Glass Humans escrita por Douglastks52


Capítulo 16
Onda


Notas iniciais do capítulo

Essa capítulo saiu um pouco mais cedo para compensar o atraso do outro! Boa leitura!



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Charlote bate a sua mão em cima da mesa enquanto encara Andrew: 

—Como assim a terceira pergunta está errada? 

—Calma...eu estou corrigindo como um professor faria, você escreveu a resposta certa, mas deu as justificações erradas. -Responde ele. 

—Sabe o que é isso? Inveja! Eu estou ficando mais inteligente do que você e por isso você está tentando me sabotar! 

—Tudo bem, talvez um professor normal não marcasse a resposta como totalmente errada, mas eu duvido que você teria mais que cinquenta porcento da cotação. 

—Se o professor soubesse que a resposta era minha, tenho certeza que conseguia pelo menos setenta e cinco porcento da cotação! 

—Tudo bem, tudo bem, contanto que você aprenda para mim não faz muita diferença. 

Charlote levanta-se, caminha até a cozinha e abre a geladeira: 

—De qualquer forma, já tem quase um mês que começamos a estudar, amanhã é fim-de-semana e melhor ainda, o meu aniversário é na próxima semana! Acho que deveríamos comemorar.  

—Não sei se isso faz muito sentido, não deveríamos comemorar na próxima semana? 

—Não, é o meu aniversário, eu decido quantas vezes e quando comemoro. -Respondeu Charlote tirando uma garrafa de vodca da geladeira. 

—Você tem que trabalhar amanhã, não tem? 

—Como se essa fosse a primeira vez que eu vou de ressaca para o trabalho. 

—Então o teu plano é perdemos horas de estudo para beber? 

—Exatamente! -Responde ela colocando a garrafa em cima da mesa. 

—Eu não sei se isso é uma boa ideia... 

—Para de ser tão chato, Andrew. Você nunca vai arranjar uma namorada assim. 

—O que beber tem a ver com arranjar uma namorada? 

—Minha mãe só vai chegar de noite então podemos passar o resto do dia bebendo e assistindo filmes. Vamos lá, eu estive estudando por horas todos os dias, preciso descontrair, vai ser divertido! 

Andrew suspira e cede: 

—Tudo bem... 

—Boa escolha, pupilo! -Diz ela abrindo a garrafa e bebendo um gole. 

Charlote levanta-se e começa a tossir: 

—Não...isso é nojento, não dá para beber puro... 

—Deixa eu experimentar, não pode ser tão mal assim. 

Andrew bebe e imediatamente sente calafrios no seu corpo junto de uma pequena vontade de vomitar: 

—Retiro o que disse. 

—Precisamos ir ao mercado comprar alguma coisa para misturar com isso. Também podíamos comprar alguma coisa para comer, tipo pizza! 

—Deixa eu adivinhar, quem vai pagar sou eu? 

—Eu não queria ser rude nem nada, mas quantas vezes você já jantou na minha casa? Quantas vezes minha mãe já te levou à casa? Combustível não nasce em árvore. 

—O mesmo número de vezes que você já me fez pagar coisas para você! -Retrucou ele. -E outra, eu estou te dando aulas de graça. 

Charlote vira-se na direção de Andrew com os olhos de um cachorro inocente e indefeso: 

—Por favor...pensa nisso como o meu presente de aniversário... 

Ele suspira novamente percebendo que não consegue evitar ser manipulado: 

—Tudo bem... 

—Yey! Vamos rápido então, para termos tempo de aproveitar a tarde. -Afirma ela observando a garrafa. -Mas vamos beber um pouco mais antes de ir... 

Os dois ingerem mais daquela bebida destilada, imediatamente se arrependem dessa decisão e começam a caminhar em direção ao mercado: 

—Acho que suco de laranja deve ser uma boa mistura, o que você acha? -Pergunta Charlote. 

—Eu não faço mínima, nunca fiz isso antes. -Responde Andrew. -A minha cabeça já está ficando leve...aquilo é bem forte... 

