Laços de Esperança escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 14
Capítulo 14




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—Ela não sabia da venda de seu material genético. _continuou Edward satisfeito pela perplexidade na expressão do Lorde._Marguerite foi vítima de uma traição sem precedentes. Seu ex marido, James Smith falsificou a assinatura nos contratos, ele vendeu os seus óvulos sem que ela soubesse. Marguerite nunca permitiria isso._Lamentando ele completou_seu sonho sempre foi ser mãe. E provavelmente seria a melhor mãe do mundo se não lhe houvessem roubado esta possibilidade.

—Isso é repulsivo._Roxton ergueu-se da confortável cadeira de couro e caminhou até a janela que dava vista ao precioso jardim agora ofuscado pela escuridão da noite.

—James Smith é repulsivo._concordou o advogado_ao que parece contraiu algumas dívidas na bolsa de valores e com o dinheiro investiu em ações que logo fracassaram também. Nunca foi seu interesse ser pai, quando descobriu que Marguerite esperava gêmeos, depois de inúmeras tentativas de inseminação in vitro, James provavelmente se apavorou com a ideia de que a esposa pudesse desejar uma nova gravidez, então, uniu o útil ao agradável. Vendeu os óvulos e extinguiu a ideia de novos filhos._ a voz de Malone mudou de tom de voz antes de continuar. O que não passou despercebido por John, desviando o olhar do jardim encorajou-o para que dissesse tudo_ Marguerite ficou dilacerada quando seus bebês morreram e como se não bastasse a dor da perda também foi atingida com a informação de que suas células germinais não estavam viáveis para novos procedimentos. Meses depois James a abandonou. Por anos imaginou que James a culpava pela morte dos filhos e por isso pediu o divórcio. Covarde!_cuspiu com ira_Quando soube, por acaso, de toda essa sujeira Marguerite procurou a clínica imediatamente e Dr. Askwitch ofereceu a quebra da confiabilidade em troca de que nenhum escândalo fosse feito. Ela partiu para Avebury na mesma tarde, não era o seu objetivo interferir na vida de vocês, Marguerite só queria conhecê-la entrar em um acordo para talvez fazer parte da vida de Abigail ainda que não no papel de mãe. Consegue julgá-la por isso?_confrontou.

John demorou uns segundos antes de finalmente responder.

—Não… eu não posso julgá-la._ admitiu com serenidade _ o que Marguerite passou não tem perdão. James Smith é um crápula e no que depender de mim vai pagar pelo que fez.

—E quanto a Marguerite?_quis saber Verônica.

—Ela se foi._respondeu secamente_eu lamento tudo o que aconteceu, mas, não muda o fato de que traiu minha confiança, entrou em minha casa, participou de mi… nossas vidas sobre a sombra de uma mentira. Não posso corroborar com isso. É melhor para todos que ela não se aproxime mais.

Era mentira. Era melhor para ele que a escritora se mantivesse longe. Sabia que não conseguiria discernir entre o carinho de mãe e o desejo de possuí-la como mulher. Marguerite não o amava, tudo o que aconteceu entre eles foi motivado pela necessidade desesperada de ficar perto de Abigail. O que Malone lhe contou o tocou profundamente, sentiu um ódio profundo pelo ex marido de Marguerite, até uma certa pontada de ciúmes por imaginar que o amor dela pertenceu a outro homem, que algum dia pensou em constituir uma família com ele. Imaginou que talvez ela ainda o amasse, a mágoa pela traição poderia abafar o sentimento mas seria capaz de matá-lo de vez? Era bobagem pensar nisso, concluiu Roxton. Ela não era sua e nunca seria. Se torturar por ciúmes platônicos era a prova de que precisava preservar seu coração e conseguiria isso somente a distância. Tomaria providências para que a justiça fosse feita, pediria uma pomposa indenização a clínica e a James, proveria todo o valor a Marguerite, compensaria financeiramente sua perda, porém, conviver com ela estava fora de questão.

