Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 12
Capítulo 11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802880/chapter/12

*Flashback*

— Faça um pedido e o guarde no coração d'ocê. Qualquer coisa que ocê quiser, tudo que ocê quiser. - Júnior lembrava-se exatamente das falas de seu pai a ele em seu aniversário de cinco anos. 

— Qualquer coisa? - perguntou ao pai com um brilho nos olhos. 

— Até as coisas mais impossíveis,  pedido de aniversário é capaz de realizar. Como flutuar, ocê não tava querendo voar igual os passarinhos outro dia? E ficar invisível, lembra? - Petruchio sorria para o filho pequeno. Para ele era importante e imprescindível que ele mantivesse sua imaginação no mundo da fantasia diante de tudo que havia passado e o quanto que sofria por ser filho de mãe separada. Havia o buscado na escola naquele dia, tinha ficado de castigo por ter agredido um menino que o chamou de órfão quando disse que ele não tinha mãe, pois sua mãe era uma mulher da vida. Lembrou-se da professora lhe dizendo que ele gritou que tinha mãe sim, mas que ela estava doente. Seu coração se partiu. Falou a professora que ele fez certo em dar o soco no menino e que eles tinham que rever os princípios da escola. 

Júnior sorriu, imaginava tantas coisas impossíveis de acontecer, como ler mentes, ou voar pelo céu, uma super força capaz de levantar uma casa, talvez super velocidade para ajudar seu pai a acabar com as tarefas da fazenda rapidinho para ele poder brincar o resto do dia com ele. O que ele pediria? 

— É só um pedido? - perguntou ao pai com os olhos esperançosos. 

— Um por aniversário. - explicou. - Feche os olhos e faça um pedido quando soprar as vela. 

Ele podia pedir todo o impossível, mas só havia um único pedido dentro de seu coração. Fechou os olhos: desejou abraçar sua mãe. 

— Ocê o fez? Ótimo. Agora acredite que ele possa se realizar.

— Será que acontece memo papai? Nem se for um pedido muito impossível? - perguntou ao pai esperançoso e com medo ao mesmo tempo. 

 — Ocê não sabe de onde vai surgir o próximo milagre, o próximo sorriso, o próximo desejo realizado. Mas se ocê acreditar que está logo ali, e abrir a mente e o coração para a chance de acontecer, pode ter a certeza de que vai acontecer.

E o coração de Júnior estava aberto para a possibilidade de ver sua mãe pelo menos uma vez, a tocar, ouvir sua voz e sentir seus braços quentes em volta de si. Todos seus outros aniversários, em todos os outros anos ele assoprou a vela e fez o mesmo pedido e todas as vezes perguntava descrente ao pai se aquele pedido podia mesmo se realizar.

— ... É impossível conseguir realizar esse meu pedido. - respondeu chateado quando o pai lhe perguntou se havia feito seu pedido ao soprar as velas. Já tinha se passado três anos, ele refazendo sempre o mesmo pedido, e não havia se realizado, nada perto do que havia desejado, tinha acontecido. 

— Ocê pode conseguir aquilo que pediu. - o pai tentou aliviar suas frustrações de alguma forma. 

— Mas meu pedido é como mágica pai, impossível de acontecer. - se lamentou.

— O mundo está cheio de mágica. Ocê só precisa acreditar nela. Então, faça o seu pedido. Ocê fez? - viu o filho sacudir a cabeça em positivo, Júnior estava perdendo as esperanças, mas mesmo assim continuava a fazer o pedido de encontrar sua mãe. - Ótimo. Agora acredite nele, com todo o seu coração.

*Fim do flashback*

Apesar de nunca chegar perto de realizá-lo, Júnior mantinha o mesmo pedido em todos os seus aniversários em que tinha um bolo e uma vela para assoprar. Mesmo mais velho, quando o pai havia eliminado as velas, ele soprava em imaginação e desejava no fundo de seu coração, que seu pedido impossível se realizasse. 

Agora, diante da casa de seu avô Batista, seu pedido parecia tocável. 

— Muito boas tardes Cosme, vim visitar meu avô. - ele sorriu ao motorista quando cruzou o portão. 

Cosme arregalou os olhos assustado, não sabia se Júnior era bem-vindo naquela casa naqueles dias que dona Catarina estava presente. 

Pode ficar aqui que vou chamar ele. - apressou-se a andar. 