—Suco de laranja! 

—Para ser sincero, eu estou começando a ter fome, devíamos levar uma pizza de quatro queijos.  

—E uma de carbonara! 

—Você não acha que está falando muito alto, Charlote? 

—Não tente me humilhar em público, Andrew, eu sei fazê-lo sem a tua ajuda. 

Após uma quantidade desnecessária de risadas, os dois conseguiram adquirir os itens que precisavam e começaram a retornar à casa de Charlote: 

—Vamos dividir tarefas, Andrew. Você trata das pizzas e eu trato de fazer a mistura. 

—Tuuudo bem. 

Andrew tira as pizzas da embalagem e primeiro coloca a quatro queijos no micro-ondas. Enquanto isso, Charlote despeja a vodca num jarro juntamente de dois litros de suco e se aproxima de Andrew: 

—Eu queria comer carbonara primeiro! -Reclama ela.  

—Você vai pedir desculpas quando experimentar a de quatro queijos. Vai ser a melhor coisa que você já comeu. 

Ela aproxima o jarro da boca de Andrew: 

—Bebe, é a tua punição por ter escolhido a pizza sem ter consultado a minha opinião. 

Andrew agressivamente ingere uma grande quantidade de bebida: 
—Eu aceito qualquer punição por escolher quatro queijos. 

—Gosto da tua determinação, pupilo. -Comenta Charlote experimentando a sua mistura. 

Eles continuam a conversar até que um barulho é emitido sinalizando que a pizza estava pronta e Andrew retira-a do micro-ondas. Os dois encaram-na enquanto sentem aquele aroma delicioso. Cada um deles tira uma fatia e saboreia-a: 

—Okay, boa escolha, Andrew, tenho de admitir que isto está bastante bom. 

—Eu te disse! Quatro queijos é o melhor sabor! 

—Vou colocar a carbonara no micro-ondas. Vamos ver se você vai ter a mesma opinião daqui a dez minutos. 

Enquanto observam a pizza ficar pronta, Andrew lembra-se de algo: 

—Qual filme vamos assistir? 

—Para ser sincera, deveríamos ter decidido o filme enquanto estávamos sóbrios, mas podemos ver o que está passando na televisão. 

Os dois levam a garrafa e a pizza para a mesa próxima ao sofá e sentam-se. Charlote pega o controle da televisão e começa a passar entre vários canais: 

—Comédia romântica clichê? -Pergunta ela. 

—Você quer assistir isso? 

—Claro que não, estava apenas te testando, próximo! Documentário sobre baleias? 

—Isso parece interessante- 

—Próximo! Filme de terror que eu já assisti e vou ficar te dando spoiler? 

—Tirando a parte do spoiler, eu até gosto de filmes de terror. -Responde Andrew. 

—Então está decidido. É isso que vamos ver! 

—Mas perdemos os primeiros trinta minutos, me explica o que aconteceu até agora. 

—Está vendo essa mulher? 

—Sim. 

—O marido dela morreu alguns anos atrás numa casa de uma forma estranha, ela sabe que foi um espírito, mas ninguém acredita nela. Então passado alguns anos, ela e uma amiga dela voltam nessa casa para investigar. Ela morre no final. 

—Charlote!! 

—Upsie...eu te avisei que ia te dar spoilers... 

—Você devia avisar alguns segundos antes para eu poder ter tempo de cobrir as minhas orelhas. 

—Qual era o sentido disso? Eu estou te dizendo porque quero que você escute. 

O micro-ondas sinaliza que parou de trabalhar e Andrew se levanta para buscar a outra pizza. Ele coloca-a também em cima da mesa e senta-se novamente. Charlote tira um pedaço e coloca na boca de Andrew: 

—O que você acha? 

—Bastante bom... -Responde ele. 

—Melhor que quatro queijos? 

Ele cerra os seus olhos enquanto tenta encontrar uma resposta: 

—Hmnn...para não te ofender, vou dizer que são igualmente boas. 

Ela desvia o seu olhar enquanto morde a pizza: 

—Eu tentei, algumas pessoas simplesmente não têm bom gosto. 

