Laços de Esperança escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 10
Capítulo 10




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O homem que já tinha sido considerado o mais eloquente nobre da casa de Lordes de Londres se encontrava nervoso e inseguro naquela ocasião. O motivo: seu primeiro encontro com Marguerite Krux. Colocando nestes termos parecia uma grande bobagem que no auge dos seus 39 anos ainda existissem dúvidas em como se portar diante de uma mulher, porém, não era qualquer mulher. Ele a desejava ardentemente desde a primeira vez que pousou seus olhos sobre ela. Podia estar enganado, mas, os sinais que emitia anunciavam que Marguerite se sentia da mesma forma em relação a ele.

John foi um jovem galante, algumas pessoas o definiriam com mulherengo, mas, a verdade é que em sua juventude aproveitou como ninguém os prazeres da vida sem a responsabilidade de um compromisso. Foi leal as suas convicções e nunca iludiu nenhum de seus muitos, embora breves, casos amorosos. Todas as mulheres com quem se envolveu estavam cientes do que ele tinha a lhes oferecer, e não recebeu uma sequer queixa quanto a isso. Depois de um tempo, a diversão do sexo casual deixou de ser tão atraente, e sua natureza patriarcal lhe chamou a calmaria de um seio familiar. Foi quando conheceu Danielle.

Farto da libertinagem, Roxton apostou nela o relacionamento estável que tanto desejava e a família que pretendia constituir. O início do casamento foi uma plena lua de mel. Ele e a esposa se entendiam muito bem em vários aspectos, exceto, em relação a filhos. Por mais que John apontasse uma série de benefícios em uma vida rodeada por crianças, Lady Roxton insistia em postergar a ideia o máximo possível, sempre valendo-se de desculpas e pretexto como a retomada de sua carreira de modelo. Ele foi compreensivo no começo, mas inevitavelmente tal divergência minava paulatinamente o seu matrimônio.

Percebendo o afastamento do marido e sem novos argumentos para adiar os planos de gravidez, Danielle decidiu revelar seu segredo. Ela era uma mulher estéril. O impacto da notícia não foi tão avassalador quanto a sua omissão. Roxton se sentiu traído pela falta de confiança da esposa em compartilhar com ele uma condição tão importante. Não que a impossibilidade de ter filhos interferisse no sentimento por ela, mas as mentiras que contou para fazê-lo esquecer a vontade de ser pai eram o que o magoava. Ela implorou seu perdão, disse que mentiu pois teve medo que ele a rejeitasse sabendo que era incapaz de dar-lhe um herdeiro. Isso era irrelevante para John, superariam qualquer dificuldade desde que estivessem juntos, lhe garantiu. Podiam adotar uma criança, sugeriu ele. Porém, Danielle era contrária a suposição que o título de lorde fosse ocupado por alguém que não possuísse o sangue dos Roxtons. Então, partiu dela a vontade de submeter-se a uma reprodução assistida. Roxton sabia que a esposa só considerou a hipótese por medo que o casamento sucumbisse a um término evidente, e consideração a isso, decidiu dar uma segunda chance ao relacionamento. Acreditou que um bebê traria o frescor e a novidade que necessitavam para ultrapassar a crise conjugal que viviam.

A gestação transcorria com tranquilidade, Roxton descobriu-se encantado com a antecipação da paternidade. Participava ativamente das mudanças que ocorriam na esposa apoiando-a e fazendo com que se sentisse segura. Mesmo disfarçando muito bem, ele sabia que Danielle não vivia o mesmo entusiasmo. Ela encarava bebê como um sacrifício a ser feito para agradar o marido e salvar o casamento. John esperava que ao segurar a criança em seus braços pela primeira vez despertaria nela o instinto materno e a amaria tanto quanto ele. Entretanto, isto nunca aconteceu. Danielle não teve a oportunidade de conhecer a filha, uma complicação no parto ceifou sua vida deixando-o com a responsabilidade de uma bebê recém-nascida e um remorso eterno.

Por mais que todos lhe dissessem que não foi sua culpa a morte da esposa, tomou para si essa silenciosa sentença. Condenou-se a solidão e dedicou-se a Abigail como forma de honrar a memória de Danielle. Isto pareceu, por muito tempo, o certo a ser feito. Não sentia falta de companhia, a paternidade e os negócios o bastavam, até a chegada de Marguerite. Aquela mulher mudou toda as suas certezas, de repente se sentiu vivo novamente e agora achava inconcebível não tê-la por perto.

 

****

 

—Eu sempre falo isto, mas, juro que não é mentira… você está linda._confessou com um buquê de rosas vermelhas nas mãos.