— Não, meu vô nunca teve a cerimônia de não me receber, pode deixar que eu entro e falo com ele. Trouxe queijo e doce de leite pra ele da fazenda. Há de gostar. - Júnior levantou um pacote embrulhado em papel marrom aos olhos de Cosme. 

Começou a andar para dentro da casa de Batista.

Clara observava em silêncio da sacada seu suposto irmão entrar na casa, estava com os olhos estreitos sem entender o que ele fazia lá. 

Na certa Miguel não me contou tudo! - Ela rosnou raivosa, esperava o pai naquela altura, não seu irmão. 

Vô Batista? - Júnior entrou na sala reparando que estava vazia. 

Seu coração pulava no peito de ansiedade parecia que ia explodir. 

Júnior? - Joana apareceu correndo na sala e se assustou ao ver o filho de Petruchio presente naquela casa, justamente naqueles dias confusos. 

Tudo bem Joana? - Júnior perguntou educadamente. - Vim visita meu vô. 

Ah sim. - ela lhe entregou um sorriso amarelo. - Por que você não entra em seu escritório? Vou chamá-lo. Hoje ele não foi ao banco, está descansando em nosso quarto. 

Posso esperar ele aqui na sala memo. - Respondeu percorrendo os olhos pelos cantos da sala, procurando qualquer pista ou vestígio que sua mãe estivesse naquela casa. 

Joana suspirou, sabia que Catarina não ia gostar daquela situação, mas ela não estava em casa e Clara estava trancada no quarto. Talvez pudesse correr aquele risco. 

Sente-se então. Já volto. 

Júnior obedeceu Joana e sentou-se no sofá, ainda com seus olhos percorrendo todos os cantos da sala. Suas mãos estavam suando e achou que nunca mais seu coração fosse acalmar suas batidas. Será que finalmente seu desejo impossível, seu desejo de todos os aniversários, iria se realizar naquele dia? 

xx

Catarina parecia não enxergar mais depois de seu encontro com Petruchio, se sentia cega e perdida. Havia discutido com ele apenas em palavras, mas era como ter seu coração apunhalado com um punhal, sentia a dor de seu filho nas palavras que ele havia dito a ela, sentia-se a pior mãe do mundo. 

Começou a imaginar o dia que Petruchio descobrisse tudo, se ele soubesse que tinha uma filha, o que pensaria dela? E agora havia se soterrado em outra mentira, deixou que seu ex-marido pensasse que ela tinha se casado novamente. Todas suas mentiras estavam a afogando. 

Aquele dia estava tão difícil para ela. Toda sua briga com o pai, seu desentendimento com a filha teimosa que estava de castigo, todos os "nãos" que recebeu dos trabalhos que tentou arrumar e agora seu reencontro caloroso com seu ex-marido. Ela precisava de um norte, uma direção e uma pequena esperança para os dias que se seguiriam. Desta forma, resolveu pedir ajuda de Bianca. 

Foi a casa da irmã conversar com ela.

  Você está com uma cara péssima minha irmã, parece que viu um fantasma. - Bianca a recebeu sincera vendo a feição perdida de Catarina. 

De certa forma eu vi. - Bianca levantou as sobrancelhas sem entender. - reencontrei Petruchio hoje. 

— Petruchio? - ela disse abalada a irmã tentando imaginar como aquilo aconteceu. - Conversaram sobre os filhos de vocês? 

Mais ou menos Bianca. - ela suspirou escondendo seu rosto entre seus dedos, as palavras de Petruchio ressoavam em seus pensamentos, ela só pensava na dor de Júnior. - A gente discutiu, brigamos, como sempre, mas agora… Ah Bianca! Ele me falou tantas coisas sobre meu filho, coisas que me doem tanto. 

Bianca percebeu que a irmã estava cansada, quase desesperada, deixou que ela se mostrasse frágil em sua frente, seus olhos estavam cheios de lágrimas. 

— Meu filho sempre sofreu preconceito na escola por não ter mãe? - perguntou olhando Bianca nos olhos. 

O Júnior sempre estudou na escola de Edmundo, damos bolsa a ele, insisti para Petruchio que seria importante ele ter uma educação na escola e não só em casa. Mas nossa sociedade é dura Catarina. Lembro de um episódio, em que Júnior bateu de socos em um garoto porque ele havia o chamado de órfão, sem mãe, filho de mulher da vida. 

Catarina suspirou imaginando a cena. Seu peito doendo e seus olhos se inundando em tristeza e arrependimento. 