—Uau, você realmente não tem travas na língua. Não precisa existir um sabor melhor. 

—Errado! -Responde ela bebendo mais um pouco do jarro. -Objetivamente talvez não exista um sabor melhor, mas você é um ser humano, Andrew, é impossível para você ser objetivo. A tua opinião é a tua verdade, claro que existe um sabor melhor, é o sabor que você escolher. 

—É incrível como você consegue tornar pizzas numa discussão filosófica. 

—Mesmo que pareça, eu sou bastante madura. 

—Você não quis dizer “mesmo que não pareça”? 

—Não, eu sou madura e pareço madura. 

Andrew estica o seu braço e segura o recipiente de onde ele e Charlote bebem: 

—Eu gostaria de ter o teu nível de autoestima. 

—É bem fácil, você só precisa fingir ter o meu nível de autoestima, ou você realmente acha que eu me vejo como uma pessoa perfeita? 

—Claro que não, mas eu não consigo fingir dessa forma. Eu te admiro por conseguir ser assim. 

—Uau, a sua vida deve ser bem triste se você admira uma pessoa como eu. 

—Você é sociável, alegre, divertida, engraçada, positiva, se dá bem com a maioria das pessoas e está sempre correndo atrás do que quer, não digo que você é perfeita, mas você parece estar vivendo uma vida com muito mais significado do que a minha. 

—Então é assim que eu pareço para as outras pessoas... -Responde Charlote. -Bem, nada disso me faz realmente feliz, eu nem sei se é possível para mim ser feliz, então pelo menos tento fazer as pessoas ao meu redor feliz. 

Vê-la daquela forma, tão frágil quanto vidro, apenas aumentava a sua motivação de fazê-la feliz. Charlote era um ser humano precioso que merecia ser amado e protegido. Mas isso não era algo que ele conseguia dizer-lhe. Afinal de contas, apenas agora ela tinha exposto este lado da sua personalidade. Andrew ainda entendia muito pouco sobre Charlote: 

—Você é forte, Charlote, mesmo se ninguém acreditar em você, eu acredito. 

Ela deixa a sua fachada cair momentaneamente enquanto sorri e apoia a sua cabeça no ombro de Andrew: 

—Como você consegue dizer essas coisas sem ficar envergonhado? -Pergunta Charlote abraçando-o. 

—Álcool. Mas mesmo estando meio bêbado, agora que você confirmou para mim que aquilo era vergonhoso…eu estou me arrependendo um pouco de ter dito… 

—Não diga isso!! -Ri ela. -Se você tivesse se mantido confiante não teria sido vergonhoso. 

—Mas você disse que era vergonhoso! 

—Sim, mas dizer coisas vergonhosas sem ficar envergonhado é uma qualidade, não um defeito. 

—Você podia ter dito isso de uma forma mais explícita, eu não sou muito bom com nuances de conversas. 

—Eu percebi…Mas tudo bem, você aprende com o tempo. 

Ela foca o seu olhar na mesa e percebe que o jarro estava quase vazio: 

—Quer acabar com isso? 

—Sim, pode ser. 

Os dois bebem o resto e reparam que o filme também estava chegando ao fim. Andrew boceja e começa a comer o último pedaço da pizza de quatro queijos: 

—Você tem sono? -Pergunta ela. 

—Um pouco, acho que bebemos demais. 

—Talvez, vou te levar ao meu quarto, você pode dormir lá. 

—E você? 

—Vou arrumar a sala primeiro, depois também vou para o meu quarto. 

Ela guia-o até a porta do seu quarto e deixa-o deitar na sua cama. Charlote regressa a onde estava antes, lava o jarro de onde bebiam e joga fora as embalagens das pizzas. Em seguida, caminha até o seu quarto de novo e deita-se ao lado de Andrew: 

—Já está dormindo? -Pergunta ela. 

—Quase. 

