Haviam andado de moto e agora Remus o estava levando para caminhar na praia.

O Lupin tirou os sapatos e Sirius o imitou. O sol já havia sumido do céu e a praia estava vazia. Se não estivesse, era o que parecia. Sirius deixou que Remus caminhasse na sua frente. Ele ria baixinho da água gelada que encostava em seus pés e comentava sobre o quanto adorava aquele lugar.

— Eu adoro a praia. Você já entrou na água sozinho e olhou ao redor e simplesmente não sabia o que sentir diante de tanta coisa?

Sirius não respondeu, apenas agarrou a mão do namorado novamente e balançou a cabeça.

— É tudo tão fantasticamente grande, o céu, o mar. Como se não tivesse fim. Pelo menos a olho nu. Faz eu me sentir pequeno e desimportante – disse, e então sorriu. – Mas também faz com que eu me sinta privilegiado em existir.

E então Remus parou, encarando Sirius atentamente.

— Me sinto incrivelmente privilegiado em dividir essa existência com você. Bilhões de pessoas, milhares de anos, mais de um planeta e infinitas possibilidades, mas eu estou aqui. Dividir o mesmo tempo e espaço com você é o maior privilégio que já recebi.

Sirius nunca foi tão bom com palavras quanto Remus e eles sempre acharam isso engraçado, então o garoto fez a única coisa que sabia chegar perto de definir o que sentia. Segurou o rosto do namorado e o beijou lentamente.

— Eu te amo.

— Eu sei – Remus abriu um sorriso enorme e recomeçou a andar.

No dia seguinte, assim que o sol apareceu, Lily convocou todos para praia. Remus se certificou que todo mundo passasse protetor solar e Sirius achou isso a coisa mais engraçada e familiar do mundo. Peter começou a organizar um jogo de vôlei, que Remus disse estar cansado demais para participar. Quando Sirius ofereceu para que voltassem para casa, o outro negou veemente, quase o obrigando a entrar no time de Lily.

— Pode ir, vai. O time de Lily precisa de mais um.

— James pode entrar – respondeu.

— Não, James e eu vamos dar uma volta.

Sirius olhou do namorado para o amigo, que apenas abriu um sorriso pequeno. Estava pronto para fazer mais perguntas até se lembrar da lista. Não fazia ideia sobre o que Remus gostaria de conversar com James, mas, se era o que ele queria, então era o que faria. Eles voltaram pouco depois do fim do jogo e Lily, que havia ido até a casa, voltou correndo com a sua câmera fotográfica em mãos.

— Vamos tirar algumas fotos? O dia está tão bonito!

Sirius estava pronto para sugerir isso, porém Lily foi mais rápida. Talvez Remus não fosse o único a querer guardar memórias. Tirar fotos como antigamente deixou todos de bom humor, todos juntos, separados, espontâneas e planejadas. Tinha de tudo na câmera de Lily.

— Lils, você pode me mandar depois? – Perguntou Remus para a ruiva enquanto subiam a escada de volta para casa.

Não havia mais nada que Sirius pudesse fazer pelo namorado ali que tivesse a ver com a lista, assim apenas esqueceu disso por um momento. Remus ajudou Marlene a cozinhar enquanto Sirius e James limpavam a casa. Tudo parecia tranquilo demais, como na última vez em que todos se viram naquele mesmo lugar. Mas Sirius sabia que tudo estava diferente agora, por isso nem mesmo conseguiu se surpreender quando a primeira coisa deu errado.

Iriam partir no dia seguinte de manhã cedo. Faltavam apenas algumas horas, quatro, no máximo, porém durante a madrugada Remus começou a sentir fortes dores de cabeça. Seus gemidos de dor assustaram Sirius, mas não tanto quanto encostar a mão na testa suada de Remus e perceber que ele estava pegando fogo de tanta febre. Sirius correu, acendendo a luz, abriu a porta e gritou por James uma única vez. Sabia que era o bastante quanto se tratava dele.

— Moony, meu amor, você está bem?

Remus balançou a cabeça, os seus olhos estavam apertados um no outro e a sua respiração parecia desregulada.

— Aconteceu alguma coisa? – James apareceu na porta no minuto seguinte. Lily engasgou quando viu Remus se remexer nervosamente na cama.

— Não sei o que aconteceu com ele – falou Sirius, olhando para os rostos assustados dos dois amigos.

— Não sinto... – murmurou Remus chamando a atenção dos três. – Não sinto a minha perna...

— James, pegue o carro. Lily, procure o hospital mais próximo. Não temos como levá-lo até Londres agora.

Lily parecia congelada no lugar, mas, ao trocar um único olhar com Sirius, James puxou a mão da noiva e os dois correram para o andar de baixo.

— Ok, Remus, você sabe que eu odeio quando me assusta. Quando você acordar, vamos ter uma briga feia – Sirius disse em voz baixa, sabendo que o namorado não o escutaria, enquanto o pegava no colo e seguia para o carro.