— Petruchio sempre tentou cuidar dele, o proteger de todas as formas, mas as más línguas são rápidas demais às vezes. Ele fez de tudo para proteger o filho de vocês. 

— Eu sei… - Catarina suspirou se lembrando da conversa que teve com Petruchio há pouco. - Ele fingiu estar casado comigo esse tempo todo. E depois do que ouvi hoje e vivenciei eu entendo, ele fez algo gigantesco. Ninguém ajuda a mulher separada e criticam o filho da mulher separada por consequência. 

— Petruchio é um ótimo pai. - Bianca completou. 

— Eu sempre soube que ele seria… - ela encarava uma parede, lembrando do passado e de todos seus planos com o ex-marido, dos sonhos deles de criarem seus Petruchinhos e suas Catarininhas na fazenda. Sonhos nunca por inteiro concretizados. No presente se perguntava no que sua vida havia se transformado. Com uma filha desesperada querendo encontrar o pai, sua vida cheia de mentiras e um filho que ela havia se conectado de forma mágica e que não poderia mais reencontrar. 

— Por que nunca me contou essas coisas? 

— Como te contaria essas coisas? Como? Você nunca sequer olhou para Júnior quando nasceu. 

Catarina deixou que as lágrimas finalmente caíssem de seus olhos e que o choro sufocado viesse a superfície, mas não perdia a guarda com a irmã. 

 — Eu não tive escolha Bianca. Não pode me criticar, nunca esteve na minha pele! 

— Não estou te criticando, quero te ajudar Catarina. Quero te entender. - Catarina não escondia mais suas dores, depois de tantos acontecimentos, ela precisava de um ombro amigo e de ajuda. - Você esconde alguma coisa, parece que esconde.

Catarina revirou os olhos enxugando as lágrimas que não paravam de cair em suas bochechas. 

— Você pode confiar em mim, precisa se abrir mais com as pessoas, deixar que a gente te ajude. - Bianca insistiu.

— Eu estou ótima… eu só preciso… 

Vou pedir para Mimosa trazer uma água com açúcar para você… - Bianca anunciou quando viu que os dedos dela tremiam e que sua voz estava falha e rouca, além de não conseguir completar as frases. 

— Não! Fique aqui. Preciso de sua ajuda. Você pode me ajudar de alguma forma. - tentou parecer menos sentimental e olhou a irmã nos olhos. - Bianca eu tentei arranjar emprego, eu juro que tentei. Até de engraxate me propus a ser, eu preciso sair da casa de papai o mais rápido possível.

Sabe que papai jamais vai te expulsar de lá. Não precisa exagerar em tudo. 

Exagerar? Acha mesmo que estou exagerando? Eu só quero viver minha vida sem ninguém interferindo nela. 

Bianca concordou com a cabeça, poderia a contradizer, mas não queria deixar a irmã mais nervosa do que já aparentava estar. 

Primeiramente, está precisando de minha ajuda em que? 

Emprego, preciso de um emprego. Ninguém aceita uma mulher separada trabalhando, parece que sou um agouro ou pior! Mulher separada significa mulher da vida. 

Catarina não estava em seu normal, senão teria arremessado um vaso ao mesmo tempo que dizia aquilo tamanha a raiva em sua voz. Mas Bianca quase podia enxergar a súplica nos olhos da irmã. 

— Eu sinto muito por ser tão difícil assim para você…

— Não só para mim… - Catarina negou com a cabeça segurando as duas mãos de Bianca. - Filomena também é mãe solteira, se eu sair da casa de papai, logo ela ficará desempregada e desamparada. 

— Vocês duas precisam de um emprego. - Bianca entendeu onde ela queria chegar. - Me diga o que pretende. 

— Quero alugar um quarto de pensão, para mim e Clara e se possível ajudar Filomena nisso também. Sua escola, não teria nenhuma vaga de emprego para nós? 

Bianca sabia que aquele dia chegaria, ela precisava ajudar sua irmã como ela lhe ajudou no começo, quando Edmundo não tinha nome nem dinheiro. Iria recompensar tudo o que a irmã havia feito a ela. 

xx

— ...Aí minha gastrite! - Batista reclamou quando ouviu Joana lhe avisar que seu único neto homem estava na sala o aguardando. - Catarina volta e a minha gastrite ataca. Perigoso eu morrer da gastrite e não do rim. 

— Vá conversar com seu neto. - Joana o repreendeu. - Aproveite que Catarina não voltou ainda. 

