At Least I'm Flying Free escrita por Siaht


Capítulo 1
U: tell them how i am defying gravity


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, talvez eu esteja um pouco obcecada por escrever sobre Andrômeda Black (sim, eu estou), mas acabei percebendo com a história dela tinha similaridades com a de muitas pessoas LGBTQIAP+. Toda a coisa da família conservadora, do romance proibido e de precisar fugir de casa fazia sentido dentro dessa lógica, a gente só precisava que o Ted fosse uma garota e pronto. Então, eu pensei: "por que não?" (Sim, esse é o resumo da minha vida fanfiqueira) E aqui estamos kkkkkkk Tudo isso aconteceu enquanto eu ouvia Defying Gravity, o que me pareceu bem apropriado, já que essa é música é perfeita para embalar essa história.
ALERTA DE GATILHO: essa história toca em temas como lesbofobia, não aceitação familiar e violência. Nada muito gráfico ou explícito, mas fica o alerta. Embora tenha um pouco de romance, a temática familiar é o grande cerne de tudo.
Dito tudo isso, espero que gostem! ♥



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At Least I'm Flying Free

“Something has changed within me

Something is not the same

I'm through with playing by the rules

Of someone else's game

[...]

Too long I've been afraid of

Losing love I guess I've lost

Well, if that's love

It comes at much too high a cost!”

 

“Eu chego em 20 minutos.”

 

A mensagem de Teddy brilhava na tela do celular. Andrômeda ainda tinha os cinco dedos da mãe estampados no rosto. Lágrimas silenciosas choviam por aquela pintura rubra. Ela sabia que vinte minutos não era tempo suficiente para cobrir a distância da casa de Teddy até o Largo Grimmauld, nº 12. Ela sabia que não deveria subestimar a forma como Theodora Tonks dirigia. Especialmente quando estava com raiva. Ela sabia que precisava tomar uma decisão. Rápido. 

Era tudo culpa de Bellatrix. O que não chegava a ser uma surpresa. A maioria das desgraças que acometiam a vida de Andrômeda Black costumavam ser causadas por sua irmã mais velha. A primogênita, no entanto, havia se superado daquela vez.  Bella, que terminara o Ensino Médio há dois anos, havia se voluntariado para buscar Narcisa no treino de líderes de torcida. Uma gentileza estranha e que não combinava com seu caráter mesquinho. Andrômeda, sonolenta durante o café da manhã, achou a oferta peculiar, mas não lhe deu muita atenção. Não ter que levar a irmã caçula para casa abria um espaço maravilhoso em sua agenda, o que queria dizer mais tempo para ficar com Teddy. E isso era tudo o que lhe importava, enquanto enfiava a lição de francês na mochila e terminava de comer uma maçã. Pensando sobre isso agora, a garota percebia que deveria ter suspeitado de algo. Só que não suspeitou e agora teria que lidar com as consequências de sua própria estupidez. 

O que aconteceu foi o seguinte: Bellatrix, que já andava desconfiada do comportamento da irmã do meio, foi buscar Narcisa na escola e precisou apenas de alguns minutos de fofoca com as amigas da caçula para descobrir que Andrômeda era o assunto do momento e que todos suspeitavam que havia algo acontecendo entre ela e Theodora Tonks. A simples amizade entre as meninas já seria considerada absurda, uma vez que Teddy era...você sabe… uma desviada. Lésbica. Assim, a possibilidade de um namoro incendiava os corredores de um colégio tão pequeno como Hogwarts.

Narcisa sabia de tudo há semanas, é claro, porém, havia resolvido negar os boatos na escola e se fazer de sonsa em casa. Havia confrontado Andrômeda uma vez, afirmando que era melhor que ela parasse com o que é que estivesse fazendo e voltasse a agir como uma pessoa decente. Contudo, prometeu que guardaria o segredo, apenas por não desejar ter a morte da irmã na consciência, afinal era óbvio que os pais a matariam se descobrissem aquele disparate. Bellatrix não era tão generosa, então, arrastara Narcisa para o Largo Grimmauld, nº 12 e despejara todas as informações sobre a mãe. 

Enquanto seu mundo começava a ruir, Andrômeda aproveitava a calmaria que antecede a tormenta, na casa de Teddy. As duas estavam assistindo a um filme, o que era um código universal para “fazendo qualquer coisa, menos assistindo a um filme”. Havia sido uma tarde gloriosa, regida por despreocupação adolescente e afeto mútuo. A Black estava tão apaixonada que ainda se surpreendia por ser capaz de sentir tantas coisas – e tão intensamente – por um  único ser humano. Ainda assim, bastava um olhar para a namorada para que aquela torrente de emoções fizesse sentindo. Como alguém não se apaixonaria por ela? 