No hospital mais próximo que encontraram, a febre de Remus foi controlada, assim como as dores que estava sentindo. O médico não quis arriscar nada, afinal, não sabia do tratamento do outro, por isso, assim que Remus melhorou, foi colocado em uma ambulância e enviado para o hospital que tanto estava acostumado. Sirius ficou ao seu lado, segurando a sua mão gelada, observando o seu rosto adormecido, calmo, como se estivesse apenas dormindo. Sirius desejou tanto que fosse apenas isso. Queria observar Remus dormindo apenas na casa deles, na cama deles, não em uma ambulância. Se permitiu chorar ali, sozinho, sem se importar com o socorrista ao seu lado. Quando estavam do lado de fora, esperando o médico dizer o que havia acontecido com Remus, Lily ainda parecia nervosa e confessou não saber como Sirius havia lidado com a situação com tamanha calma. Sirius respondeu que também não sabia, mas, encarando Remus naquele momento, ele percebeu que sabia, sim.

Aquele era o amor da sua vida. Ele não poderia nunca se dar ao luxo de entrar em pânico.

Tudo pareceu acontecer muito depressa depois disso. Remus ficou no hospital de vez. Não sabiam se ele poderia voltar para casa. Ele odiou, mas Sirius não se importou.

— Você precisa ficar onde possam ver o que está acontecendo com você, Moony, pelo amor de Deus!

— Eu só quero voltar para casa!

Sirius suspirou, lembrando quando o médico explicou como o tratamento podia mexer com o humor dos pacientes. Ele se sentou na beirada da cama.

— Me diga o que você quer – Remus abriu a boca, mas Sirius continuou. – Sem ser voltar para casa. Trago o que você quiser. Vou ficar aqui o tempo todo, você não vai estar sozinho.

Remus parecia prestes a chorar, mas se controlou.

— Quero o meu computador e não quero você aqui o dia inteiro. Você precisa trabalhar.

— Já fiz todas as encomendas.

— Faça novas. Tem muita gente por aí querendo instrumento musical personalizado.

— Vou fazer quando pedirem.

Antes de sair do hospital naquele dia para buscar tudo que Remus havia pedido, Sirius parou no consultório do médico. Todos os dias olhava a lista do namorado e as únicas duas coisas que sobraram não deviam ser assim tão difíceis. No entanto, eram. Primeiro porque o médico disse que não era recomendado que Remus fizesse uma tatuagem e o segundo porque, bem, Sirius não podia escrever o livro por Remus. Pensaria nisso depois. A tatuagem havia vindo antes, afinal.

Estava parado em frente ao estúdio onde havia feito as suas últimas tatuagens quando o tatuador o chamou para entrar e começou a mostrar alguns desenhos novos. A solução estava na sua frente o tempo todo e Sirius só conseguiu vê-la quando saiu da boca de outra pessoa.

— Está me dizendo que alguém quer fazer uma tatuagem, mas não pode? – O homem deu de ombros. – Por que não uma tatuagem falsa então? Daquelas que os adolescentes com pais mais chatos usam?

*

— Fiz uma coisa – anunciou Sirius, balançando a mão em direção ao notebook no colo do namorado. Remus revirou os olhos, mas o guardou assim mesmo.

— O que foi que você fez agora? Não posso consertar nada para você preso aqui.

Sirius revirou os olhos.

— Fiz uma tatuagem.

— Outra? É só isso?

— Sim. E essa é para você.

Remus arregalou os olhos. Estava preparado para dizer o quanto Sirius estava maluco em fazer uma coisa dessa quando o mesmo abriu alguns botões da camisa. A boca de Remus se abriu e ele pediu que o namorado se aproximasse. Tocou o plástico-filme que envolvia o peitoral de Sirius com cuidado.

— É uma lua – falou baixinho, deixando que as pontas de seus dedos sentissem o toque suave dos batimentos do coração do Black.

Sirius negou.

— É você.

Remus desviou o olhar com um sorriso bobo, porém, Sirius segurou no rosto dele e o puxou para ele, selando os lábios.

— Trouxe uma para você também.

Ele puxou a sacola marrom que havia deixado no chão, tirando um longo papel branco cheio de tatuagens falsas em forma de adesivos.

— Demoram para sair mesmo tomando banho – explicou, mas Remus não parecia estar prestando atenção. Na verdade, ele já havia agarrado o papel e parecia escolher o que queria colocar.

— Quero essa, essa e essa aqui – disse ele com um sorriso animado.

— Temos que escolher um lugar.

No fim daquele dia, Remus estava com quase tantas tatuagens quanto Sirius.

— Tire uma foto dessa aqui – apontou ele para o braço que tinha as iniciais de cada um dos amigos. Sirius, James, Lily e Peter. – Vamos mostrar aos outros.

Remus também colocou algumas na sua barriga e, até mesmo, pediu por um cachorro na perna, que ele prontamente falou ser a tatuagem correspondente a lua de Sirius.

Mesmo quando apagaram as luzes, Sirius ainda conseguia ver o namorado estender o braço e sorrir para as novas tatuagens dele.

Para ele, parecia pouco. Quase nada comparado a tudo que o seu Moony merecia, mas, para Remus, aquilo era tudo.

Oito meses se passaram e Remus parecia responder melhor ao tratamento. Ele ainda usava touca a maior parte do tempo e se cansava rápido, no entanto, estava em casa e muito mais disposto do que antes. Sirius transformou a casa em estúdio por tempo indeterminado. Não queria e não ficaria longe de Remus nem por um segundo, mesmo sabendo que ele nunca estava realmente sozinho, pois James, Lily e Peter estavam sempre por perto.