Ele obedeceu, gostava de ver o neto. Mas pensando em tudo o que acontecia com ele nos últimos dias, ter a presença de Júnior na sua casa, era no mínimo desesperador. 

— Vovô como o senhor está? Lhe trouxe queijo e doce de leite. - Júnior sorriu ao ver seu avô descer as escadas devagar. 

— Obrigado meu neto. - Batista agradeceu aceitando os braços dele ao lhe ajudar a chegar até a poltrona e se sentar. 

Júnior não se lembrava de ver seu avô tão debilitado. Ele estava gordo e soava, além de dar a entender que aquela descida de escada tinha lhe cansado mais que o normal.

— O senhor está bem? - Júnior reiterou sua pergunta realmente preocupado. 

 — Estou, na medida do possível. Estou doente. - ele sorriu ao jovem à sua frente, Júnior ajeitou uma almofada em suas costas preocupado e se agachou na frente dele esperando que ele continuasse a falar. - Sempre muito gentil, nem parece filho de...

Batista engoliu em seco e não terminou sua fala.

— Meu pai? Meu pai é um pouco estressado memo. - Júnior riu. 

— Seu pai é um bom pai.  Você está um homem feito Júnior. Quanto tempo não vem me visitar. 

Batista quase nunca convivia com seu único neto homem. Petruchio sempre cauteloso nunca deixava o filho reviver por muito tempo o passado da mãe. Por preocupação. 

— O senhor desculpa essa minha falha. É que ando trabalhando muito na loja. 

— Trabalhando? Muito bom, o trabalho é o alicerce do homem.

— O senhor que o diga. Doente como vô? Não sabia que tava doente. - O caminho que o levou ali não tinha relação com o avô doente, mas não conseguia não ficar preocupado com ele. 

— Meus rins estão parando de trabalhar, e não há estudos suficientes na medicina que consigam reverter esse quadro. 

— O senhor vai morrer? - disse de uma vez, realmente preocupado. 

— Vou, mas todos vamos, não é? Digamos que meus dias estão contados. 

Júnior suspirou tristemente. Não esperava receber aquela notícia daquela maneira. Não convivia muito com o avô, mas ter a morte tão tocável assim, era desconfortável. 

— Não fique triste, eu vivi bem, fui feliz, só quero passar os restos de meus dias bem, com todos meus filhos e netos perto de mim. 

Tentou tranquilizar o neto que parecia triste. Júnior se atentou ao "todos meus filhos" da frase dele. Será que sua mãe havia mesmo retornado?

— Na certa o ar do campo pode fazer bem pro senhor. Essa cidade é muito poluída. Passe uns dias com a gente na fazenda. Meu pai tem cara feia, mas não há de ser contra. 

Batista sorriu em agradecimento ao carinho do neto. 

— Obrigado, mas gosto de ficar em casa, como um velho, não gosto de sair de meu casulo. - Júnior concordou com a cabeça um pouco contrariado. -  Mas o que o traz aqui? 

Júnior suspirou saindo um pouco de perto do avô. Finalmente revelaria o assunto que o levou até lá. 

— Minha mãe… - ele falou em voz alta o que seus pensamentos gritavam. - É verdade que ela voltou? 

Batista arregalou os olhos, o que responderia a ele?

xx

— ...Lembra-se que sem você, sem seu empréstimo a nós, sem sua ajuda, eu e Edmundo jamais teríamos nossa escola e jamais teríamos algo sólido hoje?

— Não é bem assim Bianca, você receberia a herança de mamãe como eu recebi. - Catarina ponderou uma verdade a sua irmã. 

— Deixe-me dizer algumas palavras de carinho a você? - Bianca pediu um pouco  nervosa. - Você me ajudou muito, a resgatar meu amor, a perseverar na profissão do meu marido, você me apoio e eu quero retribuir. Quero te ajudar com o aluguel de uma casa e  pode trabalhar na escola, talvez como professora substituta agora no começo, muitas professoras faltam e as aulas são canceladas. 

Catarina sorriu com os olhos em agradecimento à irmã. 

 — Qualquer emprego para mim é um alívio. Pode me colocar de faxineira, de cozinheira. Qualquer coisa. 

— Só se eu fosse maluca para te colocar de faxineira ou cozinheira. Não quero espantar alunos quando você trocar o sal pelo açúcar ou quebrar alguns vasos na cabeça deles quando for limpar os cômodos e ver que eles estão sujando tudo de novo. Mas acho que Filomena pode ficar com um desses dois empregos. Se ela aceitar. 