Theodora Tonks era uma antítese em forma de menina. Coturnos ameaçadores e vestidos florais. Risada angelical e lápis preto em excesso ao redor dos olhos. Longos cabelos loiros e jaquetas masculinas garimpadas em brechós. Piadas sujas e redações bem escritas. O amor por palavrões de um marinheiro e juras de amor açucaradas. Um camaro 1973 vermelho, que ela havia consertado com o avô, e um rádio eternamente sincronizado nas músicas mais bregas que a humanidade já havia criado. Crença absoluta em astrologia e aptidão para matemática.  Teddy, como ela preferia ser chamada, era a garota mais legal de Hogwarts, brilhando com uma luz tão intensa que cativava de forma magnética alguém tão fosca e cinzenta como Andrômeda Black. Opostos haviam sido feitos para se atrair, afinal.

Por anos, Andrômeda a observou à distância, incapaz de entender o encanto que a colega de classe exercia sobre ela. Assustada demais para se permitir pensar muito sobre o assunto. Não foi até o começo daquele ano, o último das duas no colégio, que uma aproximação foi ensaiada. A professora de química as havia escolhido como dupla para um trabalho e, bom, isso foi o bastante para que a química entre elas explodisse. O resto era história.

Andrômeda ainda tinha dificuldades para acreditar que alguém tão incrível como Teddy havia encontrado algo sobre ela para amar. Justo ela, a filha do meio desbotada, a adolescente sem graça, a estudante invisível. A menina tímida e solitária que passava seus dias na companhia de músicas tristes, romances góticos e séries nórdicas de investigação criminal. A garota que estava sempre sonhando com estrelas e fazendo pedidos ao cosmos. Mas havia. E cada vez que Teddy olhava para ela, Andrômeda sentia um amor que nunca recebera na vida. E cada vez que Teddy sorria – um de seus sorrisos impossivelmente fáceis – , Andrômeda sentia seu mundo cinza se iluminar. Como se Teddy fosse o sol, dando vida à galáxia que era Andrômeda. 

Logo, aquela tarde passada ao lado da namorada foi de pura luz. Bastou colocar os pés dentro de casa, contudo, para que o mundo da Black fosse consumido pelas trevas. Sua mãe a saudou com um tapa na cara, enquanto Bellatrix gritava ofensas que não deveriam ser repetidas. Narcisa assistiu a tudo em silêncio, porque não iria entrar em problemas para defender a irmã desvirtuada. Andrômeda mal teve tempo de processar o que estava acontecendo, antes de ser literalmente puxada pelos cabelos e jogada no sofá. Ainda assim, no momento em que sua mente conseguiu estudar os fatos, tudo ficou claro. A pior parte era que não havia surpresa alguma naquela reação. Sua família era composta por  gerações de políticos de extrema-direita e católicos fanáticos. Estar em casa era sempre um pesadelo, um lembrete – mesmo antes de Teddy – de seu completo desajuste. 

Andrômeda sabia há algum tempo que era lésbica, porém, reprimiu aquele fato de todas as formas possíveis. Passou anos odiando a si mesma e se sentindo a mais suja das mortais. Todas as suas referências sobre homossexualidade eram distorcidas, afinal. E então Theodora Tonks entrou em sua vida. Uma parte da Black quis fugir, mas outra – muito mais forte e brilhando com uma coragem que ela nunca imaginou possuir – permitiu que a outra menina lhe mostrasse um mundo novo. Um mundo no qual não havia nada errado com quem Andrômeda era. Um mundo no qual pessoas LGBTQIAP+ podiam apenas ser, amar, viver.  

E, no entanto, um mundo que nunca poderia existir entre as paredes do Largo Grimmauld, nº 12. Quando sua casa deixou de se parecer com um refúgio, fonte de segurança e amor, e passou a se assemelhar a uma prisão, habitada por monstros e carcereiros cruéis? A garota não tinha resposta para aquela indagação. Assim como não tinha ideia de por quanto tempo a mãe falou, sendo mais agressiva em alguns momentos do que em outros, embora tenha lhe parecido uma eternidade. O resumo era simples: Andrômeda era uma desgraça, porém, havia tempo para consertá-la, discipliná-la e afastá-la das más influências. Seu pai estava em uma viagem de negócios, mas voltaria no dia seguinte. Aí eles decidiram o que fazer com a filha desgarrada, até lá, ela deveria permanecer trancada em seu quarto. 