Estava pintando um violão quando a porta da garagem foi praticamente derrubada por Remus. Sirius imediatamente se pôs de pé, preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

— Bem? Eu estou ótimo! – Remus agarrou os ombros do namorado com o maior sorriso do mundo. – Eu terminei!

— Terminou...?

— Terminei o meu livro, Padfoot, eu terminei!

Sirius abraçou o namorado na mesma hora. Nesses oito meses, Remus parou e recomeçou a escrever mais vezes do que podia contar. Algumas vezes teve que se sentar ao seu lado para incentivá-lo quando os dias eram realmente muito ruins. Não se importava, pois sabia o quanto escrever aquele romance era importante para Remus.

— Moony, isso é incrível! Vamos enviar para Dorcas!

Remus pareceu ficar um pouco mais tenso.

— Não sei. Você não acha que é errado? Somos amigos e... você sabe, estou doente. Não quero que ela faça nada por pena. Não quero nenhum privilégio do câncer.

O Black revirou os olhos, puxando Remus para a cadeira e o fazendo sentar.

— Não existe privilégio algum em ter câncer, você sabe disso, eu sei disso, Dorcas sabe disso – falou Sirius. – E além disso, Meadowes é uma profissional. Se ela não gostar, ela vai dizer. Não se preocupe, Moony.

Remus ficou em silêncio por alguns segundos.

— Você pode ler?

— É claro que eu vou ler. É o seu livro.

Sirius nunca foi muito bom com livros, assim como James. Deixava toda essa parte para Lily e Remus, os estudantes de Literatura, mas nada o impediu de abrir o notebook naquela mesma noite para ler o primeiro livro do homem ao seu lado. Desejou que tivesse feito isso sozinho, no entanto, quando percebeu que o livro de Remus contava a única história que ele sempre havia conhecido melhor do que todas as outras pessoas.

A história deles; ou melhor, de Roman Lynch e Sam Barnes.

Não conseguiu evitar as bochechas vermelhas ao ler a descrição que Remus havia dado ao seu personagem.

— “Os longos cabelos negros de Sam faíscavam contra a luz do sol e o seu sorriso me deixava a ponto de desistir de tudo apenas para venerá-lo contanto que ele continuasse a olhar para mim daquela maneira, com seus olhos cinzentos que me tiravam o ar e deixavam-me pensando que o universo havia sido criado apenas para ser visto pelos seus olhos. Que eu havia sido criado apenas para ser visto por ele. Eu soube na mesma hora. Estava perdido. E aquele cara não era nada confiável”. – Sirius fez uma pausa, deixando que as palavras o acertassem com calma. – Eu não sou confiável, Lupin?

Remus riu, repousando a cabeça no ombro do namorado enquanto puxava a coberta um pouco mais para si.

— Você era um típico bad boy.

— Por que você não disse que estava escrevendo sobre nós?

— Queria que fosse uma surpresa.

— Você disse que estava escrevendo uma história de amor épica.

Remus ergueu os olhos.

— E eu estava. Ainda estou.

— Você escreveu para mim? – Sirius balançou a cabeça, um sorriso em seu rosto. – Eu não mereço você.

Remus se afastou, empurrando o computador para o lado.

— Você merece todas as coisas boas do mundo, Sirius. Você é o amor da minha vida. Sabe disso, não sabe?

— Não sabia, mas é bom te ouvir esclarecer.

— Obrigado por não sair do meu lado.

— Para onde mais eu iria? Você é a minha casa, Rem. Sempre vai ser – Sirius disse. Sentia o seu peito queimar e o seu coração acelerar sob os olhos atentos e, ao mesmo tempo, carinhosos de Remus. – Estava apaixonado quando fiz James ir até você com aquele pedaço de chocolate em forma de suborno para você se juntar a nós. Estava apaixonado durante todo o ensino fundamental quando viajamos para Disney com os pais de James e definitivamente continuei do mesmo jeito durante o ensino médio quando você disse que seríamos apenas amigos.

Remus não conseguiu evitar a risada que escapou de seus lábios.

— E nossa, como eu estava apaixonado quando você me beijou pela primeira vez. Você é a pessoa mais importante da minha vida. Sempre foi. Não estava brincando quando apresentei você a Regulus dizendo que nos casaríamos um dia.

Remus abaixou os olhos para a cama, fitando os seus dedos finos, antes de agarrar as mãos de Sirius e olhá-lo. Seus olhos estavam vermelhos e lágrimas caíam devagar. Sirius sabia que devia estar do mesmo jeito.

— Então vamos fazer isso – murmurou ele. – Vamos nos casar, Sirius. Você quer?

A mente humana é surpreendente. Muita coisa pode acontecer em sessenta segundos. Depois que aquelas palavras fugiram de Remus, Sirius pensou tanta coisa que seria impossível listá-las. Ele pensou que tudo que sempre quis foi casar com Remus e que nunca pensou que seria o Lupin a pedir. Sempre pensou que fosse ser ele. Já tinha tudo planejado, na verdade. De alguma forma, sempre acontecia em uma livraria, com livros em volta deles, como Remus gostava. Sirius nunca imaginou que estaria dizendo sim deitado em sua cama, lendo o livro que havia praticamente ganhado de presente do seu namorado doente. Nunca pensou que dizer sim traria tanto medo e, ao mesmo tempo, tanta certeza.