Catarina não aguentou e abraçou a irmã em agradecimento. Estava tão triste, depois de tudo o que viveu naqueles últimos dias, toda sua briga difícil com a filha, a cláusula do pai no testamento, a discussão com Petruchio, sua preocupação como filho. Tudo desabava em sua cabeça e ter o apoio de alguém, saber que alguém ainda se importava com ela lhe fazia respirar em meio ao caos em que vivia. 

— Obrigada Bianca. - acariciava os cabelos da irmã ainda abraçada a ela. - Eu prometo não jogar nenhum vaso na cabeça de nenhum aluno. 

— Ah isso é muito importante. - Bianca riu. 

— Bianca eu já vou, Calixto está lá fora. - Mimosa não queria interromper a cena de carinho entre as duas irmãs. Mas não queria sair sem se despedir. 

— Pode ir Mimosa, até amanhã. 

Catarina enxugou algumas lágrimas que insistiam em cair de seus olhos e olhou Mimosa pela primeira vez naquele dia. 

— Está triste Catarina, eu quase nunca te vejo triste ou chorando. Está bem? - perguntou preocupada. 

— É só minha vida, cheia de coisas para resolver. 

— Ela viu o Petruchio e brigou com ele. 

— Bianca! 

— Mimosa ia saber de qualquer forma. - se defendeu para a irmã. 

— Você sempre brigando não é? 

— A culpa é minha não é Mimosa? - Catarina retrucou nervosa já não mais chorando. - Não disse nada a ninguém na fazenda sobre o que soube de minha filha, não é? 

— Não sou mexeriqueira! - Mimosa se defendeu. - Agora preciso realmente ir. Precisamos buscar Juni… - Mimosa engoliu em seco. - Até amanhã. 

Catarina ficou observando ela sair da sala onde estava com Bianca. Sabia bem a palavra que Mimosa havia encoberto. 

— Parece que o assunto meu filho será proibido a mim. - comentou chateada. 

— Como você proíbe ela de falar de Clara para o Petruchio. Não julgue Mimosa. - Bianca pediu. 

— Sabe Bianca, nunca imaginei que minhas decisões teriam tanto sofrimento envolvido. 

Bianca queria lhe dizer que mentir nunca levava ao caminho certo, e que desde que soube de sua ideia de separar os filhos sabia e lhe avisou que nunca daria certo. Mas resolveu não dizer nada, Catarina estava muito ferida e abalada aqueles dias.

— Posso ligar pra Candoca, ela e sua mãe tem várias casas de aluguel, vou te ajudar a escolher alguma e pago os primeiros meses de aluguel para você. 

Catarina a agradeceu e deixou que Bianca ligasse para Dalva. Deixaria a irmã cuidar um pouco mais de si. 

xx

— ...Sua mãe? - Batista sentiu sua garganta se fechar e sua gastrite voltar a atacar. 

— Sim, o senhor me disse há pouco que queria todos os filhos próximos do senhor e fiquei sabendo que ela tinha voltado. Vô me conte a verdade. - Júnior implorou. 

Batista estava cansado de brigar com a filha, cansado de ver ela mentir e se sacrificar por medo do compromisso, por não querer assumir a ninguém que está errada. E como já tinha dito tudo o que queria a ela, resolveu ser sincero com o neto. 

— Sua mãe voltou sim. Faz poucos dias. 

Júnior sentiu seu coração falhar uma batida. 

— E onde ela tá? Por que não foi vê eu? Ela não se importa comigo? 

Batista sentiu a dor na pergunta do neto, não queria o machucar. 

— Sua mãe é muito fechada. Não conversa muito comigo sobre esse assunto. 

Júnior concordou com a cabeça e se sentou no sofá pensativo. Havia idealizado tantos cenários de reencontro com a mãe, em todos ela lhe procuraria imediatamente quando chegasse ao Brasil, não pensou que ele iria atrás dela. 

— Ela não se importa comigo. - concluiu. 

— Ela se importa do jeito dela. - Batista disse. 

— Eu só queria conhecer ela, conversa com ela uma vez, só uma vez. - voltou seu olhar para o avô, quase implorava pra ele. - Eu não quero cobrar nada dela, nenhuma atitude de mãe, eu só queria conhecer ela. 

Batista não soube o que lhe responder. 

— O senhor acha que ela não gostaria de me conhecer? - perguntou receoso. 

Batista sentou-se direito na poltrona e resolveu continuar a ser sincero com Júnior. 