Marguerite sorriu com timidez. Havia passado todo o dia apreensiva e ansiosa pelo o encontro. Estava preocupada com a reação de John quando lhe contasse o propósito inicial de sua ida a Avebury, entretanto, não era capaz de negar que essa era apenas uma parte de sua inquietude. A premissa de um jantar romântico com Lorde Roxton deixava-a excitada espontaneamente. Sentia-se como uma adolescente prestes a entregar-se pela primeira vez. Esforçava-se constantemente para não criar expectativas para aquela noite, estava preparada para o desastre eminente, porém, era quase impossível não sonhar acordada com beijos apaixonados e declarações de carinho. John tinha sido tão gentil e honesto pela manhã, deixou claras suas intenções para com ela, e seria tudo perfeito se Marguerite não fosse quem ela era.

—Obrigada._sorriu novamente ao acolher o ramalhete em um dos braços e aceitar o enlace do braço dele em seu membro livre.

Poucas mulheres possuíam o privilégio de usar um batom vermelho despretensiosamente e ainda sim ser tornar genuinamente sensual. Marguerite era uma dessas raridades. Tudo nela aguçava seus instintos mais primitivos, mas tinha consciência que não o fazia de propósito. A maquiagem suave adornada pelos rubros e carnudos lábios eram um convite ao beijo e declinando de qualquer convenção ele cedeu ao seu desejo temendo arrepender-se eternamente por não fazê-lo. A princípio ela se surpreendeu pela atitude inesperada, mas, instantes depois correspondia ao gesto com a mesma sede. Ele se afastou um pouco, tentou controlar sua racionalidade enquanto encostava sua testa com a dela, ambos com os olhos fechados. Suspirou para recuperar o fôlego mas não evitou o sorriso de satisfação quando determinava para si mesmo.

—Vamos jantar…_necessitava levá-la a um lugar público com urgência, a privacidade era um desafio ao seu autocontrole. Esperava que o pudor lhe voltasse assim como a capacidade de coibir suas reações, não que fosse ruim sentir o que estava sentindo, apenas não queria assustá-la.

—Vamos._concordou sabendo que assim como ela, ele experimentava algo novo e assolador que por mais irresistível que pudesse ser este sentimento, era preciso cautela.

O pub que Lorde Roxton escolheu para o jantar era aconchegante e pitoresco. Marguerite lembrava de frequentar locais como aquele quando era mais jovem e livre da carga depressiva que sua vida havia se tornado. Embora não sendo uma mulher idosa, há muito tempo tinha se resignado a não esperar nada do futuro e isso lhe envelheceu a alma, por esta razão, muitas vezes, parecia ser mais velha do que realmente era. Entretanto, não era o que ocorria naquela noite. O olhar do acompanhante a sua frente transmitia um fogo que a aquecia, e percebeu que nunca nenhum outro homem havia lhe desejado com tanta veemência. Marguerite já possuía a maturidade para não ruborizar diante de tal tensão sexual, ao contrário, se viu envaidecida por despertar tal interesse em alguém como John Roxton. Jamais foi hipócrita, sabia que era uma mulher bonita, porém, nem mesmo com James havia se sentido tão atraente como naquela ocasião. O ex marido possuía uma série de problemas pessoais que por certo interferiam em seu desempenho emocional e afetivo, resultando em uma vida conjugal pacata e desanimada. Não chegava a ser um problema na época, visto que até John aparecer ela não julgava-se uma pessoa libidinosa, contudo, a maneira com que ele a mirava, como se quisesse despi-la e possuí-la ali mesmo, só aumentava sua vontade de ceder aos apelos silenciosos dele. Deus, ela também o queria… porém, este não era objetivo principal da noite. Ela tinha um assunto vital a tratar antes de qualquer devaneio carnal, por isso, evitando que sucumbisse a sua própria tentação ela iniciou um diálogo pragmático.

—Como está Abbie?_iniciar uma conversa sobre a filha facilitaria ajustar o termostato de ambos e a introduziria no tema em questão.

John sorriu, não era bem sobre o que queria conversar, mas imaginou que seu comportamento incisivo a estava constrangendo. Tanto tempo de celibato tinha lhe causado estragos, teria ele perdido o tato e se tornado um afoito sem preliminares? Ou era a presença de Marguerite que aflorava sua natureza selvagem? Não tinha certeza, contudo, o melhor a fazer era acompanhar o ritmo dela, para que se sentisse a vontade sem pressioná-la.

—Ela está bem._respondeu por fim_entretida com as guloseimas que Verônica trouxe da América do Sul.

—Ela é uma boa tia._concluiu Marguerite antes de levar a taça de vinho aos lábios escarlates.

—Sim, ela é._concordou John._Embora as vezes seja um pouco intrometida, Verônica é a única referência feminina para Abigail. Sua independência e empoderamento são boas influências para ela.

Marguerite assentiu com a cabeça. Apesar de seu primeiro encontro truculento com Verônica Roxton, não podia deixar de admitir que se tratava de uma mulher correta e obstinada, sem dúvidas essas eram características admiráveis em uma pessoa.