Sirius nunca cogitou dizer nada diferente.

— Sim.

— Sim?

— Sim e você não pode voltar atrás.

Remus riu, dizendo que a imagem que o noivo tinha dele era assustadoramente preocupante.

Sirius não continuou lendo naquela noite, não quando Remus o puxou para um beijo. E nem na noite seguinte, quando receberam os amigos para jantar e contaram sobre o livro e sobre o casamento, que foi recebido da melhor forma do mundo por todos, nem mesmo nas outras duas semanas quando ficaram ocupados demais organizando o casamento íntimo e detalhista, que Remus queria e que aconteceria no jardim da linda casa dos Potter, pois sempre havia sido ali que as melhores coisas aconteceram com todos eles.

A cerimônia foi linda. Não havia muita gente. Remus não gostava do que sobrara de sua família tanto quanto Sirius não gostava da sua, com exceção de Andrômeda e a sua família. Entretanto, os seus amigos estavam lá. Peter e Regulus ao lado de Sirius e James e Lily ao lado de Remus, ambos chorando, assim como o Sr. e a Sra. Potter, que imaginavam estarem casando mais um dos filhos. Mary, Dorcas, Marlene e Benjy também estavam presentes, assim como Alice e Frank Longbottom e Arthur e Molly Weasley, amigos da época de escola que nunca ficaram realmente distantes. Haviam outros, não muitos. Apenas aqueles que estavam verdadeiramente contentes pelos dois. O discurso de padrinho de James fez todo mundo chorar e rir ao mesmo tempo.

Remus possuía um eterno sorriso no rosto em seu terno azul escuro que marcava bem o seu corpo magro, e tudo que Sirius podia fazer era olhá-lo. Remus. Rem. Moony. Amor. Seu marido. Contanto que Remus estivesse feliz, Sirius também estaria. Era assim que eles funcionavam.

Tudo parecia bem naqueles dias, tranquilo, quase normal, se Remus não tivesse vários remédios para tomar durante a semana e quimioterapia a cada 15 dias, arriscariam a dizer que era uma simples vida de recém-casados. E, novamente, Sirius amaldiçoou-se por não ter esperado aquilo. Há sempre calmaria antes das tempestades, afinal. Há muito tempo ele havia aprendido aquilo.

No começo de fevereiro, um pouco antes do dia dos namorados, Remus precisou ser internado novamente. O médico não soube explicar o que estava acontecendo até realizarem uma bateria de exames completa de novo. Remus dormia calmamente em seu leito de hospital quando o médico apareceu na sala de visitas para falar com Sirius e James, os únicos à espera de respostas naquela madrugada. James apertou forte a sua mão e segurou os seus ombros quando Sirius caiu no chão, pois as suas pernas perderam todas as forças que possuíam ao ouvir o médico dizer que Remus Lupin havia acendido como uma árvore de natal. Sabia que ele havia dito “metástase” e ensinado o que aquilo significava, mas tudo que Sirius sabia era que a melhor pessoa que conhecia agora parecia ser feita de algo inexplicavelmente doloroso e cruel.

Remus não saiu do hospital depois daquilo e, por muitos dias, tudo que ele fazia era encarar a janela do seu quarto e observar o galho da árvore mais próxima. Sirius estava triste e machucado, porém percebeu que Remus estava ainda pior. Primeiro pensou que ele estava conformado, mas estava enganado. Não havia conformismo em Remus. Parecia não haver nada.

Por isso ligou para Dorcas para perguntar sobre o livro.

— Nós gostamos, Six. De verdade. Mas o mercado editorial é... complicado. Leva tempo para editar, diagramar, contratar um capista.

Sirius mordeu os lábios, encarando Remus de longe. Ele parecia cada vez mais magro e pálido, os seus olhos estavam fundos e algumas manchas arroxeadas cobriam o seu corpo.

— Não sei quanto tempo ele tem, Dorcas – resolveu ser sincero. O silêncio na linha foi cortante e Sirius soube que ela estava chorando. – Preciso... Preciso dar a ele uma sessão de autógrafos – o seu tom refletia exatamente como se sentia: desesperado. – E se fizéssemos tudo por conta própria? Você acha que seria possível até o aniversário dele?

— Por conta própria? Você diz...

— Peter pode fazer a capa, Lily pode editar e... Eu sei que é loucura, mas...

— Vamos fazer – Dorcas o interrompeu. – Eu posso diagramar e posso indicar algumas gráficas que você e James podem procurar.

Uma luz de esperança se acendeu dentro de Sirius – uma pequena esperança de fazer o seu marido sorrir novamente. Foi tudo corrido, como imaginaram que seria. Lily passou três noites inteiras editando o livro da melhor forma que conseguia e Marlene recusou várias capas que Peter desenhou antes de chegarem naquela que, em sua opinião, estava perfeita. A gráfica não foi tão fácil. Nenhum deles queria a responsabilidade de fazer 100 livros em dois dias, contudo, Sirius era persuasivo e James tinha o dinheiro.