— Sua mãe às vezes pode parecer ter uma pedra no lugar do coração, mas sei que ela o ama. Tenho certeza que ela iria gostar de te conhecer. - Júnior sorriu um pouco aliviado. - O que seu pai acha disso? 

— Ele não sabe. - Júnior lhe entregou um sorriso amarelo. - O assunto minha mãe não faz muito bem a ele. 

— Eu imagino. 

— Eu gostaria muito de encontrar ela, mas em segredo. O senhor pode passar esse recado? 

Mais um segredo, Batista ficava imaginando o que aconteceria quando todos os segredos se revelassem naquela sua família. 

— Sua mãe está brigada comigo, mas transmito seu recado sim. 

Júnior lhe agradeceu, sentia seu peito de acalmar um pouco depois de ter conversado com seu avô. Sentia-se aliviado. 

— Bom, eu vou voltar pra fazenda, não quero que meu pai se preocupe, não disse a ele que viria ver o senhor. 

Batista concordou com a cabeça enquanto apertava a mão do neto em despedida. Enquanto o via sair da sala, sentia que o neto frequentaria mais vezes sua casa. 

— Ei garoto! - Clara gritou assim que viu ele sair da casa de seu avô. 

Júnior ergueu seu pescoço e viu Clara numa sacada. 

— Ah! É ocê menina enxerida?! - perguntou a si mesmo e resolveu a ignorar, começou a caminhar para longe. 

— Não vá embora! - Clara gritou quase implorando. - O que veio fazer aqui na casa de meu avô!?

— Ele é meu avô também! - Júnior achou que não precisava se justificar a ela, mas lá estava ele, se justificando.  

Virou seu rosto para cima a encarando. Se a carta que havia lido estivesse certa, Clara poderia ser sua irmã. 

— Foi ocê que escreveu aquela carta não é?! 

— Você leu minha carta?! - Clara perguntou indignada. 

— O que pretendia com aquela carta?! 

— Não te interessa! Não era para você ter lido! 

Júnior estreitou seus olhos tentando pensar. Observou um fato. 

— Por que tá gritando de uma sacada e não foi entregar essa carta pessoalmente a mim?! Teve que mandar seu capacho gago! 

— Não fale assim de Miguel! Ele só queria me ajudar! - Clara se lembrou no entanto que Miguel havia mentido a ela, ou pelo menos omitido o fato dele ter lido sua carta. - Isso é invasão de privacidade! Não devia ter lido minha carta! 

Júnior normalmente não se irritava facilmente, mas Clara tinha um dom. 

— Ainda não me respondeu por que tá gritando de uma sacada?! 

— E nem vou te responder! 

— Pois saiba que não me importo. - Júnior deu dê ombros deixando Clara mais irritada. - Meu pai jamais receberá aquela carta. 

— Isso não é justo, aquela carta é minha! Eu tenho o direito de falar com meu pai! 

Júnior apertou seus punhos nervoso e se encaminhou para perto dela. Começou a subir os enfeites de vasos para falar com ela sem gritar.

— Escute! Se depender de mim, meu pai não vai fica sabendo d'ocê desse jeito torto que tentou contar pra ele. Ainda tô tentando entender toda essa história e preciso conversar com minha mãe… 

— Sua mãe? Só me falta você ser todo emocionado e resolver perdoar ela. 

— Por que eu não perdoaria ela? - perguntou preocupado. 

— Acha pouco o que ela fez com a gente?! Ou ainda não parou para pensar no que ela fez? Reflete um pouco! Fomos separados quando bebês! Ela nunca contou da existência de um pro outro. Meu pai nunca ficou sabendo que teve uma filha! Acorda! 

Júnior bufou nervoso. Era impossível conversar com ela. 

— Só pra ocê saber que não, meu pai não vai descobrir de ocê por aquela carta. 

Ele começou a descer o enfeite bravo. 

— É um covarde! É isso o que é! Se não fosse não estaria fugindo com o rabo entre as pernas! 

— Aceite que ocê perdeu. - ele virou seu rosto pra ela querendo rir. 

— Ah! - Clara rugiu nervosa e pegou um vaso de flor do enfeite e jogou com tudo no chão quase acertando a cabeça dele. 

Júnior começou a rir e foi direto para o portão pegando sua carroça e partindo deixando a irmã para trás raivosa. 

Havia algumas coisas para ele refletir, sabia no entanto que o primeiro passo era conversar com a mãe. Tentaria poupar o pai das novidades. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segunda chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.