Só se deu conta de como seria difícil viver longe de Marguerite quando voltou ao quarto naquela noite e encontrou sobre o criado mudo, discretamente dobrada a peça negra da lingerie que ela usava na noite anterior. Teria ela deixado ali como lembrança inconveniente? Estava certo de que não. Era mais provável que a criada encontrou o sutiã durante a arrumação do quarto. A ansiedade de outrora não lhes permitiu ser cuidadosos em nenhum sentido. Lembrar do êxtase experimentado quando tornaram-se um só, seus corpos em movimentos orquestrados pelo desejo, pele com pele, já o deixava inevitavelmente excitado. Pegou o pedaço de pano e levou ao olfato, ainda possuía o perfume da mulher que o vestiu. Era prudente jogar aquilo fora, entretanto, não havia um só músculo com coragem suficiente para tanto. Abriu a gaveta e colocou cuidadosamente a peça lá, essa seria a recordações dela em suas noites de solidão.

… duas semanas depois..

Marguerite despertou assustada com o soar da campainha. Tinha dormido sobre as ilustrações novamente. Desde que fora expulsa da mansão Roxtondedicou-se quase obsessivamente ao projeto que iniciouem Avebury. Esse foi o recurso que utilizou para não enlouquecer de mágoa e desespero. Desenhando conseguia, ainda que temporariamente, esquecer os insultos que Lorde Roxton despejara em sua face na manhã seguinte a noite de amor que tiveram. O que parecia uma boa ideia a princípio agora estava cobrando seu preço, as horas incansáveis de trabalho estavam exaurindo suas forças, não tinha dormido 5 horas seguidas nos últimos 15 dias, tão pouco se alimentado direito, também depreciava a conversar com quem quer que fosse,só após inúmeras tentativas de contato foi que finalmente  respondeu a Malone, apenas tranquilizando-o que estava bem, mas, sem disposição para conversar. O amigo aceitoupor hora tal conduta, todavia, não por muito tempo e deve ser por isso que naquela manhã Ned tomou a liberdade de se certificar se ela estava realmente bem.

Bocejou e espreguiçou-se ainda com os olhos semicerrados caminhou até a porta sem se dar ao trabalho de identificar o visitante. Quem mais poderia ser além de…

—John?!_Marguerite estava agora completamente acordada. .

—Bom dia, Marguerite. Sinto muito acordá-la_ retratou-se percebendo as olheiras e a pele sedosa amassada pelo sono. Roxton preocupou-se pela palidez e perda de peso de Marguerite, inevitavelmente se sentiu decerta maneira culpado pela exaustão dela.

—Não seria a primeira vez_ respondeu ela recordando-se a manhã que foi despertada por Lorde Roxton na pensão de Charlotte. Uma onda de calor varreu seu corpo ao lembrar da atração que compartilharam na ocasião. Percebendo o desconforto de John concluiu que ele selembrava do mesmo_desculpe, não foi minha intenção lembrá-lo de…

—Não importa._interrompeu_ gostaria de conversar, posso entrar?

A escritora fez sinal para que o nobre entrasse em seu modesto apartamento e fechou a porta logo atrás de si. Antes que John disse uma só palavra, nervosa, Marguerite começo o monólogo.

—Não consigo imaginar uma só razão que o traga aqui hoje. Achei que você tinha sido bem claro no que dizia respeito a mim na última vez que nos vimos, e, cumpri suas ordens a rigor. Deste modo se pensa que pode vir a minha casa me insultar ainda mais, está enganado. Ou se não está satisfeito apenas os insultos verbais e pretende mover algo judicial que me puna pelas minhas atitudes, vá em frente… não há muito mais coisas que me possam tirar._ela não falava apenas financeiramente e John sabia disso, o que aumentou seu remorso_E além disso…

—Marguerite!_terminou imperativamente o rompante dela o que a fez se calar. Depois, com a voz mais calma e condescendente acrescentou_Eu sei de tudo.