A menina sentiu vontade de chorar, durante todo o desenrolar de sua “pequena inquisição”, porém, guardou as lágrimas para a segurança de seu quarto. Ainda havia algum orgulho dentro dela. A moça não iria dar o gostinho daquela humilhação final para a mãe e as irmãs. Agora tudo o que a Black queria era se enrolar em si mesma e chorar. Como havia feito em tantas outras noites. Chorar até que o mundo acabasse. Essa infelizmente já não era uma opção. Então, ela enviou uma mensagem para Teddy, antes que alguém se lembrasse de que haviam esquecido de tomar seu celular, narrando tudo o que havia acontecido. A namorada respondeu imediatamente, avisando que estava indo buscá-la.  Aquilo havia ultrapassado todos os limites, ela não podia mais viver naquela casa. 

Andrômeda não sabia o que fazer. Ela entendia a lógica de Teddy, é claro. O pai iria matá-la assim que chegasse a casa. Ou, no mínimo, a machucaria seriamente. Cygnus Black nunca havia sido conhecido por sua clemência. Sua mãe achava que ela precisava ser consertada. Bellatrix a jogou diretamente na fogueira. E não haveria nenhuma ajuda vinda de Narcisa. Andrômeda tinha 18 anos,  algum dinheiro guardado, algumas joias de família que poderia vender. Os pais de Teddy a acolheram sem hesitar.  Partir era a decisão lógica e ainda assim… Ainda assim, a simples ideia fazia o coração da menina se partir um pouco mais. Porque ela sabia que, se partisse, nunca poderia voltar. 

Talvez fosse estranho se preocupar em voltar para uma família tão odiosa, porém, aqueles eram seus laços mais profundos e antigos. A garota não sabia se estava pronta para desatá-los. Andrômeda não sabia o que era não ser a irmã de alguém ou a filha de alguém. Não sabia o que era ser sozinha – realmente sozinha e não apenas solitária – no mundo e não sabia se estava preparada para tal coisa. Ela tinha Teddy, é claro. No entanto, por mais que desejasse que as duas ficassem juntas para sempre, entendia que não havia garantias. Relacionamentos amorosos terminavam, a menina era realista o suficiente para saber que isso fazia parte da vida. Era o amor de família que era para sempre. Pelo menos, deveria ser. 

Mas como aquilo poderia ser amor, se machucava tanto? Se exigia que ela se estilhaçasse em mil pedaços e a condenava a fingir ser outra pessoa? Como poderia ser amor, se, enquanto asfixiava todos os seus desejos, a única coisa que Andrômeda recebia de sua família eram cicatrizes? Por muito tempo, a garota esteve paralisada pelo medo. Apavorada pela ideia de perder o amor dos pais. Agora ela percebia que se aquilo era amor, vinha com um preço caro demais. Um preço que a moça não estava mais disposta a pagar. 

O amor dos Black era cheio de condições. Exigia que ela fosse outra pessoa, que assassinasse uma parte de si mesma. Era violência e opressão. Partir seria difícil, ficar seria o seu fim. Ela precisava ir. Talvez houvesse um dia em que Teddy não a amasse mais, isso, contudo, não importava. Aquilo era maior do que a Tonks. Porque, mesmo que aquele relacionamento acabasse, Andrômeda ainda seria Andrômeda. E não havia espaço para ser Andrômeda no Largo Grimmauld, nº 12.

Então, a menina pegou uma mala e jogou tudo o que conseguiu dentro dela. Chorou o tempo todo. Ter tomado sua decisão não tornava a realidade mais fácil. Quando seu celular vibrou, revelando uma mensagem de Teddy, Andrômeda pegou suas coisas e saiu pela janela. Não deixou um bilhete. Não olhou para trás. O medo se enrolou em seu estômago, enquanto uma estranha empolgação crepitava em seu peito. Havia chegado o momento de ser livre e se isso significasse voar sozinha, tudo bem. Andrômeda podia fazer isso. 

“As someone told me lately

"Everyone deserves the chance to fly!"

And if I'm flying solo

At least I'm flying free

To those who ground me

Take a message back from me

Tell them how I am defying gravity!”


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Notas finais do capítulo

Bom, os Black são uma família desgraçada e a Andrômeda boa demais para eles em qualquer realidade.
O dia foi uma correria e não consegui revisar a história com a calma que gostaria. Ainda vou fazer isso, mas qualquer erro podem avisar.
A história é bem curtinha, mas espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís



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