No dia dez de março, Sirius chegou cedo no hospital. Ajudou Remus a tomar banho, comprou uma touca nova para ele e o ajudou a vestir o seu terno favorito. O Lupin apenas entendeu o que estava acontecendo quando foi levado até o jardim do hospital. Uma mesa estava posta na sombra e ao seu lado, um enorme cartaz com a capa de seu livro, que ele via pela primeira vez. Remus caminhou apressadamente até a mesa, quase se soltando do marido para isso e agarrou o primeiro livro na pilha que repousava em cima da mesa. Seus dedos passaram devagar sobre a capa de fundo estrelado, demorando-se nas mãos entrelaçadas dos garotos que apontavam para cima.

— “Para Sempre” por Remus Lupin – sussurrou, antes de se virar para Sirius. – O que você fez?

Sirius fez a maior cara de bobo que conseguia.

— Eu? Não fiz nada. Seu livro apenas saiu. Não gostou?

— É claro que gostei, mas isso é impossível! Dorcas disse que...

— Amor, eu sei que você quer procurar algo muito lógico nisso, mas há pessoas aqui querendo que você assine o livro delas.

Remus franziu o cenho, sem entender absolutamente nada até o seu marido virar e apontar para o grupo de pessoas que começava a chegar, todos com os livros de Remus em mãos.

Lily correu até o amigo. Foi a primeira da fila, sendo seguida por James e os pais dele, e Sirius não conseguiu evitar sorrir.

— Você fez uma coisa incrível – disse Regulus atrás dele. Sirius apenas deu de ombros.

— Quero que ele seja feliz.

Regulus assentiu, dando alguns passos à frente.

— Ele também – disse antes de se afastar completamente e entrar na fila, junto de Andrômeda, o seu marido e a sua filha pequena.

Alguns médicos apareceram, assim como algumas enfermeiras ou pacientes que Remus havia conquistado em sua longa estadia. Remus assinava todos os livros que apareciam em sua frente com o seu melhor sorriso, aqueles que acertavam os seus olhos e fazia com que ficassem pequeninhos. Tudo pareceu mudar, até mesmo a sua postura. Quando Sirius o olhava, Remus parecia, de fato, estar ali.

Isso fazia com que tudo valesse a pena para todos eles.

Quando todos se foram, os dois voltaram para o quarto. Remus parecia animado, exatamente como era em casa. Remus sentou-se na cama e bateu no espaço ao seu lado, para que Sirius se juntasse a ele. Os dois se abraçaram e Remus mostrou dois exemplares de seu livro.

— Este é o seu e este é o meu.

Sirius riu, puxando a cópia que ganhara e a abrindo. Parou, de repente, na página de agradecimentos.

“Para aquele que nunca saiu do meu lado e cuidou de mim do início ao fim. Para o meu amor épico. Para o meu marido Sirius Black.”

Ele sentiu os seus olhos encherem-se de lágrimas e, pela primeira vez, não quis controlá-las ou escondê-las. Remus puxou os livros, jogando-os na cadeira que repousava ao lado dos dois. Puxou Sirius para si e o abraçou tão forte quanto conseguia. A luz do corredor do hospital se apagou, deixando apenas a fraca luz do abajur os iluminando.

— Eu fico feliz, sabe, que é assim – disse Remus. – Posso me despedir de você e viver tudo isso. É claro que eu não escolheria isso de forma alguma – falou ao ver a expressão de protesto de Sirius. – Mas seria muito pior se apenas nos despedíssemos em uma manhã qualquer e não nos víssemos mais.

— É ruim de qualquer jeito – resmungou com sua voz cortada. – Você não merecia isso, eu não merecia isso, nenhum de nós...

A voz de Sirius sumiu, dando lugar a fungados desesperados que cortavam a sua frase.

— Eu sei.

— Não vou saber viver sem você.

Remus riu.

— É claro que vai.

O outro se afastou, olhando bem fundo nos olhos de Remus.

— Não, não vou! Não sei viver sem você. Talvez eu esteja fingindo muito bem nesses últimos dois anos, mas eu não vou saber, Moony, você... Você é tudo que eu tenho. É o centro de tudo.

Remus balançou a cabeça em negativa, puxando o rosto do homem para si. Seus lábios se tocaram devagar antes que ele pudesse falar.

— Eu sou apenas uma parte da sua vida, Sirius. Você tem a vida toda pela frente. Tem James, Lily, Peter, Regulus... Deus, Reg. Ele precisa tanto de você, amor, você não faz ideia.

Sirius sentia-se ofendido. Como Remus podia falar daquela forma? Ele não era apenas uma parte da sua vida, era seu marido, era... era tudo! Sempre havia sido!

— Eu também não quero te deixar. A pior parte disso tudo é deixar você. Não me importaria com as dores se pudesse apenas... ficar com você.

A voz de Remus se quebrou. Ele também chorava, mas não como Sirius. O choro que saía do Black era pesado, angustiante e barulhento. Era o choro que raramente Sirius havia se dado o direito de ter, pois parecer forte era o primeiro passo para ser forte de verdade. O choro de Sirius era triste, doloroso e cheio de desespero por algo que queria mudar, que queria mudar até o último segundo, mas não podia. O choro de Remus era calmo e silencioso, como ele. Não chorava por ele, chorava pelo homem que amava – e não por pena ou apenas por deixá-lo, mas justamente porque o amava. Nunca o havia atingido tão fortemente antes o quanto o amava.