—Sabe? Do quê?_seu coração errou uma batida. Um pânico a inundou ao perceber uma emoção que lembrava piedade nos olhos dele.

—Eu sei sobre a venda dos óvulos. Sei que foi traída…

Marguerite virou-se envergonhada e vulnerável. Preferia que John não tivesse essa arma contra ela. Tampouco gostaria que ele estivesse ali por pena.  

—Como… como ficou sabendo?

—Falei com seu advogado… Edward Malone.

—Ned! Aquele fofoqueiro._resmungou para si mesma_ele não tinha esse direito.

—Não o condene, Verônica as vezes pode ser muito persuasiva._havia uma nota de humor na afirmativa.

—Verônica?

—Ao que parece, minha irmã a investigou e chegou ao Malone. Mas esse não e o principal motivo que me traz aqui hoje…

Claro que não era, pensou ele. Estava doente de saudades, e, na verdade, a ausência de Marguerite estava lhe causando mais estragos que a própria traição, então, quando Verônica deliberadamente mencionou que Edward, com que estava constantemente saindo, não tinha nenhuma informação efetiva sobre o estado da escritora. O nobrefoi, então, movido por instinto primordial de proteção e a procurou. Estaria se enganando ao negar que não ficou preocupado e era por isto estava ali. Contudo, seu orgulho não permitia se expor desta forma. Preferiu ser mais objetivo.

—Processei James Smith e também a clínica de reprodução assistida._explicou_achei que era o certo a fazer. A indenização será destinada a você.

Lorde Roxton esperava uma reação de surpresa, felicidade e talvez gratidão, entretanto, nunca imaginaria que a indignação povoasse as atitudes de Marguerite.

—Suponho que deva lhe agradecer por isso?

—Como mencionei… fiz o que achava justo, pensei em compensá-la..

—Compensar me? Acha mesmo que dinheiro seria suficiente para substituir tudo que me foi roubado? Por certo não sabe o tipo de mulher que eu sou!

—Não foi minha intenção ofendê-la._ justificou-se enquanto passou por sua cabeça que talvez a menção a James tenha sido o estopim para tanto desconforto. Será que ainda o queria proteger, senão porque ela mesma não tinha procurado justiça? Já se passava quase um mês desde que descobrira sua falsificação.

Toda essa teoria o afetava mais do que gostaria. Balançou a cabeça procurando afastar tais pensamento destrutivos. De soslaio observou várias folhas espalhadas pela mesa, junto a elas algumas xícaras de vidro transparente, uma delas cheia até a metade com uma bebida negra. Pelo aspecto do café e pelos papéis amassados no mesmo padrão das marcas no rosto de Marguerite , ela passara a noite ali naquela mesa alimentando-se apenas do líquido estimulante para espantar o sono. Isto explicava muito da sua aparêncianaquela manhã. Entretanto, o que de tão especial a exigia tanta dedicação. Antes que ela pudesse lhe impedir Roxton aproximou-se mesa e se deparou com dezenas de desenhos, imediatamente reconheceu as referências das imagens. A grande árvore a beira do lago em sua propriedade em Avebury, o piquenique que fizeram sob sua copa e até mesmo um beagle simpático que lembrava muito Bartolomeu, e como não podia faltar, é claro, reconheceu a personagem de olhos claros e cabelos negros que sorria do papel para ele.

—Ela é Abigail._não era uma pergunta e sim uma constatação emocionada.

—Sim…_ela tirou o papel de suas mãos_ minha nova história, chama-se As Aventuras da princesa Abbie. Não pretendo publicar, fique tranquilo. É apenas um presente unicamente para ela.

John estava realmente comovido com aquela demonstração de amor incondicional. Marguerite amava sua filha de verdade e Abigail também sentia falta da escritora. Ele estava sendo o maior dos canalhas ao afastá-las visando apenas seus covardes interesses de proteção quando a convivência das duas lhes fariam tão bem. Impensadamente tomou a mão de Marguerite entre as suas e num ímpeto disse:

—Volte para Avebury comigo!

 


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