Ele abre os seus olhos e vê o rosto de Charlote apenas a alguns centímetros do seu. As pontas loiras dos seus cabelos se espalhavam pela cama como se clamassem posse de tudo o que tocavam, enquanto os seus olhos castanhos olham atentamente o rosto de Andrew. Ele deixa palavras escapar da sua boca como se fosse a reação normal perante àquela visão: 

—Você é linda. 

Ao perceber que tinha acidentalmente dito o seu pensamento em voz alta, Andrew tenta corrigir a situação: 

—Ah, eu…tipo…quis dizer que- 

Charlote sorri e interrompe-o: 

—Já te disse, mantenha-se confiante. Mas obrigada, não é o mesmo, mas eu te acho bastante fofo. 

Andrew já não se sentia como ele mesmo, aquela grande quantidade de álcool estava afetando a sua mente. O seu normal nervosismo e hesitação rapidamente desapareceram. Mas por mais alterado que estivesse, tudo o que acontecia parecia apenas consequências naturais, acontecimentos inevitáveis. E dentro dessa perspectiva, mesmo aquela proximidade com Charlote era aceitada sem muitos pensamentos: 

—Obrigado. 

Charlote aproximou-se mais um pouco e os seus rostos quase tocaram-se: 

—Eu quero te beijar. -Disse ela. 

Mesmo embriagado, a mente de Andrew continuava nítida para o que ele considerava correto: 

—Não parece certo…o que esse beijo significa para você? 

—Nada? -Ri Charlote de uma forma descontraída. -É só um beijo, você está pensando demais. 

—Não é só um beijo para mim, Charlote.  

—Se você deixar essa oportunidade passar, talvez isso nunca aconteça. 

—Eu não quero ter…esse tipo de relação contigo…eu queria que fosse algo sério… 

Ela levanta-se bruscamente da cama: 

—Você é tão chato. Não fique lendo tão profundamente as situações, apenas siga os teus impulsos e seja feliz. 

—Desculpa, mas eu não quero fazer coisas precipitadas…mas você ter tentado fazer isso me faz muito feliz. 

Charlote começa a caminhar em direção à saída: 

—Te faz tão feliz que você decidiu rejeitar, sim, faz muito sentido, tanto faz, durma sozinho, seu virgem. 

Andrew talvez tivesse se sentido insultado por aquelas palavras se a sua vontade de dormir não o dominasse. Ele apenas fechou os seus olhos e deixou a sua consciência desaparecer. Charlote voltou à sala e encontrou a sua mãe: 

—Wow, não é um pouco cedo para você estar em casa? 

—Tive que sair mais cedo do trabalho, tive uma crise de tosse e quase não conseguia respirar por alguns minutos. -Respondeu Nora. 

—Isso está ficando preocupante, você devia ir ao médico. 

—Sim, tenho uma consulta marcada para amanhã. E como foi o teu dia? 

—Eu...estudei bastante com o Andrew...estudamos tanto que ele ficou cansado e decidiu ir dormir um pouco... 

Nora aproxima-se de Charlote: 

—Gostaria de saber qual livro deixou esse cheiro de vodca no teu corpo. 

Charlote desvia o seu olhar envergonhada: 

—Não vou te colocar de castigo nem nada, mas eu gostaria que você se controlasse melhor. Você é muito nova para beber assim. 

Ela apenas observa a sua mãe sem saber como responder: 

—Vá descansar, eu vou fazer o jantar e depois vou levar Andrew à casa. 

Charlote senta-se na frente da televisão: 

—Você devia deixá-lo ir andando para casa. 

—O que aconteceu? Vocês brigaram? 

—Ele é muito inteligente para algumas coisas e muito estúpido para outras. 

—Você diz isso, mas sabe que ele é um bom amigo. 

—Não coloque palavras na minha boca, por favor. -Responde ela frustrada. 


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Notas finais do capítulo

Gostei bastante de escrever esse capítulo. A relação de Andrew e Charlote está ficando mais profunda então há espaço para conversas interessantes. Assim também consigo desenvolver um pouco mais eles como pessoas e personagens. Deixa ai um comentário se gostou.



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