—Abbie não tem contato com a família de sua falecida esposa?_uma curiosidade lhe surgiu. John nunca havia lhe falado abertamente sobre a esposa, talvez Marguerite estava sendo indiscreta, mas, só considerou esta hipótese depois que a pergunta já tinha escapado e sua boca.

Roxton se ajeitou incomodado na cadeira. Não esperava falar sobre Danielle, esse tinha sido um tabu durante os últimos cinco anos, entretanto, cogitando que estava disposto abrir novamente sua vida e seu coração para alguém já passava da hora de enfrentar seus assombrosos demônios.

—Sinto muito, não queria ser indiscreta._apressou-se Marguerite percebendo a hesitação dele.

—Não… não tem nenhum problema._tranquilizou-a._Perdemos o contato com a família de Danielle depois do nascimento de Abigail. Os meus sogros sequer quiseram conhecer a neta, desde então somos só nós dois… e Verônica quando está em Avebury, o que não acontece com frequência.

—Isso é tão injusto!_não pode controlar a indignação._Abigail não tem culpa do que aconteceu… nem você.

—Tem razão._concordou com calma._Abbie não tem culpa… mas eu sim._confessou.

—Você não matou sua esposa._tinha certeza disso e estava chocada por vê-lo carregar tal culpa.

—As circunstância me tornam culpado._pousou a taça sobre a mesa e decidiu revelar a ela sobre seu passado, para que não houvesse enganos sobre o tipo de homem que era._Danielle não podia engravidar pelas formas naturais._Marguerite já sabia disto, afinal foram os óvulos dela que foram inseminados em Lady Roxton._Além disso, ela nunca teve anseio por ser mãe. O sonho de ser pai sempre foi meu._continuou ele._Durante anos ela não me contou sua condição por receio da minha rejeição, sempre arranjando pretextos para adiar nossos planos de aumentar a família.

—E você a rejeitaria se soubesse a verdade?_inqueriu ela, mesmo desconfiando que isto nada mudaria seu sentimento pela esposa.

—De maneira nenhuma. Superaríamos isto e qualquer outro obstáculo, juntos e honestos com a verdade. Confesso que sabe que ela me escondia algo tão importante me abalou e causou uma rachadura profunda em nosso relacionamento.

—Isto é aceitável. Quando a pessoa a qual confiamos nossa vida nos trai é como se o mundo desmoronasse ao nosso redor.

—Você parece ter conhecimento de causa a respeito._concluiu ele estreitando os olhos para ela em busca de alguma confissão que não veio, pelo menos não ainda.

—Não imagina o quanto._respondeu simplesmente. Haveria o momento para que falassem sobre a traição de James, mas não agora, esse era o desabafo de John._continue, por favor._encorajou ela.

—Nosso casamento entrou em crise depois disto. Íamos sucumbir ao término quando Danielle implorou para que tentássemos novamente, e então decidiu que estava disposta a uma reprodução assistida.

—É um fardo muito pesado para uma criança a responsabilidade de manter um casamento._repreendeu ela.

—Sim, hoje percebo que fui fraco e egoísta, porém, eu queria que nossa família funcionasse e acreditei que uma criança seria capaz de apagar a mágoa e a desconfiança que havia se instalado, que voltaríamos a ser felizes como no início de nossa relação.

—Você não foi fraco, nem egoísta… foi apenas humano.

—Talvez. Mas, o fato é que Danielle cedeu ao meu sonho de ser pai e pagou com a vida. Condenei minha esposa a morte e minha filha a crescer sem uma mãe.

As palavras tocaram fundo no coração de Marguerite. Esse era o momento de lhe contar quem era. Dizer que Abigail teria uma mãe se ele assim permitisse. Que ela já amava a menina de toda a sua alma, e que estava disposta a fazer parte da vida deles, aliás, desejava isso mais do que o ar que respirava. Sua boca se abriu para dizer algo, mas foi impedida pelo soar do telefone dele.

—Perdão._desculpou-se._É da mansão. Preciso atender.

—Fique à vontade._licenciou ela, ao mesmo tempo sentindo um mal estar inoportuno. Essa sensação só foi piorando conforme observava a expressão de John se tornar sombria e preocupada. Quando desligou não havia mais nada de desejo nos bonitos olhos dele, apenas angústia.

—Abigail não está bem. Eu sinto muito, preciso ir.

Marguerite sentiu uma dor física diante da notícia. Partilhando da angústia dele, percebeu sua pulsação acelerar e seu suor se tornar frio. Concluiu que era isso que as mães sentiam quando seus filhos estavam em perigo. Esta era a pior sensação a qual já havia experimentado. Sem ter outra coisa a dizer, simplesmente anunciou.

—Vou com você.

 


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