— Eu te amo tanto, Sirius, tanto. E eu vou amar você para sempre – disse, limpando as lágrimas que escorriam de seu rosto sem parar. – Minha vida foi cheia de coisas difíceis, sabe. Algumas vezes eu até mesmo me perguntei qual era o ponto daquilo tudo. Nunca tive muita sorte até você, James e Peter aparecerem. Vocês me deram a melhor vida que eu poderia pedir.

Sirius balançou a cabeça.

— Você foi a nossa sorte. Somos tão gratos por você, Moony, tanto. Tudo que aconteceu aqui hoje foi por causa deles, eu não fiz nada.

Remus sorriu daquele jeito doce que Sirius tanto estava acostumado e acariciou a sua bochecha.

— Eu sei o que vocês fizeram. Eu sei o que você fez, Sirius. E é por isso seu amor foi o melhor presente que eu poderia receber. De todas as coisas do mundo, amar o meu melhor amigo foi a mais bonita.

Sirius Black teve Remus Lupin em sua vida por 17 anos. Amaram-se da melhor forma que podiam durante quase uma década, até Remus partir aos 28 anos, quase um mês depois de seu aniversário e de sua sessão de autógrafos. Sirius queria poder dizer que Remus lutou até o final, mas não seria verdade. Ele era humano, afinal. Teve dias bons e ruins. Nos dias ruins, não queria remédios, chorava de dor e nenhuma companhia que não fosse a própria autopiedade. Alguns dias chorava e implorava para que Sirius saísse do quarto. Dizia não querer ser olhado da maneira que estava. Nos dias bons, gostava de escrever contos curtos, ligar para os amigos que estavam longe, ler histórias para crianças, comentar livros com Lily e ficar com o homem que amava, aproveitando a sensação de conforto e normalidade, mesmo que não muita. Não importava o estado, Sirius ficou do lado dele até o fim, sendo a força que ele parecia precisar.

Porém, isso foi apenas enquanto Remus continuou vivo. Quando, em uma tarde surpreendentemente quente de abril, Remus deu o seu último suspiro, olhando para as folhas que caíam levemente da árvore em sua janela enquanto Sirius segurava a sua mão na dele, tudo acabou.

James cuidou do hospital, do enterro e das redes sociais de Remus. Tudo que Sirius precisou fazer foi subir naquele pequeno palanque ao lado do caixão do marido e fingir que aquela situação não era a pior de sua vida. Ele falhou miseravelmente, mas não ligava. Disse algumas palavras confusas até Peter o tirar de lá.

Após o enterro, voltou para casa e lá ficou por tanto tempo que perdeu as contas. Não lia as mensagens dos amigos, recusava as visitas do irmão, da prima ou de qualquer outra pessoa. Seu coração estava dilacerado, deitar naquela cama sem Remus era tortura e acalento ao mesmo tempo. Ignorava as suas roupas, tudo que queria era usar os suéteres do marido que ainda possuíam o seu leve cheiro de limão e chocolate. Era o que achava, ao menos. Se fechasse bem os olhos, conseguia sentir a cama afundar como se Remus estivesse deitando ao seu lado logo após tomar banho e comer mais um pedaço de chocolate escondido. Era torturante. Era doloroso. Era um pesadelo completo.

Era a sua vida agora.

— Oi, aqui é o Remus, desculpa por não atender agora. Provavelmente estou lendo um livro ou dando aula. Talvez eu ligue de volta. Não sei, prefiro mensagens. Tchau!

Sirius perdeu a conta de quantas vezes ligou para o celular de Remus apenas para ouvir a voz dele por míseros dez segundos. O tom animado, curioso e divertido. O humor sempre foi meio bobo e sarcástico. Sirius amava isso. Amava tudo sobre ele. Teve que esconder o celular do marido bem longe, onde não pudesse ouvi-lo tocar ou vibrar. Aquilo o deixava louco. Sabia que estava ligando para ouvir voz dele porque não poderia fazer isso de outro jeito, mas escutar o celular dele tocar e saber que ninguém nunca mais poderia atendê-lo o matava ainda mais.

Sirius sabia que as pessoas adoeciam e partiam, mas nunca imaginou que aquilo aconteceria com Remus. Nunca imaginou que se veria sem ele. Era errado e completamente injusto que Sirius Black estivesse destinado a viver uma vida longa enquanto Remus, o doce, correto e altruísta Remus, tivesse sua vida ceifada tão cedo. Era errado que o mundo continuasse girando, que o sol continuasse nascendo e as horas persistissem a passar quando Remus não estava mais ali para ver, pois seu tempo havia acabado aos 28 anos. Remus Lupin nunca mais mudaria, mas Sirius, sim. James, Lily, Peter e todo mundo também, mas não ele. Como Sirius poderia aceitar uma coisa dessas?

Foi depois de três meses que Regulus se cansou de esperar. Pulou a janela e entrou dentro da casa de Sirius.

— Puta merda, você está vivendo em um lixão, sabia disso? – Foi a primeira coisa que disse ao entrar na sala. Sirius estava jogado no sofá, apenas passando os canais aleatoriamente. Poderia ter ficado com raiva pela invasão, irritado, reclamado, mas a verdade era que não possuía forças. E, na verdade, sempre que acordava pensava que aquele seria o dia que James derrubaria a porta ao invés de apenas bater e deixar comida no chão, como fazia diariamente.

— E daí? Não há mais ninguém para reclamar.

— Sirius...

— Reg, não. Não quero conselhos, não quero pêsames, não quero pena. Não quero nada. Só quero ficar sozinho.

— Não vim ter pena de você.

Sirius desviou o olhar da TV pela primeira vez. Seu irmão estava com os braços cruzados e possuía a expressão mais séria que Sirius já havia visto. E Regulus já era alguém naturalmente sério.

— Não vim te dar conselhos, pêsames ou te pedir para sair dessa fossa. Você está de luto. Remus se foi. Eu entendo.

— Então o que veio fazer aqui? James já se certifica todos os dias que continuo vivo.

Regulus deu um passo à frente e, com uma das mãos, empurrou todas as embalagens e latinhas que Sirius havia deixado se acumular na mesa até que caíssem no chão.

— Escute bem, porque só vou dizer uma vez. Remus me ligou uma vez. Disse que sabia o que ia acontecer com ele e que precisava deixar tudo pronto, pois não sabia como seria no fim.

Sirius piscou, sentando-se direito na mesma hora.

— Eu disse que não fazia sentido. O diagnóstico havia acabado de sair, ele iria se recuperar. Mas ele não me ouviu, estava muito decidido, daquele jeito que ele ficava quando queria defender algum livro. Então ele disse que quando a hora chegasse, ele me chamaria.

— O que ele queria?

Regulus enfiou a mão no bolso, tirando um pequeno pen-drive vermelho do bolso e colocando no centro da mesa.

— Não sei o que tem aí dentro, mas ele me pediu para te entregar depois que... Você sabe. Ele também fez um para James, Peter e Lily. Eu já os entreguei.

Sirius agarrou o pen-drive tão rápido que quase caiu. Aquilo era a última coisa, a última coisa real, que tinha de Remus.

— Por que você só está me dando agora?!

— Ele me pediu para esperar. Disse que o luto é uma fase importante para todos.

Sirius começou a caminhar, incerto, em direção ao quarto, mas parou. Virando-se para o irmão, o mais velho tinha plena noção de como deveria estar parecendo patético.

— Obrigado, Reg. De verdade.

— Não foi nada.

— Remus confiou em você – falou.

Regulus desviou o olhar, caminhando de volta para a janela.

— Apenas limpe a porcaria dessa casa e deixe James entrar. É o que ele gostaria.

E, sem dizer mais nada, saiu por onde entrou. Sirius continuou parado por alguns segundos antes de correr de volta para o quarto para ver o bendito pen-drive. Quando a página finalmente abriu, o coração de Sirius parou. Haviam três pastas e um vídeo. A primeira pasta possuía todos os contos que Remus já havia escrito, antes e depois da doença. A segunda, que ele nomeou de “Família” possuía todas as fotos que já haviam tirado, do sexto ano da escola até o dia do casamento deles. A terceira fez Sirius sorrir com o seu nome: “Receitas que Padfoot deve aprender”.

E então o vídeo. Sua mão tremia tanto que mal conseguia clicar duas vezes no ícone pequeno. Quando finalmente conseguiu a tela escureceu logo antes de Remus aparecer. Ele estava usando um suéter rosa-claro e uma calça preta, estava de óculos, o que significava que ele estava lendo e o fundo era daquele mesmo quarto. Remus gravou aquele vídeo pouco depois que se casaram.

“Oi, amor. É muito estranho gravar esse vídeo com você ali no quintal, principalmente porque eu sei que, se você está vendo, então... Bem. Eu sinto muito. Sinto muito mesmo por deixá-lo. Eu nunca faria isso se pudesse escolher. Sabe, eu nunca te contei, mas sempre gostei de você na escola. Eu já sabia que gostava de garotos, eu te dizia não porque você parecia tão bom, sabe? Você era sempre o mais engraçado, o mais rápido, o mais bonito... Aquele que todos queriam conhecer. Como você poderia gostar de mim? O que poderia ter em mim que pudesse conquistar você? Como eu, logo eu, poderia ter essa sorte? Eu demorei muito para aceitar isso. Se eu soubesse que isso aconteceria, teria pegado cada minuto extra com você.

Amor, eu sei o que você está fazendo. Sei que achou a minha lista. Ficou meio óbvio depois que trouxe aquelas tatuagens falsas. Mas tudo bem, eu não fiquei bravo. Na verdade, só tive mais certeza do quanto eu te amo. Você é bom em tudo que faz. É um bom amigo, bom irmão, bom namorado e agora é um bom marido também. Não consigo te agradecer o suficiente por ficar do meu lado. Sei que você diz que é errado dizer isso, mas é o que acontece. Você me defendeu de valentões, da minha tia, dos seus pais, me defendeu até mesmo de mim mesmo. Não sei o que aconteceria comigo se não fosse você. Eu sei que até mesmo a minha partida você deve ter facilitado. Você é assim. Você sempre pensou em mim.

É por isso que eu estou gravando esse vídeo. É a minha vez de pensar em você. Sei que você deve ter chorado e sofrido, sei que ainda deve doer muito, não quero te pedir para ignorar essa dor, nunca faria isso. Mas quero te pedir para não a sentir por muito tempo. Não chore por muito tempo, Sirius, e, em troca, você vai sempre se lembrar das coisas boas, assim como eu.

Sei que cumpriu toda a minha lista por mim, porque queria me fazer feliz. Então agora eu tenho uma nova lista para você. Anda, pega papel e caneta. Vou ficar esperando.”

Sirius não se mexeu, as suas lágrimas caíam tão abertamente que o machucavam por dentro. Ele não se levantaria, mas Remus olhou bem no fundo da câmera e arqueou uma sobrancelha, quase como se o desafiasse a continuar ali parado. Então ele fez o que foi mandado.

“Ótimo, agora que você pegou, quero que escreva o seguinte: Primeiro: Arrumar a casa. Sei que deve estar uma bagunça, mas não pode fazer da nossa casa um chiqueiro, Sirius Black. Segundo: Ir às compras e comprar legumes, vegetais e frutas. Você pode comer algumas besteiras, sei que é fácil, mas, por favor, não se esqueça da sua saúde. Terceiro: Ligar para James. Sei que ele não deve estar longe, mas você precisa deixá-lo entrar, amor. Você precisa lembrar que não está sozinho. Você nunca esteve sozinho, até mesmo antes de mim. Fique perto da nossa família. Por você e por mim.

Essas são as três coisas que eu preciso que você faça, Sirius. Realmente preciso. É muito importante para mim. Assim como o que eu vou te pedir agora. A minha lista era temporária, mas a lista que eu estou fazendo para você é para vida toda. Você pode chamá-la de... Lista do Para Sempre. Acho que combina.

Eu sei que você me ama. Nunca duvidei disso e nunca vou, mas você precisa continuar vivendo, tudo bem? Saia com os nossos amigos, volte a trabalhar, conheça pessoas, se divirta. Vai estar tudo bem ser feliz sem mim. Tudo que eu quero é que você seja feliz sem mim porque eu te amo. Eu sei que você não acha isso agora, mas eu fui apenas uma parte da sua vida. Você ainda tem muito pela frente. Não vai ser fácil, mas preciso saber que você vai tentar.

E eu espero que ler o final do nosso livro te ajude nisso. Ele não é autobiográfico, você sabe. Ele é tudo que eu gostaria de te dar. Ele é tudo que eu tenho para te dar. Sou feliz porque tive você, Sirius Black, desde o primeiro dia, eu tive você. E você sempre vai me ter também, mas você vai ter muito mais.”

Quando o vídeo acabou, Sirius o assistiu mais duas vezes. Só parou quando sentiu que o seu corpo não conseguiria mais aguentar algo tão doloroso. Mirou a tela, Remus estava congelado em um sorriso, daqueles que faziam os seus olhos diminuírem e, sem pensar muito, Sirius também sorriu. Ele o conhecia tão bem, não conhecia? Remus sabia que a única pessoa que Sirius ouviria, a única pessoa que ele gostaria de conversar sobre aquele buraco negro de sentimentos devastadores que pareciam comê-lo de dentro para fora era aquele que nunca mais poderia fazer isso. Exceto que ele fez. Por Sirius.

Sirius sabia que, em algum momento, pararia de doer tanto, embora não fizesse ideia de quando isso seria. Sabia que, em algum momento, o luto se tornava uma cicatriz, escondida sob a pele. A dor parava, mas a marca estaria lá para o restante da sua vida, sempre lembrando o que você perdeu quando, sem querer, passasse o olho nela. Sirius não queria ter mais nada. Só queria Remus. Queria a vida que sempre teve. Contudo, sabia que isso era impossível. Sabia que esse fardo seria dele.

Mas não precisava ser um fardo pesado. Sempre fez o que Remus pediu. Sempre quis deixá-lo feliz e duvidava que agora devesse ser diferente. Remus Lupin havia feito uma nova lista e Sirius Black deveria riscar todos os itens.

Enfiou a mão no bolso, tirando o seu celular e digitando o número que tanto conhecia. Ele atendeu depois de poucos toques.

— Eu... preciso ir ao supermercado, comprar legumes, frutas e essas coisas. Quer ir comigo, Prongs?

 


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Notas finais do capítulo

e foi isso!! espero muito que vocês tenham gostado da minha última fic desse mês. ela surgiu de forma totalmente aleatória já perto do final das inscrições e eu fiquei animada demais em ter minha primeira wolfstar no mês onde esses dois são os maiorais. participar do pride foi, provavelmente, a minha coisa favorita nesse ano inteiro, nem consigo começar a descrever sobre o quanto me diverti escrevendo, lendo e vendo as capas que vocês, adms & capistas incríveis, fizeram (minhas e das outras pessoas, pois TODAS lindas!!). obrigada por terem reunido tanta fanfiqueira maravilhosa e história boa num único lugar. a segunda edição já se tornou muito especial para mim e eu espero poder participar da terceira também!

obrigada a todo mundo que leu, comentou ou favoritou as minhas histórias desse mês. tudo isso significou muuuito para mim!! espero de verdade que vocês tenham gostado de conhecer a história desses dois, pq eu definitivamente gostei de escrevê-los, mesmo o final sendo um tantinho triste para todo mundo hahah.

para qualquer pessoa interessada sobre o livro do remus: é sobre os dois, mas com um final feliz, onde a doença não levou ninguém e eles puderam viver como sempre planejaram.

me digam o que acharam ♥ até a próxima!



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